Doce Fruto de um Passado Amargo escrita por XxLininhaxX


Capítulo 19
POV Camus


Notas iniciais do capítulo

Yooo pessoas ^^/

Depois de mto custo eu consegui terminar esse cap...
Sinceramente, non sei se ficou legal e nem sei se ficou exatamente do jeito q eu qria...
Mas, tá aí XD!!
Peço desculpas pela demora para postar...
Agora vai ficar ainda mais complicado pq eu voltei a estudar (pessoa nerd q non consegue parar XD)
Farei o possível para q non fique tempos extremamente longos sem postar, ok?

Bom, a Sarinha me inspirou a escrever esse cap, já q ela postou 04 caps da fic dela, além de ter terminado * - *
Pra quem non leu a fic dela, sugiro q passe lá e leia, pq tá SENSACIONAL XD

Bom, sem mais delongas, lá vai mais um cap...
Espero q gostem...

=**
^^v



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Eu saí do quarto e desci para tomar um pouco de água e ver se conseguia me acalmar. Eu não conseguia me conformar que Hyoga tinha me desobedecido. Depois de eu ter avisado, depois do momento que passamos juntos no quarto, eu realmente não acreditava que aquilo tinha acontecido. E o pior de tudo é que eu não poderia deixar aquilo passar. Mas era um péssimo dia pra que eu tivesse que disciplinar meu filho. Ele tinha acabado de chegar, tinha acabado de me conhecer e tudo isso perto da data de quando sua mãe falecera. Nesse furacão de acontecimentos e novidades, eu seria obrigado a acrescentar mais um na lista. Eu até poderia voltar atrás e apenas dar um último aviso, mas esse não era meu estilo. Hyoga teria que entender que eu era a autoridade sobre ele agora e que o que eu falava deveria ser obedecido. Ele não tinha como dizer que não fora avisado antes. Mesmo assim, por que parecia tão errado? Eu nunca pensei que um dia eu fosse me sentir daquela forma a respeito de algo como disciplina. Eu já tinha disciplinado tanto Ikki como Shun antes. Admito que não era a coisa que eu mais adorei fazer na vida, mas eu não me senti tão péssimo como naquele momento. Eu não queria disciplinar meu filho? Era isso que eu estava sentindo? Alguma coisa estava errada comigo. Não acreditava que ter um filho, um filho meu, fosse me afetar daquela forma. Quando foi que ser pai tinha se tornado tão difícil? Finalmente eu estava começando a entender porque Shaka afrouxava a mão de vez em quando. A vontade de perdoar era muito grande, a vontade de esquecer o erro cometido era muito grande. Tudo para não ter que ser o “carrasco”. Sinceramente, eu não sabia o que eu faria e nem de onde tiraria forças para fazer qualquer coisa.

Entrei na cozinha e logo fui tomar um copo d’água. Eu sentia meu coração se apertando ao pensar no que aconteceria em pouco tempo. Por quê? Por que Hyoga tinha que ter feito aquilo? Será que foi por influência de Ikki? Mas isso não era desculpa. Hyoga já era crescido pra saber o que era certo e errado. Com certeza ele poderia ter recusado. Ikki era meio rebelde, mas não era do tipo agressivo ou que ficaria com raiva se Hyoga não fizesse sua vontade. E mesmo que fosse, Hyoga tinha que aprender a ser pé no chão. Independente do que os outros pensassem, Hyoga deveria escolher o que era certo. Droga! Droga! Droga! Como ele reagiria à disciplina? Será que me odiaria por isso? Será que me rejeitaria por não concordar com meus métodos? Nunca me senti tão inseguro sobre o que fazer. Tudo que eu queria no momento era paz. Paz para que eu pudesse me aproximar do meu filho, criar uma relação saudável com ele e conhecê-lo melhor. Eu nunca ficara tão ansioso em minha vida como naquele momento. Eu queria ser logo o pai daquele garoto. Eu queria ser e queria que ele me visse como um. Queria poder pegar ele no colo, sim, no colo, e dar a ele o conforto que lhe fora negado durante mais da metade de sua vida. Queria poder dizer o quanto eu já o amava. Nada do que eu estava sentindo fazia sentido algum. Eu não era aquela pessoa emotiva. Mas era o meu filho. Meu filho! Sangue do meu sangue. Como saber de algo tão simples assim pôde mexer tanto comigo? Eu só poderia estar ficando velho.

Além de toda aquela insegurança e ansiedade, ainda havia a preocupação. Onde Hyoga estava? Será que estava bem? Onde Ikki o levara? Será que já tinham saído há muito tempo? Será que demorariam muito para voltar? Eu queria sair daquela casa e procurar Hyoga em cada milímetro daquela cidade até que eu pudesse encontrá-lo e trazê-lo de volta para meus braços. Era meu dever protegê-lo. Eu prometi para mim mesmo que não deixaria que nada de ruim acontecesse a ele nunca mais. E em menos de 24 horas eu já nem sabia onde ele estava. Como que eu consegui perder o controle dele em menos de 24 horas? Nem parecia que eu era aquele homem super-responsável e que tinha tudo sob minha visão. Droga! Droga! Droga! Isso tudo porque eu tinha visto meu filho chorando daquela maneira. Aquilo me desestruturou completamente. O senso de proteção, de cuidado e de carinho, de repente começou a apitar em minha cabeça e eu não conseguia mais ouvir a voz da razão. Definitivamente eu tinha que desenvolver melhor minha inteligência emocional, caso contrário eu teria sério problemas nessa nova vida de pai.

Achei melhor ir para a sala e tentar conversar com alguém para me distrair ou eu acabaria saindo atrás de Hyoga por impulso. Fui até á sala e fiquei apenas observando de longe. Aiolia já havia chegado e já bebia junto com Kanon. Saga, Mu e Aiolos conversavam em outro canto, um pouco mais calmos. Seiya estava junto dos pais, sem muito interesse na conversa. Milo estava junto de Kanon e Aiolia, mas parecia um pouco inquieto, como se não estivesse com cabeça para aquilo. Tive que sorrir. Eu ficara extremamente feliz que ele havia aceitado Hyoga daquela forma. Milo sabia de minha história com Natássia e não gostava nenhum pouco. Ele tomou minhas dores e criara um sentimento de rancor para com minha ex. Mas pelo visto, a nova versão daquela história fizera com que ele enxergasse tudo com novos olhos. Até mesmo eu tinha mudado o que sentia com relação ao passado. Sentia muito mais remorso por não ter tido reação alguma e deixado que Natássia fosse embora sem me dar uma satisfação. Não apenas por Natássia, mas por Hyoga também, que eu nem sabia que existia na época. Mas tanta coisa poderia ter sido evitada, tanto sofrimento. Eu amava Milo e não negava que tínhamos sido feitos um para o outro, mas eu não sabia o que pensar naquela situação. A questão era que tudo ficara no passado e agora o presente batia a minha porta. Definitivamente não era hora de pensar no que teria sido melhor ou o que mudaria se eu tivesse feito as coisas diferentes.

— Camus? – saí de meus devaneios.

— O que foi, mon ange?!

— Eu que pergunto. Você parece preocupado com algo. Aconteceu alguma coisa? Hyoga está bem?

Eu não sabia o que responder. Se eu contasse para Milo o que tinha acontecido, era bem capaz que ele expulsasse todo mundo daquela casa e saísse feito louco atrás do loirinho. Além de tudo, eu sabia que se contasse alguma coisa para Milo, ele provavelmente me impediria de disciplinar Hyoga. Por outro lado, eu sabia que se eu não contasse, Milo ficaria chateado por omitir algo tão importante. Nada mais justo que eu compartilhasse com Milo a educação de Hyoga, já que ele tomara meu filho como dele também. Definitivamente era o tipo de situação que eu teria que escolher o que fazer e me preparar para as consequências, pois elas viriam independente do que eu decidisse.

— Está tudo bem, mon ange. Não se preocupe. – achei melhor seguir minha intuição. Depois eu me acertaria com Milo.

— Tem certeza? Você não me parece muito certo disso. – ele me olhava desconfiado.

Era difícil mentir daquela maneira para Milo. Além de ele me conhecer muito bem, eu era um péssimo mentiroso. Olhei na direção das escadas, tentando desviar meu olhar de Milo. Talvez eu conseguisse ser mais convincente se não olhasse dentro daqueles olhos. Porém, antes que eu respondesse, vi Shun descendo as escadas, sendo seguido por Ikki. Eles chegaram! Hyoga provavelmente estava no quarto com Shaka, já que ambos não desceram também. Suspirei aliviado. Não precisaria mentir para meu marido.

— Tenho sim. – falei, olhando pra ele mais confiante.

— Tudo bem então. Só vim aqui para dizer que já vamos para o barzinho.

— Divirta-se.

— Não sei se estou com cabeça pra isso, mas vou tentar. De qualquer forma devo chegar mais cedo que de costume.

— Faça como quiser, mon ange. Mas não se preocupe com Hyoga. Ele vai ficar bem. – eu tentava convencer a mim mesmo ao dizer aquilo.

— Tenho certeza que sim.

Milo me deu um beijo suave e foi para junto de nossos amigos. Eu não quis perder mais tempo. Queria logo ver meu filho e acabar com aquela situação angustiante. Fui em direção às escadas. Shun estava parado, junto com Ikki, na ponta da escada, provavelmente esperando por Shaka. Shun estava cabisbaixo, o que me fez imaginar que Shaka deva ter chamado-lhe a atenção. Já Ikki olhava na direção do quarto de Hyoga com uma expressão no mínimo preocupada. Aquilo me intrigou. Será que Shaka estava chamando a atenção do meu filho também? Não acreditava muito nisso. Shaka não passaria por cima da minha autoridade. O que seria então? Por que Ikki parecia tão preocupado com o que estava acontecendo lá em cima? Eu não precisava me sentir mais ansioso com aquilo. Hyoga já estava no quarto, não é? Não precisava de mais alguma coisa na minha cabeça para me deixar mais à flor da pele. Continuei meu caminho, passando pelos meninos, calado. Shun parecia com vergonha de me encarar, o que eu achava completamente normal. Meus afilhados sabiam perfeitamente quando eu estava decepcionado com eles, principalmente Shun. Já Ikki pareceu nem se dar conta da minha presença até que eu passei por ele, subindo as escadas.

— Padrinho. – ele me chamou e eu parei.

— Sim, Ikki? – respondi um tanto seco.

Ficou silêncio de repente. Senti que meu afilhado ia dizer algo, mas pensou melhor e sentiu-se acuado para continuar. Eu suspirei profundamente. Ikki era extremamente inconsequente, mas eu sabia que ele não era um mau garoto. Talvez eu não o considerasse a melhor influência para meu filho, mas também não era a pior. A questão é quantas vezes ele provavelmente colocaria Hyoga nessas confusões que ele aprontava?!

— Eu sinto muito, padrinho. – ele falou bem baixo, mas eu consegui ouvir.

— Como? – eu fiquei um pouco chocado com aquela declaração.

— Eu não queria que Hyoga ficasse encrencado com você. Eu apenas queria ajudar. A culpa disso não foi dele.

Eu olhava assustado para Ikki, assim como Shun. Aquele era meu afilhado? Aquele garoto rebelde que só pensava em si mesmo e só fazia o que queria? O que será que aconteceu com ele para que dissesse algo assim? Ele não costumava se arrepender das coisas assim com tanta facilidade. Fiquei me perguntando se meu filho tinha alguma coisa com isso. Mas o que Hyoga poderia ter feito para que Ikki agisse de maneira tão diferente? Não conseguia sequer imaginar.

Saí de meus devaneios para voltar-me para meu afilhado, que parecia esperar por uma resposta.

— Você ajudou? – eu perguntei e ele me olhou confuso. – Conseguiu o que queria?

— Acho que sim. – ele ainda respondeu incerto do que dizer e eu apenas sorri de canto.

— Não aprovo suas ações e você sabe disso. Mas se você tiver conseguido tirar a dor de Hyoga, pelo menos por um momento, devo lhe agradecer. – Ikki sorriu e eu sorri de volta, mas logo voltei a ficar sério. – Shaka vai acertar as contas com você e eu acertarei as minhas com Hyoga.

— Mas...

— Não tem “mas”. – interrompi. – Não interessa os motivos que te levaram a fazer o que fez, nem os de Hyoga. Vocês sabiam que era errado e sabiam que haveria consequências.

Ikki ficou calado novamente. Ele não era de discutir punições, apesar de seu orgulho claramente perceptível. Apenas me virei e continuei subindo as escadas. Eu ficara feliz em perceber que Ikki tinha tentado ajudar Hyoga. Aqueles dois juntos não seriam a melhor combinação possível, mas eu manteria meus olhos abertos para qualquer deslize. Isso eles poderiam ter certeza.

Parei em frente à porta do quarto e suspirei. Sinceramente, eu não queria entrar naquele quarto. Eu não queria passar por aquela situação. Não naquele momento, não naquele dia, não sob aquelas circunstâncias. Parecia que tudo que não devia acontecer, tinha acontecido em menos de dois dias. Isso me fazia questionar se eu realmente levava jeito para ser pai. Talvez tenha sido por isso que eu nunca tinha tido o interesse em ser pai até conhecer Natássia. No fundo eu sabia que não levava muito jeito para a paternidade. E fazer algo para o qual eu não estava devidamente preparado me deixava muito sem reação. Esse, com certeza, era um sentimento com o qual eu não sabia lidar e que eu detestava sentir. Mas, por outro lado, eu também não era um homem que simplesmente abandonava minhas obrigações e responsabilidades. E se eu ainda não sabia como ser um bom pai, tinha certeza que a prática e a vivência me auxiliariam. E, não importava o que eu tinha que passar para que eu pudesse ser o melhor pai possível para Hyoga, eu o faria. Eu devia isso a ele. Devia isso à Natássia.

Abri a porta e vi Shaka e Hyoga se entreolhando. Hyoga parecia agradecer Shaka por alguma coisa. O que será que eles estavam conversando? Achei estranho, mas não quis perguntar nada. Shaka veio em minha direção. Por certo já havia percebido que eu gostaria de ficar a sós com Hyoga. Ele passou por mim, mas falou em um tom bem baixo.

— Boa sorte, amigo.

É, eu realmente precisaria de sorte. Ele saiu do quarto e fechou a porta atrás de mim. Fiquei olhando para meu filho, que estava em pé, próximo da cama e olhando para mim, fixamente. Seus olhos ainda estavam fundos e vermelhos. Definitivamente me partiam o coração. Meu filho precisava tanto de mim naquele momento. Mas, infelizmente, tudo havia saído do meu controle. Se eu estivesse ali, naquele quarto, com meu filho, nada disso teria acontecido. Eu sabia, no momento em que levantei daquela cama e meu filho saiu dos meus braços, que alguma coisa ia acontecer. Eu não era uma pessoa muito intuitiva, mas de alguma forma eu sabia. Será que aquilo tinha alguma coisa a ver com a paternidade? Não sabia, mas torcia para que fosse. Assim eu poderia passar a acreditar mais em intuição.

Tentei afastar aqueles devaneios e focar no que eu tinha ido fazer ali. Independente de qualquer coisa, Hyoga tinha passado da linha do aceitável. Na verdade, ele ultrapassara desde o momento que decidiu ser desrespeitoso comigo. Mas devido a tudo ter acontecido muito rápido e ao fato de nos conhecermos a pouco tempo, fui deixando de lado e apenas avisando. E mesmo depois da advertência que dei, ele resolveu desobedecer. Eu não podia deixar que Hyoga fizesse essas coisas pra sempre. Eu tinha que deixar claro, desde aquele momento, que as coisas seriam diferentes dali para frente.

Suspirei e fui em direção ao meu filho. Também não precisava começar tão abruptamente. Sentei na cama e o chamei para que fizesse o mesmo.

— Sinceramente, Hyoga, não sei o que eu faço com você. – comecei. – Eu entendo que você esteja passando por um momento difícil e eu respeito isso. Mas eu fui claro da última vez que lhe chamei a atenção de que a próxima que você aprontasse não sairia impune.

Ele ainda estava calado, sentado ao meu lado e olhando para os próprios pés. Ele não tinha uma postura de arrependimento ou sequer receio de qualquer punição. Ele parecia até um pouco entediado. Aquilo me deixou um pouco irritado, pois eu estava falando muito sério.

— Olhe para mim, Hyoga. – falei mais firme e ele obedeceu. – Onde raios você estava com a cabeça para sair dessa casa, sem a minha autorização, e ficar perambulando por aí com o Ikki? – ele ficou calado. – Responda!

— Vai fazer diferença se eu responder isso? – ele respondeu atravessado, começando a me tirar a pouca paciência que eu tinha.

— Não interessa se vai fazer diferença ou não. Quando eu mando, você obedece. E eu mandei você responder!

— Eu estava a fim de sair e eu saí. Pronto.

Ele dizia aquilo com muito desinteresse e desdém, e isso estava me tirando do sério. Por um breve momento eu estava me esquecendo do quanto aquela situação era delicada e quase estava jogando aquele diálogo pro espaço, dando a surra que ele tanto merecia. Porém, mentalmente, contei até três e respirei fundo antes de continuar.

— Hyoga, entenda uma coisa. Eu – sou – seu – pai! Caso você não entenda o que isso significa, eu explico. Significa que você me deve, em primeiro lugar, respeito. Significa que você me deve obediência. Significa que você me deve satisfações. E, independente se você gosta ou não, você vai seguir as minhas regras! Por isso, eu estou mandando que você responda por que você saiu sem a minha autorização.

Ele suspirou como se estivesse muito cansado para passar por aquilo.

— Sinceramente, não sei aonde você quer chegar com isso. Não é como se você não soubesse o motivo. Aí você me faz dizer algo que você já sabe, só para jogar na minha cara que independente do motivo que eu tenha, o que eu fiz foi errado. E eu sou punido do mesmo jeito. Então, qual é o ponto? – ele não estava sendo atrevido, apesar da resposta. Percebi que precisava que ele entendesse meus motivos também.

— O ponto, meu filho, é que eu preciso entender o que se passa na sua cabeça. É verdade que eu já imagino o que tenha te movido a sair junto com o Ikki sem que ninguém soubesse. Não vou dizer que não entendo. Mas também não vou dizer que aprovo. Eu perguntei para você o que seria melhor e você disse que preferia ficar no seu quarto. Então por que não ficou? Se estava difícil de segurar, por que não foi me chamar? Nem precisava sair do quarto. Bastasse que você pedisse ao Shun ou ao Ikki ou até mesmo ao Seiya que me chamasse e eu viria até você. Então por que preferiu me desobedecer e sair por aí com o Ikki? É isso que eu quero entender.

— Não tem um motivo específico pra isso. Na hora eu só queria sair daqui.

— E por que não me chamou ao invés de ir com o Ikki sem me avisar nada?

— Porque você não ia abandonar as visitas só pra sair comigo.

— Quem disse que não?

Dessa vez ele me olhou surpreso. Até mesmo eu tinha ficado um pouco impressionado em como aquelas palavras saíram naturalmente da minha boca. De fato, abandonar visitas não era muito do meu feitio. Mas, era o meu filho! Ele precisava de mim! E aquela era mais uma reunião do Milo do que minha. Ele seguraria as coisas por mim. Até me apoiaria caso eu decidisse sair dali com Hyoga, devido às circunstâncias. Eu precisava que Hyoga entendesse que podia contar comigo em qualquer situação. Eu estaria ali por ele. Se ele não entendesse isso, continuaria fazendo coisas como aquela.

— Você faria isso? Por mim? – ele perguntou como se estivesse descrente.

— Hyoga, preste bem atenção no que eu vou dizer. Você pode contar comigo! Não importa quando, onde, como ou por que. Sempre me tenha como sua primeira opção para qualquer coisa que precisar. Sempre que eu puder, farei o possível e impossível para estar com você. Mas eu não vou saber se você não me falar. Talvez com o tempo eu até aprenda a perceber certas coisas sem que você precise verbalizar, mas por enquanto eu preciso que você me fale. Se você não disser, eu vou achar que está tudo bem. E aí você vai me desobedecer, como fez hoje. E isso eu não vou permitir.

— Mas qual o problema de sair com o Ikki? A gente voltou, não voltou? – aquela pergunta era um sinal claro de que ele não tinha ideia do que significava limites. Mas isso eu iria mudar. Ah se ia!

— Tem muitos problemas Hyoga! Você não está mais em uma pequena vila pacífica. Você mora em uma cidade grande agora! Andar com Ikki a essa hora da noite pode ser perigoso para os dois. Milo é uma pessoa muito conhecida e eu também. Se te pegam saindo daqui de casa, podem querer te pegar para nos chantagear. E não acho que o problema seja a chantagem que eles poderiam nos fazer e, sim, o que eles poderiam fazer com você. Tem noção de como fiquei preocupado quando vi que você não estava no quarto? Nessas horas sempre vem o pior na cabeça da gente! Coloque-se no meu lugar. Se algo acontecesse com você, como você acha que eu me sentiria?

Nesse momento ele abaixou a cabeça. Eu sabia que aquela pergunta tinha mexido com ele. Com certeza ele se lembrou da sensação de ver a mãe afundando naquele navio sem poder fazer nada. E era essa sensação que eu queria que ele entendesse. Essa era a dor que eu sentiria de não conseguir proteger meu filho de qualquer coisa que fosse.

Vi que ele começou a chorar. Por um lado eu fiquei aliviado, pois consegui fazê-lo entender porque ele estava tão errado. Por outro, vê-lo chorar já estava me deixando agoniado. Ainda mais sabendo que aquilo ainda não tinha acabado. Porém, antes de qualquer coisa, eu precisava estar com ele naquele momento. Eu precisava consolá-lo. Aproximei-me mais dele e lhe dei um meio abraço. Ele nem se mexeu. Apenas deixou que as lágrimas caíssem silenciosamente.

Ficamos daquele jeito por alguns minutos até que ele parasse de chorar e se acalmasse um pouco. Eu passei a mão no rosto dele e segurei sua face entre as duas mãos, para que ele olhasse diretamente para mim. Eu queria acabar logo com aquilo. Se eu não o punisse logo, eu acabaria desistindo. E, definitivamente, ele não ficaria sem punição.

— Hyoga, agora você entendeu por que o que você fez foi errado? Entendeu por que eu preciso saber o motivo que te leva a fazer determinadas coisas? Se a gente não dialogar e se entender, sempre teremos que passar por situações como essa e, nossa relação se tornará insustentável. Você vai me ter como um carrasco injusto e, eu te verei como um filho rebelde e irresponsável. É assim que você quer que seja? – ele apenas balançou a cabeça em sinal de negativa. – Então espero que também entenda que dessa vez não vou deixar que essa desobediência passe em branco. Eu avisei que não deixaria! E por isso você vai levar uma surra.

Ele me olhou meio que indiferente. Naquele momento, eu não queria explicar nada para ele, nem dizer mais nada. Eu só queria que aquilo acabasse. Sim, eu ia explicar tudo para ele, depois, com mais calma. Mas por enquanto, minha vontade era de simplesmente colocar um ponto final naquela história. Por isso, não esperei nada e o puxei para cima do meu colo, com o traseiro empinado. Eu não iria abaixar suas calças, não daquela vez. Eu decidi que iria puni-lo, mas seria muito mais algo para que ele entendesse que o que eu falo, eu cumpro. Afinal, se eu fosse fazer o que eu achava necessário, seria uma surra de cinto, assim como a que dei em Ikki quando ele saiu daqui de casa, também sem autorização. Mas algo me dizia que ainda não era momento para aquele tipo de disciplina, ainda. E dessa vez eu seguiria meus instintos.

Respirei fundo e tentei manter a voz firme e segura, para que Hyoga não duvidasse das minhas intenções.

Hyoga, o que eu vou fazer agora é lhe aplicar a devida correção para seu ato irresponsável.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

Você não pode sair sem a minha autorização ou a de Milo.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

Não tem “mas” e nem motivo que justifique essa desobediência.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

E se você voltar a fazer isso, garanto que a surra vai ser muito pior.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

Entendeu?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

Perguntei se en PAFT** ten PAFT** deu PAFT** PAFT** PAFT** s-siimm

Ótimo.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

Não via sinais de entrega. Ele parecia resistir à disciplina. Mas mal ele sabia que eu não ia parar até que ele se entregasse, admitisse o erro e pedisse desculpas. Milo achava engraçado esse meu “ritual”, mas isso tinha todo sentido, pois caso não ocorresse dessa forma, a disciplina não passaria de uma surra sem significado. Ele tinha que aprender, caso contrário não surtiria nenhum efeito sobre suas atitudes e maneira de pensar. Por isso não me detive até que eu ouvisse o que queria.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… hhuummm

Ele começava a gemer, o que significava que já estava chegando ao limite.

Vamos, Hyoga, não tenho o dia todo. Entendeu o recado ou ainda não?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… aaaiiii

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… já cheegaaa

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… paaaraaa

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… por faaa-favoor

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… e-eeu entendiii

Se entendeu então o que acha que tem que fazer?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… n-não seeeiii

Pense e você vai descobrir.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… aaaiiii

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… n-nããããooo

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… chee-eegaaa

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… tá doeeendooo

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… p-paaa-paaaaii

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… aaaahh

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… des-desculpaaa

O que disse?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… DESCULPAAAA

Eu não ouvi.

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… DESCUULPAAAA

Desculpa o que?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… SE-SENHOOOR

Desculpa o que?

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… SEEEENHOOOR

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… AAAAAHHHH

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… PAAARAAA

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… TÁ DOOEE-EENDOOO

PAFT** PAFT** PAFT** PAFT**… CHEEEGAAA

PAFT** PAFT** PAFT**… NÃ-NÃO FA-FAÇOOO MAAAIISS

PAFT** PAFT**… PAAAAIII

PAFT******************… AAAAAAHHHH

Pronto! Estava feito. Sentei-o na cama novamente. Ele chorava, não de forma escandalosa, mas chorava de soluçar. Eu não fazia o estilo de ficar consolando depois de uma surra, mas eu não estava conseguindo me segurar. Talvez eu precisasse de consolo mais do que ele. Meu coração estava cada vez mais apertado por conta daquela situação. E eu queria colocar toda aquela angústia para fora.

Abracei meu filho e comecei a afagar seus cabelos. Senti que ele ficou um pouco travado no começo, mas relaxou logo em seguida. Meu coração foi se aquietando, mas ainda continuava acelerado. Por isso, resolvi falar com Hyoga.

— Meu filho, espero que tenha realmente entendido o recado. Sei que provavelmente essa não será a última vez que passaremos por isso, mas peço que tente não me fazer repetir isso. Se para você não foi agradável, muito menos para mim. Tudo que eu preciso é que você entenda que agora você tem um pai que te ama muito. – ele pareceu surpreso com aquilo que eu disse. – Sim, isso mesmo! Talvez não faça muito sentido, pois acabamos de nos conhecer, praticamente. Mas só de dizer que você é meu filho, já faz com que meu coração se aqueça. E eu não consigo descrever o que estou sentido por você de outra forma que não seja: eu te amo.

De alguma forma, senti que aquelas três palavras doeram mais do que a surra. Ele começou a chorar mais forte e me abraçou como se fosse me perder. Eu o segurei ainda mais forte, para que ele tivesse a segurança de que eu sempre estaria ali, mas ele continuava chorando muito. Eu não sabia o que fazer naquele momento. Ele já deveria estar se acalmando, afinal, nem foi a pior surra que eu já havia dado. Alguma coisa mais estava errada ali. Mas o que poderia ser?

Não quis perguntar nada naquele momento. Apenas queria estar lá para meu menino. Ele não disse mais nada. Nem sequer sei por quanto tempo ficamos daquele jeito. Ele demorou a parar de chorar. Ficou soluçando por um bom tempo, até que o cansaço bateu e ele acabou deitando no meu colo. Eu fiquei um pouco surpreso com aquilo, mas feliz com a situação. Fiquei afagando seus cabelos dourados suavemente, até que ele dormisse.

Continua...


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