PoV PEDRO

“O Zé.” Disse por fim.

Agora algumas coisas faziam sentido. Esse namoro repentino da K com aquele cara, ele estava a chantageando, é a única razão que eu vejo pra eles estarem juntos.

“Maldito! Sempre desconfiei desse namoro dos dois.” Gael dizia com a voz raivosa, andando de um lado para outro.

Enquanto ele proferia algumas palavras contra o canalha, lembrei-me que Karina havia saído com ele.

“O que vamos fazer, seu Gael? A Karina saiu com ele e...” Eu temia pelo pior.

“Calma, garoto! Minha filha é esperta e ele não tentaria nada contra a vontade dela.”

“O senhor acha?”

“Para o bem dele, eu prefiro achar.” Gael parou enquanto abria a porta do quarto. “Vou pedir pra vocês continuarem a festa em outro lugar, pode ser? Preciso conversar com a Karina a sós quando ela voltar.”

“Tranquilo, sogrão.” Disse fazendo-o revirar os olhos. Dei uma risada antes de sairmos do quarto.

PoV SOL

Tudo ficou muito estranho após Karina e Zé saírem. Gael e Pedro foram conversar no quarto, será que descobriram algo?

“Bi, o que tá acontecendo?” Puxei Bianca pelo braço quando ela passou por mim.

“Ai, Sol! Meu braço.” Ela esfregava o braço com a mão. “Descobrimos o porquê da K estar namorando o Zé.”

“Não acredito! Ele entregou as fo...” Interrompi-me, mas era tarde demais.

“Solange, você sabia das fotos e não nos contou?”

“A Karina pediu pra eu não contar.”

“Mas isso não faz sentido, você viu como a gente tava ficando doido atrás de alguma pista. Devia ter contado!”

“Eu não iria fazer isso com a K, ela pediu. E tem mais, isso não tem só a ver com o Zé ou a K, tem mais gente envolvida nisso.”

“Dá pra ser mais clara?”

“Reunião amanhã, espero vocês.”

Enquanto Bianca continuava a sua indignação, percebemos que Pedro e Gael haviam voltado para a sala. E agora Pedro vinha ao nosso encontro, ele parecia transtornado.

“Eu vou matar aquele merda!”

“Ei, Pedrinho. Que houve?” Bianca fez-se de desentendida.

“O Zé tirou umas fotos minhas e da K, acho que é por isso que eles tão juntos. Não passa de uma chantagem.” Ele tentava controlar o tom de sua voz que estava elevado.

“Sério? Que canalha! E por que acha que era uma chantagem?” Bianca era mesmo uma atriz.

“A Karina devia estar com medo da reação do sogrão.”

“Sogrão?” Fiz questão de implicar com ele por deixar escapar isso.

“Do Gael, desculpa.”

“Relaxa, Pedro. Agora vamos continuar a festa até a K voltar.”

Eu e Bianca puxávamos o garoto, mas logo paramos dando atenção a Gael.

“Yo!” Todos pararam, olhando assustados para o mestre. “Eu queria pedir uma coisa pra vocês e espero que entendam.” Parou encarando a todos, para ter certeza que poderia continuar. “A K deve estar voltando e eu queria um tempo com ela, momento pai e filha, entendem?” Todos fizeram que sim com a cabeça. “Vocês podem continuar a festinha numa pizzaria que tem aqui perto.”

Querendo ou não, todos concordaram. Quem seria o louco de ir contra um pedido do Gael? A menos você não tenha amor a sua vida.

PoV COBRA

“Cobra, isso tá muito estranho, não acha?” Gabi dizia sentada em meu colo.

“Tá mesmo.” Disse pensativo. “Fica aqui.” Dei-lhe um beijo estalado nos lábios. “Vou ver o que tá rolando.” Levantei-me e fui procurar o João.

João estava com Lorena, os dois definitivamente nasceram um para o outro, estavam vidrados na tela do celular, jogando algum jogo.

“Ei, casal!” Os dois pausaram o jogo e logo estavam me encarando. “O que tá rolando?” Disse lançando um olhar para a porta do quarto de Gael.

“Tá ouvindo algum barulho?” Fiz que não. “Então não se preocupa que eles não estão se matando.” João dissera e sua namoradinha rira ao seu lado.

“Ha ha ha, viciadinho! Tô falando sério, tá muito estranho isso aqui.”

“Tem uma pessoa que pode te responder.” João voltara seu olhar para o aparelho, sendo acompanhado pela namorada.

“Quem?”

“Minha mãe. Ela tava com o Gael antes dele ir para o quarto com o Pedro.”

“Valeu, João.”

Atravessei a sala até chegar à cozinha, onde Dandara servia alguns salgados numas bandejas. Ela parecia distraída, tanto é que assustou quando a chamei.

“Dandara?”

“Ah! Oi, Cobra, é você...” Disse enquanto continuava a servir os salgados.

“Dandara, o que tá acontecendo lá no quarto do mestre?”

“Ele descobriu umas coisas e precisava conversar com o Pedrinho.”

“É algo sobre o namoro da K?”

“Como você sabe?”

“Dandara, eu posso ter vacilado muito nessa vida, mas o Zé não fica muito atrás não. Desde quando eu lutava na academia do Gael, eu ouvia ele falando da K, e eu sempre quis quebrar a cara dele pelas coisas que ele falava dela.”

“O que ele falava?”

“Ah, que era doido por ela, que faria qualquer coisa para ficar com ela. Além de coisas que eu prefiro nem falar...Coisas bem baixas.” Ela parecia assustada com tudo que eu confessara. “O que ele aprontou pra conseguir ficar com ela?”

“Depois eu te explico, Cobra. Preciso conversar com umas pessoas antes.”

“Tudo bem. Podem contar comigo pra tentar afastar esse cara de perto da K.” Disse saindo da cozinha, voltando para o lado de Gabi.

PoV DANDARA

O que Cobra acabara de dizer-me era algo muito sério. Zé era doente e Karina poderia estar correndo perigo.

Pedro saíra do quarto seguido de Gael, que fizera um pedido para que continuassem a comemoração em outro lugar. Todos iam saindo de casa, mas eu precisava conversar com algumas pessoas, então eu pronunciei-me enquanto caminhava para perto de Gael.

“Gente! Um minuto da atenção de vocês!” Todos pararam, encarando-me. “Eu precisava conversar com a Bianca, Solange e com o Duca antes de vocês irem. É bem rápido.”

Enquanto os outros saiam, o trio junto a Gael acompanhava-me até a cozinha. Contei a eles o que Cobra haviam dito sobre Zé e todos concordaram em juntá-lo ao Team.

“A Sol tem algo para contar. Fala Sol.” Bianca disse.

“Não vou falar agora. Amanhã depois da gravação do CD, vamos fazer uma reunião e chamar a Tomtom, porque ela precisa estar junto para me ajudar a contar.” Todos concordaram.

“Amanhã então, meninos! Agora vão lá com os outros.”

Enquanto o restante rumava para a pizzaria, observei que Gael sentara no sofá, sua expressão era de frustração. Fui até ele, sentando-me e abraçando-o para confortá-lo.

“Já pensou no que vai falar com ela?” Ele repousou sua cabeça em meu ombro. “Ei, vai ficar tudo bem. Amanhã isso tudo acaba.”

“Assim espero, Dandara.”

Fiquei mais algum tempo com ele ali, não era sempre que Gael parecia frágil como naquele momento, precisava apoia-lo agora. Ficamos em silêncio até que resolvi ir para casa, já que ele queria um tempo com Karina, e eu o entendia. Despedimo-nos, marcando de nos encontrar no próximo dia, para resolver algumas pendências do intercâmbio da jovem.

PoV GAEL

Após todos irem embora, apaguei as luzes, deixando apenas um abajur aceso. Pensei que teria mais tempo para planejar o que falar com Karina, mas em cerca de quinze minutos ouço seu carro estacionar aqui em frente.

Tudo que eu poderia ter imaginado falar pra ela se esvaiu de minha mente, optei então por manter minha famosa pose de mau.

“Pai? Cadê todo mundo?” Ela parecia tensa com aquilo.

“A festa acabou, Karina.”

“Cedo, não acha? O que foi, pai?”

“Que fotos são essas?” Disse apontando para um envelope em cima da mesa do centro.

Karina talvez quisesse se explicar, mas eu já sabia de tudo e precisava explica-la algumas coisas. Ao final daquela conversa parecia que tudo fora esclarecido, ou parte daquela história toda. Quando percebi o estado em que minha filha se encontrava, esqueci-me de todos os mandamentos que sempre prezei no muay thai.

“Eu mato esse filho da puta!”

“Calma, pai. Não vai algo que você vá se arrepender depois.”

“Karina, vai tomar um banho e dorme. Amanhã nosso dia vai ser longo, minha filha.” Caminhei até a mesa, pegando meu celular.

“Pai, cuidado com o que você for fazer.” Dei-lhe um beijo na testa, abraçando-a. “Boa noite.”

“Boa noite, minha filha.” E quando notei que ela havia adentrado seu quarto, disquei rapidamente um número no celular. “Doutor Heideguer? Tenho um probleminha e acho que o senhor consegue resolver...”

********************

Após retirar o resto de vestimenta que sobrara após aquele pesadelo vivido no hotel, entrei no box e deixei que a água do chuveiro levasse tudo de ruim e renovasse o meu corpo.

Meu dia fora como numa montanha-russa, cheio de altos e baixos. Fui de felicidade para terror em poucas horas, e creio ter experimentado todo e qualquer tipo de sentimentos hoje.

Mas apesar de tudo, uma coisa era certa: eu estava livre daquela chantagem. Além disso, em poucos meses eu estaria viajando para o exterior; meu pai não estava chateado comigo pelas fotos; a banda gravaria o CD e Pedro estaria livre daquela anãzinha.

Suspirei com a última parte, já que mesmo livre dela, ele estaria com os compromissos da banda e eu estaria viajando. Mas no momento, o que eu quero é poder conversar com ele e explicar tudo que acontecera, além de aproveitar o pouco tempo que teremos juntos.

Se dependesse de mim, ficaria o resto da noite ali, mas eu precisava descansar, então dei por terminado aquele banho, enxuguei-me e coloquei um short larguinho com uma camiseta. Sequei os cabelos, penteando-os em seguida, e quando terminado, deitei-me.

Uma última olhada no celular com algumas mensagens. Lá vamos nós respondê-las.

Bianca

Cadê você, K? Estamos preocupados. (22:30)

Sol

Karina, dá um sinal de vida. Beijos. (22:32)

Ricardo (Cobra)

Loirinha, o que o Zé fez com você? Eu mato esse cara. Mas antes vê se aparece. (22:35)

Pedro

Esquentadinha, quando chegar em casa me avisa. Beijão. (22:36)

Bianca; Sol; Ricardo (Cobra); Pedro;

Estou bem, amanhã explico tudo. Beijos. (00:12)

Já que o teor das mensagens era o mesmo, nada mais justo que uma mensagem igual para todos eles. Agora sim, poderei descansar. Um filme com os últimos acontecimentos do dia passou em minha cabeça antes de eu, enfim, adormecer.