Não demorei muito a chegar lá, e assim que coloquei os pés dentro da casa, ouvi o barulho de patinhas correndo pelo corredor, e logo vi a bola de pêlos branca e preta aparecer na sala e começar a pular nas minhas pernas. Eu sorri, agachando e pegando Arman nos meus braços, fazendo carinho em sua cabeça.

— Ei, garoto — falei, rindo um pouco quando ele começou a lamber meu queixo. Levantei-me, com ele no meu colo, enquanto ouvia baixinho as vozes de Hope e Cameron corredor adentro. Silenciosamente, caminhei devagar até a porta do meu antigo quarto, tentando entender melhor sobre o que eles conversavam.

— Você vai ficar bem, não vai? — Cameron questionou, enquanto eu olhava pela brecha da porta que estava aberta. Cameron estava sentado na cama, com Hope em seu colo, enquanto ela brincava com o cabelo loiro dele. Ele encarava minha filha com olhos preocupados. Eu sorri tristemente.

— Porquê eu não ficaria, papai? Hope sempre fica bem — respondeu, a sombra de um sorriso infantil em seus lábios avermelhados.

— Eu sei que Hope sempre fica bem, amor — ele respondeu, fazendo carinho na bochecha dela — Mas eu não confio nele.

— Hope confia em Loki — afirmou, me fazendo ficar surpresa — Hope sabe que ele não vai machucar ela, nem a mamãe.

— Ah é? — indagou Cam, um sorrisinho divertido em seu rosto — E como será que Hope sabe disso?

— Segredo — ergueu os ombros, olhando para cima, inocentemente. O sorriso que ainda estava em meus lábios aumentou, enquanto eu empurrava a porta um pouco, fazendo os dois olharem para mim — Mamãe!

— Oi, amor — respondi, agachando e colocando Arman no chão, enquanto ela pulava saiu de perto de Cameron e corria até mim, pulando no meu colo — Há quanto tempo está acordada?

— Alguns minutos — Cam respondeu por ela, descendo da cama e caminhando até nós. Ele deu um beijo na minha testa, enquanto abraçava a nós duas. Eu encostei minha cabeça em seu peito, enquanto Hope colocava os bracinhos em volta de seu pescoço. Seu coração estava calmo, o que me deixou mais calma — Você vai ficar bem?

— Eu não sei — respondi no mesmo tom que sua voz estava; calma e baixa, como um sussurro tranquilo em uma noite de ventania. Pois era exatamente assim que eu me sentia. Parecia que a minha vida era uma eterna tempestade, e eu era apenas uma folha em uma árvore. E Cameron era o galho que não deixava eu ser levada com o vento. E eu não acho que algum dia eu vá achar palavras para dizer o quão grata eu estou por ter ele. Não importa quanto tempo se passe, quantos anos passem bem a nossa frente, ou quão longe estamos. Não importa os minutos, os quilômetros, ou até mesmo os mundos de distância. Se eu pudesse te me apaixonado por ele, tudo teria sido tão… Mais fácil.

Mas a vida é injusta; eu já aprendi isso. Ela te joga no chão e pisa em cima de você, como se você fosse apenas uma sujeira em seu sapato. E então você se levanta, exatamente como eles falaram que você iria conseguir. Contanto, eles provavelmente esqueceram de avisar que a dor continua lá. Eles esqueceram de falar que a cada passo que você dá, seu corpo inteiro dói como se você tivesse sido atropelada por um caminhão. Porém… As vezes eu gosto dessa dor. Ela me lembra que eu ainda estou viva. Que eu ainda estou aqui, e não vou sair tão cedo. As vezes, eu gosto de me perder na escuridão que é minha vida.

Loki era essa escuridão. Mas, a escuridão só não é bela para aqueles que não se atreveram a olhar mais de perto. Eu olhei, e por mais que eu não devesse, eu gostei do que vi. E ainda gosto. Só temos medo do escuro por que não sabemos o quê há nele, mas, assim que descobrimos, aprendemos a adorá-lo. Pois vemos que só porquê uma coisa não é bonita por fora, não quer dizer que ela não é maravilhosa por dentro. As noites mais escuras produzem as estrelas mais brilhantes.

E Hope era a prova mais concreta disso, porquê ela era minha estrela. Enquanto Loki era minha escuridão, ela era minha estrela. E um não consegue sobreviver sem o outro. Eu estava no meio de um paraíso sombrio, e pela primeira vez em toda minha vida, eu não queria escapar dele.