Growing back escrita por kelly pimentel


Capítulo 10
Capitulo 10




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Estou no trem a caminho do Capitol, uma semana se passou desde decidi voltar pra lá. Minha mãe e Gale havia voltado para seus respectivos novos distritos no dia seguinte. A despedida com Gale foi mais leve, embora eu nunca consiga perdoá-lo por completo, também não posso de todo odiá-lo, então resolvi oferecer ao menos a chance de reconstrução da nossa amizade. Já com mamãe as coisas não foram fáceis, mas também decidi que o modo como ela se sente em relação a mim e a Peeta não era problema meu, era dela, algo com o qual ela teria que lidar, pois Peeta é meu presente e, se depender de mim, será o futuro. Além do mais, eu tenho que pensar em mim, em como eu me sinto, na minha saúde mental, essa deve ser a minha prioridade, não os caprichos alheios.

A pior parte da decisão de voltar para o capitol foi deixar Peeta no doze, não permiti que ele largasse a padaria, embora o quisesse comigo, mas eu sinto que já usei do máximo de egoísmo nessa relação, eu não quero que ele esteja sempre fazendo as concessões. Combinamos então que Peeta organizaria suas coisas e tentaria me ver o máximo possível. Mais cedo, quando nos despedimos, ele disse que eu era a melhor coisa da vida dele e que bastava dizer e ele estaria lá, ao meu lado, sempre. Eu quis chorar, estou me acostumando com essa coisa de chorar atualmente, parece que estive guardando todas as minhas emoções e elas agora me encontraram, acasalaram com os traumas da guerra e me transformaram numa cachoeira humana. Eu quis chorar, mas não chorei. Ainda resta um pouco da Katniss durona de antes, eu preciso me segurar o máximo possível nela. Eu não quero ser ela, mas também não quero ser essa cachoeira, minha esperança é que a terapia me ajude a encontrar um intermédio, alguém digno de mim mesma, alguém digno do amor de Peeta.

Depois de horas, estou no Capitol. É incrível como as coisas foram reconstruídas, os comércios finos ainda existem, mas agora são comandados por pessoas mais comuns, com preços mais acessíveis. Alguém se pode fazer mesmo sem escravizar e amedrontar os distritos. Nesses momentos, eu fico satisfeita de ter feito parte da luta, mas não posso deixar de evitar o sentimento de que eu adoraria que todos que perdi estivessem ali para testemunhar essas mudanças. Compro um jornal para ler depois, já não é mais um menino maltrapilho que o vende, e sim um homem, sem maltrapilhos.  Imagino se menino que vi anos antes sobreviveu, se está na escola agora. Me pergunto se as aulas de histórias já falam da revolta, se a contam da forma certa. É difícil não me rever, correndo por aquelas ruas, o arco nas mãos, é difícil não rever o cinza, nem a destruição. Varro os pensamentos da cabeça e me dirijo à casa que me aluguei.

É uma casa pequena para os padrões do Capitol. Apenas três quartos. Um enorme jardim, fiz questão disso. Não sabia quanto tempo passaria na cidade, mas queria algo confortável. Uma boa cozinha para que Peeta, quando viesse, tivesse onde fazer seus bolos e massas. Um espaço onde eu tivesse algum contato com a natureza. Também fiz questão de que fosse um pouco afastado do centro. Me instalo e conheço as pessoas que estarão me ajudando, Effie os contratou. Owen, um rapaz jovem que me lembrava um pouco Marvel, se ele tivesse o mesmo sorriso sarcástico eu estaria brigando com ele agora mesmo. Mas para minha sorte, a única ameaça que Owen representa é a de visitas constantes de Effie. A outra pessoa encarregada da manutenção da casa e da minha alimentação, ou pelo menos foi essa a desculpa de Effie, é Pam, uma senhora de pele branca e expressão severa. Decido que não devo cruzar seu caminho.

No dia seguinte, tenho minha primeira sessão de terapia com Dr. Aurelius. Estou um pouco apreensiva, nossas sessões sempre foram intervalos grandes de silencio, o telefone na semana anterior havia sido a grande exceção, e havia me feito muito bem, mas eu não tinha certeza se seria capaz de repetir a dose cara a cara.

Assim que entro ele aperta minha mão. Sempre me questionei sobre essa necessidade dos psicólogos de tentarem estabelecer relações físicas, os apertos de mãos, os braços nos finais das consultas. Mas dessa vez eu decido me desarmar um pouco, eu preciso de ajuda, eu sei disso.

Sento na poltrona e começamos falando sobre a tentativa de suicídio. É assunto desconfortável. Uma semana depois eu sinto como se outra pessoa tivesse feito aquilo e eu apenas estivesse embaixo d’agua assistindo. Mas confesso a Dr. Aurelius que a dor ainda está comigo, às vezes eu sinto muita culpa de estar viva, noutras eu tento me convencer de que viver, sorrir, amar é tudo que os meus amados que se foram iriam querer, mas não posso evitar o sentimento de tristeza que se apodera de mim sempre que fico muito feliz, é como se eu os desrespeitasse. Os esquecesses. Depois disso, falamos muito sobre o 12. Sobre Peeta. Sobre como tem sido a minha vida por lá. Dr. Aurelius me recrimina por ter poucas ocupações. Fala que meu corpo está habituado a lutar, a correr, a caçar, e que fazer essas coisas vão me ajudar a ser eu mesma.

— Estou feliz de estar aqui. – Digo. – Embora esteja um pouco preocupada com as noites. Não sei se consigo dormir sozinha.

— Peeta virá para cidade? – Ele pergunta.

— Ela vai tentar vir por alguns dias, mas às vezes um tempo separados é bom pra ele.

— Ainda com os ataques?

— Cada vez menos, mas ele ainda sente muito medo. Eu não sinto, acho que a única coisa que não me assusta atualmente.

— Talvez estarem juntos seja o melhor remédio para ambos, minha cara.

Acho conforto nisso e penso em como gostaria de compartilhar aqui com Peeta. Continuamos nossas conversas falando sobre meus pesadelos e depois disso volto para casa.

Minhas poucas roupas foram arrumadas no imenso armário, tiro o que estou vestido e entro no chuveiro. Ainda não passou da hora do almoço e não sei o que farei com o resto do meu dia, decido trabalhar em algumas das memorias para o livro. Sinto falta de fazer em conjunto com Peeta ou ouvindo as pontuações de Haymitch. Ele sempre tinha alguma correção ou comentário sarcástico para fazer enquanto trabalhávamos no livro.

Os dias seguintes passam devagar, regados à jantares solitários, almoços com Effie, ou passeios pelas recém reinauguradas lojas da cidade. Tento me distrair, mas comprar roupas me faz lembrar do meu querido Cinna, de Portia. De todos os estilistas executados por Snow. Mas nçao sigo nada Effie, ela sempre tenta, com a melhor das intenções, espantar minha tristeza com coisas inúteis como “vai ficar tudo bem” ou “não se deixe abalar, não pense nisso”. Como se isso fosse possível? Como se houvesse um botão. Além disso, a própria Effie não é mais a mesma. Embora ela tenha recuperado um pouco do seu charme e até mesmo algumas marcas da exuberância, seu espirito parece quebrado.

Às vezes eu penso no beijo que ela e Haymicth compartilharam na minha frente. Penso se eles não merecem um pouco da felicidade que sinto ao lado de Peeta. Não gosto de ser uma dessas pessoas que acredita que ninguém pode ser feliz sozinho e que um relacionamento amoroso é a fonte secreta da felicidade, mas acho que pessoas como eles merecem amor.

As noites na cidade tem sido o pior. Vou pra cama cedo com ajuda de alguns remédios para dormir receitados por Dr. Aurelius, uma pena que eles não me impedem de ter pesadelos. Quando acordo na madrugada, suando frio e gritando por Peeta, fico com saudade e pego o telefone. Ele sempre atende, embora eu possa ouvir pela sua voz sonolenta que ele de fato estava dormindo. Conversamos por um tempo e, mesmo à distância, ele consegue me acalmar.

 Foi na noite do meu 13º dia (sim, eu estou contando os dias, na verdade, estou contando as horas e minutos nesse lugar) que eu tive a melhor das surpresas. Cheguei da terapia e quando abri a porta Peeta estava deitando na minha cama. Pulei nele com uma alegria quase infantil e o enchi de beijos.

— Você não me avisou!! – Digo ainda surpresa.

— Eu queria te impressionar. – ele diz passando suas mãos no meu cabelo para afastar alguns fios do rosto. E me beija novamente.

— Você quer tomar um banho? – Pergunto maliciosamente. – Porque eu realmente não queria sair da cama, mas preciso de um banho, e acho que a gente pode levar a festa daqui pra lá.

— Eu senti sua falta. – Peeta me diz enquanto eu levando e o puxo pela mão em direção ao banheiro.

— E eu a sua. – respondo sorrindo.


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