Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 1
Todo Mundo Odeia O Orientador


Notas iniciais do capítulo

Voltei, seus bonitos!
Bom Carnaval!
E para comemorar, temporada nova!
^^



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POV. CHRIS (Brooklyn - 1985)
Nona série. Diziam que era uma amostra do inferno que era o ensino médio. Mas apesar de tecnicamente já ser um aluno de ensino médio, a Corleone ainda tinha essa série por ser uma escola júnior. Então eu ainda estava lá. Mas me dava até um certo alívio por saber que era meu último ano naquele lugar. Mais um ano e me livro do Caruzo...
Além disso era uma série muito importante para decidir o meu futuro. Então, como em todas as escolas, ao terminar a oitava série a gente fazia uma prova de conhecimentos (ACOS - Avaliação de Conhecimentos da Oitava Série) para ver do que éramos capazes e decidir as matérias que íamos estudar no ensino médio. À princípio eu não quis levar essa prova a sério, mas a Lizzy me deu um chute na canela e gritou que eu estava sendo um irresponsável com o meu futuro. Então resolvi estudar para valer; não queria ela chateada comigo.
Deveríamos receber o resultado na primeira semana de aulas da nona série e a maioria dos alunos estava tensa com isso. Pelo meu largo conhecimento das manias do Greg, ele estava pirando. Eu e a Lizzy ainda estávamos na paz... ou quase isso. Ao contrário dele, a Lizzy não podia estar mais calma. Eu estava em um meio termo entre o 'não ligo' e o 'estou curioso'. Não era para menos, já que o resultado da bendita prova mudaria muita coisa para mim. Mas no fundo eu estava com um pressentimento bom sobre aquele resultado. Eu tinha estudado no fim das contas. A Lizzy tinha garantido isso.
Então o chilique do Greg não me perturbou nem por um instante. Depois de anos de convívio aprendi a não ter mais pena do 'Ah, meu Deus! Que nervoso!' ou 'Tenho certeza que tirei nota baixa!'.
Mas mesmo estando calmo, senti um frio na barriga quando vi a pilha de resultados na mesa da srta. Morello.
Calma. Respira. Você estudou...
"Bem, turma, como sabem hoje vocês receberão o resultado da ACOS. Eu vi os resultados de vocês e devo dizer que fiquei bastante surpresa com alguns resultados." Os olhos dela vieram para o meu rosto e eu resisti à vontade de fazer uma careta. "Eu sei que estão ansiosos para saber como foram, mas só vou entregar depois da aula , ou vocês não vão prestar atenção na matéria." Todos gemeram de frustração, mas ela ignorou. “Abram no livro de História na página 15.” Senti a Lizzy me cutucar as costelas e se inclinar para falar ao meu ouvido.

“Essa aula vai ser um saco. Ninguém vai prestar atenção de jeito nenhum.” Assenti e abri meu livro.

Quando o sinal do fim da aula tocou, a srta. Morello ficou na porta entregando o resultado para cada um. Como se fosse um dejavù ela me entregou o resultado e pediu para falar comigo. Lizzy e Greg foram me esperar lá fora e eu esperei ela entregar os outros resultados.

A curiosidade falou mais alto e eu olhei minhas notas. Tive que morder o lado de dentro da minha bochecha para impedir um sorriso insolente: minhas notas tinham sido ótimas! Embaixo das notas tinha um gráfico hexagonal com as seis áreas avaliadas no teste, e eu estava equilibrado em todas as áreas.

Se eu estou bem em tudo, o que essa louca quer falar comigo?

“Chris?” Ergui a cabeça ao ouvir meu nome.

“Sim?” Ela se aproximou e não estava com uma cara muito boa.

“O seu resultado foi muito bom, o que me surpreendeu bastante. Suas notas foram muito parecidas - praticamente iguais - em todas as áreas. Iguais demais. Sabe o que isso quer dizer?” Dei de ombros.

“Que sei um pouco de tudo?” Ela negou, com uma expressão de pena no rosto. Eu odiava aquilo.

“Que não se destaca em nada. De um modo geral, é bom. Significa que você não tem lacunas na sua educação, e foi exatamente isso o que mais me surpreendeu. Conseguir isso com uma família tão desestruturada como a sua.” Respirei fundo, engolindo a raiva.

“Ok. Tem alguma coisa errada comigo. Não é novidade para ninguém. O que eu tenho que fazer?” Eu queria sair daquela sala desesperadamente.

Quando eu finalmente consigo um resultado realmente bom, ainda existe o que criticar. Eu sou azarado mesmo…

“Marquei uma hora para você com o orientador vocacional da escola. Tem que ir falar com ele hoje depois da aula.”

“Orientador vocacional?”

“Sim. Ele vai ajudá-lo a se descobrir.”

Resolvi que era melhor ficar calado antes que eu dissesse para ela que eu sabia muito bem com quem ela andava se descobrindo. Saí da sala, encontrando o Greg e a Lizzy me esperando. Ela sorriu quando me viu e eu me senti mellhor.

“O que ela queria?” Fiz uma careta.

“Me mandou para o orientador vocacional. Tenho uma hora marcada com ele hoje depois da aula.” O Greg franziu o cenho.

“Orientador vocacional?”

“Fiz essa mesma cara e ela disse que ele ia me ‘ajudar a me descobrir’. Fala sério!” Olhei para os dois que estavam com cara de riso contido. “Muito engraçado, seus sacanas. Se fosse o contrário, eu ia morrer de rir de vocês!” A Lizzy respirou fundo, tentando afastar o acesso de riso.

“Desculpa, mas não pude evitar pensar que ela queria te ajudar a se descobrir.” Ela disse, fazendo aspas na última palavra, e eu ergui uma sobrancelha.

“Sério?” Ela me olhou, cética.

“Ah, qual é, Chris! Nova York inteira e a África sabem que ela tem uma queda bizarra por negros.”

“É mesmo?” Perguntei, sorrindo de forma sugestiva, e o sorriso no rosto da Lizzy morreu.

“Nem ouse…” Gargalhei com a reação dela.

“Claro que eu ‘to zoando.” Ela me deu língua e um soco no ombro. “Mas como foram as notas de vocês?”

Os dois me deram seus resultados enquanto olhavam o meu. As notas do Greg foram excelentes - lógico - mas diferente do meu gráfico, o dele tinha uma ponta maior para Ciências. O da Lizzy também estava diferente: apontava para Raciocínio Lógico.

“Parece que o anormal aqui sou eu mesmo.” Resmunguei, mas eles ouviram.

“Cara, você não tem do que reclamar. Suas notas foram ótimas. E não ter deficiência em nenhuma área de conhecimento é um bônus.” Rolei os olhos, mas estava um pouco orgulhoso de mim.

“Meu bônus vai ser aguentar o orientador.”

“Dizem que ele é negro.” Lizzy disse, e eu olhei para ela sem acreditar.

“‘To tendo um dejavù e não ‘to gostando disso.”

Depois da aula, o Greg se despediu e foi para casa, enquanto a Lizzy ia comigo para a sala do orientador. Liguei para casa e pedi para avisarem ao Doc que eu ia atrasar alguns minutos. Na porta da sala do cara, eu travei e olhei para a Lizzy quase implorando.

“Lizzy, eu não quero entrar. Ele vai encher o meu saco.” Ela pôs as mãos nos quadris e me olhou como se fosse minha mãe.

“Você vai entrar nessa sala agora e sem choramingar.” Torci o nariz, mas sabia que tinha que entrar.

Abri a porta e dei de cara com o orientador me encarando. Rádio corredor informou certo: ele era negro. Ao contrário do passado, não me animou nem um pouco o fato de ele ser negro. Me desanimou até. O único cara negro que eu tinha encontrado na Corleone torrou tanto a minha paciência que eu não tenho nem como explicar. E por mais que no final eu tenha entendido que ele fez tudo aquilo para o meu bem, digamos que não foi a melhor semana da minha vida.

Fechei a porta e fui me sentar em frente a ele, lhe entregando o resultado do meu teste. Ele examinou o papel por alguns segundos, franzindo o cenho, e depois me olhou.

“Olá, Chris. Eu sou o sr. Abbott, o orientador vocacional. A srta. Morello me falou sobre você.” Apertei a mão que ele me ofereceu e rolei levemente os olhos.

“Nada de bom, com certeza.”

“Errado. Ela disse que você estava com um problema e me pediu para ajudar. Ela parece gostar muito de você.” Ergui uma sobrancelha com minha melhor cara de ‘é sério?’.

Tem coisas que é melhor nem pensar a respeito…

“Ok. Mas o que tem de errado comigo?”

“Bem, Chris, eu não sei o que sua professora lhe disse, mas eu nunca vi um gráfico de ACOS como o seu. Ele diz coisas boas e ruins sobre você, mas além disso ele diz algo que me preocupa.”

“O quê? Que eu não me destaco em nada? Mas se eu tenho uma média boa em tudo, qual o problema disso?” Ele apoiou os cotovelos na mesa e descansou a cabeça nas mãos.

“O problema é que você não tem inclinação para nada.” Minha cara devia estar confusa, então ele tentou de outra forma. “O que você quer fazer quando terminar o ensino médio?” Respondi meio sem pensar.

“Ir pra faculdade.”

“E qual curso vai fazer?” Eita.

Eu… não sei.”

E era a mais pura verdade. Eu pensava em ir para a faculdade porque meus pais queriam e eu achava que era a coisa certa. Até porque, que tipo de trabalho tem uma pessoa que só tem o colegial? Mas eu não fazia a mínima ideia de que curso escolher ou que carreira seguir.

“Ok, Chris. Eu vou deixar isso mais fácil para você. Qual é o seu sonho de profissão?” Pensei um pouco, mas nada veio.

“Eu não tenho. Nunca tive. Não tinha tempo para isso.”

“Por quê?”

“Eu tinha… outras coisas para fazer.” Quando percebi que ele ia insistir, mudei de assunto. Não devia explicações da minha vida para ele. “Sr. Abbott, pode me dizer logo o que vou ter que fazer?”

“Tudo bem. Vou lhe fazer mais uma pergunta e, dependendo da sua resposta, direi o que tem que fazer. Tudo bem?” Assenti, sabendo que não poderia sair dali antes disso. “Muito bem. Como você se vê profissionalmente em um futuro próximo?”

Franzi o cenho, tentando visualizar o que ele tinha pedido. A imagem que me veio a cabeça foi a de uma casa bonita, e eu, uma mulher - que eu não conseguia ver o rosto - e uma criança entre nós dois. Mas não era isso que ele estava perguntando. Ele queria saber o que eu ia fazer da minha vida, então procurei uma resposta decente.

“Me vejo com um bom emprego e uma vida estável.”

“E como vai conseguir isso?” Eu não tive resposta e ele continuou. “É disso que eu estou falando, Chris. A educação no nosso país não permite que se demore muito a decidir o que se quer fazer. Se você não escolher no momento certo, sua chance passa. Você tem que decidir logo. Seu teste diz que você tem muito potencial, mas se não tiver um foco, de nada vai servir. Você vai ter que achar esse foco. Tem uma semana.” Meu queixo deve ter encostado no chão.

“O quê??!! Tenho uma semana para decidir o que quero fazer pelo resto da minha vida? Se eu não decidi em 16 anos, como vou fazer isso em uma semana?” A expressão mais calma do mundo estava no rosto dele.

“Não decidiu porque não teve tempo. Não foi isso que você disse? Arranje o tempo. Pesquise. Informe-se. Vai ter o fim de semana para isso. Na segunda nos veremos no mesmo horário para discutir o que você descobriu. Até logo.”

Suspirando de frustração, levantei e saí da sala, encontrando a Lizzy me esperando lá fora.

“E aí? Como foi?” Revirei os olhos e fechei a porta atrás de mim. Seguimos andando na direção da saída para pegar o ônibus.

No começo fiquei em silêncio. Ela deve ter sentido que eu precisava pensar um pouco e respeitou isso. Mas mesmo sem dizer uma palavra, era bom ter ela comigo. Quando senti que podia falar direito, respondi.

“Foi como eu disse. Ele vai encher o meu saco. Quer que eu decida o que fazer da minha vida em uma semana.”

“Você não sabe?” Olhei para ela, cético.

“Com dois irmãos mais novos loucos para cuidar, você acha que eu tive tempo de ter sonho de profissão? Meu sonho era não ter que cuidar deles.” Ela fez um careta e suspirou.

“Tem razão. Mas como você vai fazer?” Encolhi os ombros e me encostei no poste da parada de ônibus.

“Sei lá. Ele questionou que curso eu gostaria de fazer na faculdade. Acho que vou perguntar para alguém que já tenha ido para a faculdade, como escolheu que curso fazer.” Os olhos dela brilharam ao ter uma ideia.

“Vai ser perfeito! Cibele e David estão vindo esse fim de semana. Você pode conversar com eles.” O ônibus veio e subimos. Involuntariamente, fiz um bico.

“Pensei que íamos ao cinema esse fim de semana.” Ela rolou os olhos, mas sorriu.

“Sim, nós vamos, mas primeiro faça o que precisa. Ou você quer o sr. Abbott no seu pé pelo resto do ano?” É uma ideia terrível…

“Não, quero não. Obrigado.”

Lizzy me disse que a Cibele e o David chegariam no sábado pela manhã e ficariam até domingo à tarde. Para facilitar minha vida - já que eu nunca tinha falado muito com sua irmã além de ‘oi’, ‘tudo bem?’ e ‘estou ótimo’ - a Lizzy me convidou para almoçar lá no sábado. Era algo inédito. Eu nunca tinha almoçado ou jantado na casa dela. Motivo: antiga sra. Jackson. Mas agora que ela estava bem comigo, eu não tinha que ter medo de ir lá.

Então, às 11h no sábado, eu bati na porta da casa dela e a própria sra. Jackson atendeu.

“Oi, sra. Jackson.” Ela sorriu e eu pisquei duas vezes.

Eu me acostumava lentamente com o sorriso dela. O mais surpreendente é que era um sorriso engraçado: ela fechava os olhos quando sorria.

“Oi, Chris. Lizzy está na cozinha com a Cibele. Me expulsaram de lá hoje e disseram que iam fazer o almoço.” Eu ri, mais à vontade ao falar com ela.

“Vou ver se elas não tocaram fogo na sua cozinha.”

“Por favor.”

Ela abriu mais a porta e eu pude entrar; ela saiu, subindo as escadas. No sofá da sala estavam sentados o sr. Jackson e o David, conversando sobre golfe - o David também jogava.

“Oi, sr. Jackson. David.” Eles me olharam e sorriram.

“Oi, filho. Tudo bem?” Assenti.

“E aí, Chris?”

“Beleza.”

Eu tinha conhecido o David na última visita deles e simpatizei com ele de primeira. Ele era legal e nunca me olhou por cima por ser rico e branco.

“Quer se juntar aos homens da casa?”

“Obrigado, mas prometi à sra. Jackson que ia checar se a cozinha dela continua intacta.” Eles riram e o sr. Jackson apontou para a porta da cozinha.

“Fique à vontade, mas cuidado para não ser expulso como nós fomos.” Assenti e fui em direção à cozinha.

De lá saía um cheiro gostoso de molho de tomate e queijo quente. Botei a cabeça na porta e vi as duas rindo e cozinhando. Tão entretidas que nem me notaram olhando.

“Toc, toc, toc?” Elas olharam na minha direção e sorriram. “Me disseram que vocês estão expulsando todo mundo daqui.” A Lizzy veio e me abraçou.

“Não todo mundo. Quisemos dar uma folga para a mamãe e expulsamos quem não sabe cozinhar.”

“Estou isento então?”

“Claro.” Ri e ergui os olhos para a irmã mais velha.

“Oi, Cibele.” Ela sorriu, simpática como sempre. O sorriso, agora que eu notava bem, parecia a cópia perfeita do da mãe.

“Oi, Chris. Tudo bem?”

“Tudo ótimo. Querem ajuda?”

“Se puder.”

“Claro.” Arregacei as mangas e fui lavar as mãos para ajudá-las.

Depois de uma lasanha daquelas eu estava pronto para dormir a tarde toda, mas não podia. Tinha outras coisas para fazer. Aproveitando todos na mesa, decidi perguntar logo o que precisava.

“Cibele, como decidiu o que queria fazer na faculdade?” Ela pensou um pouco antes de responder.

“Eu sempre gostei de Arquitetura e Decoração de ambientes. A Lizzy pode te dizer bem como era nossa antiga casa. Quando percebi que esse podia sr o trabalho da minha vida, eu arrisquei. Acabou dando certo. Agradeço o apoio dos meus pais; sei que muitos não tem isso.”

“Mas você não pensou que talvez não conseguisse dinheiro com isso?”

“No começo eu tive medo. Vi tantas pessoas bem mais talentosas que eu e me acovardei. Mas o David me incentivou e pelas palavras dele percebi algo: dinheiro é necessário, mas se você não gostar do que faz, será um péssimo profissional.”

David assentiu.

“Verdade. Eu sei que o dinheiro da minha família me ajudou muito e eu pude fazer o curso que quis, mas eu tive que lutar para eles aceitarem meu sonho. Mesmo para mim não foi fácil.” Assenti, guardando cada opinião, e vi o sr. Jackson se virar para mim.

“Quando eu decidi que seria economista, meus pais me chamaram de louco. Eles queriam que eu fosse advogado ou médico. Não aceitei a imposição e mesmo sob a pressão deles eu fiz a faculdade que quis, baseado no meu próprio esforço.”

“E hoje é o melhor economista da companhia.” O orgulho da sra. Jackson era quase palpável.

Com um leve sorriso no rosto e me sentindo um pouco melhor direcionado, resolvi que formularia minha própria opinião depois.

“Obrigado. Acho que agora consigo me decidir.”

Eles disseram que estava tudo bem e, se eu precisasse de mais alguma coisa, podia pedir.

Ajudei a tirar a mesa e logo todos estavam sentados na sala. Atração do dia: eu e o David contando piadas e os outros morrendo de rir.

Mas meu dia não tinha acabado ainda. Quando o sr. Jackson subiu até o quarto para pegar o baralho, senti a manga da minha camisa ser puxada levemente. Olhei e vi a Lizzy me olhando com uma cara de ‘por favor’. Entendendo o que era, sorri.

“Eu não esqueci. Quer ir agora?”

“Quero. Vai começar em meia hora.” Assenti.

Nos despedimos de todos e saímos da casa, subindo a rua em direção ao cinema.

“Então, ajudou em alguma coisa?”

“Demais, mas ainda tenho muito o que pensar a respeito.”

“Imagino. Mas… você mudou de ideia e relação à faculdade?” Franzi o cenho.

“Como assim? Eu ainda quero ir, mas pensando bem, não sei se vai dar certo. Sem querer o David acabou me lembrando um detalhe crucial sobre faculdades.”

“Qual?” Olhei para ela já meio triste.

“Faculdades são pagas, Lizzy. Meus pais não podem pagar. E eu não sou o Greg para conseguir uma bolsa de estudos.”

Eu olhava para o chão à minha frente, mas pude vê-la me analisar pelo canto do olho. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e continuamos a subir a rua. De repente ela falou algo que me chocou.

“Esse não é o Chris que eu conheço.” Parei de andar e a encarei enquanto ela ficava de frente para mim.

“Como assim?” Ela tinha um olhar decidido; daqueles que me davam coragem de fazer qualquer coisa.

“Quantas coisas na sua vida vieram fácil?” Meus olhos se arregalaram levemente.

“Nenhuma.”

“Como você resolve seus problemas?”

“Lutando.”

“Vai ser diferente com esse problema?” Sorri levemente, esperando que ela visse a gratidão em meu rosto.

“Não. Tem razão. Obrigado.” Peguei sua mão e a puxei para continuarmos andando.

Não vou desistir… Não enquanto você estiver comigo…

POV. LIZZY

O domingo passou rápido; logo era segunda feira e estávamos tendo mais uma aula. Eu tinha notado que ele ficara um pouco diferente depois da nossa conversa. Mais sério. Eu só não sabia se era algo bom ou não.

Talvez seja a tensão por ter que passar mais tempo com o orientador…

A aula também passou rápido e quando o sinal tocou, nos despedimos do Greg e seguimos para a sala do sr. Abbott. Dessa vez ele não falou nada e nem reclamou. Só deu um leve suspiro e entrou na sala. Me sentei novamente no banco para esperá-lo e reclinei minha cabeça contra parede, fechando os olhos.

Espero que corra tudo bem…

Mas logo ouvi claramente…

“Boa tarde, sr. Abbott.”

“Boa tarde, Chris.”

Virei a cabeça e vi que a porta estava um pouco entreaberta; uma caneta impedia a porta de se fechar. Sorri e cheguei mais perto da porta.

Ok. Se você quer que eu escute…

Ouvi o barulho de alguém sentando e a voz do sr. Abbott.

“Então, como foi seu fim de semana? Conseguiu pesquisar alguma coisa?”

“Sim. Falei com alguns amigos meus que estão na faculdade. Eles me disseram várias coisas e eu acabei descobrido algo importante.”

“E o que foi?”

“Eu não preciso decidir o que quero fazer agora. Na hora certa eu vou saber o que é.” Ouvi um suspiro pesado.

“Chris, você tem consciência de que seus pais não--”

“Não podem pagar uma faculdade para mim? Sim, sr. Abbott, eu sei. Melhor do que o senhor, eu conheço a condição da minha família. Se eu realmente quiser ir para a faculdade, eu vou ter que me esforçar para conseguir esse dinheiro. Vai depender de mim, não deles.”

Seguiu-se um silêncio longo e eu quase pude ver os dois se encarando. Quando o sr. Abbott falou novamente, pude sentir a admiração em sua voz.

“Sabe, Chris, quando eu perguntava sobre o sonho de profissão a maioria dos alunos me diria que queriam ser médicos, atores, astronautas entre outras coisas. Mas você teve uma visão muito realista das coisas. Você não vê a vida pela parte sonhadora, mas sim pelo lado que você pode batalhar para alcançar. E isso é uma coisa muito boa.” Sorri. Esse é o meu Chris. “Você tem razão. Se tiver força de vontade, a gente consegue o que quer. Obrigado por me lembrar. Acho que depois de tantos alunos com sonhos destruídos e sem esperança, eu tinha me esquecido disso.”

“Tudo bem, sr. Abbott. Posso ir?”

“Claro. Espero encontrar você de novo, quando estiver na faculdade.”

“Obrigado, sr. Abbott.”

Ouvi eles se levantarem e provavelmente apertarem as mãos. Alguns segundos depois o Chris saiu com uma expressão muito melhor do que a que tinha entrado. Me levantei e sorri para ele.

“Não vai pegar sua caneta?” Ele riu levemente.

“Não. Deixa ela aí. Talvez alguém precise.”

“Se sente melhor?”

Ele respirou fundo, soltando o ar lentamente. Depois me puxou pelo braço e, antes que eu percebesse, beijou meu rosto.

“Agora sim.” Sorri sem graça, sentindo meu rosto esquentar.

“Idiota.” Ele gargalhou e fomos para casa.


***


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Notas finais do capítulo

Acho que sai outro ainda esse feriado!
Reviews!
Por favor!
^^



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