Growing back escrita por kelly pimentel


Capítulo 1
Capítulo 1




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Lentamente, com muitos dias perdidos, eu volto à vida. E apesar dos esforços do Dr. Aurelius, eu sei que esse processo só começou no dia em que eu encontrei Peeta agachado em uma das laterais de minha casa com as prímulas, que hoje já mostram seus primeiros novos botões, nas mãos. Antes de sua chegada eu apenas estive aqui, viva, respirando, mas sem de fato funcionar, sem de fato viver. Para ser honesta, devo confessar que continuar aqui era meu grande problema. Como eu poderia continuar quando todos que amo foram de alguma forma tirados de mim? Todas as noites eu ainda posso ver seus rostos: os tributos na arena, Seneca, Cinna, Finnick, Mitchell, Boggs, Messalla, Leeg 1, Jackson, Castor, Homes e Finnick e tantos outros, vários rostos sem nome. E além de todos os mortos haviam os fantasmas vivos: minha mãe: Gale e Peeta.

Minha mãe que havia morrido um pouco quando meu pai se foi e depois da morte de Prim, minha doce e querida Prim, morreu um pouco mais. Eu sabia que ela me amava e suas razões declaradas para não estar aqui no doze comigo eram boas, mas eu também não podia deixar de pensar em como meu rosto deveria ser um lembrete terrível de tudo aquilo para ela, os olhos do meu pai, a teimosia de que minha irmã e eu compartilhamos, deveria ser impossível para ela.

Depois havia Gale, o amigo que me ajudou a alimentar minha família depois da morte do meu pai, o garoto que se arriscou por anos entrando comigo naquela floresta, o homem que salvou minha irmã e mãe quando nosso distrito foi bombardeado. Elas estariam mortas não fosse por ele, Prim estaria viva se não fosse por ele. Esse conflito me consome. Mas eu posso mesmo culpá-lo? Não foi Gale uma peça no jogo de Coin tanto quanto eu? De qualquer modo, tê-lo por perto seria insuportável. Seria relembrar a cada segundo da armadilha humana na qual minha irmã foi pega.

E, por fim, havia Peeta, o menino que apanhou para salvar minha vida,
o tributo que declarou seu amor por mim na frente das câmeras do Capitol, o dono dos braços que me ampararam depois dos primeiros jogos, dos únicos lábios que me fizeram sentir algo. Eu penso no preço que ele acabou pagando por me amar. Torturado, telesequestrado: e ainda assim ele salvou mais uma vez minha vida quando rasgou o bolso do meu traje e me impediu de tomar aquele comprimido. Eu cheguei a odiá-lo por isso, mas por os meus olhos nele semanas atrás levou tudo aquilo embora. Só naquele momento eu entendi o que Peeta significava pra mim, sem a sombra de Gale, sem as câmeras, sem a ameaça de Snow. Eu provavelmente já o amava no momento em que me recusei a matá-lo na primeira arena, afinal de contas, eu sabia dos riscos e mesmo assim escolhi não matá-lo. "Tarde demais" eu digo pra mim mesma. Ele não é mais o mesmo e eu não mereço nenhum amor. Ainda assim, eu me apego ao que sinto para continuar viva.

Mas Peeta e eu não temos nos visto muito desde sua chegada, ele passa a maior parte do tempo ocupado com a reconstrução da padaria, processo do qual me atualiza quando, ocasionalmente, fazemos alguma refeição juntos. 

Agora me encontro na porta da minha casa me preparando para o percurso até a sua, é um caminho minúsculo, mas preciso fazer com que minhas pernas parem de tremer antes de ir até lá, os dias continuam gelados e ficar em casa sem fazer nada desperta o pior da minha condição de sobrevivente. Quando finalmente bato na porta de Peeta não é ele que vem atender, é Delly Cartwright. Ela sorri para mim e me convida para entrar, e apesar de todas as minhas decisões internas aquilo me coloca na defensiva.

— Peeta está tomando banho. - ela diz. Apenas respondo "ok" e em seguida meu corpo começa a obedecer uma ordem que não lembro de ter passado em minha cabeça. Estou subindo as escadas e entrando no quarto de Peeta.


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