A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 3
Encontro Inesperado - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo descobriremos o que trás Allen Kurbs até Bereth e qual será a participação de Kayan nisto.



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Capítulo 002

Encontro Inesperado (Parte 2)

O sol servia apenas de iluminação naquele dia, não proporcionando nenhum calor excessivo, o que demarcava que há pouco ainda era inverno. As pessoas passavam pelo centro de Bereth de um lado para o outro ocupadas com os seus afazeres. Alguns mais idosos entregavam-se ao ócio do lado de fora das tavernas tentando retirar o pouco de calor que conseguiam do sol.

Em meio a este cenário Kayan encarava Allen Kurbs com grande admiração. O homem mais velho o encarava de volta apenas com curiosidade. Por um momento eles não sabiam o que dizer um ao outro. Na verdade, era o rapaz que não o sabia, pois o outro mago aguardava que ele tomasse a iniciativa. Por fim, o silêncio foi quebrado por Kayan:

­– Desculpe-me a curiosidade... mas... o senhor está em uma missão?

Por um breve momento Allen parecia que não iria responder. Ficou apenas olhando enquanto pensava na resposta adequada. Por fim, resolveu falar:

– Uma missão? Sim, sim, tenho uma missão a cumprir e talvez você possa me ajudar.

– Eu? Sinto muito mas minhas habilidades não devem ser nada comparadas com as de um mestre.

– Talvez ainda não, Kayan, mas a ajuda de que eu preciso são informações e acredito que não haja nenhum portador de informações melhor do que um mago, mesmo que ele não possua nenhuma experiência acadêmica. Voltemos para a taverna que lhe pagarei um corno de cerveja ou de vinho.

Kayan decidiu aceitar o convite, mas não pela bebida que receberia e sim porque realmente queria ajudar aquele mestre da Ordem de Drugstrein. A dupla seguiu até um mesa isolada na taverna e Allen pediu que a bebida lhes fosse servida. Vinho para Kayan e hidromel para o próprio. Daquela vez foi o mago mais velho quem iniciou a conversação.

– O que preciso saber, Kayan, é quem são os nobres desta cidade.

– Bereth só possui uma família de nobres – respondeu o mago, sem hesitação. – São os Beren. O barão Erbert Beren governa a família e recolhe os impostos da cidade.

– Oh, sim, agora me recordo. Eles são vassalos do conde Marlen de Alteroz, que deve vassalagem direta ao reino de Garlin. E quais são suas forças de defesa?

Kayan começou a achar as perguntas estranhas e não fazia ideia de aonde aquilo iria levá-los, mas respondeu assim mesmo.

– Eles possuem um castelo com uma muralha um tanto quanto baixa. Como a cidade em si não possui muralha, um assalto seria bem fácil devido as casas próximas as paredes. Na verdade, a família Beren não teme nenhum ataque, pois o castelo de Drugstrein fica a oeste e todo o reino de Garlin se estende nas outras três direções.

– E quanto a soldados, cavaleiros e guerreiros em geral, principalmente arqueiros?

– Não sei muitos detalhes sobre a guarnição, mas pelo que vi quando entrei no castelo não são muito numerosos. Provavelmente não passam de três centenas.

Allen tomava um gole de seu corno de hidromel quando ouviu aquilo e seu olhar se encheu de interesse. Aquilo que Kayan havia lhe dito parecia ser algo que ele não esperava ouvir, mas que o agradara muito.

– Quer dizer que você já esteve no castelo?

– Ah, sim, já estive lá. No ano passado, quando comecei a praticar magia, o filho do barão veio até mim me convidando para ir ao castelo. O barão Erbert desejava que eu entrasse para seu serviço. Ofereceu-me ouro e prometeu-me a mão de sua filha em casamento, para quando tivéssemos idade para nos casarmos, claro.

– Então você está a serviço de Erbert Beren? – Allen perguntou, com visível entusiasmo.

– Não. Eu recusei.

Ao ouvir a resposta o entusiasmo se desfez completamente.

– Mas por que fez isso? Servir um nobre é muito bom para um mago que não é afiliado à nenhuma ordem ou guilda.

– Eu não queria ficar preso a nenhum nobre, pois um dia, quando ficar melhor, pretendo entrar em alguma guilda. Além disso, a filha dele é muito feia – concluiu enquanto sorvia uma grande quantidade de vinho.

A conversa se esvaiu durante alguns segundos enquanto Allen pensava alguma coisa que era um mistério para Kayan.

– Tudo bem, mas acho que se você pedir uma audiência com o barão ele aceitará nos receber.

Intrigado, Kayan levantou uma sobrancelha ao olhar para o outro arcanista. Ele estava agindo de uma forma totalmente diferente do que ele esperava que um mestre agisse.

– Acredito que ele concederia uma audiência para qualquer mestre, principalmente alguém da Ordem de Drugstrein. Mas se preferir posso levá-lo até o castelo.

– Isso certamente seria de meu agrado.

Allen, então, terminou sua bebida com avidez, demonstrando certa ansiedade para ir ao encontro do nobre. Apesar disso, teve que esperar com que Kayan terminasse seu vinho e o rapaz não demonstrava qualquer tipo de pressa ao fazê-lo.

* * *

O castelo mal podia ser chamado de castelo de tão pequeno. Era constituído de uma casa torre e uma muralha baixa. A porta levadiça estava levantada, então os magos puderam entrar sem qualquer impedimento. Do lado de dentro eles puderam ver um estábulo e um grande armazém, além disso não havia muito mais a se ver por ali.

Quando chegaram à porta principal da casa torre deparam-se com um soldado que ali estava de vigia. Ele prontamente cumprimentou o mago mais jovem.

– Kayan, decidiu reconsiderar a oferta do barão?

– Na verdade não – respondeu simplesmente. – Este é Allen Kurbs, um mestre da Ordem de Drugstrein e ele deseja uma audiência com o barão Erbert Bert.

– Isso parece ser importante, o avisarei imediatamente.

Dizendo isso o soldado abriu a grande porta de carvalho enquanto os anéis de sua cota de malha tilintavam e entrou dentro da casa torre.

Alguns minutos se passaram e um homem de cabelos curtos e ruivos se apresentou trajando um gibão de seda e um manto constituído da pele de um urso. Junto dele seguia o mesmo guarda e um rapaz muito parecido com o nobre. Este último trajava um peitoral de aço, grevas e braçadeiras, além de trazer um escudo em suas costas e uma espada embainha em sua cintura.

– Boa tarde, senhor Kayan, mestre Allen Kurbs – cumprimentou-os o nobre. – Meus criados estão preparando uma refeição para que possa recebê-los devidamente em meu castelo. Mas, a que devo esta honra?

– Não será necessário uma refeição, barão – disse Allen. – O assunto será bem breve. Como o senhor pode perceber, sua segurança é garantida pela proximidade com o castelo de Drugstrein, então, como mestre da ordem vim recolher as taxas de proteção que nos são devidas.

Kayan e Erbert trocaram um olhar de desentendimento enquanto Allen mantinha um sorriso sarcástico em seu rosto.

– Temo que esteja havendo um engano aqui, mestre Allen. Nós pagamos nossos tributos à Alteroz e ao reino de Garlin. O rei, por sua vez, repassa o tributo anual às cinco ordens.

– Sim, isto é verdade. Mas agora estamos instituindo uma taxa adicional à todos os nobres de Wesmeroth. Sendo assim, aos mestres foram atribuídos a missão de recolher esta taxa.

– Volto a dizer-lhe que deve haver algum engano. Nenhum comunicado foi expedido pelo rei, ou pelo meu suserano, o conde de Alteroz.

– Engano ou não, o que os humanos comuns podem fazer contra o poder dos magos? O que lhes resta senão pagar os impostos devidos? – uma irritação podia ser percebida na voz do arcanista.

– Acalme-se, mestre Allen – interveio Kayan.

– Estou calmo! Basta me darem minhas moedas!

– Sinto muito, mestre Allen, mas temo que eu deva levar este assunto ao rei para que ele discuta o assunto com os lideres da Ordem de Drugstrein.

– Ninguém vai levar o assunto à Ordem de Drugstrein!

Allen estava visivelmente contrariado e furioso, mas algo mais podia ser percebido em sua fisionomia; seria medo? De uma maneira ou de outra, em meio a sua fúria ele estendeu sua mão e uma esfera de fogo se formou sobre sua palma estendida.

– É melhor me pagar o que me deve, caso contrário será seu herdeiro quem irá sofrer.

Apontou a mão em direção ao rapaz trajando a armadura.

– Por favor, mestre Allen, nós resolveremos este assunto pacificamente.

Apesar das palavras do nobre, cerca de uma dezena de soldados trajando armaduras de couro ou cota de malha saíram de dentro do castelo. Isso pareceu enfurecer ainda mais Allen, que disparou uma rajada flamejante em direção ao filho do barão.

O rapaz sequer teria tempo de pegar seu escudo para tentar se defender. As chamas se refletiam em seus olhos e ele tinha certeza de que ali seria seu fim. Morreria queimado, uma morte certamente terrível e dolorosa. Fechou seus olhos enquanto seus braços se projetavam para frente na fútil tentativa de se defender.

Os segundos se passaram e o calor chegou, mas não sentiu a ardência das chamas lhe consumindo, então ele retomou um pouco de sua coragem e reabriu seus olhos apenas para ver as costas de seu salvador.

Kayan havia protegido o herdeiro dos Bert colocando-se em frente as chamas que Allen havia conjurado e utilizado um feitiço escudo com sua aura. As chamas se dividiram em contato com o escudo de energia e formaram duas labaredas que se espalharam para os lados sem ferir ninguém.

Allen cessou seu ataque e percebeu que Kayan havia conseguido bloqueá-lo. O garoto, porém, parecia bem cansado e ofegante.

– Por que fez isso, Kayan? Você vai se opor a mim? Vai se opor a alguém que, assim como você, é um mago? – Allen parecia realmente indignado com aquilo.

– Eu que lhe pergunto, Allen – respondeu, visivelmente irritado e dispensando o honorifico. – Por que atacar estas pessoas sem nenhum motivo?

– Sem motivos, você diz? Eles se recusam a pagar por nossa proteção!

– Não estou recusando, mestre Allen, apenas desejo esclarecer as coisas junto à sua ordem – respondeu o barão, meio assustado.

Os soldados colocaram-se na frente de seu senhor, tentando defende-lo. Allen, por sua vez, agitou seu braço direito em frente ao seu corpo transcrevendo uma linha horizontal pela extensão da formação de guerreiros. Um forte vento surgiu deste movimento e todos os soldados foram arremessados para trás, sendo derrubados ou se chocando com a casa torre.

– Já chega, Allen, está não é uma atitude que um mago de uma ordem tomaria. Você não é um mestre de Drugstrein!

– Então você é muito espertinho, não é Kayan? Pois bem, se é assim que vocês querem, tomarei as riquezas deste castelo pela força.

Allen, então, apontou sua mão em direção ao mago mais jovem e fez com que as chamas surgissem de sua mão. Kayan reagiu por puro reflexo e conjurou novamente um escudo de energia capaz de suportar o impacto das chamas. Apesar disso, sentiu o calor chamuscar sua pele.

Correu para o lado assim que teve a oportunidade de se desvencilhar do ataque inimigo e preparou seu contra ataque. Fez um movimento com sua mão enquanto corria em um semi circulo e a terra começou a se levantar em um formato de onda que se dirigiu diretamente contra Allen. O outro mago, porém, quase não precisou de esforço para desfazer o feitiço do oponente e com um simples movimento fez com que a terra se assentasse novamente no solo.

O próximo feitiço de Allen foi utilizando a esfera Jinn, que controlava o ar. Uma potente rajada de vento lançou Kayan para trás da mesma maneira que havia feito com os soldados que haviam tentado defender seu barão anteriormente.

– Parece que acabou para o pequeno mago.

O próximo movimento de Allen foi unir suas duas mãos com as palmas estendidas em direção à Kayan. Uma grande esfera de fogo se formou e uma rajada de chamas muito mais intensa que as anteriores foi lançada contra o jovem mago, que estava caído e não teria condições sequer de erguer um escudo arcano.

Kayan mantinha-se com seu braço esquerdo a frente de seu corpo em uma vã tentativa de se salvar do feitiço que seguia em sua direção quando viu uma capa vermelha com a bainha prateada esvoaçando ao vento. Tudo o que ele podia ver daquela pessoa, que havia subitamente aparecido em sua frente, eram suas costas vestidas com aquele sobretudo e os cabelos longos e avermelhados. Mas, de alguma forma, as chamas haviam se extinguido.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí sabe quem salvou o Kayan? Quem já leu a versão anterior já sabe e quem não provavelmente também.

Críticas, sugestões, comentários? Se gostou deixe um comentário, se gostou mais ainda favorite e deixe uma recomendação. Se não gostou, comente também e aponte onde devo melhorar.

Vejo vocês no próximo capítulo.



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