Innocence escrita por KatCat


Capítulo 10
Chapter Nine — Elastic Heart


Notas iniciais do capítulo

Como prometi, aqui estou eu! Suhaushuashuahs
Bem, espero que gostem desse capítulo, mas vocês tem que agradecer a uma pessoa em especial por ele: Tauane Santos
O flashback foi feito por ela, e ficou maravilhoso! Tenho certeza que vão gostar!
Então, até lá em baixo o/



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O deus pôde reparar, num rápido momento, que os olhos da criança eram tão escuros quanto as folhas de uma Gardênia; tão inocentes, como ele mesmo lembrou-se de ser um dia. O que, na sua idade atual, foi há muito tempo. Isso, é claro, antes da menina levantar apressadamente da cama, tropeçando nos próprios pés, e com as pupilas já dilatadas pelo susto. Por um breve instante, Loki pensou que ela fosse gritar, como qualquer criança mundana normal faria, mas, na verdade, uma fagulha de seu peito se acendeu quando reparou em uma coisa: Hope, definitivamente, não era normal. Uma parte sua desejou de forma profunda que fosse, mas outra, a mais irracional, gritou para que não.

— Quem é você? — sua voz ressoou em um tipo de sussurro alto, observou-a tombar um pouco a cabeça, tentando vê-lo com melhor nitidez, mas a pouca iluminação do luar não ajudou em nada. Frustrada, repetiu — Se minha mãe chegar aqui, as coisas não serão nada boas, ela não gosta que eu chegue perto de pessoas estranhas.

Soltando um riso anasalado, contestou, tentando soar calmo — Bom, podemos resolver essa questão, eu tenho certeza de que sua mãe não vai se… — analisou-a, pensando, pelo que parecia ser raro, no que deveria ou não falar — ...incomodar. Somos conhecidos — completou rápido, saindo da penumbra do canto direito do quarto, que, mesmo no escuro, obtinha a forte coloração vermelha.

— Conhecidos? — enxergou-o por inteiro, a curiosidade escorrendo pelos lábios rosados — Vocês são amigos, então? — podia ver a euforia da criança, que deveria ter esquecido totalmente as recomendações de sua mãe. Loki não precisou de muito para manter-se neutro, só deveria controlar sua vontade de contar tudo de uma vez, pois sabia que não seria certo. Não agora, pelo menos.

— Sim, nós já fomos muito... Ligados. Eu e sua mãe, mas me arrisco a crer que você não saiba, estou certo? — era uma pergunta retórica, mas Hope, apesar de madura para a sua idade, não compreendeu. Estava prestes a responder quando ele tomou partido, agachando-se na frente dela, igualando as alturas. Era bem alta para seus poucos anos de vida. Dona de um olhar astuto, mas essa era somente uma das tantas semelhanças, que agora eram mais que verídicas. Odin estava mais do que certo, ao final das contas — Gostaria de ouvir uma história?

— Depende da história — disse firme, mas deixando claro pelo seu timbre que ouviria com gosto qualquer coisa que o homem de misteriosos olhos verdes dissesse. Curiosa ao quadrado, isto era a marca de Davina, que agora, jazia em Hope — Eu não gosto de contos de fada, e mamãe nunca os lê pra mim...

— Oh, mas essa passa longe de ter um final feliz, Hope — deu um sorriso de lado, cogitando se deveria contá-la ou, então, mostrá-la.

— Nem todas precisam de finais felizes para serem boas — tais palavras surpreenderam, de certo modo, o deus — Pode existir um coisa linda por trás de todo o mal... É isso que ela diz.

Os olhos dele pareciam soltar faíscas, estava tão vidrado naquele ser, não pareciam ideias de uma garotinha normal de quatro anos, era como lidar com algo nunca encontrado antes, uma raridade. Sentiu uma chama de raiva por ver que ela passara a vida inteira rodeada de humanos desprezíveis que nunca sequer perceberam a diferença entre Hope e os outros de sua idade. Mas, ao mesmo tempo, saber que Davina lhe criara bem, apesar das possíveis consequências, parecia aliviar os horrores.

— Eu acho que você deveria ir embora, sabe... — o comentário cortou o quarto, acertando Loki como uma imensa surpresa — Mamãe vai ficar uma fera se encontrar você aqui. Além do mais, ainda não provou que são amigos — lembrou.

— Tem razão, de fato — abaixou o rosto, em um sorriso automático — Mas essa história começava todos os dias em que os protagonistas se encontravam. Eu poderia lhe mostrar minha cena favorita, Hope?

— Mostrar?... Ei! Como você sabe o meu nome? Não lembro de ter contado à você. Agora eu quero saber o seu também, se não, não vale — bufou, cruzando os braços.

— Meu nome é Loki, e eu venho de um lugar distante... — levantou a mão pálida ao encontro do rosto delicado da morena. — E fui um grande amigo de Davina.

''O quarto parecida ter se dissolvido em sua própria mente, e por um momento tudo ficou escuro, mas ela não sentiu medo, pois sabia que não estava sozinha. Logo, alguns flashes rápidos com diversas cenas voaram por seus olhos, parando em uma, sem nada de muito especial. A neve descia calma, lenta e suavemente pelo céu, como renda branca, uma vista privilegiada da janela. Quase. Duas pessoas a tampavam, parcialmente, e uma delas era a sua mãe, em uma versão um pouco mais jovem, apenas alguns detalhes entregavam isto. E, do outro, o tal que se chamava Loki. A imagem parecia cortada, agora, como um borrão, deixando-lhe ouvir apenas alguns detalhes da conversa que, por ora, já eram mais que suficientes.

[...] — Lá neva também? — pode ouvi-la indagar.

— Lá? — perguntou, confuso.

— Asgard — virou-se para ele, que continuava na mesma posição. — Em Asgard neva também?

— Às vezes — respondeu, se aproximando, ficando lado a lado com a sua mãe da visão, que agora observava o pôr do sol. — Lá o tempo não passa como passa aqui em Midgard, Anjo. O que aqui é um ano, lá não chega a seis meses. As estações duram mais. Mas, sim, lá neva também. Eu costumava ficar exatamente como você está agora. A janela do meu quarto dava direto para o jardim do palácio. Eu ficava na varanda, olhando a neve cair por horas e horas... [...]''

Tombou para trás, lembrando de escutar apenas a doce voz de sua mãe, que sempre a embalava, mas que agora dizia algo que ela levaria anos para digerir. ''Você escolhe sua própria família. Tendo o mesmo sangue ou não.''

Um sensação de torpor invadiu-a por inteiro, sentou-se na cama meio grogue e, com um sorriso bobo no rosto, concluiu, antes de se entregar ao sono: — Vocês eram mais que amigos, não é, Loki?

~Davina~

Depois da “pequena” discussão que tive com Loki, eu deixei ele sozinho na frente da casa e fui até Hope, pegando-a no colo e indo até a garagem, ignorando as reclamações dela. Arman seguia atrás, caminhando lado a lado comigo em suas quatro patas. Os olhos azuis não saiam de Hope, enquanto sua língua vermelha estava para fora da boca, provavelmente de cansaço. Peguei a chave no bolso da calça e destranquei o carro, abrindo a porta traseira e colocando Hope no chão. Mas, ao invés de entrar, ela simplesmente cruzou os braços e ficou me encarando de cara feia.

— Hope, por favor… — resmunguei, fechando os olhos e franzindo as sobrancelhas, completamente exausta, e sem um pingo de paciência para lidar com as birras dela agora. Ela bufou, segurando na porta do carro e entrando. Depois que Arman pulou junto, ela bateu a porta com força. Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente pela boca, tentando recuperar o mínimo de paciência que eu tinha. Fui para o banco da frente e coloquei a chave na ignição, girando-a. Eu não sabia para onde estava indo, eu só queria sair de perto de todos. Loki, Cameron, Steve… Parecia que eu estava sendo sufocada. Como se, a cada passo que eu desse, eu me afundava mais em um rio negro e profundo, que nunca tinha fim. E meu oxigênio já estava começando a acabar.

Eu não sei como cheguei ali, só sei que cheguei. A casa continuava do mesmo jeito de sempre, como se nada tivesse acontecido. Nem parecia que eu não ia ali fazia quase três anos. Eu queria vendê-la. Minha casa antiga me lembrava de mais coisas que eu podia suportar, mas eu simplesmente não podia. Eu sabia que arrependeria-me para o resto da minha vida se fizesse isso, então eu só passei-a para o nome de Steve e só voltei ali uma única vez depois que Hope nasceu.

Ela tinha um ano e meio. No dia iria fazer dois anos que meu pai havia morrido, e eu queria desaparecer. E foi exatamente o que eu fiz. Saí, sem dizer a ninguém para onde ia, e levei Hope comigo. Cameron soube na hora que eu tinha vindo para cá, e não pensou duas vezes antes de vir atrás de mim. Quando chegou, eu estava encolhida no chão do meu quarto antigo, chorando silenciosamente, enquanto Hope dormia profundamente em cima da cama. Ele não falou nada, só tirou as botas e deixou-as no corredor, caminhando até mim sem fazer barulho. Sentou-se ao meu lado e, sem dizer nada, me abraçou, enquanto eu agarrava a sua blusa e soluçava, chorando tudo que eu estava prendendo nos últimos tempos.

Estacionei o carro e desliguei o motor. Apesar disso, não tirei minhas mãos do volante. Eu encarava a casa como se, assim que colocasse o pé nela, começaria a chorar, o que eu realmente não duvidava muito. Mais uma vez, puxei o ar e o soltei, fechando os olhos por um momento, tentando ficar calma. Tirei a chave da ignição e olhei para trás, vendo Hope adormecida, completamente esparramada no banco de trás. Arman estava dormindo em cima da barriga dela, ressonando levemente. Um sorriso frágil apareceu em meu rosto, enquanto eu abria a porta e a fechava sem fazer barulho.


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Notas finais do capítulo

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