Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 9
Todo Mundo Odeia o Novato


Notas iniciais do capítulo

Bom domingo, gente lindaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!
Sabem que eu me espreguicei hoje e disse: Vou terminar o capítulo e postar hoje... ^^
Funcionou! Aqui está ele!
Enjoy! ='.'=

P.S.: Para os detalhistas sobre a série... No último cap. (Salário Mínimo), se vocês são bem detalhistas mesmo, sabem que na série o episódio se passa em 1986, mas como os episódios subsequentes - até o Kwanzaa - são em 1985, eu mudei o ano para não confundir vocês.
Nota apenas para esclarecimento de possíveis dúvidas. ^^



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POV. CHRIS (Brooklyn - 1985)

Eu estudava há mais de três anos na Corleone e pouquíssima coisa tinha mudado desde que eu entrei. Alguns tinham entrado, outros tinham saído, mas quem eu queria que saísse nunca saía. Óbvio. O Caruzo ainda torrava minha paciência com piadinhas de mal gosto e olhares debochados, mas eu tinha que admitir que ele nunca mais tinha batido em mim. É um avanço, eu acho.

Sempre andei com a Lizzy e o Greg e nunca fiz questão alguma de ter outros amigos. Os que eu tinha me bastavam. E digamos que andar muito com a Lizzy me fez desconfiar mais das pessoas…

Foi mais ou menos nesses dias que um novato chegou na escola. Todo mundo achou estranho, já que estávamos no meio do ano letivo - quase nas férias de inverno. Mas, além disso, o novato chamou atenção por outra coisa, uma coisa que estava bem na cara… Bom, na verdade, no corpo todo. Ele era negro…

O garoto era ligeiramente menor que eu e usava roupas parecidas com as minhas. Ele me encarava abertamente, aparentemente alheio a todos os outros alunos no corredor olhando para ele. No começo eu não acreditei na minha sorte, depois eu lembrei que eu não tinha sorte ou que ela tirava férias com muita frequência. Troquei olhares com a Lizzy e o Greg, mas eles nada disseram. Ficamos observando de longe e eu tentei resistir à vontade de ir lá falar com ele. Não vou falar assim tão na cara… Deixa passar um tempo…

O sinal tocou e fomos todos para a sala e, para a minha surpresa, o novato entrou na mesma sala que a gente, sentando na fileira da minha esquerda, duas cadeiras atrás de mim e quase no fundo da sala. Olhando rapidamente para trás, vi que ele ainda me encarava, mas antes que eu pudesse comentar qualquer coisa com o Greg ou com a Lizzy, a srta. Morello começou o discurso do tédio.

“Bom dia, turma. Como já devem ter percebido, temos um novo aluno hoje”, ela disse, gesticulando para o garoto negro sentado no fim da sala. “Albert, pode vir aqui um instante para que a turma lhe veja?” Ele levantou e, devagar, andou até onde a srta. Morello estava. Ela imediatamente olhou para mim. “Ah, Chris, estou tão feliz por você!”

“O quê? Por quê?”

“Agora você tem alguém com quem falar as gírias do gueto, alguém que tem uma experiência paterna nula como você.”

“Eu tenho um pai!” Exclamei, meio revoltado.

“Ah, eu sei, Chris. Todos acreditamos no melhor.” Seu tom de voz era de pena fingida que me dava náusea.

Senti a mão da Lizzy no meu ombro e respirei fundo, escutando a louca continuar.

“De toda forma, bem vindo, Albert. Pode voltar para o seu lugar. Então, turma, vamos começar a aula.”

Ao passar por mim, Albert me encarou novamente e eu me perguntei até quando ele ia fazer isso sem falar nada. Acabei descobrindo, durante o intervalo, que ele faria aquilo por pouco tempo.

Eu, Lizzy e Greg fomos até a lanchonete do outro lado da rua e, enquanto eles dois entraram para fazer o pedido, eu fiquei “guardando” a mesa. Nesse momento, Albert se sentou na cadeira à minha frente na mesa.

“Oi?”

Levemente surpreso, respondi. “Ah, oi.”

“Cara, que alívio. Pensei que seria como nas outras escolas onde só eu era negro.”

“Sério? Achei que era o único que passava por isso. Tem escolas perto da minha casa, mas minha mãe me manda para cá, meia cidade de distância de casa.” Ele concordou.

“É. Para ter ‘educação de qualidade’, como ela diz.” Sorri um pouco.

“Parece que sua mãe é igual à minha.”

“Pode crer.”

O olhar dele mudou do meu rosto para algo atrás de mim, mas antes que eu virasse para olhar, Lizzy e Greg chegaram na mesa com o nosso lanche. Lizzy se adiantou e falou com ele.

“Ah, oi, Albert.”

“Oi.” Ele franziu o cenho rapidamente e logo olhou para mim. “Falô, cara. Vou nessa. Depois a gente se fala.” E levantou, indo na direção da escola.

Quando ele sumiu pela porta principal, Greg se manifestou.

“É impressão minha ou ele fugiu quando a gente chegou?” Dei de ombros.

“A gente estava conversando normal.” Lizzy bufou com irritação.

“Então o problema é que ele não gosta de gente branca? Coitado. Deve morrer de raiva todo dia por estudar na Corleone.”

Não comentei mais nada e resolvemos comer, deixando o assunto para lá.

Quando cheguei em casa, naquela tarde, me deparei com minha mãe, Drew e Tonya com um monte de sacolas de supermercado. E quando eu digo um monte, é porque era realmente um monte.

“Que zona é essa e cadê o sofá?” Drew e Tonya sorriram como se o Papai Noel tivesse chegado mais cedo.

“Mamãe fez as compras.”

Minha mãe surgiu da cozinha e completou. “A devolução do imposto de renda veio três vezes maior do que eu esperava, então antecipei as compras e comprei um presentinho para mim.” Cerrei os olhos, desconfiado.

Minha mãe nunca falava nada no diminutivo. Nas raras vezes em que falava, descobríamos que não era nada pequeno. Mas antes que eu pudesse perguntar o que era esse “presentinho”, a campainha tocou. Eu até ia atender, mas o Foguete Rochelle passou por mim, gritando: “É o meu bebê! É o meu bebê!”. Segundos depois, dois homens enormes entraram na sala carregando o que eu logo reconheci como um sofá branco. Rolei os olhos e suspirei. Quero só ver o que o papai vai dizer disso…

Depois que os entregadores foram embora, minha mãe enfileirou eu, Drew e Tonya em frente ao sofá e começou a recitar inúmeras regras para podermos sentar no sofá. Não vou dizer tudo o que ela falou ou vou acabar hibernando, mas, em resumo, não podíamos fazer nada a não ser sentar, completamente estáticos.

Quando ela terminou o discurso, dei tudo de mim para não revirar os olhos e fui atrás de algo para comer antes de ir para o Doc’s.

Na manhã seguinte, Lizzy e eu chegamos cedo na escola e, para a minha surpresa, Albert já estava lá. Ele ficou me rondando outra vez, mas só veio falar comigo quando a Lizzy se afastou para ir ao banheiro.

“E aí, cara?”

“E aí.” Eu não ia ficar com aquela dúvida. “Por que você só vem falar comigo quando meus amigos não estão perto?” Ele fez uma careta, e eu percebi que ele queria fugir da pergunta, então pressionei. “Você não gosta de gente branca?”

“Eles é que não gostam de mim”, ele disse, na defensiva. “Então só devolvo o favor.” Sorri, compreendendo o ponto de vista dele.

“Nem todos são iguais.” Ele riu com sarcasmo.

“Você que pensa. Eles podem até se fingir de seus amigos, mas no fundo não gostam de você e vão te deixar para trás na primeira oportunidade. São todos falsos e mentirosos, até os seus amigos.” Ele falou a última palavra com deboche, e eu cerrei os dentes com raiva.

“Eu conheço o Greg e a Lizzy há eras, e eles já me ajudaram em muita coisa. Não é um qualquer que vai chegar e falar mal deles na minha frente. Retire o que disse.” Observei seu rosto se fechar com raiva e ele se aproximou de mim.

“Não. Eles são falsos, mas você é o traidor e vai pagar por isso. Assim como aquela professora de quinta vai pagar por ter insultado o meu pai.”

“Se fizer alguma coisa, vai se ferrar.”

“Vamos ver.”

A tensão entre nós dois era palpável e foi quebrada pela voz do Greg se aproximando.

“Chris? Está… tudo bem?” Olhei para ele por sobre o ombro do Albert e assenti lentamente.

“Sim.” Voltei meus olhos para o Albert, ainda com raiva. “Ele já está de saída, não é, Albert?”

Ele soltou um riso debochado e, virando as costas, foi embora. Soltei um suspiro longo, mas virei rapidamente ao ouvir a voz da Lizzy.

“O que aconteceu aqui?”

“Nada”, respondi. Ela me olhou, cética, e mudou o olhar para o Greg.

“Ele e o Albert estavam quase se matando com os olhos quando cheguei.”

É óbvio que ele me entregou. Uma das coisas que o Greg acreditava sobre amizade era que amigos não deviam ter segredos, e ele levava isso muito a sério.

“Dá para explicar, Chris? Você estavam se dando bem ontem.”

Abri a boca para responder, mas fui poupado do esforço pelo sinal do início da aula. Encarando rapidamente os dois, resumi o acontecido em uma frase.

“Ninguém fala mal dos meus amigos”, e comecei a andar na direção da sala, tendo certeza dos sorrisos dos dois atrás de mim.

POV. LIZZY

Devo admitir que, depois da pequena discussão entre o Chris e o Albert, as coisas ficaram meio estranhas. A primeira coisa estranha foi uma pichação que apareceu na parede do colégio. Falava sobre a srta. Morello em termos nada gentis. Apesar da quantidade absurda de alunos cercando a parede da pichação, consegui trocar olhares com o Chris e o Greg; para nós três, era óbvio quem tinha feito aquilo. E foi com um sorriso de satisfação que vimos o Albert ser chamado à sala da srta. Morello para uma conversa.

“Acho que ele vai ser expulso”, disse, desejando ver aquele garoto pelas costas logo.

Mas, para a surpresa de nós três, a srta. Morello chamou nós três para a sala dela também. Quando entramos, pude ver um leve sorriso sacana no rosto de Albert e percebi que ele aprontava alguma.

“Bom, meninos, Albert me contou algo que fiquei muito triste em saber. Ele disse que viu vocês três escrevendo aquelas… palavras horríveis sobre mim na parede. Isso é verdade?” Fiquei tão chocada que não consegui responder de imediato e Chris tomou a frente.

“Claro que não. Ele que falou que ia se vingar da senhora por ter falado que ele não tinha pai.”

“Eu nunca disse isso, professora”, Albert disse com a cara mais dissimulada da face da Terra. Chris deu de ombros.

“Lizzy e Greg não escutaram, então é a minha palavra contra a dele. Não há provas de quem está falando a verdade e quem está mentindo. O que a senhora vai fazer?”

“Na verdade, tem uma prova sim.” Todos olhamos para o Albert enquanto ele continuava, cinicamente. “Eu vi eles guardando a tinta nos armários.”

Srta. Morello olhou para nós desconfiada e os três começamos a falar ao mesmo tempo.

“Isso é mentira.”

“Se estiver lá foi ele que colocou.”

“Só vimos a pichação hoje pela manhã, como todo mundo.”

“Chega, vocês três!” Srta. Morello respirou fundo e continuou. “Vamos até os armários. Se a tinta estiver lá, sinto muito, mas é uma prova incontestável. Vocês ficaram em detenção.” Recomeçamos a protestar, mas de nada serviu.

Logo estávamos os cinco em frente aos nossos armários. Como já esperávamos o pior, não foi grande a surpresa ao ver as latas de spray distribuídas nos nossos três armários. Srta. Morello nos olhou decepcionada.

“Os três estão em detenção por uma semana e eu escreverei para os seus pais.” Ao ouvir isso, nós três demos um olhar mortal para o Albert que foi embora sorrindo assim que a srta. Morello deu as costas.

“Que raiva daquele idiota!” Eu e o Greg concordamos com o Chris.

“Mas não tem nada que possamos fazer agora.” Os dois me olharam surpresos e o Greg perguntou:

“Você está tão calma. Está me dando medo.” Sorri maquiavélica para os dois.

“Isso não vai ficar assim. Eu vou pensar em algo e ELE é quem vai se ferrar.” Eles assentiram.

Nossa detenção ficou marcada das 12:30h às 15:30h. Nosso serviço: auxiliar os professores que ficavam depois da aula. Arrumar as salas, limpar os quadros, ajudar os professores com as agendas e os planos de aula, auxiliar a bibliotecária com o catálogo de livros novos… Em resumo: tédio. Mas quando se estuda na Corleone tempo o suficiente, logo se aprende que sempre acontece algo surpreendente.

No segundo dia da nossa detenção, estávamos na biblioteca, colocando de volta todos os livros que os alunos tiravam do lugar, quando o Caruzo e a gangue dele entraram. Chris olhou para eles e rolou os olhos.

“Se veio aqui para nos encher, Caruzo, é melhor ficar sabendo que já temos muito o que fazer e não temos tempo para você.”

Caruzo resmungou algo e respondeu de mal gosto.

“Viemos ajudar.”

Parei imediatamente o que estava fazendo e sacudi levemente a cabeça para ter certeza do que eu tinha ouvido. Greg acabou verbalizando o que eu pensei.

“O quê? Vocês acham que a gente vai acreditar nisso?”

“É verdade. Estamos em detenção por causa do outro neguinho.”

“Albert aprontou com vocês também?”, Chris perguntou, parecendo interessado.

“Foi”, Caruzo fez uma careta. “Estávamos na nossa quando ele chegou zoando minha cor e meu cabelo. Fomos para cima na hora que a vice-diretora apareceu no corredor. Resultado: detenção. Parece coincidência, mas eu tenho certeza que ele armou.” Assenti levemente, com o olhar longe.

“Estou chocada.” Caruzo me olhou, cético.

“Vai defender o neguinho também?”

“Não. Estou chocada por você não ter culpa nenhuma. Mas nem pense em se escorar na gente na detenção. Tem outras quatro pilhas de livros para guardar bem ali”, eu disse, apontando para uma montanha de livros considerável em cima de uma das mesas. “A bibliotecária disse que esses eram na estante G. E é melhor colocarem realmente no lugar porque ela sempre vem conferir.”

Eles resmungaram, mas foram fazer o que eu disse. Aproveitando que eles estavam longe de nós, Chris gesticulou para que eu e Greg nos aproximássemos.

“O que acham?” Greg deu de ombros.

“Não sei. Parece que o Albert é só um criador de casos. Gosta da confusão.” Concordei.

“É. Estou surpresa que ele tenha pego o Caruzo sozinho.” Chris considerou.

“Bem, se ele gosta da confusão, não vai parar por aí.”

Dito e acontecido. No dia seguinte, mais uma pessoa se juntou ao nosso grupinho de ‘detentos’: Yao. Obviamente, ele chegou fumaçando.

“Aquele miserável me paga!” Me aproximei dele, já gesticulando para ele baixar o tom de voz ou a bibliotecária viria ver o que era o barulho.

“Oi, Yao. O que foi?”

“Oi, Liz. Estou em detenção por uma semana por culpa do novato.” Assenti.

“Imaginei. Eu, Chris, Greg, Caruzo e os quatro que andam com ele estamos na mesma situação.” Ele balançou a cabeça.

“Eu não aceito isso. Não fizemos nada. Ele é que devia estar em detenção.”

“Ou expulso, de preferência.” Virei ao ouvir a voz do Chris se aproximando. Eles se cumprimentaram com um leve aceno de cabeça e eu percebi que um ainda não ia com a cara do outro. “O que ele fez com você?”

“Fez parecer que eu estava colando na prova de Aritmética. Esbarrei com ele ontem no corredor sem querer e ele disse que eu ‘ia pagar’. Hoje, antes da prova, ele esbarrou em mim de propósito, mas eu estava tão preocupado com a prova que deixei para lá. No meio da prova, quando arregacei a manga direita da minha camisa, um papel com as fórmulas da prova caiu em cima da minha carteira. O professor viu, me deu um F e me colocou em detenção.” Ri sem humor.

“Gente, isso está ficando muito ridículo. Quem ele pensa que é? O Intocável? Ele não pode chegar do nada e infernar nossas vidas.”

“Concordo”, Yao disse, colocando a mão no meu ombro.

“Ok”, disse o Chris, levemente irritado. “E o que você sugere, comedor de arroz?”

Ignorando o apelido, Yao respondeu: “Se ele joga com golpes baixos, vamos jogar com golpes baixos. Chama os outros cinco que eu explico.”

POV. CHRIS

Por mais que eu não gostasse do asiático, tive que admitir que o plano era bom. E para me livrar do Albert, faria sociedade até com o Malvo. Como a ideia era se livrar do ‘encosto’ o mais rápido possível, foi combinado que íamos colocar o plano em prática logo no dia seguinte.

No dia seguinte, pela manhã, combinamos de chegar bem cedo para decidir os últimos detalhes. Caruzo e sua gangue foram os últimos a chegar, mas ainda estava cedo. Escolhemos um corredor bem isolado para conversarmos.

“Então, Greg”, perguntou o asiático. “Conseguiu o que a gente pediu? Sem isso não dá para continuar.”

“Consegui sim”, Greg disse com um sorriso vitorioso, mas depois suspirou. “Não imagina o trabalho que isso vai me dar depois. O Fisher cobrou caro.”

“Isso é o de menos; a gente resolve depois. Onde está?” Greg estendeu o braço e entregou um papel enrolado. Ele examinou o papel e comparou com o papel das fórmulas da prova que ele tinha, depois me estendeu os dois papéis. “O que acha? A letra está parecida?”

Eu já conhecia o trabalho do Fisher, mas aquela imitação estava perfeita. Idêntica. Ótimo trabalho, Fisher…

“Está perfeita.”

“Ótimo”, ele continuou. “Quem é o melhor em arrombar armários?” Caruzo levantou o braço, e Lizzy riu.

“Claro. Muitos anos de prática.” Depois de receber alguns olhares, ela ergueu os braços em rendição. “Ok, fico calada.”

“Bem”, continuou o comedor de arroz. “Caruzo, você fica encarregado de colocar o papel no armário e, Chris, você cuida da tinta.” Assenti, mesmo não gostando de receber ordens dele. “Os amigos do Caruzo vão chamar a vice-diretora enquanto eu e a Liz distraímos o alvo. O resto vocês já sabem.”

Nos separamos, indo cada dupla para o seu lado, e eu fui na direção dos armários com o Caruzo. Pela primeira vez quis me sentir pessoalmente vingado, e nessa coragem, perguntei ao Caruzo.

“Caruzo, pode colocar isso junto com o papel?” E estendi uma folha de caderno que eu tinha estado preparando desde o dia anterior. Ele franziu o cenho, mas pegou o papel e abriu. Uma expressão de surpresa e satisfação tomou seu rosto.

“Você que fez?” Assenti. “Ele vai ficar bem ferrado com isso.” Sorri, sacana.

“Essa é a intenção. Como o asiático disse: ‘Se ele joga com golpes baixos, vamos jogar com golpes baixos’.” Ele concordou, sorrindo.

Depois de terminar de ‘arrumar as coisas’ no armário do Albert, eu e Caruzo fomos ao lugar onde o asiático e a Lizzy estariam ocupando o Albert. Ficamos olhando da esquina do corredor e os três estavam lá. Não dava para escutar o que estavam dizendo, mas, pelas expressões dos três, não devia ser uma conversa muito agradável. Logo eles começaram a vir na direção dos armários, e eu e Caruzo nos separamos, indo cada um para o seu lado. Eu fui para os armários, encontrando o Greg que já me esperava lá, e o Caruzo abriu a porta de seu armário para observar sem ser visto.

Enquanto os três chegavam perto de mim, pude ver a vice-diretora no final do corredor, andando irritada ao nosso encontro. Eles nos alcançaram ainda discutindo, mas foram interrompidos rapidamente pela vice-diretora.

“Posso saber que confusão é essa?” Albert se adiantou para se fazer de vítima.

“Eles vieram buscar confusão comigo.” A vice-diretora olhou para Lizzy e o asiático, mas eles simplesmente deram de ombros.

Mudando de assunto, a vice-diretora continuou:

“Vim aqui porque recebi uma denúncia de um dos alunos. Ele me disse que mais uma pichação estava sendo planejada por você, Chris.” Fiz cara de ultraje.

“O quê? Não tenho nada a ver com aquela pichação e não estou planejando nenhuma.” Ela me olhou desconfiada.

“Se é assim, não vai se importar que eu olhe seu armário.”

“De forma alguma. Pode olhar.” Abri meu armário, e Lizzy e Greg também se adiantaram.

“Pode olhar os nossos também, vice-diretora. Para não dizerem que encobrimos o Chris”, Lizzy disse.

Eles abriram os deles também e a vice-diretora pôde ver os armários limpos com nada mais que livros dentro. Meio desconcertada, ela abriu a boca, mas sua expressão mudou rapidamente ao ver algo no chão. Todos viramos para olhar, já sabendo do que se tratava. Um fio de tinta escorria de um dos armários. A vice-diretora nos olhou intrigada e fez a pergunta que nós esperávamos.

“De quem é esse armário?” Sem responder, todos olhamos para o Albert. “Poderia abrir, Albert?” Vimos ele engolir em seco e se adiantar para abrir o armário.

Lá dentro, havia quatro latas de spray preto; uma estava vazando e escorrendo para fora do armário. Pregadas na porta do armário, havia duas folhas de papel: uma com uma lista de pessoas de quem se vingar (com os nomes de todos nós riscados) escrita com a própria letra do Albert; e a outra folha tinha o desenho de outra pichação com a data do dia que seria feita, no caso, naquele dia.

A vice-diretora virou-se indignada para o Albert, mas ele logo tentou se defender.

“Não fui eu, professora. Eles se juntaram e tentaram fazer com que eu me desse mal. Nada disso é meu.”

“Sinceramente, meu jovem. Você espera que eu acredite nisso? Estou nessa escola há tempo suficiente para saber que esses alunos”, ela apontou para cada um de nós, “não se suportam. Vivem em pequenos grupos que vez por outra entram em conflitos que eu tenho que resolver. Por não se suportarem, jamais acreditarei que iriam se juntar para tramar algo contra você. Acho mais provável que você tenha feito algo contra eles e realmente tenha planejado outra pichação com essas palavras horríveis.”

“Mas professora--”

“Basta. Conheço bem meus alunos, e sei do que cada um é capaz. Quando vários alunos meus se envolveram em coisas estranhas logo após sua entrada, decidi pesquisar seu histórico e o que descobri não me agradou nem um pouco. Não preciso de mais um criador de casos na minha escola. Os que tenho já me bastam.” Ela deu uma olhada rápida para cada um de nós antes de voltar-se novamente para o Albert. “Recolha suas coisas e vá para minha sala.” Resmungando com irritação, Albert esvaziou o armário e, depois de nos olhar seriamente, foi a direção da sala da diretoria.

A vice-diretora virou e nos olhou.

“Creio que devo dizer que estão dispensados da detenção.” Comemoramos e ela nos olhou desconfiada. “Apesar do que eu disse a ele, espero que ele não esteja falando a verdade em relação a vocês armarem isso para ele.” Eu me adiantei e bufei em deboche.

“Uma aliança com eles?” Apontei para o Caruzo, sua gangue e o asiático. “Nem morto.” Os outros confirmaram, resmungando sua aversão, e sinalizei para Lizzy e Greg.

O sinal do começo da aula tocou e saímos andando para as salas. Nós nove olhamos discretamente uns para os outros e sorrimos, descarados. Podíamos nos detestar seguramente, mas não é um novato que vai chegar do nada e se apossar do nosso território.


***


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Notas finais do capítulo

Reviews???
O que posso adiantar dos próximos capítulos é que... muitas tretas... apenas...

Gente, se quiserem, aproveitem os reviews para me perguntarem algo sobre a história ^^
Responderei nas notas de início TODAS as perguntas... ^^
Até mais! o/