O que o Acaso Traz escrita por b-beatrice


Capítulo 1
Rotina


Notas iniciais do capítulo

eu realmente (realmente mesmo) espero que gostem! boa leitura!



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Ponto de Vista – Bella

Rotina.

No momento, essa era a pior parte.

Aulas pela manhã, estágio à tarde, toneladas de matérias para estudar durante a noite, preocupações domésticas nos fins de semana.

Ainda assim, eu não me arrependia de ter cruzado o país inteiro, deixando minha família para trás, para ir em busca do meu sonho.

Houve algum drama para que eu fizesse faculdade em Seattle, ficando mais perto de Forks, onde meus pais moravam, mas ao receber minha carta de aceitação para cursar Literatura na faculdade de Nova York e ver que minhas economias e alguns sacrifícios seriam capazes de me manter, não pensei duas vezes antes de juntar minhas coisas para a mudança.

A melhor parte era que eu finalmente estava livre de Forks, estudava o que amava e morava sozinha, não devendo satisfação a ninguém.

Claro que esse espírito durara apenas durante os primeiros meses. Sim, eu estava fora de Forks, mas não me sobrava muito tempo para aproveitar a cidade. Sim, eu estudava o que eu amava, mas era tanto para ler, escrever e analisar que já não me sobrava muito tempo para me divertir com aquilo. Sim, eu morava sozinha, mas os serviços domésticos me pegaram com tudo.

Eu realmente gostava de cozinhar, mas faxinar um apartamento, ainda que minúsculo, não era um programa muito agradável, bem como lidar com os defeitos em aparelhos domésticos ou com as roupas de lavagem mais complicada. Eu tinha sorte de ter uma vizinha muito amigável que estava sempre pronta para me dar uma dica sobre uma coisa ou outra.

Sem contar que, com o passar do tempo, o dinheiro foi se tornando cada vez mais necessário, o que fez com que eu precisasse arrumar um emprego, e foi assim que me tornei atendente na biblioteca de uma das mais conceituadas escolas de Nova York, na qual todos os estudantes deviam usar uniformes tradicionais e as alunas usavam bolsas e sapatos que deviam custar mais do que eu recebia por um mês inteiro de trabalho.

Pensando pelo lado bom, fora uma sorte eu ter passado por esse emprego. Do contrário, eu teria penado para encontrar um estágio em sala de aula, que era obrigatório para que eu me formasse.

Foi assim que eu comecei a ser uma espécie de professora auxiliar de literatura. E foi assim que eu descobri que não queria ser professora. E foi assim que eu descobri que eu não sabia o que eu faria da vida depois que me formasse. O que aconteceria daqui a um ano.

– Senhorita Swan? – ouvi a voz de veludo dele me chamar – A senhorita não deveria estar em outro lugar, efetivamente fazendo alguma coisa?

Edward Masen. O homem mais lindo e gostoso que meus olhos já tiveram o prazer de admirar. Perfil alto e forte, com um peitoral largo no qual muitas mulheres já devem ter tido vontade de deixarem seus corpos se encaixar em um abraço. Cabelo ruivo completamente rebelde, como se os fios estivessem pedindo que alguém passasse suas mãos por eles. Mandíbula máscula, perfeitamente delineada por uma barba bem cortada, quase no mesmo tom que os fios de cabelo. Olhos verdes tão intensos que muitas vezes um único olhar daquele homem dizia mais do que uma frase inteira.

Seria o homem perfeito, se não fosse um poço de ignorância, mau educado, irritante, metido, provável mulherengo e presunçoso.

– Sim, senhor Masen. – respondi me virando para ele, tentando evitar demonstrar toda irritação que ele causava – Eu apenas parei para tomar um café.

– Para referências futuras, senhorita Swan, a sala dos professores não deve ser usada como sala de descanso. – ele respondeu no tom mais duro e irônico que pode.

Eu sabia disso e teria ido espairecer na biblioteca, onde eu sempre me sentia melhor, mas não tinha muito tempo antes da próxima aula e biblioteca era longe demais. Além do fato de que meu horário estava quase acabando, então eu estava ansiosa demais para ir embora, não valendo a pena relaxar de verdade.

– Anotado. – respondi jogando meu copo de café vazio na lixeira enquanto saia, deixando-o sozinho.

Fui pelos corredores da instituição até a sala em que aconteceria a próxima e última aula daquele dia na qual eu estagiaria, passando por algumas adolescentes vestidas em suas saias colegiais que provavelmente eram as mesmas que usavam desde que entraram na escola, tendo em vista o comprimento. Ainda assim, agradeci internamente por não ter passado por nenhum dos meninos que me davam olhares avaliadores nada disfarçados, que me faziam refletir mil vezes se a saia do terninho que eu era obrigada a usar não estava indecente.

Graças a Deus a professora oficial já estava lá. Eu sempre me sentia intimidada quando aquele exército de alunos que mais pareciam robôs, todos vestidos da mesma forma e usando praticamente os mesmos penteados, ficavam lá sentados, cada um mexendo em seu celular, aguardando a chegada da professora, enquanto eu ficava lá parada parecendo uma peça de mobília.

E assim eram os meus dias de estágio. Fugir do senhor Masen, fingir que eu estava fazendo algo útil durante as aulas e fugir dos momentos tensos entre eu e os adolescentes do lugar.

Era mais ou menos como estar de volta ao ensino médio. Eu realmente não queria isso para sempre na minha vida.

– Bella! – ouvi meu nome ser chamado logo que saí da sala onde ocorrera a última aula da qual eu participara.

Só uma pessoa me chamava assim naquele lugar, minha colega de faculdade e de estágio, Angela.

– Ainda bem que te achei! – ela voltou a falar assim que me alcançou, passando a mão em alguns fios do seu cabelo preto que ela tentava manter fortemente preso em uma trança quando vinha para o estágio na escola – A professora da turma de aprofundamento precisou ir embora e pediu para eu substituí-la, acredita?

– Isso é incrível, Ang! – respondi feliz por ela, sabendo que minha amiga provavelmente estava nas nuvens e feliz por mim, por não ter sido eu a receber o convite, já que não gostaria de aceitar.

– Sim! – ela concordou tão animada que eu poderia imaginá-la a ponto de dar pulinhos no meio do corredor – Mas precisava falar com você antes. Você não se importa de atrasar sua carona?

Pobre Angela. Era tão altruísta que seria capaz de desperdiçar uma oportunidade pela qual ela tanto esperava para que não tornasse outra pessoa desconfortável. No caso, seria eu, ficando sem minha carona para casa, desde que eu não tinha um carro em Nova York e economizar em transporte fazia bem para o meu bolso.

– É claro que não! – respondi passando a confiança que ela precisava – Vá ensinar algo de verdade a eles! Eu realmente não me importo de pegar o metrô hoje.

– Ah, não, Bella! – ela disse triste – O metrô vai estar tão lotado!

O primeiro sinal tocou anunciando que os alunos deveriam ir para as suas salas e me avisando que eu deveria optar por outro argumento para não deixar Angela perder aquela oportunidade.

– Tudo bem, eu posso te esperar na biblioteca! – ofereci – Eu preciso mesmo adiantar um trabalho para a próxima semana e posso fazer minha pesquisa aqui.

– Isso seria perfeito! – ela concordou – Te encontro lá quando sair!

Com isso, foi a passos rápidos para a sala onde seria a aula que ela finalmente daria sozinha, antes que o segundo sinal tocasse.

Feliz por ela e com a consciência tranquila, fui finalmente rumo à biblioteca. Eu não seria capaz de adiantar trabalho algum, já que não havia trago minhas anotações sobre o que precisava pesquisar, mas seria bom ter quase uma hora a sós com os livros.

Estava chegando perto da área da biblioteca quando vi um aluno sentado em um dos bancos que havia nos corredores.

Não era a primeira vez que eu o via. Na verdade, sempre passava por ele ao final do meu expediente de estágio. Ele sempre estava sozinho, com seu uniforme impecável, mochila ao seu lado, comportadamente sentado com seu cabelo acobreado cortado em cuia cobrindo um pouco seu rosto.

Pelo seu tamanho, não poderia ter muito mais de seis anos.

– Oi. – falei tentando obter sua atenção.

Ele levantou seu rostinho em minha direção, mostrando um par de olhos verdes incrivelmente lindos, mas que me pareceram um tanto apáticos para uma criança.

– Oi. – ele respondeu ainda me olhando.

– Você não deveria estar em sala? – perguntei pela primeira vez pensando no que o levava a sempre estar sentando pelos corredores naquele horário.

– A minha aula acabou. – ele respondeu sem hesitar.

– Então você não deveria estar lá fora esperando seus pais virem te buscar? – perguntei me aproximando dele.

– É a minha babá que vem. – ele me corrigiu.

– Tudo bem. – concordei me dando um chute mental, porque era óbvio que as crianças que estudavam naquela escola não eram do tipo que tinham os pais à sua disposição para irem busca-las no colégio – Você não deveria a estar esperando lá fora?

– Ainda não. – ele respondeu, mas ao ver que eu ainda esperava por mais informações completou – Ela só chega depois.

– E porque você não fica brincando com seus amiguinhos enquanto espera? – perguntei ainda cismada com o garotinho.

– Eu prefiro ficar aqui. – ele respondeu, mas percebi que pareceu se encolher um pouco, como se a ideia de ficar lá fora fosse desconfortável.

– Por quê? – perguntei um tanto sentida por ele.

– Eu não tenho muitos amigos. – ele respondeu fazendo uma careta, como alguém que anuncia que o dia está chuvoso.

– E você não fica entediado por ficar esperando aqui sozinho? – perguntei intrigada com a situação, não sabendo se deveria ou não me intrometer.

Ele apenas encolheu os ombros em resposta.

Eu sabia que iria me arrepender do que estava prestes a fazer, mas prometi a mim mesma que seria só naquele dia, já que eu teria que esperar Angela de qualquer forma.

– Eu estava indo para a biblioteca. – falei – Você não quer vir comigo? Nós podemos pegar um livro que você goste e eu posso lê-lo para você.

Ele deu um pequeno e rápido sorriso, como se a situação fosse engraçada.

– Na verdade, eu consigo ler sozinho. – ela falou permanecendo sentado como estivera o tempo inteiro, mas sorria um pouco desconfiado – Além disso, eu não devo sair com estranhos.

Suspirei teatralmente.

– Eu sou Bella. – falei esticando a mão.

Ele finalmente se levantou e pôs sua mochila nas costas.

– É um prazer, Bella. – ele respondeu apertando minha mão – Eu sou Anthony.


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Notas finais do capítulo

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