Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 13
Episódio Extra - Todo Mundo Odeia Surpresas - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Continuo pontual ^^
Acho que ficarei postando nos fins de semana. E aí? O que acham?

Como continuação do capítulo anterior, agora teremos o POV do Chris.
O que vai acontecer???? Leiam!
Enjoy o/



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POV. CHRIS (Brooklyn - 1986)

A conversa morreu por alguns segundos e eu escutei um suspiro pesado.

“Lizzy, está acontecendo alguma coisa?” A resposta demorou a vir, me deixando ainda mais desconfiado.

“N-- Tem.” Ela ficou em silêncio de novo.

“Pode me dizer o que é?”

“Eu… Aconteceu algo… muito estranho hoje à tarde, depois que eu voltei. Meus pais me contaram que--”

“Espera um pouco.” Escutei passos se aproximando e fingi ler. Alguns segundos depois, Drew apareceu com uma cara amarrada.

“Droga! A mãe sempre me manda dormir, mesmo quando não estou com sono.” Não resisti ao impulso de revirar os olhos.

“Se você se deitar e fechar os olhos, logo dorme.”

“Mas eu não quero dormir.” Dito isto, pegou uma revistinha e ficou lendo.

Suspirei, exasperado, dando adeus a qualquer esperança que eu tinha de conversar com a Lizzy.

Em última tentativa, peguei um papel e escrevi: ‘Parece que o Drew não vai dormir agora. Podemos conversar assim?’

O papel voltou segundos depois com a seguinte resposta: ‘É melhor não. É um assunto sério. Não acho que dê para falar por papel.’

Devolvi logo em seguida: ‘Tudo bem, então. Boa noite. E tenta não pensar besteira, seja lá o que for.’

‘Ok. Boa noite. ;D’

Sorri com a carinha piscando e imaginei se ela tinha feito aquilo só para eu não me preocupar.

 

Suspirei alto e continuei empilhando os enlatados. Admito que quando demos boa noite, senti uma vontade imensa de esperar o Drew dormir e ir até o quarto dela, mas era sexta à noite e tinha jogo dos Dodgers. Óbvio que o pai dela estaria na sala assistindo. Arriscado demais, embora eu ainda quisesse ir.

Quando saí para trabalhar pela manhã, quis muito ir até a casa dela, mas eu não sabia se eles já haviam acordado ou algo do tipo. Não quis incomodar. Resultado: teria que segurar minha curiosidade até às 14h, quando acabava meu expediente e nós poderíamos sair juntos para algum lugar onde pudéssemos conversar em paz.

Olhei o maldito relógio com a certeza de que as horas mal haviam passado e estava certo. 10:30h… Isso é ridículo… Já deveria ser, pelo menos, 13h… Mas minhas condições estavam prestes a mudar, e eu nem sabia.

Mal eu havia terminado de empilhar tudo, ouvi o sino da porta. Ergui os olhos para ver o sr. Jackson entrar.

“Bom dia, Doc.”

“Bom dia, Arthur.”

Ele passou os olhos pela loja e me achou, vindo na minha direção.

“Chris, eu preciso da sua ajuda.” Sua voz saía baixa, com um tom ligeiramente urgente, que me fez imaginar se algo estava errado. Será que...

“Claro. Aconteceu alguma coisa com a Lizzy?”

“Sim, mas você precisa vir comigo agora. Eu explico no caminho.” Assenti e virei para o Doc porque sabia que ele tinha escutado.

“Posso ir, Doc?” Ele sorriu.

“Vá. Você não vai ficar quieto enquanto não for. Eu me viro aqui.”

“Obrigado.”

Tirando o avental, segui o sr. Jackson para fora da loja, mas estanquei quando o vi se encaminhar para um carro preto luxuoso. Olhei-o com cara de interrogação, mas ele sinalizou que eu entrasse no carro. Juro, se eu não confiasse no cara, não entrava.

“O que aconteceu com ela?”, perguntei, depois de entrarmos no carro e o motorista dar a partida. Ele parecia bem preocupado, o que me deixou muito apreensivo.

“Bem, estou certo que ela lhe falou sobre umas saídas misteriosas minhas e da Helen.” Assenti e ele continuou. “Nós íamos a audiências judiciárias sobre o passado da Lizzy. A verdade é que o pai biológico dela, Danilo Rodriguez, era um empresário bem sucedido e muito rico.” Meus olhos se arregalaram com essa informação. “Em seu testamento, que foi aberto hoje como era sua vontade, ele deixou tudo para Lizzy. Uma carta, sua antiga casa, o dinheiro da venda da empresa, tudo; mas também há outras exigências. Ele exige que ela não use mais o sobrenome Jackson e que não moremos mais juntos. Lizzy ficou completamente atordoada com tudo isso.”

“Eu imagino.” A cabeça dela deve estar a maior confusão…

“Ela disse ao juiz que não queria nada daquilo e que não aceitaria as exigências do pai. Saiu da sala e se trancou em um dos quartos da casa. Não conseguimos que ela saísse de lá de forma alguma, por isso vim lhe procurar. Acredito que você seja o único que ela deixará entrar no quarto.” Assenti, com o olhar perdido em um ponto qualquer da rua.

Podia ser até ousadia da minha parte, mas eu tinha certeza de que se ela fosse deixar alguém entrar no quarto, esse alguém seria eu. Minha única dúvida era se eu poderia dizer alguma coisa útil para fazê-la sentir-se melhor. Afinal, eu não faço a mínima ideia do que ela está sentindo…

“Farei o meu melhor, senhor.”

Pouco depois, o carro parou em frente a uma mansão muito bonita. Admito que não prestei atenção em nada da casa: meu único objetivo ali era encontrar a Lizzy. Uma senhora negra com seu cabelo já grisalho abriu a porta da frente, e o sr. Jackson dirigiu-se a ela.

“Sra. Montenegro.” Ela parecia preocupada e aliviada em vê-lo.

“Ah, você voltou. Sua esposa esteve esse tempo todo--”

Sua fala parou de repente quando seus olhos se fixaram em mim. Sorri timidamente à guisa de cumprimento, mas ela não reagiu. Me olhava fixamente, com a boca levemente aberta, como se tivesse visto um fantasma.

Sr. Jackson observou o silêncio dela com cautela.

“Sra. Montenegro? A senhora está bem?”

Para surpresa de nós dois, a mulher começou a chorar. Troquei um olhar de medo com o sr. Jackson e me adiantei para a mulher.

“Sinto muito, senhora, eu não sei o que fiz, mas--” Ela fez gestos rápidos com as mãos, negando e tentando engolir o choro.

“Não, querido. Você só me lembra alguém que eu amei como um filho e de quem sinto muita falta desde que partiu.” Fiquei meio sem graça embora soubesse que a culpa não fosse realmente minha.

“Sinto muito, eu… não sabia.”

“Tudo bem”, ela disse, enxugando as lágrimas e sorrindo. “É melhor virem comigo. Ela continua lá e não fala com ninguém.” O olhar de preocupação voltou ao rosto dela, e nós a acompanhamos para dentro da casa.

Depois de subirmos por uma escadaria até segundo andar, andamos pelo longo corredor onde uma porta era visível no final. Perto da porta estavam a sra. Jackson e um homem de terno com cabelos grisalhos. Quando me viu, a sra. Jackson veio em minha direção.

“Que bom que pôde vir, querido. Por favor, convença-a a sair dali. Ela não pode aguentar essa responsabilidade sozinha.”

“Eu sei, sra. Jackson. Vou falar com ela. Mas… vocês poderiam se afastar só um pouco da porta para eu falar com ela a sós?” Ela assentiu, mesmo que eu percebesse uma certa relutância. Não é a toa, ela está preocupada… Imagino que ela nunca tenha visto a Lizzy reagir a nada dessa forma…

“Tudo bem. Ficaremos mais afastados.”

“Obrigado.”

Me aproximei da porta do quarto, que ficava no final do corredor. Pude sentir os olhos de todos nas minhas costas; era uma pressão, mas fiquei feliz por eles estarem longe o bastante para não ouvirem o que eu ia falar. Bati levemente na porta, chamando seu nome logo depois.

“Lizzy? Sou eu, Chris. Pode abrir a porta? Eu quero falar com você.”

Eu sabia que não precisava dizer mais que isso. Se ela quisesse falar comigo, ela abriria a porta. Se ela não quisesse, eu não me sentiria bem em forcá-la. Porém, pouco depois, ouvi um leve click e a porta se entreabriu devagar. Ouvi vários suspiros atrás de mim, mas ignorei.

A princípio, não vi nada porque estava muito escuro, mas logo distingui uma silhueta. Entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim. Nenhum dos dois disse nada; apenas ficamos lá parados. Então estendi minha mão, tocando o que percebi ser seu rosto. Estava úmido, e senti um aperto no peito ao imaginar o quanto ela devia ter chorado sozinha naquele quarto.

Puxei-a levemente pelo ombro, me aproximando e a abraçando logo em seguida. Ela me abraçou de volta com força e voltou a chorar. Beijei o alto da sua cabeça e retribui a força no abraço.

Me acostumando com a pouca luz que passava pelas cortinas fechadas da janela, encontrei uma cama. Peguei a Lizzy no colo e me dirigi até a cama, sentando-me encostado à cabeceira, perto do que achei ser um criado-mudo. Colocando-a em meu colo em uma posição confortável, deixei que ela chorasse até que se sentisse à vontade para falar.

Vários minutos se passaram e, pouco a pouco, seus soluços foram parando. Ela escondeu o rosto na curva do meu pescoço, ainda fungando levemente. Como ela ainda continuou em silêncio, resolvi pressionar um pouco. Afinal, achei que não seria prudente ficarmos muito tempo naquele quarto escuro sozinhos.

“Quer falar?” Ela ainda fungou mais algumas vezes antes de dizer alguma coisa.

“Como você chegou aqui?”

“Seu pai foi me buscar e me contou tudo. Vim rápido porque imaginei que precisasse de mim.” Ela brincou com a manga da minha camisa.

“Obrigada.” Sorri, mesmo que ela não pudesse ver.

“Como está se sentindo?”

“Péssima.” Pude sentir a mágoa em sua voz. “Como ele pôde, Chris? Achar que eu ficaria feliz com todo esse dinheiro tendo que ficar longe da minha família? Ele não pensou em nenhum momento como eu me sentiria tendo que deixar quem eu amo? Tendo que me virar sozinha no mundo?” Sua voz oscilava entre o tom de raiva e o de choro. “Eu não quero esse dinheiro! Não quero nada dele! Só quero ficar com meus pais de verdade!”

Depois do desabafo, ela recomeçou a chorar e eu esperei que se acalmasse novamente. Quando isso aconteceu, eu falei com cuidado.

“Eu me lembro de você me contar que ele sabia que ia morrer. Estava doente.” Ela assentiu e eu continuei. “Se eu estivesse no lugar dele, faria o possível para te dar um futuro feliz.”

“Então você acha que se eu tiver dinheiro eu vou ter um futuro feliz?!”

“Eu não disse isso. O sr. Jackson mencionou uma carta que seu pai deixou para você. Você leu?”

“Não”, ela negou com raiva. “Não quero nada dele!”

Acariciei seu rosto e beijei sua têmpora.

“Tenta não ficar com raiva do que eu vou dizer, mas… não acha… que está vendo só um lado da história?” Senti seu corpo se retesar, mas ela não demonstrou nada.

“Como... assim?”

“Bem, se ele sabia que ia morrer, ele sabia que não poderia cuidar de você. A vida de órfão é difícil, você mesma me disse isso. Ser adotado é uma sorte em um milhão, mas talvez nem assim você consiga uma família que te ame e te aceite. Seus pais foram assim no começo, lembra? Tenho certeza que ele sabia que isso poderia acontecer. Talvez ele tenha pensado que se você não gostasse da família que te escolheu, aos dezessete anos, você poderia ser livre deles para cuidar da sua vida sozinha. Ele pensou em te proteger.”

“E ele não pensou que poderia acontecer o contrário? Que eu poderia encontrar uma família que me amasse?” Considerei.

“Deve ter pensado, mas pais não costumam apostar a felicidade dos filhos. Ele preferiu arriscar na pior opção. Se a melhor acontecesse, você já seria feliz. Se a pior acontecesse, ele teria feito o possível para te ajudar. Não é porque seus pais terão que sair de casa que eles vão te amar menos, Lizzy. Eles sempre serão os seus pais.”

O silêncio continuou por vários minutos, me fazendo pensar até que ela havia dormido depois de tanto chorar. Mas sua voz quebrou o silêncio em um breve sussurro.

“Acha que ele pensou assim?”

“Acho. Se ele planejou tudo isso para bem depois de sua morte, é porque ele se preocupava muito com você. Mas você só poderá ter certeza se ler a carta.”

Ela fungou algumas vezes e me abraçou pelo pescoço.

“Vai ficar comigo?” Retribui o abraço, sorrindo contra seu cabelo.

“Sempre.”

Respirando fundo, ela se afastou de mim, ficando de pé. Ouvi passos e, de repente, a luz me cegou. Piscando várias vezes para me acostumar com a nova claridade, logo focalizei ela enxugando as lágrimas perto da porta. Observei enquanto ela olhava em volta do quarto. Seus olhos pararam sobre um porta retrato sobre o criado-mudo. Ela caminhou até ele, olhando-o de perto. Logo sorriu, rindo levemente.

“Há muito tempo eu não via o rosto do meu pai.”

Curioso, me aproximei, ficando ao seu lado. Para minha surpresa, a foto mostrava um homem negro, alto, forte e de olhos verdes, ao lado de uma mulher branca com longos cabelos ruivos, que segurava um bebê muito branco e ruivo nos braços. Sorri com a imagem.

“Você tem muito dos dois.” Ela sorriu levemente.

“Sim. Mas você é a cópia do meu pai, e eu a da minha mãe.” Notei um tom de amargura em sua voz ao falar da mãe e preferi não ir por esse caminho.

“Vamos?” Ela olhou para minha mão estendida e a pegou.

“Vamos.”

Saímos do quarto sob os olhares atentos de todos. O sr. e a sra. Jackson vieram logo e abraçaram a filha. Vi gratidão em seus olhos quando me olharam, mas só sorri. Não era como se aquilo fosse um favor.

Logo todos seguiram o homem de cabelos grisalhos pelo corredor e entraram em uma biblioteca enorme. Olhei pasmo para todos aqueles livros, finalmente entendendo que tudo aquilo era da Lizzy agora. Depois que o choque e a confusão passarem, tenho certeza que ela vai pirar por ter todos esses livros...

Com todos sentados a uma mesa redonda - eu ao lado da Lizzy -, o homem grisalho logo explicou que o juiz havia ido embora pois tinha outra audiência, mas que havia deixado a carta e os papéis para a aceitação de todos os bens citados no testamento. Lizzy assentiu, mas disse que queria ler a carta primeiro. O homem lhe entregou um envelope lacrado que ela logo abriu. Seus olhos procuraram os meus e eu percebi o que ela queria.

“Lê comigo?” Sorri, mas neguei com a cabeça.

“Ele deixou essa carta para você, Lizzy. Só você deve ler.” Ela assentiu e abriu a carta.

Acompanhei suas várias expressões enquanto lia a carta. Surpresa, mágoa, choque, compreensão, felicidade. Ao final, ela, chorando, disse que aceitava os bens que o pai havia lhe deixado. Pouco depois, todos os papéis - e eram muitos - estavam assinados e o advogado deixava a casa.

Ainda na biblioteca, ficamos eu, Lizzy e o sr. e a sra. Jackson. A sra. Montenegro havia ido levar o advogado até a porta, mas logo voltou com quatro xícaras de chocolate quente. Tomamos as xícaras, agradecidos.

Sem muito mais o que fazer lá, resolvemos ir embora. Agradecemos a hospitalidade da sra. Montenegro, e ela chamou o motorista para nos levar em casa.

 

Já dentro do carro, Lizzy encostou a cabeça no meu ombro e eu encostei a minha na dela.

“Obrigada, Chris”, ela sussurrou depois de algum tempo.

“Não precisa agradecer”, respondi no mesmo tom.

“Você estava certo sobre o meu pai. Ele explicou tudo na carta.” Sorri, sabendo que aquilo aliviava muita coisa sobre os ombros dela.

“Que bom.”

Fomos em silêncio o resto da viagem, afinal, tudo o que precisava ser dito já havia sido.

 

POV. LIZZY

Senti o nó na minha garganta se apertar quando vi os funcionários da transportadora levarem as caixas. Já faziam três dias desde que eu havia aceitado os bens e as condições do testamento do meu pai biológico. Em resumo: meus pais teriam que deixar a casa. Na verdade, eles escolheram sair. Eu teria saído se eles concordassem, mas ficou acertado assim.

Meu pai havia sido promovido; uma notícia ótima em meio a toda essa confusão. Então, eles resolveram voltar para o Queens. Não era longe, então fiquei um pouco mais tranquila. Claro que queria continuar morando com eles, mas agora isso era impossível. Depois que tudo já estava no caminhão e as malas estavam no carro, eles vieram se despedir de mim e do Chris na calçada.

“Até logo, minha filha. Não precisa fica triste; não vamos para a China.” Abracei minha mãe e fiquei feliz por ela não dizer ‘adeus’. Já era ruim demais sem aquela palavra.

“Até logo. Venham sempre.” Abracei meu pai.

“Viremos, querida. Cuide-se.” Ele virou para abraçar o Chris.

“Cuide dela, filho. Por favor.”

“Claro, sr. Jackson.”

“Até mais, querido, e obrigada por tudo.”

“De nada, sra. Jackson. Até mais.”

Eles entraram no carro e acenaram.

“Qualquer coisa pode nos ligar. Qualquer coisa mesmo.” Eu e o Chris assentimos e observamos o carro sair até que eles dobraram a esquina, seguidos pelo caminhão.

Me senti observada pelo Chris e vi sua mão se erguer para enxugar algumas das lágrimas que eu tinha deixado cair. Segurando minha mão, ele nos fez entrar em casa e me guiou até o sofá, me sentando ao seu lado. Depois, ele me puxou pelos ombros e encostou meu corpo no seu. Fiquei ali; era confortável e me fazia sentir melhor.

“Como você está?”

“Ainda confusa. Não consegui assimilar direito tudo isso.”

“Imagino.” Ficamos em silêncio, mas ele logo quebrou. “Seus pais levaram pouca coisa.”

“Eles deixaram os móveis da casa comigo, por enquanto. Mas vou comprar os meus logo. Não posso deixá-los sem nada por minha causa.” Ele assentiu, mas se remexeu inquieto.

“O Dr. Barker já entrou em contato?”

“Sim. Disse que vem amanhã tratar dos últimos detalhes. Nunca pensei que alterar um sobrenome fosse tão burocrático. Segundo ele, as transações bancárias já acabaram, então o dinheiro é realmente meu para o que eu quiser. Mas eu não me sinto rica. Acho que nunca vou me sentir.”  

“Você já decidiu o que vai fazer em relação à casa do seu pai?” Suspirei. Sim, eu havia passado muito tempo pensando naquilo.

“Ainda não, mas tenho uma ideia. Se eu não conservá-la como está agora, vou fundar um orfanato ou uma casa de assistência para crianças órfãs. Pensei em pedir à sra. Montenegro para gerenciar.”

“Ótima ideia, mas não pensa em morar lá?” Neguei.

“Não. Tenho lembranças naquele lugar e não quero me torturar a cada segundo que passar lá.” Ele virou meu rosto para que eu o olhasse.

“Você lembra? Do quê?” Deixei meu olhar se perder pela janela enquanto lembrava.

“Quando eu tinha dois anos, no inverno, eu corria para o quarto dos meus pais. Eu dizia que não conseguia dormir, mas era só uma desculpa para ficar com eles.” Voltei meu olhar para o Chris e ele me olhava fixamente, acariciando meu rosto. “Lembrei disso quando tomei o chocolate quente da sra. Montenegro. Eu adorava aquilo também. Era minha bebida favorita.” Ele me abraçou forte em sinal de conforto.

“Vai ficar tudo bem.” Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções que vinham à tona com muita facilidade agora.

“Sim, vai. Só preciso de tempo para me acostumar com as novas responsabilidade e a morar sozinha.” Ouvi ele bufar de impaciência e não compreendi.

“O que foi?”

“Me preocupo com você.”

“Eu vou ficar bem.”

“Eu sei que vai, mas… me preocupo com você dormindo sozinha nessa casa.” Estremeci um pouco e ele apertou mais o abraço.

“Não estou exatamente preocupada. Todos no bairro me conhecem e, embora não saibam que fiquei rica - e nem saberão, eu espero -, não há porquê se meterem na minha vida. O que me incomoda é que talvez eu não consiga dormir.”

“Me preocupo com tudo isso e mais. Se eu pudesse, moraria com você.” Ergui os olhos para ele, bastante surpresa.

“Fala sério?” Ele me olhou e seu olhar não vacilou sequer uma vez.

“Claro, mas não posso.” De repente, seu rosto se iluminou levemente. “Mas… posso vir à noite se você quiser…”

“Quero.” Minha resposta foi quase imediata, e ele sorriu, me deixando vermelha.

“Então eu virei.” Senti seus lábios em minha testa e relaxei.

Depois daqueles dias conturbados, tive uma única certeza: dormiria bem como não dormia há dias.

 

***


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Notas finais do capítulo

Tretas... Muitas tretas...
Nova fase de vida para a Lizzy...
O que será que vai acontecer?

Dica para o próximo capítulo: Lizzy receberá uma visita inusitada. Quem será? O_o