Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 15
Todo Mundo Odeia o Primeiro Beijo


Notas iniciais do capítulo

Oi, seus lindos o/
Faz um tempinho, mas eu estava preparando uma surpresa para vocês.
Alguns de vocês podem já ter visto e outros não, mas eu upei uma história nova na minha conta. Chama-se "O Coração de um Nerd" e é contada do ponto de vista do Greg. A história tem alguns detalhes e trechos que não parecem na história principal. Vai falar também da vida do Greg e seu amadurecimento.
Sempre achei que o nerd tinha pouco espaço na série, então decidi dar voz a ele.
Os capítulos serão relativamente curtos, mas eu espero que gostem.
O capítulo 1 de "O Coração de um Nerd" já está upado e, para manter uma cronologia bonitinha, sugiro que vocês leiam ele antes de começarem esse capítulo, vai fazer muito mais sentido para vocês.
Dito isso, aproveitem!
As coisas estão ficando bem tensas...
o/



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POV. LIZZY (Brooklyn - 1986)

Acho que tinha que admitir que minha vida tinha estado um pouco conturbada ultimamente. Ok, bem conturbada. Desde o meu aniversário, tanta coisa havia acontecido uma após a outra que eu não havia tido tempo para parar e assimilar coisa por coisa. Quando eu pensava que estava me recuperando de algo, logo outra coisa acontecia. Primeiro a emancipação, depois as descobertas sobre a vida dos meus pais, ter ficado rica - ainda não me sinto confortável com isso —, morar sozinha, minha aproximação com o Chris e a chegada do Daniel.

Claro que a maioria dessas coisas eram boas, mas mesmo assim isso não significava que eu não precisava de tempo para pensar. Na verdade, tempo eu até tinha, afinal, dormia sozinha toda noite. Mas meu sono era tão difícil de vir desde que comecei a morar sozinha, que eu não ficava nem um pouco a fim de trocar minha noite de sono por uma de reflexão sobre a vida. No futuro, percebi que eu teria resolvido meus problemas bem antes se eu tivesse perdido algumas noites de sono naquela época, pensando.

Desde que o Daniel havia chegado, eu tinha percebido que o Chris havia se afastado um pouco. Pensei ser ciúmes de amizade e, por isso, tentei agir normalmente com ele, para que ficasse claro que os dois tinham espaço na minha vida, mas, obviamente, não funcionou. À medida que os dias se passavam, o Daniel ia ficando mais presente no meu dia, e o Chris, mais ausente. Eu tentava fazer o possível para eles dois se darem bem, mas era impossível. Sempre que eles se viam, parecia que uma catástrofe global ia acontecer. Eu quase podia ver as faíscas saindo dos dois lados. Tanto que nenhum falava o nome do outro; quando queriam se mencionar, falavam “ele” ou “o outro”. Eu revirava os olhos e relevava; afinal, brigar não resolveria.

O que eu não pensei sobre o afastamento do Chris é que ele poderia ter outro motivo que não fosse o Daniel: a Tasha. Eu sabia que ela estava fazendo os movimentos dela, só não achei que estariam tão adiantados. Se bem que ela não precisa de muita coisa para ter ele babando por ela…

Comecei a considerar esse outro motivo ao ver os dois conversando na calçada antes de irmos para a aula. Eu observei o modo como sorriam um para o outro, sentindo meu coração se apertar com a visão. De certo modo, eu senti que merecia aquilo. Reconhecia minha covardia em lutar por ele, mas não conseguia reunir coragem para dizer o que sentia. A amizade dele era tudo para mim; eu simplesmente não podia perdê-lo. No fundo, eu sabia que era uma desculpa esfarrapada, mas eu não conseguia agir de outra forma.

Por isso, respirei fundo, pus um sorriso no rosto e saí para falar com eles.

“Bom dia.” Os dois me olharam e sorriram.

“Bom dia.”

“Bom dia, Lizzy”, a Tasha me cumprimentou com um sorriso suspeito, mas logo virou para o Chris novamente. “Então eu vou indo. Espero sua resposta.”

Minha curiosidade era grande, mas eu não perguntei nada sobre o que a Tasha quis dizer com aquilo.

Durante o caminho até a escola, conversamos mais do que eu esperava e fiquei feliz por isso. Podíamos ter nos distanciado um pouco, mas, ao que parecia, nossos gostos e a facilidade em falar não havia desaparecido. Nos momentos de silêncio que tínhamos, eu o observava discretamente. Havia momentos que ele olhava fixamente para o chão, talvez pensando em algo que o preocupasse. E, justamente por causa do distanciamento, eu não perguntava o motivo.

Mas minha atenção foi totalmente tirada do Chris quando chegamos à escola e notei alguém conversando com o Greg na calçada. A figura me parecia familiar, mas não consegui saber quem. Quando chegamos mais perto, percebi que eu era uma boba por não ter pensado que ela também estaria ali, afinal, não largava o irmão.

Assobiei alto, e isso pareceu chamar a atenção do dois conversando. A garota virou para olhar, e eu tive certeza.

“Meggie!!!!” Ela acenou e levantou, sorrindo; eu apressei o passo e a abracei. “Não sabia que tinha vindo. Quando chegou?” Afastei-a para vê-la melhor, e ela olhou o relógio.

“Há exatas 12 horas. Dan foi me buscar no aeroporto.” Estreitei os olhos, fingindo raiva.

“Seu irmão é um fingido. Ele não me disse nada.” Ela riu com gosto.

“Eu pedi para ele não contar. Queria fazer surpresa.”

Desviando um pouco os olhos de mim, ela olhou o Chris com interesse e sorriu. Percebi minha falta de educação e os apresentei.

“Meggie, esse é o Chris; Chris, Meggie.” Vi o Chris hesitar um pouco, mas Meggie se adiantou e, sorrindo, apertou a mão dele.

“Prazer, Chris.”

“Prazer, Meggie. Você é… bem diferente do seu irmão.” Ouvi ele acrescentar. Meggie riu com a observação.

“É. Imagino que vocês não tenham se dado bem, certo?” Esperei a confirmação do Chris, que veio em uma careta.

“Digamos que não foi amizade à primeira vista.”

“Sim. Ele pode ser insuportável quando quer. Entendo o seu lado.” Pela primeira vez naquela conversa, vi o Chris sorrir.

“Valeu.” Ele olhou para trás da Meggie, onde o Greg ainda estava sentado e, agora que eu observava, bem pálido. “Você está bem, Greg?” Meggie também virou para olhá-lo.

Greg ergueu os olhos e ficou um pouco mais pálido, se é que isso é possível. Ele tentou levantar e disse algo sobre estar bem e só precisar ir ao banheiro; depois entrou na escola. Troquei olhares preocupados com o Chris, e ele se adiantou.

“Vou falar com ele.” E entrou, me deixando com a Meggie.

 

POV. CHRIS

Fui direto para o banheiro masculino e encontrei o Greg encostado em uma das pias, de olhos fechados e respirando fundo. Esperei o tempo que eu sabia que ele precisava antes de perguntar:

“Tudo bem, cara?”

Ele abriu os olhos e me olhou, tentando sorrir, mas seu rosto ainda tinha uma palidez anormal.

“Tudo. Só tive um mal estar.”

“Você está doente?”

“Não. Foi só… Não foi nada.”

Olhei-o estranhamente, enquanto ele virava para a pia e molhava o rosto. Ok que, às vezes, o Greg tinha seus momentos esquisitos, mas aquilo havia sido esquisito demais. E, se eu o conhecia bem, aquilo eram os primeiros sintomas antes de ele entrar em pânico. Além disso, ele nunca tinha segredos para mim ou Lizzy.

Depois de enxugar o rosto, ele me olhou com uma aparência relativamente melhor e indicou a porta.

“É bom irmos. A aula vai já começar.”

Confirmando o que ele disse, o sinal do início da aula tocou e fomos na direção dos armários. Lizzy estava lá com cara de preocupada. Por sua expressão, percebi que ela o pressionaria, então fiz um leve sinal com a cabeça quando nos aproximamos e ela pareceu entender. No final, só perguntou se ele estava bem. Ele disse que sim e, depois de pegar nossos livros, fomos para a aula.

Felizmente, a aula passou rápido. Eu queria sair dali, já que tinha muita coisa para pensar. Tasha, Greg… Minha vida está ficando bem melodramática…

Na volta para casa, contei para a Lizzy tudo o que não consegui fazer o Greg falar. Ela ficou ainda mais preocupada e pelo mesmo motivo que eu: Greg nunca guardava segredos. Mas também sabíamos que quando ele estivesse pronto, nos contaria. Era nosso único consolo, afinal, não podíamos forçá-lo a falar.

Já em casa, aproveitei os poucos minutos que eu tinha antes de ir para o Doc’s para pensar. Deitei na cama e fiquei olhando para o teto, quase desejando que ele me desse uma resposta para tudo. Por que tudo é tão complicado? Ela me convidou para sair e dessa vez não tem nenhum jogo de beisebol que eu deva ir. Eu deveria estar feliz, não?

 

Flash-back on

 

Eu tinha acabado de descer para esperar a Lizzy para irmos à escola juntos quando a porta do 608 abriu e Tasha saiu de lá.

“Bom dia, Chris.” Ela sorriu, e eu senti um leve frio no estômago.

“Bom dia, Tasha.”

Ela veio sentar ao meu lado, e seu perfume fez cócegas em meu nariz. Era bom, mas… faltava algo.

“Bom, eu queria te pedir uma coisa. Pode ser?” Curioso, assenti.

“Sim, claro.” Abrindo o caderno, ela tirou um papel dobrado de lá.

“Vai ter uma festa na casa da Lisa. Queria que você fosse.” HEIN??? Ela me convidou para uma festa na casa da Lisa?

“Ah… Quando vai ser?”

“Tem tudo no papel. Seria bem legal se você fosse.”

Olhei para ela tentando entender realmente o sentido da última frase, mas não consegui nada.

“Ok. Eu--”

“Bom dia.” Viramos para ver a Lizzy e

 

Flash-back off

 

Depois disso ela foi embora.

Passei as mãos pelo rosto, já impaciente. Por que ela faz isso? Passa semanas em silêncio sobre esse assunto e depois aparece do nada com um convite para uma festa? Será que realmente está gostando de mim ou está me usando outra vez para fazer ciúmes no Robert? Pior, e se ele estiver na festa? Ele também é amigo da Lisa.

Fiz uma careta e considerei. Antigamente eu não pensaria assim. Só ficaria feliz porque ela me convidou e iria à festa. Agora desconfio de praticamente tudo. Sorri, percebendo o motivo disso. Lizzy… Ela me mudou de várias formas.

Olhei para o relógio e vi que tinha cinco minutos para chegar no Doc’s. Levantei e fui.

 

POV. LIZZY

Depois de almoçar, havia me sentado na calçada. Me sentia tão melancólica esses dias, e o que eu acabava de descobrir não ajudava o meu humor. Lisa havia acabado de passar para a casa da Tasha. Nos conhecíamos de algumas conversas na porta de casa, e ela veio me convidar - muito discretamente - para uma festa na casa dela. Acabei descobrindo que a festa era sobre o jogo da garrafa. Fiquei um pouco sem graça e recusei. Disse que estava muito ocupada e cheia de tarefas da escola para fazer. Ela pareceu triste, mas logo me olhou com um sorriso malicioso.

“Se bem que com um garoto branco daqueles, você não precisa de ajuda para conseguir beijos.” Fiquei um pouco surpresa, mas sorri à guisa de ‘tudo bem’, e ela foi para a casa da Tasha.

Alguns minutos olhando fixamente para o meio fio me fizeram entender tudo aquilo, e eu ofeguei ao descobrir. Tasha convidou o Chris para o jogo da garrafa! Senti um súbita vontade de xingá-la, mas me contive. Ela estava jogando, literalmente, e eu não podia julgá-la. Tínhamos feito um acordo, e quem não estava cumprindo era eu. A culpa era minha.

Ouvi o barulho de um porta abrindo e virei a cabeça para ver o Chris saindo de casa. Ele me olhou surpreso.

“Oi.”

“Oi.” Em um impulso cego, acabei perguntando. “Você vai para a festa na casa da Lisa?” Ele me olhou mais surpreso ainda, mas logo relaxou.

“Faz sentido que você saiba. Estava pensando em ir. Acho que preciso arejar a cabeça.” Ele sentou ao meu lado, e eu baixei os olhos para que ele não visse minha decepção. “Você vai?”

“Não. Sei do que se trata a festa.” Ele pareceu confuso, mas não perguntou nada.

Eu me chutava internamente por ser covarde daquele jeito. Por que? Eu podia simplesmente convidá-lo para sair comigo. Fazia muito tempo que não saímos juntos. E talvez, só talvez, ele abrisse mão da festa para ficar comigo conversando bobagens.

Respirei fundo, sentindo seus olhos em mim. Mas quando abria a boca para fazer a tal pergunta, o som de uma buzina conhecida nos fez olhar para a rua. Daniel acenava da janela do carro. Levantei e acenei de volta, com o pior sorriso amarelo que eu tinha. Dan, você não podia ter escolhido hora pior…

“Liz,” ele me chamou, “vou decorar o escritório hoje. Você ainda vem me ajudar? Não sei nada sobre essas coisas.”

Ele sorriu para mim, mas quando seus olhos passaram pelo Chris, de pé ao meu lado, o sorriso desapareceu. Pela expressão dura nos olhos do Chris, o ódio era bem recíproco. Virei para o Chris, e ele me olhou com um expressão triste; senti um aperto no peito.

“Desculpa, Chris. Eu prometi que o ajudaria na decoração. Eu nem sabia que era hoje.” Ele balançou a cabeça, dispensando minhas desculpas. Além de tristeza, seu rosto mostrava decepção.

“Eu sei. Você faz promessas demais.” E passando por mim, ele desceu as escadas, indo na direção do Doc’s.

Fiquei parada onde estava, olhando para frente sem realmente ver nada. Um nó se formou na minha garganta, me forçando a trincar os dentes para não chorar. O que ele espera que eu faça? Está tentando me fazer escolher entre ele e o Daniel? Não é justo! Não é como se ele gostasse de mim. Fechando os olhos, respirei fundo para me acalmar. Ouvi a voz do Daniel me chamando e, colocando o melhor sorriso que conseguia, desci as escadas e entrei no carro. Ele me olhou, preocupado.

“Tudo bem?” Assenti rápido demais.

“Sim, claro. Eu-- converso com ele depois. Vamos?” Ele pareceu querer insistir, mas algo em meu rosto o fez desistir. Após assentir, ele deu partida no carro.

 

POV. CHRIS

Naquela vez, tomei cuidado para não descarregar a raiva e a frustração nas caixas de leite. Elas não mereciam isso. Afinal, quem eu realmente queria quebrar não estava ali. Ele! Sempre ele! Ela se afastou de mim por causa dele! Mas eu também não podia tirar toda a culpa dela. Era tão claro que ele estava fazendo aquilo porque gostava dela. Eu só não sabia se ela se fingia de cega ou se realmente era.

“Oi, Chris?” Virei, assustado, para ver a Tasha sorrindo para mim.

Olhei rapidamente ao redor; Doc não estava em canto nenhum. Eu nem havia ouvido a campainha da porta tocar.

“Ah… Oi, Tasha.”

“Vim saber se você já decidiu se vai. Lisa passou lá em casa mais cedo. Ela disse que também convidou a Lizzy, mas ela disse que tinha outros compromissos hoje.” Meus olhos se arregalaram.

Então ela recusou porque ia sair com ele? Mas ela disse que não sabia que era hoje. Ela mentiu para mim? Senti a dúvida e a raiva começarem a crescer ainda mais e acabei tomando a decisão ali mesmo.

“Eu vou.” Ela sorriu, radiante.

“Ótimo. Mas não podemos ir juntos ou minha avó pode descobrir. Nos vemos lá, então.” Assenti, e ela se aproximou, me beijando no rosto.

Olhei ela sair e senti um misto de alegria e angústia. Rolei os olhos, cansado daquilo. Por que diabos eu não consigo decidir o que sinto?!

Acabei deixando aquilo de lado. Empilhar caixas de leite era tão mais interessante…

 

POV. LIZZY

A tarde acabou passando rápido. Decorar coisas era algo que me atraía muito e, mesmo que fosse um escritório e não uma casa, tinha algo de similar nisso.

Daniel tentou me distrair de todas as formas possíveis; graças a Deus. Eu temia que se não me concentrasse nele ou no que tínhamos que fazer, choraria a qualquer minuto. O nó na minha garganta ainda não havia desaparecido, e eu nem sabia exatamente o porquê. Eram tantas coisas contraditórias que meu cérebro não analisava nada. E meu coração? Acho que ele já estava quebrado demais.

“Pronto. O que acha do seu novo escritório, sr. Scott?” Falei de forma debochada.

Ele riu e deu uma volta pelo lugar.

Eu havia misturado cores neutras com algumas fortes, destacando lugares importantes. Ele mesmo havia escolhido a mobília, então eu só tive o trabalho de escolher a decoração e as cores.

Depois de alguns minutos, ele virou para mim sorrindo e me aplaudiu.

“Está maravilhoso. Os investidores ficarão tão enfeitiçados pela decoração que terei todas as vantagens nas negociações.” Ri com sua observação.

“Que amigo mercenário eu tenho.”

“Mercenário não, empresário.” Ri novamente. Só você mesmo, Dan…

“Ok. Acredita nisso que é bacana.” Ele balançou a cabeça rindo e olhou o relógio.

“Bem, já está bem tarde e não comemos nada. Me acompanha?” Olhei meu próprio relógio e eram quase 19 h, então assenti. Meu estômago estava oco.

“Sim. Morta de fome.” Ele sorriu e me conduziu pela cintura até a porta.

“Ótimo. Descobri um lugar bem legal aqui perto. Depois te levo em casa.”

—_______________________________________________

 

Ele estacionou o carro em frente à minha porta e me olhou.

“Espero que tenha gostado.” Assenti, agradecida.

“Muito. Obrigada.”

“Não precisa agradecer. Você me fez um grande favor hoje.” Sorri e baixei os olhos.

Pouco depois, senti sua mão erguer meu queixo para que eu o olhasse. Seu rosto estava bem próximo do meu, e eu congelei por alguns segundos. Ele me olhava como eu sempre sonhei que o Chris me olhasse. Seus olhos me diziam o quanto ele gostava de mim e me senti chocada por nunca perceber. Sua voz saiu como um sussurro aveludado.

“Lizzy… Eu… Acho que não preciso dizer nada, não é? Você já sabe.” Assenti, incapaz de reagir de qualquer outra forma.

Ele acariciou meu rosto e aproximou ainda mais o rosto do meu. Debati internamente se aceitava ou não seu beijo. Usá-lo para esquecer o Chris não era algo que eu gostaria de fazer. Ele era meu amigo acima de tudo. Não poderia brincar com seus sentimentos dessa maneira. Além disso, eu não poderia me trair dessa forma. Se eu queria ficar com outra pessoa, minha consciência me dizia que eu precisava esquecer o Chris primeiro; sozinha, sem envolver ninguém nisso.

Por isso, mesmo sabendo que o machucaria, desviei o rosto levemente. Ele notou e assentiu, se afastando e suspirando.

“Eu sabia que você não aceitaria.”

“Eu… sinto muito, mas… não posso. Meu coração--”

“-- é dele, eu sei.” Ele me olhou, seus olhos expressando raiva. “Ele é um idiota. O pior de todos. Não gosto de vê-la sofrer por causa daquele imbecil. Ele gosta de outra pessoa, Lizzy.” Baixei os olhos, tendo a verdade jogada na minha cara por outra pessoa.

“Eu sei, mas não mando aqui”, disse, apontando para meu coração.

“Claro, mas”, ele disse, sorrindo cinicamente, “não vou desistir tão fácil. Ao contrário dele, eu vou te fazer feliz. Eu posso esperar.” Senti meu coração acelerar um pouco. Ele gosta de mim tanto assim?

“Sabe que não posso prometer gostar de você, não é?” Ele sorriu.

“Também não posso prometer deixar de gostar de você.”

Em um movimento rápido, ele se aproximou e beijou meu rosto, mas ao se afastar, roçou levemente os lábios nos meus. Ofeguei de surpresa e levei as mãos à boca. Ele sorriu de canto e olhou para frente. Respirei fundo algumas vezes para acalmar meu coração que pulava por causa do susto, mas logo a expressão nos olhos dele me chamou atenção. Seus olhos haviam ficado duros e cheios de ódio. Meu primeiro pensamento foi que ele havia ficado chateado com algo que eu fiz, mas observei que ele olhava fixamente para frente. Acompanhei seu olhar e… antes não tivesse visto.

Ouvi Daniel falar algo como “filho da mãe”, mas fiquei surda para todo o resto. O nó na minha garganta apertou mais ainda, e, dessa vez, eu não consegui segurar as lágrimas. Elas desciam cada vez mais, deixando minha visão embaçada. Mas não importava o quanto minha visão estivesse embaçada e a rua estivesse escura, eu sempre reconheceria aquelas figuras.

 

POV. CHRIS

Na hora combinada, eu estava na porta da casa da Lisa. Logo ela atendeu e me deixou entrar. Andamos até quase os fundos da casa. Ela abriu a última porta do corredor e eu entrei. Tinha a aparência de um porão cheio de coisas de garotas, e era exatamente isso. Um som tocava Prince em volume baixo. Olhei ao redor da sala e, mais ao fundo, notei uma mesa redonda baixa, onde várias garotas e garotos estava sentados. Uma garrafa vazia estava no centro da mesa. Então foi isso que a Lizzy quis dizer sobre do que se tratava a festa… Vi Tasha sorrir quando me viu entrar e sorri em retorno. Me sentia um pouco deslocado, mas… ela mesma havia me convidado.

Lisa me disse para sentar e, quando me encaminhei para sentar no lugar vazio ao lado da Tasha, ela mesma negou e indicou o lado oposto da mesa, de frente para ela. Fiquei confuso, mas fiz como ela pediu.

Com todos sentados, Lisa iniciou a brincadeira. Ela foi a primeira a rodar a garrafa, e a sequência seria em sentido horário.

Algumas horas depois, cada pessoa já havia rodado a garrafa duas vezes, mas a garrafa não havia apontado para mim ou para Tasha em nenhuma vez. Trocávamos olhares, mas ela parecia mais calma que eu.

Fiquei mais ansioso quando, depois de dizer que eram quase 21 h, Lisa anunciou que terminaríamos ao final daquela rodada. Mas, como o milagre do último segundo, a última menina rodou a garrafa, e ela foi parando, parando, parando… e parou… com a boca para mim e o fundo para a Tasha. Fiquei paralisado em choque por alguns segundos até ver Tasha levantando e Lisa a empurrando para um quartinho que tinha nos fundos daquela sala. Todos os outros casais tinham ido lá antes, então me levantei devagar e também fui. Lisa, sorrindo sadicamente, nos fechou no quartinho.

Meio constrangido, olhei para a Tasha. Ela parecia bem calma, o que me deixou ainda mais nervoso. Logo ela quebrou o silêncio.

“Fiquei feliz que você veio.”

“Eu também.” Sério?

Ela se aproximou, e minha respiração começou a acelerar.

“Não precisa ficar nervoso.” Óbvio que fiquei mais nervoso depois que ela disse isso.

Sem perceber, eu havia recuado enquanto ela se aproximava, só me dando conta disso quando senti minhas costas encostarem na parede dos fundos do quartinho. Sem ter mais para onde recuar, fiquei parado, observando ela se aproximar e pôr as mãos nos meus ombros. Erguendo-se levemente, ela encostou os lábios nos meus. Após alguns segundos de choque, fechei os olhos e correspondi.

Sabe aquela sensação de vazio quando você sobe uma escada no escuro e pensa que tem um degrau a mais, mas não tem? Aquele momento de vazio e desespero quando você pensa que vai cair Deus sabe aonde; foi exatamente isso que eu senti com aquele beijo. Todos os fogos de artifício que eu pensei que teria, as borboletas no estômago, a sensação de estar quente e congelado ao mesmo tempo… nada.

Quando ela se afastou, eu estava tão desnorteado com a sensação de vazio que não consegui reagir. Ela sorriu, supondo que minha falta de reação era por causa do beijo. Até que era, mas não do jeito que ela parecia pensar.

“É melhor irmos. Os outros estão esperando.” Assenti e segui-a em silêncio para a sala maior. Pouco depois, todos se despediram e fomos para casa.

Naquela noite, a distância de cinco quarteirões da casa da Lisa para a minha pareceu ter milhares de quilômetros. Eu não conseguia parar de pensar no beijo, mas não de um jeito bom. Havia sido meu primeiro beijo com a garota que eu gostava há anos, mas… nada. Fui em silêncio, ocasionalmente assentindo e respondendo monossilabicamente ao que ela dizia. Me perguntava o que havia faltado. Antes do beijo, eu tinha total certeza que gostava da Tasha; agora não estava tão certo. E aquilo estava me perturbando. Era como se eu tivesse sido enganado pelo meu próprio coração. Podia ser que eu estivesse nervoso demais para sentir alguma coisa...

“Chris?” A voz dela me despertou dos meus pensamentos, e eu tentei sorrir, percebendo que estávamos em frente à casa dela. “Obrigada. Adorei a noite.”

“De nada. Obrigada também. Você… me fez perceber várias coisas…”, falei, deixando transparecer um pouco do que me perturbava. Ela sorriu, entendendo errado mais uma vez.

“Boa noite, então.” E antes que eu percebesse, ela me beijou outra vez.

Naquela vez, eu não estava nervoso, só surpreso, e ainda assim não senti nada de novo. Aparentemente, o destino queria realmente me provar que tinha algo errado com aquilo.

Ela se afastou, sorriu e entrou. Eu fiquei parado na calçada, sem a menor intenção de me mexer, apenas pensando, mas logo um barulho de passos apressados me fez virar para o outro lado da calçada.

Para o meu horror, Lizzy subia correndo as escadas da calçada, chorando muito, com o miserável correndo atrás dela. Ah, merda. Ela viu… Chocado, observei ela entrar correndo em casa, mas o outro ficou para trás e me olhou com ódio. Sua voz saiu com todo o veneno que conseguiu reunir.

“Fique longe dela! Você só sabe fazê-la chorar!” Dito isso, entrou na casa trás dela.

Meu primeiro impulso foi seguir os dois, mas depois de dar dois passos, percebi que só criaria uma confusão maior ainda. Se ela estava chorando, não ia querer falar comigo.

Sem saber o que fazer, acabei sentando nos degraus da escada e colocando as mãos no rosto. A imagem da Lizzy correndo e chorando invadiu minha cabeça, e eu trinquei os dentes, me odiando. Ali, pela primeira vez, considerei que o miserável talvez estivesse certo: eu só a fazia sofrer.

***


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Notas finais do capítulo

E aê? Gostaram? Quem ficou com pena de quem? O que acham que deve acontecer?
Aguardo as opiniões de vocês nos reviews.
P.S.: Fiquem sempre atentos a essas notas agora. Vou usá-las para indicar a cronologia das duas histórias para vocês.
XOXO



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