Annabeth tentara, em vão, dormir. A história contada por sua mãe era muita coisa para aceitar de uma vez, ainda mais com o desafio de ter que escolher entre os Chase e os Jackson. Parecia loucura, além de ser extremamente patético.

— Responde, Percy. — Ela murmurou ao seu celular, clamando por uma resposta.

Há dez minutos, enviara uma mensagem contando tudo o que sua mãe dissera. O rapaz, porém, parecia ter sido sugado por uma outra dimensão. Ela preferia acreditar nisso do que no fato de que ele , mesmo online, não havia visualizado sua mensagem. Mais dez minutos se passaram até que ele respondesse.

 “ Podemos nos encontrar amanhã naquela cafeteria perto do parque? Quero que me explique a história” Ela concordou.

* * *

Às duas da tarde, Annabeth estava prestes a desistir e achar que Percy não viria mais. Pedira para sair mais cedo do trabalho e ficaria realmente muito irritada caso tivesse que compensar essas horas em que ficou à toa na cafeteria acordando cedo no sábado para trabalhar. O sininho da porta tilintou, anunciando a chegada de um rapaz com cabelos desgrenhados, camisa sem passar e um capacete de bicicleta nas mãos.

— Está atrasado. — Disse Annabeth, olhando para um ofegante Percy

.

— O metrô estava com problemas, tive que andar quatro quadras a pé. Pode pedir uma água antes de me dar uma bronca?

— Se andou a pé, por que carrega um capacete?

Olhando para o capacete com indiferença, ela respondeu:

— É uma longa história. Pode pedir a água?

Enquanto ele se recompunha sentado na cadeira acolchoada da cafeteria, Annabeth se encaminhou até o balcão, voltando de lá com uma garrafa de água e um copo. Estendeu ambos os objetos para Percy, que ignorou a presença do copo e engoliu metade da água da garrafa em um só fôlego.

— Desculpe pela pressa. — Ele falou, secando os cantos da boca. — É que vim correndo e...

— Tudo bem. — Annabeth interrompeu.

Ele sorriu (e, não que fosse puxação de saco, mas Annabeth poderia jurar que fora o sorriso mais fofo de todos os tempos).

— Mas então. — Disse o rapaz, bebendo o resto da água. — Por que me chamou?

Ela esperou até que ele terminasse de beber para começar.

— Bom, eu meio que descobri o motivo de todo o ódio de minha mãe por seu pai.

— E qual é?

Começou a relatar tudo o que sua mãe lhe contara, tentando incluir todos os detalhes que conseguia se lembrar. Percy a encarava, totalmente concentrado no que ela contava.

— Mas ele realmente mudou, Annie. Tentou dizer isso a ela?

— É claro que sim! Disse que era coisa de adolescente babaca, mas que ele mudou. Acho que ela ficou com raiva de que eu tenha tentado defender o “inimigo” dela. — Disse Annabeth, fazendo aspas com os dedos. — De qualquer modo, eu só piorei a situação.

— E pode ficar pior? — Perguntou Percy, rindo.

— Você não leu as mensagens que eu mandei? É claro que fica pior, seu cabeça de alga.

— Annie, você me mandou um texto enorme.

Inspirando profundamente, ela começou a explicar sobre o desafio que Atena lançara.

— O que? — Gritou Percy, tão alto que alguns dos fregueses da cafeteria chegaram a virar a cabeça para encará-lo. — Mas Annie, isso é um absurdo!.

— Eu sei que é, mas o que vou fazer?

Em resposta, ele apenas abaixou a cabeça.

— Eu só queria que meu pai ainda estivesse aqui, entende? — Confessou Annabeth. — Minha mãe era tão diferente antes do acidente...

Percy esticou as mãos, entrelaçando-as com as de Annabeth sobre a mesa.

— A gente vai dar um jeito, Annie. Sempre tem um jeito.

Embora duvidasse que houvesse um jeito, ela não disse nada. Seu cérebro, entretanto, parecia gritar em alto e bom som que não ia adiantar. O que aconteceria se Atena não caísse em si? Por mais que amasse Percy, como seria capaz de trair sua família?

— Tudo vai dar certo. — Murmurava o rapaz, embora sua expressão preocupada dissesse que pensava nas mesmas coisas que a garota.