A Chegada Dela escrita por Kam_ted


Capítulo 1
Capítulo 1




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Sua chegada àquela cidade pacata havia sido mais comentada que o caso de adultério da mulher do prefeito que fugira com seu motorista particular. O prefeito, quando recebeu um abaixo assinado para expulsar a nova moradora, deve tê-la elevado a um patamar maior que o que sua ex mulher tinha, afinal, os moradores mesquinhos estavam mudando o rumo das conversas, agora era aquela mulher de cabelos enrolados que usava calças e morava sozinha com um gato e um cachorro que estava na boca de todas as velhas gordas sentadas em cansadas cadeiras em frente suas casas junto com vizinhas e filhas pseudoingênuas que encontravam rapazes ao cair da noite nos matagais ao redor da cidade.

Alguns rapazes anti-sociais no começo a olharam medrosos, desviavam o olhar ao passar por ela na rua, a achavam louca, desvairada, drogada, mais tarde a idolatravam, quando iam na sua casa ouvir músicas barulhentas com letras protestantes, liberais ou livres. Outras pessoas foram atraídos pelo som de guitarras, baterias, das músicas e se achegavam acanhados. Se via jovens fumando e bebendo em sua calçada, usando blusas para fora, calças jeans rasgadas, tênis pretos ou vermelhos com cadarços imundos. Meninas que trabalhavam com os pais guardavam paixões calorentas por ela e pela primeira vez experimentaram se tocar debaixo dos lençóis. Marta, uma prima noiva, aceitou um dia o convite para ir à sua casa. Diz-se que Marta ao cortar os cabelos foi expulsa de casa e foi morar com ela. Mêses mais tarde, quem estava no bar do Seu Miguel às 17 horas, pode-se ver Marta abraçar e beijar na boca a outra moça numa despedida, estava indo fazer faculdade em cidade grande.

Em minha casa, o reboliço parecia ser maior. O semblante de minha mãe, uma beata assídua da igreja, era de preocupação e fora rezar junto com outras beatas uma novena ao descobrir a nossa vizinha. Meu pai, um arrogante conservador dos bons costumes - não havia limite à caretice naquela cidade -, cuspiu no jardim abandonado que ela ocuparia, ao passar em frente a casa azul. Na semana em que ela passara no hotel de nome contraditório Bem Vindo A (e o resto do letreiro estava corroído, sem cor, letras haviam caído) procurando uma casa todos encontraram-se indispostos a alugar casa àquela mulher de calça e regata com sutiã amostra. Então a casa azul, de uma viúva que morrera dias depois do marido, estava desocupada e o prefeito abandonado de olhos inchados ofereceu-lhe a casa.

Os tais rapazes outrora anti-sociais, não escondiam-se mais entre matos com outros rapazes, andavam juntos lado a lado na rua e já se apontavam quem era namorado de quem. Suas mães, as principais revoltadas que pregavam a inocência e a palavra de Deus, deitavam pragas àquela moça, e calavam envergonhadas com conversas sobre as atitudes dos filhos, estes, por sua vez, se impõe as repreensões e brigas dentro de suas casas.

Em uma tarde quente, estive desnuda banhando-me no quintal e sobressaltei-me com o minhado do gato branco pulando a cerca. Ela estava do outro lado curvada sobre a cerca com os braços estendido tentando alcançar o gato. Estava corada, o rosto brilhante de suor, os cabelos presos, alguns fios cacheados a fugir do coque, uma fileira de dentes brancos alinhados se mostrando, sardas nas maças do rosto e no nariz, mini argolas prateadas enfileiradas nas orelhas pequenas. Reparei em cada canto, cada detalhe, cada poro que explodia sob o sol, porque era a primeira vez que a olhava de perto. Usava um short desfiado, uma camiseta preta desbotada com uma estampa de homens vestido de jeans e couro, cabeludos, magrelos e altos e estava escrito Ramones. Talvez se nunca houvesse acontecido de seu gato ter pulado para meu quintal a imagem dela ainda seria de uma mulher grossa e áspera, com rugas debaixo dos olhos e alguma amargura no jeito de olhar. E não era uma mulher, era uma garota de feições meigas e tímida, não havia persuasão em seus olhos, talvez dissuasão. A olhava e ela olhava para mim. Eu estava mergulhada no ofício de comparar a imagem que estava tendo com a imagem que os outros tinham em relação. Pediu para que eu pegasse a Zoé. Sorri em resposta. Me olhava ruborizada. Minhas pernas brancas e meus seios sob o biquíni. Reconheci esse olhar igual ao que meu tio me olhava quando estávamos a sós. Me disse que Zoé estava correndo atrás da lebre que acabara de passar por ali e Agenor também saíra correndo e ainda não voltou. Seu timbre era manso, continha jeito diferente de falar, um sotaque, gírias e um sorriso sagaz. Queria perguntar por que as pessoas falavam mal dela, como ela conseguiu revolucionar pensamentos, por que estava morando aqui mas ela me cortou perguntado se queria procurar Agenor com ela. Corri até a varanda para vestir um vestido fino rosa enquanto ela trancava Zoé dentro de casa.

- Qual seu nome?

- Angélica.

- Ah, Angélica de anjo...

- Quantos anos têm?

- Quinze.

Não perguntei nada. Me sentia envergonhada de perguntar ou estender qualquer assunto, ela me deixava inferior, apesar de me olhar com grande apreço. Gritou Agenor três vezes e o cão apareceu correndo por entre o mato seco. O sol se escondia atrás das montanhas e o céu era de uma cor indefinida.

- O crepúsculo.

Não entendi a palavra e ela me explicou. Se aproximou e disse que meus olhos azuis, virado na direção onde o sol se colocava, estavam mudando de cor conforme o céu. Sorri. Seu rosto contra a luz se fazia em sombra mas percebi que olhava para minha boca. Agenor corria latindo de uma lado para o outro com o vento das folhas no chão e do mato.

Estava tão próxima do meu corpo e rosto que senti vergonha de me mover. Beijou meu lábio inferior. Meus olhos abertos enxergavam seus olhos fechados, suas pestanas longas contra meu rosto. Estranha sensação de outro lábio encostando no meu. Seus braços me abraçaram na cintura. Quis me desprender mas fechei os olhos quando tocou meus lábios e eu automaticamente os movi. Era o primeiro beijo. Papai queria que casassemos virgem. Queria que a única filha dele se casásse virgem e o filho dele trabalhasse duro para puder encontrar uma moça virgem para se casar. O encontrar significava que tinha permissão para sair com o carro, beber com moderação e beijar algumas meninas, para mostrar que ele era macho. Beijava-me delicadamente, abriu a boca fazendo com que eu abrisse também. Sua língua úmida invadindo atravessou insípida até encontrar a minha. Pôs as mãos em minhas pernas e alisou, chegando em minhas nádegas com o biquíni molhado. Não sentia absolutamente nada e ainda abria os olhos hora ou outra. O corpo me chamou ao toque de sua mão dentro da minha coxa, arrastando em cada penugem até encontrar minha vagina. Esfregava o dedo sobre meu clitóris e cada vez mais eu sentia algo que ao poucos me dei conta que era o prazer, excitação, não soube identificar. Eu já beijava. Gostava do passear de mãos em meu corpo, de uma boca sugando minha língua, do trabalho incessante da fricção no clitóris. Sentia em primórdio que eu explodiria com aquele pulsar entre as pernas. Esqueci-me dela. Meus seios estavam para fora e a língua quente ao redor de minhas orlas rosadas me excitava o corpo. A escuridão tomava à noite e ouvi mamãe me gritar. Retornei a si e o coração confundia batimentos de espasmos e susto. Me fitou com o mesmo olhar sagaz. Me puxou pela mão chamando Agenor que corria atrás de nós voltando para casa. Onde se via minha casa, parou, beijou-me e tomou outro caminho com Agenor. Minha mãe me olhava com espanto, perguntando o que estava fazendo no escuro no meio do mato. Entrei sorrindo para o quarto.


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