Ele não sabia apontar o que era. Talvez fossem seus olhos e o jeito que eles brilhavam, traindo completamente a expressão inocente que ela tentava manter. Talvez fosse o leve sorriso de lado que ela deu quando se cruzaram naquele corredor, ou o jeito que os olhos dela desceram para observá-lo por inteiro. Ou talvez fosse o modo como ela virou a cabeça para vê-lo passar, ao mesmo tempo em que ele olhava pra trás para observá-la e o olhar dos dois se cruzava por um breve instante. Ele não tinha certeza, mas definitavemente tinha de haver algo nela que explicasse por que ele não conseguia tirá-la de sua cabeça.

No dia seguinte ele a viu novamente, sentada do outro lado da cafeteria, o cabelo bagunçado e a mão misturando distraidamente o café enquanto sua cabeça balançava no ritmo constante da música que ela ouvia com seus fones. Se tivesse que adivinhar, ele diria que era algum tipo de rock. Ela levou a xícara aos lábios e ele se viu estudando cada movimento, e poderia ter feito isso o dia inteiro se o empresário à sua frente não tivesse chamado sua atenção de volta aos papéis. Quando ele olhou novamente, ela já havia saído - e ele não notou que ela o observara tão intensamente quanto ele havia feito.

Se encontraram mais uma vez naquele mesmo dia. A noite caia lentamente e ele estava saindo da piscina para se preparar para a última reunião quando ela chegou, passando por ele, graciosa, e ele sequer tentou disfarçar o jeito que a encarava, como que decorando suas curvas. E dessa vez, ele percebeu o olhar não-tão-discreto que ela o devolveu.

Horas depois, saiu do quarto. Tinha uma reunião importante para comparecer. Passou pela porta do elevador sem notar ela vindo logo atrás, arrumada para alguma festa na cidade. Ficaram de pé, lado a lado, e ele virou a cabeça discretamente para observá-la - desviando o olhar rapidamente ao perceber que ela fizera o mesmo. Ouviu uma risada leve escapar de seus lábios e não pôde evitar o sorriso que se espalhou pelo seu próprio rosto enquanto as portas do elevador se fechavam.

Olhou-a novamente. Ela estava deslumbrante. O olhar dela encontrou o dele, e ela riu mais uma vez. Ele desviou seu olhar para os lábios dela, se perguntando por que exatamente tinha aquela súbita vontade de tirar aquele sorriso de sua boca de um jeito um tanto específico. (Impressão dele, ou aquela menina realmente o fazia se sentir como um completo adolescente?) Ela percebeu.

Mediu prós e contras rapidamente em sua cabeça, e logo chegou à conclusão de que não se importava, não quando ele a estava olhando daquele jeito. Ele prendeu a respiração quando o sorriso dela se transformou em algo muito menos inocente e ela deu um passo em sua direção, a distância entre eles tão curta, mas não o suficiente. Ele se aproximou mais em um passo curto, e essa era toda a confirmação que ela precisava antes de segurar a lapela de seu terno e colar os lábios aos dele.

Quando as portas se abriram, ele foi rápido em apertar o botão que retornaria ao andar de seu quarto, deixando as portas se fecharem novamente e apenas vagamente ciente dos olhares dos hóspedes que esperavam pra entrar no elevador.

Tropeçaram para fora da cabine de metal, e ela agradeceu no fundo de sua mente pelo fato do corredor estar vazio. E enquanto ele se dividia entre pressioná-la contra a porta do quarto e abrir a fechadura, ele percebeu que provavelmente levaria uma advertência por perder uma reunião importante. Ela já nem lembrava de que em algum momento planejara sair. E assim que eles trancaram a porta novamente, por dentro, e suas bocas se encontrar mais uma vez, ele também esqueceu suas próprias preocupações.