Sins of Our Fathers escrita por Catherine


Capítulo 11
Rhaegar


Notas iniciais do capítulo

Peço imensas desculpas pela demora, mas espero que compreendam que sendo que o meu tempo é um pouco limitado para escrever, torna-se dificil colocar capítulos de poucos em poucos dias. Mesmo assim, faço o meu melhor... E sendo que abomino capítulos pequenos, tento pelo menos trazermos o que acho minimanente aceitável.
Talvez passem a odiar o Rhaegar um pouco menos... Ou bem, então não... De qualquer forma espero que gostem do capítulo. Estou a pensar regressar a Winterfell no próximo, que acham?



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O Norte parecia não ter fim.

Rhaegar Targaryen conhecia os mapas tão bem como qualquer outra pessoa, mas uma quinzena no trilho irregular que naquela região se passava pela estrada do rei bem incutira nele a lição de que o mapa era uma coisa, mas o terreno, outra bem diferente.

O frio não o incomodava, não de verdade, mas irritava os seus homens e apesar de Arthur não se pronunciar sobre o assunto, podia ver que o cavaleiro se sentia aborrecido cada vez que o vento gélido lhe passava pelo rosto moreno. Oferecera-lhe umas peles mais quentes a meio da viagem e convidara-o para a sua tenda com o pretexto de conversarem, na esperança que o pudesse agradar um pouco.

Nessa noite, Rhaegar perdeu-se entre as páginas de um livro que pedira emprestado a Lord Stark, uma bela meditação sobre a história e as propriedades dos dragões, enquanto Arthur polia Alvorada quase que mecanicamente. Se tudo corresse como planeado, a sua família necessitaria de todos os conhecimentos que conseguisse adquirir.

Semanas após deixarem Winterfell, a Muralha ergueu-se ao longe, a cerca de duzentos metros, três vezes a altura da mais alta torre de Castelo Negro. O topo era suficientemente largo para que uma dúzia de cavaleiros cavalgasse lado a lado vestidos de armadura. As esguias silhuetas de enormes catapultas e monstruosas gruas de madeira montavam guarda no topo, como esqueletos de grandes aves, e entre elas, caminhavam homens vestidos de negro, pequenos como formigas vistos do solo. Quando Aemon o levara no primeiro dia ao cimo, temera que o velho homem caísse e a ideia de perder alguém assombrou-o novamente. Contudo, após algumas visitas, Rhaegar descobriu que gostava de passear sobre os caminhos gelados do topo da Muralha. Num dia claro, podia-se ver metade do mundo do topo, e o ar estava sempre frio e tonificante. Era estranha a sensação agradável que sentia naquele lugar e, embora seu sangue clamasse pelo fogo, ali podia pensar, e seus pensamentos normalmente levavam-no a antigas memórias, especialmente as que envolviam Lyanna.

Tinha sido estranho, aquele primeiro dia em Winterfell.

Arya era tão dolorosamente semelhante a Lya, que Rhaegar forçou-se a manter a compostura e não abraçar uma criança de onze anos como se fosse seu amor perdido. Aos poucos, apercebeu-se de que embora a sua aparência fosse de facto semelhante, assim como alguns traços da personalidade forte, a filha caçula de Eddard Stark tinha pouco amor a canções e histórias. Ao contrário da mais velha. Quando Rhaegar tocou, os olhos de Sansa encheram-se de lágrimas e a mão cobriu os lábios para conter um soluço. Era agradável, embora doloroso, ver parte de Lyanna em ambas as filhas de Lord Stark. Tornava a sua decisão ainda mais simples. Fogo e gelo, como deveria ser.

– Estive a pensar – disse certo dia. Arthur ergueu a sobrancelha na sua direção e evitou um sorriso.

– Isso nunca acaba bem.

Ignorando-o, decidiu continuar – Tomei uma decisão quanto ao futuro de Jon... Bem, parte dele pelo menos – comentou, folheando o livro sobre os reis de Winterfell sem muito interesse. – Esta tarde irei propor que ele case com uma das filhas de Eddard.

– E o que o faz pensar que Lord Stark irá aceitar? – questionou Arthur, erguendo a sobrancelha em desafio.

– A sua honra. Lyanna sempre me disse que Ned era o irmão mais calmo e honroso que tinha – disse, embora Arthur tivesse revirado os olhos perante a sua explicação – Eddard Stark não me irá desobedecer, por muito que possa discordar. Uma de suas filhas será princesa, ou quem sabe um dia não venha a ser mais.

Arthur soltou um suspiro – Jon trouxe uma loba esta manhã para Alys, foi um gesto simpático, mas sei que não foi ideia dele. Ela vai adorá-la, o animal conseguiu ficar exausto ao ponto de adormecer em duas horas – fez uma pausa – Sabe o que irão dizer em Porto Real.

– Ela tem sangue nortenho – bastava que vissem para lá dos olhos violeta e os longos cabelos negros de Ashara, e que Alys sorrisse, só um pouco. Rhaegar gostava especialmente do seu sorriso, era sincero e cheio de promessas. Recordava um sorriso assim com muito carinho – Poderei legitimá-la como uma Stark, se for esse o seu desejo, Arthur. Embora preferisse que Lord Stark concordasse.

– Se ele tem tanta honra quanto você julga, ele mesmo lhe irá pedir que o faça.

Ninguém tinha ficado contente naquela tarde, não que isso tivesse alguma importância para os planos. Eddard ficara um pouco mais furioso. Jon não reagira, mas imaginava que após recuperar do choque, o iria odiar um pouco mais. Arthur, irritado com o desacato de Lord Stark e sua falta de reação, não lhe falara durante dias. Não era nada de novo na verdade, e Rhaegar podia viver perfeitamente bem com um pouco de ódio e ressentimento. Estava acostumado.

Durante as duas primeiras luas, a vida em Castelo Negro seguia certos padrões; as manhãs eram dedicadas à biblioteca, onde Samwell Tarly lhe trazia alguns livros e seu tio Aemon o auxiliava em suas buscas e intepretação das profecias; as tardes eram destinadas a longas reuniões com seus vassalos, que acabavam por levar a lugar nenhum. Talvez, se não fosse o rei, pudesse escapulir como Robb Stark fazia quando julgava que ninguém o observava. Passou o dedo pelo selo de sua casa, pensando nas palavras de Daenerys. Arthur não ficaria contente.

Um toque leve na porta chamou a sua atenção e Samwell Tarly espreitou pela porta entreaberta, com o rosto redondo corado pelo frio. Era um dos jovens mais gordos que já tinha visto. Pelo aspeto, devia pesar uns cento e trinta quilos e o colarinho de peles de sua capa bordada perdia-se sob os seus múltiplos queixos. Os olhos claros moviam-se nervosamente pelo cómodo, sem nunca o olhar diretamente, e os dedos rechonchudos e suados limpavam-se no veludo do gibão, após colocar o livro à sua frente.

– Esp... Espero que seja o que estava à procura, Vossa Majestade.

Rhaegar fitou o título rapidamente, sorrindo – É sim, obrigado Tarly... Será que pode chamar Ser Arthur? – o jovem assentiu e fez uma vénia atrapalhada antes de fugir rapidamente pela porta. O cavaleiro entrou pouco depois, fechando-a atrás de si – Aproxime-se – disse, gesticulado para a cadeira à sua frente – Houve uma, digamos... Situação com sua sobrinha.

Naquela noite, sonhou, mas Rhaegar recusou-se a acreditar que pudesse significar alguma coisa. Dragões voavam sobre a sua cabeça, lutando entre si mesmos, inimigos do próprio sangue. Chorava, embora não entendesse o motivo, e caminhava descalço sobre um mar de corpos. O cheiro a carne queimada à sua volta era nauseante. Um homem morto agarrou a sua perna, puxando-o para baixo. Rhaegar caiu e debateu-se. Enormes mãos fecharam-se sobre a sua garganta, e os olhos azuis de Robert Baratheon fitaram-no com malícia e vitória. Acordou a suar.

Dois dias depois, Lord Stark percorreu o contorno do lobo gigante de cera branca, antes de quebrá-lo e começar a ler. Rhaegar aguardou em silêncio que ele terminasse – É de Sansa... Bran acordou – disse-lhe, erguendo a cabeça – Os deuses devolveram-no - ao lado do pai, Robb Stark soltou um suspiro aliviado e o logo gigante lambeu-lhe os dedos com felicidade, depois, o jovem pediu licença e saiu para contar as novidades, seguido do animal que crescia a olhos vistos. Eddard Stark permaneceu no mesmo local – Catelyn deixou Winterfell uma semana atrás, temo que faça alguma tolice, ou que a sua ausência gere algum problema – continuou, após alguns segundos de silêncio.

Rhaegar assentiu – Confio em Jon, sei que o criou bem – bem melhor do que poderia ter criado, longe das cobras e dos leões – Mas ele é novo, e muitos poderão aproveitar-se da sua ausência e de Lady Catelyn, compreendo a sua preocupação. Sabe por que motivo ela partiu?

Eddard balançou a cabeça, e Rhaegar notou que o Senhor de Winterfell estava ligeiramente irritado – Não, nem sei como foi capaz, Bran ainda não tinha acordado.

– Talvez tenha alguma novidade sobre a queda e venha ao seu encontro, Lord Stark – sugeriu, embora soubesse que era pouco provável.

– Se for o caso, Catelyn sabe que a Muralha não é lugar para mulheres, principalmente quando pretendemos entrar em guerra com os selvagens – disse, balançando a cabeça negativamente – Correrrio, possivelmente, Lord Hoster poderá ajudá-la se chegar a ser necessário – fez uma pausa – Mudando de assunto, Stannis pretende atacar o acampamento mais próximo dentro de alguns dias.

– Ele conversou comigo mais cedo. Não estou completamente de acordo, mas é um começo. Alguns homens, como Grande Jon, estão cansados de esperar... E temo que acabemos com as provisões da Patrulha antes mesmo de atacar os selvagens. Talvez possa conversar com Stannis e encontrar algumas soluções para o problema?

Eddard assentiu e moveu-se na direção da porta – Tenho a sua licença, Vossa Graça?

– É claro.

Mais tarde após a ceia, dirigiu-se aos estábulos e colocou a sela em seu cavalo. Arthur seguiu-o em silêncio, repetindo o gesto. Montaram e cavalgaram para fora de Castelo Negro. Dirigiram-se para o sul na noite iluminada pela lua sem nenhum destino em mente.

Arthur manteve-se a uma distância considerável, demonstrando que não pretendia conversar, não ainda, mas Rhaegar não se importou. Naquele momento só queria cavalgar. Seguiu o riacho durante algum tempo, escutando o gotejar gelado da água sobre as pedras, e depois cortou pelos campos até à Estrada do Rei. Estendia-se à sua frente, estreita, pedregosa e marcada por ervas daninhas e o facto de vê-la encheu Rhaegar Targaryen de uma imensa saudade. Virou as costas à Estrada do Rei e olhou para trás. Os fogos de Castelo Negro estavam escondidos por detrás de uma colina, mas via-se a Muralha, clara sob a lua, vasta e fria, correndo de horizonte a horizonte.

Arthur alcançou-o enquanto ele contemplava a monstruosidade.

– Peço desculpa pelo meu comportamento – disse-lhe, parando ao seu lado – Alys é tudo o que tenho de Ashara. Prometi a mim mesmo que a iria proteger, mas enquanto estou aqui, ela está sem proteção. Senti-me impotente.

– Daenerys mencionou a loba na carta, Arthur, ela e Dany protegeram-na. Egg também, de certa forma.

O cavaleiro sorriu amargamente – Não é o destino que imaginei para ela, não é um destino feliz, não pela minha experiência.

– Nada disto estava nos meus planos – não uma das partes, pelo menos.

– Sei que não, lamento imenso – disse – Alys deveria ter ficado em Tombastela, fui um tolo ao enviá-la para Porto Real. Ashara deixou Dorne uma vez, e veja o que aconteceu... Os Martell...

– Não criarão qualquer tipo de problema – assegurou-o.

A biblioteca estava gelada àquela hora, e Rhaegar já tinha a lenha a estalar quando Chett fez entrar Meistre Aemon. O velho vinha vestido com seu roupão de cama, mas em torno da garganta trazia o colar de correntes da sua Ordem. Um Meistre não o tirava nem mesmo para dormir.

– A cadeira junto ao fogo seria agradável – disse ao sentir o calor na face. Depois de estar confortavelmente instalado, Chett cobriu-lhe as pernas com uma pele e saiu.

– Lamento tê-lo acordado, tio.

– Não me acordou – respondeu Aemon – Descobri que fui necessitando de menos sono à medida que fui envelhecendo, e já envelheci muito. É frequente passar a noite na companhia de fantasmas, recordando tempos idos há cinquenta anos como se tivessem sido ontem. O mistério de um visitante da meia-noite é uma diversão bem-vinda. Diga-me, Rhaegar, por que veio falar comigo a esta estranha hora?

– Deveria sentir-me culpado por manipular um velho amigo – começou por dizer – Incuti a Arthur a ideia de que Rhaenys apreciaria a companhia da sua sobrinha, e as coisas fugiram um pouco fora de controle na minha ausência – seu tio escutou em silêncio, de olhos cegos fitos no fogo – A situação com Viserys não foi de todo planeada. Preocupa-me que Jon Connington não envie notícias à algum tempo, a viagem a Ponta Tempestade deveria ter levado menos de duas luas, mas já se passaram mais de três. Com Cersei em Porto Real temo que Aegon ou Rhaenys estejam sob algum perigo.

– Lord Stark sabe do envolvimento dos Lannister na queda do rapaz e talvez no ataque?

– Não, mas sua esposa deixou Winterfell, e o punhal utilizado era de aço valiriano... Eddard pode ser um pouco mais lento, mas Catelyn Tully sempre me pareceu capaz de juntar um mais um. Certamente chegou à conclusão que aquele homem foi contratado... Se ela conseguir provar o envolvimento de Cersei ou Jaime na tentativa de assassinato de Brandon Stark, terei a desculpa que procuro à anos para expulsar a corja de Lannisters de Porto Real sem Tywin se rebelar. Esperemos que Lady Stark não cometa nenhum erro estúpido e prejudique tudo.

O tio continuou a fitar o fogo com um olhar vazio - Já lhe contei sobre um sonho que tive? – Rhaegar inspirou profundamente. Talvez não seja o mesmo.


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