Você só precisa da luz quando está escurecendo.

Você só sente falta do sol quando está nevando.

Você só sabe que o ama quando o deixa ir.

Você só sabe que estava bem quando se sente mal.

Você só odeia a estrada quando sente saudade de casa.

Você só sabe que o ama quando o deixa ir.

E você o deixou ir.

Não que isso importasse agora, por que o agora não havia mais sentido algum, mas não que você não se importasse, não é? Querer voltar atrás não era importante porque não havia como, você soube bem disso quando tentou correr e fugir daí, você queria estar ao lado dele como ele esteve ao seu lado, mas parecia que tudo o que acontecera nos últimos dias havia sido proposital.

Ler aquele jornal foi o que trouxe a realidade à tona. A realidade que seu capitão estava vivendo e a mesma realidade em que você não estava junto dele. É como dizem, você só dá o valor que algo realmente merece quando a perde. E você o havia perdido. Era tão longe que você não podia o ver, tão distante que não podia o sentir, tão desolador que não havia chão que a segurasse. Sua força de vontade agora era nada, e mesmo fingindo ser forte na frente daqueles que tentavam inutilmente te ajudar, você sabia o quão quebrada estava por dentro.

Quando você o tinha perto nunca imaginou que pudesse passar por dias que está passando hoje; ele era sua luz e você só deu falta quando escureceu.

Quando você o tinha sorrindo ao seu lado todos os dias nunca imaginou que pudesse sentir saudade disso; ele era seu sol e você só deu falta quando nevou.

Você só soube que o amava quando o deixou ir.

Você sente falta dele a cada dia que levanta cedo para treinar, e sente que tudo estaria melhor se ele estivesse ao seu lado aprontando algo. Mesmo que ele estivesse dando trabalho, não importa, até se você precisasse pular na água para puxá-lo antes que morresse afogado por uma idiotice, preferia estar ao seu lado sabendo que tudo estava bem; por que tudo não estava bem agora.

Você não se importava em ser pega choramingando nas pausas de estudo, aqueles velhos não entenderiam nada e você sempre mentiu bem. Hoje foi um cisco nos olhos, amanhã a poeira dos livros velhos irritaram seu nariz. Você tinha um único e exclusivo objetivo, você o cumpriria por ter sido uma ordem do seu capitão, mas especialmente por que queria o ver feliz. E além de querer o ver feliz, queria simplesmente o ver. Vê-lo em sua frente faria que tudo melhorasse, mas um desejo tão simplório como esse não podia ser sequer realizado, pois vocês não estavam próximos e você não vê alguém que não está próximo.

Quem sabia qual distância os separava? Quem sabia se ele estava bem? Quem sabia se tudo voltaria a ficar bem? Ninguém sabia, incluindo você.

Olhando para o fundo do seu copo, esperando que um dia você volte a sonhar, por que sonhos chegam devagar e se vão muito rápido. Você o vê quando fecha seus olhos, talvez um dia você entenda o porquê, de que tudo o que toca certamente, morre. Olhando para o teto no escuro, o mesmo velho sentimento de vazio em seu coração, por que o amor vem devagar e se vai muito rápido.

Bem, você o vê quando adormece, por que o amava muito e você mergulhou fundo demais. Tão fundo que não difere mais a superfície clara da profundidade escura das águas, você só sabe afundar e se acostumou com a correnteza que te puxa cada vez mais.

Você não podia tê-lo deixado ir.

Ele disse que tudo ficaria bem, você entendeu a mensagem, mas era tão difícil lidar com isso sem que tivesse ouvido a voz dele. Seu capitão estava cuidando de você mesmo estando longe, e ainda sim era difícil prosseguir sem aquela risada e aquelas costas com o chapéu pendurado a sua frente. Ele sempre estaria a sua frente, mas não estava agora; e talvez fosse isso que faria esses dois anos tão insuportáveis. Você sabe que isso soa irônico, o fato de precisar dele ali para te consolar enquanto você o consola.

Você o deixou ir Nami, e mesmo sabendo que ele voltaria, apenas não queria ter que lidar com esse período de espera.