Pray For Love escrita por Lizzie-chan


Capítulo 17
Capítulo 16 - Eu Tive Um Sonho


Notas iniciais do capítulo

Hehe, lá vamos pessoal, com umas música que eu gosto muito :D Embora o clima da música seja bem alegre, não pude evitar de dramatizar a situação, obviamente porque ninguém pode ficar todo feliz quando um amigo morre, não é mesmo?
Ainda tem muita fic pra rolar, no entanto, então espero que gostem desse capítulo ;D

Boa leitura!
➢ Dia 21: Eu Tive Um Sonho - Kid Abelha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/591453/chapter/17

Suas palmas tocavam o vidro da porta da sacada novamente. Lucy gostava de fazer isso, fazia parecer que suas mãos não estavam tremendo, e olhar a chuva lá fora a fazia sentir como se as pequenas lágrimas nas pontas de seus olhos não fossem ser notadas por ninguém — e não seriam, já que não havia qualquer pessoa olhando.

A superfície era lisa e fria sob seus dedos, escorregadia, e ao menor movimento, sua mão trocava de lugar, deixando um rastro por onde tocava, limpando o embaçado branco e translúcido. Por algum motivo, não pensava em nada. Não queria pensar, porque sabia, pensar iria doer ainda mais.

Então, não permitiu que qualquer memória viesse à mente. Nenhum sorriso, nenhum truque com as chamas ou qualquer “Lucy-nee” sorrateiro. Nada passou por seus olhos além da chuva, nada entrou por seus ouvidos além do silêncio insólito. Não precisava se lembrar de nada, não havia necessidade disso.

Controlar sua mente havia se tornado muito mais fácil com o tempo. Não estava acostumada a perder pessoas, porque antigamente poderia contar nos dedos aqueles que lhe eram preciosos. Nos últimos dois anos, já pensara tantas vezes que algum de seus amigos morreria que perdera as contas. Ela mesma quase morrera pelo menos um par de vezes, e isso era tremendamente assustador.

Mas estava junto com os outros, o que sempre havia sido seu consolo. Morrer seria horrível, mas para ela não existiria mundo sem seus amigos, então se estivessem lado a lado, aceitaria qualquer coisa.

Não era o que havia acontecido a Romeo.

Podia se lembrar perfeitamente das palavras de Lisanna: “Ainda não é possível ter certeza, mas ao que tudo indica, foi ele. A descrição de uma testemunha visual bate com a da identidade de Romeo, que eles encontraram no corpo”.

Romeo havia morrido sozinho, sem os amigos, sem o pai. Por Deus, onde estava Macao numa hora como aquela?

Pelo menos Natsu estava lá, o que não significava exatamente boas notícias.

Deixou o olhar escapar de esguelha para o mago de fogo empoleirado no sofá o mais encolhido possível. Seu rosto estava duro, nenhuma palavra deixara seus lábios desde que abrira a porta para Lisanna. As mãos não tremiam e os olhos davam a impressão de não piscar, mas também não pareciam ser lubrificados por quaisquer lágrimas invisíveis — e isso doía tanto nela.

Aquele tipo de sofrimento era o pior.

Natsu conhecia e amava Romeo infinitamente mais do que ela. Não podia oferecer qualquer consolo àqueles olhos secos e garganta muda, então tudo o que fazia era observar. Silenciosamente, taciturnamente, como se não se importasse, embora seus olhos estivessem úmidos e suas mãos tremessem.

De repente, houve uma batida na porta. A loira descolou a pele do vidro para abrir, mas o rosado pulou da cama na velocidade da luz e atravessou o quarto em um piscar de olhos. Não parecia nem um pouco trêmulo, nem alterado, o que a fez sentir um gosto ruim no fundo da garganta — bile? Talvez apenas o sabor da tristeza?

Pôde perceber a figura da albina Lisanna do outro lado da porta, mas os dois conversavam aos sussurros e não conseguia entender o que diziam. Suspirou para si mesma. Talvez não fosse uma idéia inteligente se aproximar e interferir como mais cedo, tudo o que havia conseguido fora agir como uma boba enquanto o mundo de Natsu se despedaçava.

Assim, deixou os dedos escorregarem para fora da porta de vidro e direcionou o olhar para a mão, fechando e abrindo devagar. Sua pele estava úmida e fria, notou com pesar. Ah, aquele de fato não era um dia muito bom, com a chuva como agouro. Ontem parecera uma loucura também. Estava ficando com saudades da noite em que dançou no bar com Natsu, como se não houvesse quaisquer preocupações no mundo além de seus machucados aqui e ali.

E realmente, não deveria haver.

A porta se fechou com um estalo baixo e ela estreitou os olhos, esperando o rosado retornar ao sofá e se equilibrar na ponta, como havia feito até o momento, sua sessão de beijos já completamente esquecida no fundo de sua mente.

Mas não foi isso que ele fez. Ao invés, uma mão grande e quente pousou sobre seu ombro nu, fazendo-a dar um pulo e sentir arrepios. Virou-se bem devagar, guiada pelos dedos calejados, apenas para encontrar aquele rosto frio, de feições tão delicadas, olhando-a seriamente. Não podia nem sequer ver direito a dor no fundo de seus olhos.

Ah, não era tão difícil de perceber nos orbes verdes. Aquela era claramente a primeira fase do luto.

A negação.

Era exatamente o mesmo que ela estava fazendo.

— Eles querem que alguém vá identificar o corpo — murmurou o Draneel, a voz no fio mais seco que a loira já ouvira vindo dele. — Só por precaução.

— Lisanna foi verificar? — questionou, tão baixo quanto ele, tentando captar quaisquer sinais de algum sentimento além da indiferença no semblante masculino. Embora houvesse resquícios de lágrimas nas bochechas da loira, ele não fez qualquer movimento para consolá-la, o que comprovava claramente a sua falta de naturalidade.

— Eu disse que eu iria — declarou suavemente, e então o aperto no ombro feminino aumentou.

Lucy queria dizer que estava doendo, mas não teve coragem. O olhar que a encarava era vazio, mas mesmo assim, podia expressar tanta coisa, e ela entendia perfeitamente. Era a mesma coisa da qual quisera salvá-lo um ano antes, a dor que poderia destruí-lo e sumir com aquele sorriso que ela tanto amava.

— Eu vou com você — decidiu. Ele não esboçou qualquer reação enquanto escorregava a palma por seu braço engessado até seus dedos e os apertava levemente antes de usá-los para puxá-la para fora do quarto.

Não estavam andando devagar, mas o tempo parecia tão lento. A chuva fazia barulho naquele hotel silencioso, assomando-se aos saltos de Lucy batucando o piso do corredor vazio. Nenhum dos dois disse qualquer palavra enquanto rumavam para as portas duplas da entrada. Natsu parou por um segundo e observou a chuva caindo, então virou para a loira, que não precisou ouvir quaisquer palavras para entender o recado.

Cinco minutos depois, Virgo havia lhes trazido um guarda-chuva — por qualquer motivo, apenas um. Nenhum dos dois reclamou, não estavam num humor para tanto, e embora suas expressões fossem calmas, a tensão era quase palpável no ar, aumentando mais a cada instante. Lucy apertou seus dedos enlaçados aos do dragão de fogo e se aproximou, segurando o guarda-chuva azul sobre suas cabeças com o braço bom e se lembrando imediatamente de Juvia — cabelos em ondas, sorriso gentil e tímido. O que será que ela, Gray, Happy, Mira e Erza estavam fazendo naquele instante? Será que, como ela mais cedo, estavam sendo ingenuamente felizes?

Os dois andaram em silêncio para o exterior. Por algum motivo, Natsu parecia saber o caminho. Talvez Lisanna tivesse lhe dito, intuiu vagamente, deixando-o guiá-la pelas ruas encharcadas. O granizo, agora um pouco mais fraco que mais cedo, castigava o pobre tecido de seu guarda-chuva, fazendo-a questionar para si mesma se mesmo sendo um produto do mundo celestial, seria capaz de aguentar aquele tipo de tempestade.

Mesmo com a coberta, os dois ainda chegaram pingando no centro investigativo para o qual foram mandados. Lucy parou à porta para fechar o guarda-chuva e colocá-lo junto aos dos guardas e investigadores enquanto Natsu se adiantou e foi falar sobre como havia vindo reconhecer o corpo para um dos agentes.

Um disse que ia verificar com outro, e por aí foi, até que um homem alto com a barba negra por fazer apareceu e os guiou por um corredor escuro. Embora houvesse luzes incandescentes penduradas em intervalos regulares, ainda parecia um lugar muito doentio na opinião da loira. Romeo não merecia aquele tipo de coisa. Ele merecia um campo aberto, e amigos, sorrisos, flores, não um corredor de lajotas, luzes e paredes brancas com cheiro de morte.

Parou ao se chocar com as costas de Natsu, que encarava uma porta preta com as sobrancelhas franzidas.

— É aqui — disse o homem, fazendo um gesto circular em direção à porta com displicência e cordialidade, como se demonstrasse silenciosamente seu compadecimento pela perda dos dois. Devia ver coisas do gênero todos os dias, Lucy pensou, enquanto ele os deixava sozinhos.

Levantou seu olhar para as costas de Natsu, esperando-o fazer o primeiro movimento em direção à maçaneta, mas foi frustrada quando ele permaneceu parado observando o portal por mais de um minuto. Suspirando, deu a volta, prendendo seu olhar no rosto dele.

O rosado fitava a madeira com olhos verdes musgo tão obstinados quanto os que demonstrou quando ela o viu novamente após um ano, apenas alguns dias antes. As linhas de sua face estavam contraídas, como se procurasse manter a coragem ao alcance, e isso partiu seu coração.

Esticou os dedos e tomou os dele nos seus novamente, apertando com doçura. Ele era tão mais quente, como sua frieza poderia ser de qualquer consolo para ele?

— Existem coisas que precisam ser feitas — sussurrou, fechando os olhos e os sentindo se encherem de lágrimas. — É o que devemos fazer. Não temos que ter medo, Natsu...

Era bem diferente de um sonho assustador, ou de uma batalha dura. A morte já havia chegado, já havia surrupiado algo debaixo de seus narizes, e era doloroso e assustador, porque uma vez que o vissem, nenhum dos dois poderia mais se manter na negação, e o próximo estágio a assustava completamente.

A raiva.

— Não temos — anuiu o rosado, dando um passo a frente e tocando a maçaneta com a mão livre, e a outra apertou com força a de Lucy, como se não pudesse fazer aquilo sem ela, como se fosse sua única salvação.

E ela apertou de volta.

~*~

Encostou-se contra a porta assim que Natsu a fechou, segurando o fôlego para si mesma, e foi inevitável, uma vez que não podia vê-lo mais, que fosse inundada imediatamente pelo sentimento. Pelas lembranças.

Uma voz que nunca poderia ouvir novamente sussurrou palavras felizes em seus ouvidos, um sorriso que jamais poderia ver de novo riu para ela, cenas que nunca seriam repetidas outra vez brincaram por trás de suas pálpebras, saltitando na velocidade da luz, como que para torturá-la, e a ardência das lágrimas em seus olhos fechados a fez estremecer.

Nunca havia como escapar da dor, ela sempre vinha, sem perdão, sem aviso, sem condescendência.

Soltou um soluço baixo, que quase abafou os passos no corredor. Ao levantar a cabeça, percebeu Natsu seguindo para o lado pelo qual haviam vindo, as mãos ainda sem qualquer tremor, a postura ainda firme. Os dedos dele haviam escorregado para longe dela tão suavemente que nem sequer havia notado dentro de sua explosão de sentimentos.

Assim que ele virou na dobra do corredor, tomou coragem e começou a segui-lo. Natsu havia tirado força de suas palavras, e agora ele ia contar aos examinadores que aquele era de fato Romeo, por mais mal que isso lhe causasse.

Seguiu de modo torpe pelo caminho, tropeçando em obstáculos invisíveis e perdendo o fôlego por qualquer motivo bobo. Assim que chegou à entrada, deparando-se com pés calçados em botas sentados em sofás surrados e as janelas com engradado do lado de fora ecoando o som ritmado das gotas da chuva, sentiu a boca seca e outra vez aquele sabor horrível no fundo da garganta.

Natsu não estava em qualquer lugar para ser visto.

Não sabia como, mas endireitou a postura e correu até a porta, arrancando seu guarda-chuva do pote cilíndrico no qual o havia posto mais cedo. Começou a se apressar sob a chuva antes mesmo de abri-lo, encharcando os pés em saltos nas poças de água e os cabelos compridos, que começaram imediatamente a grudar em sua regata. Olhou ao redor, mas enxergar não era tão fácil, e as gotas insistiam em atingir seus olhos até abrir finalmente a sombrinha.

Correu e correu e correu, não chamou seu nome nenhuma vez, porque não sentia que tinha voz para isso, mas deixou seu corpo guiá-la.

Sentia como se estivesse dando a décima volta na mesma maldita praça quando finalmente viu uma sombra rosa perto de uma igreja com a porta fechada. Não podia confiar plenamente em seus olhos, mas mesmo assim correu naquela direção, deparando-se com Natsu sentado no chão, dentro de uma das grandes poças de água, as roupas negras completamente grudadas em seu torso e suas pernas, os cabelos normalmente rebeldes caídos, como se seu sol estivesse apagado.

Embora o dia ainda brilhasse sobre suas cabeças, Lucy desejava que fosse noite, assim a dor ficaria menos visível.

Levantou o guarda-chuva sobre a cabeça dele, agachando-se em seguida. O rapaz não fez qualquer movimento indicando que percebera sua presença ou que se importava com ela. Comprimiu os lábios juntos e deslizou a mão livre pelo dele queixo, agora fresco após o banho frio de chuva, e puxou o rosto masculino para cima, para encontrar com aqueles olhos verdes musgo que...

Estavam tão tristes.

Jogou o guarda-chuva para qualquer lado e deixou o corpo cair sobre o dele, passando os braços por seu pescoço e apertando forte, porque não havia mais nada que ela pudesse fazer além disso. Tinha que ser suficiente.

E seria.

Foi doloroso sentir o corpo dele tremer sob o seu com soluços sem lágrimas, tão dolorosos, tão difíceis de sair, e deixou seu próprio choro se misturar à chuva silenciosamente. Talvez a tempestade tivesse pena da humanidade às vezes, mas aquela certamente não era uma delas: continuou a cair infinitamente, como se chorasse por Romeo com o par, e mesmo quando os olhos da loira já estavam tão secos quanto os de Natsu, ela continuou e continuou e continuou.

Lucy se afastou lentamente, os movimentos comedidos e instáveis, e se levantou. O garoto a olhou por um momento antes de seguir seu exemplo de um modo mais fluído que ela, e se adiantou para pegar o guarda-chuva no chão molhado, levantando-o sobre suas cabeças, como se pudesse resolver qualquer coisa quanto a suas figuras encharcadas e castigadas.

Então os dois andaram lentamente de volta ao hotel. Cada passo era como uma memória, Lucy queria lembrar todos, e sabia que não conseguiria, assim como queria lembrar todos os momentos com sua mãe, todas as histórias que já havia ouvido em sua vida, todas as risadas que havia dado. Por mais preciosos que fossem os momentos, as memórias nunca conseguiam guardar tudo, o que era extremamente frustrante.

Estavam quase chegando ao hotel quando pararam abruptamente. Natsu encarava as portas duplas com olhos arregalados quando Lucy deu atenção a ele, e rapidamente seguiu seu exemplo, sendo surpreendida, no entanto, por um par de braços agarrando seus ombros com força e puxando-a levemente para baixo, na direção do mar de cabelos azuis em ondas bagunçadas e confusas, tão bonitas quanto as do mar, que lhe causavam tanta saudade.

Lu-chan!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yey, acabamos mais um passo da fanfic :D Se tudo der certo, esse vai ser uma arquinho pra finalizar. É estranho pensar que estou no capítulo 16 já falando do final, que vai ser no 22 ou 23, mas ele vem aí, uma hora chegaremos lá kkkkkkk Estou me precipitando um pouco, não planejei minuciosamente os acontecimentos, então pode ser que eu mude depois, mas por enquanto esse é o meu plano de ação kkkkk
Eaí, estão gostando? Porque gente, estou amando o feedback de vocês, acho que nunca tive uma recepção tão boa nessa categoria, me faz até ficar meio chateada que esteja acabando xD Espero não estar decepcionando vocês com essa minha oscilação inconstante de drama pra fluffy, é culpa das músicas! (como puderam ver hoje, não é não, é culpa minha mesmo kkkk).
Estou tentando muito por as respostas de reviews em dia, inclusive estou respondendo eles agora mesmo, espero conseguir terminar logo :D E sobre o horário de postagem, o horário de verão acabou aqui onde eu moro hoje, mas não sei se o site já modificou o horário deles, então aqui ainda não passou da meia-noite, mas talvez o site marque como se tivesse passado kkkkkkkk Espero que não seja o caso, entretanto.
De qualquer jeito, agradeço de coração a todos que estão me acompanhando nessa jornada chamada Desafio, seu apoio é o que está me mantendo de pé pra escrever aqui, porque um capítulo por dia é mais desafiador do que eu esperava (requer muito mais organização e criatividade do que eu tenho, Deus kkkkk).

Beijitinhooooooooooos
PS: Indo responder reviews aqui, novamente kkkkk. Não quero deixar ninguém na espera, aaaah x.x''''''