A rainha perdida escrita por Amanda
– Amanda –
Eu deveria ter contado tudo, sobre a adrenalina, sobre aquela coisa violeta...tudo...até sobre a floresta e o Leão. Queria vomitar tudo aquilo. Meu estômago revirava a cada vez que pensava sobre tudo o que tinha acontecido, por medo de acontecer de novo, por medo de tudo ser culpa minha, afinal, eles vieram atrás de mim, isso estava bem claro.
Todos estava com sono, a melhor decisão foi que todos voltassem para seus quartos e descansassem para raciocinar mais na próxima "reunião".
Até que foi uma boa decisão, mas não para mim, não conseguia dormir de jeito nenhum, tanto por causa dos guardas andando e fazendo barulho por todo o Castelo, quanto por ficar pensando que eu precisava de respostas, mas não fazia ideia de como consegui-las.
Tomei uma decisão: Contaria aos reis tudo o que havia acontecido. Seja lá qual for a resposta, é melhor do que resposta nenhuma
Aquelas cenas não saiam da minha cabeça, Olhos violeta famintos, vidrados em mim como se eu fosse uma presa fácil, o que na verdade eu achava ser, e então faço uma barreira, também violeta, sair de mim e eles temem. Era algo incrível e ao mesmo tempo perturbador e louco.
E o que foi aquela sensação? Adrenalina subindo pelas minhas veias, eu queria tanto enfrenta-los, mas estava com tanto medo também. Fiquei imaginando como seria se eu tivesse atacado, criando cena após cena na minha mente.
Depois de um tempo fechei os olhos e em meio a mais uma cena heroica eu caí no sono.
–Edmundo-
Acordei com o quarto todo escuro. As cortinas estavam fechadas ainda. Pensei em virar e voltar a dormir, sabia que não tinha dormido o suficiente, meus olhos com certeza estavam inchados. Mas tudo que eu conseguia fazer era olhar para o teto e as vezes para a janela, uma pequena fresta abria passagem para a luz do sol, fraca, o que indicava que estava amanhecendo.
Levantei, me arrumei e saí. Teria muitos assuntos a tratar. Assuntos que vinham tirando meu sono e minha paz.
Um guarda estava de pé em frente a minha porta, ele tinha espada e um escudo.
– Bom dia Majestade – ele acenou com a cabeça.
– Bom dia. – Minha voz soava tensa, cheia de preocupação. O que de fato era o que eu sentia. – Pode ir descansar, não voltarei pro meu quarto tão cedo.
Ele assentiu e sai por um corredor.
Desci as escadas e segui para a mesa para tomar café da manhã.
Assim que entrei naquele cômodo, uma grande surpresa me aguardava. Quando meus olhos pararam naquela figura tive vontade de pular de alegria, correr e dar um forte abraço nele. Nunca senti tanta falta assim de um amigo, principalmente de Aslan.
E minha vontade foi feita, afaguei meu rosto em sua juba e o abracei com toda força.
– Senti tanto a sua falta, precisamos conversar, tantas coisas estão acontecendo, o castelo foi atacado e tem uma garota aqui, a profecia e nós estamos em perigo...- Quase me engasguei com minhas próprias palavras de tão rápido que falei.
– Edmundo, acalme-se, e sim, precisamos mesmo conversar. – ele disse calmamente porém rígido. Como um pai.
Eu respirei fundo e endireitei minha postura, me afastando um pouco dele. Onde eu estava com a cabeça? Sou um Rei, não uma criancinha.
– Está cedo, seus irmãos ainda dormem, gostaria de falar com você antes de falar com os outros. Agora seria uma boa hora. – Ele mantinha a postura, mas eu podia enxergar seu olhar de apreensão.
– Sim, claro.
– Venha, vamos caminhar um pouco ao ar livre.
Ele caminhou sobre suas quatro patas de uma forma calma e relaxada, seus olhos não pareciam tensos, porém não aparentavam felicidade.
Seguimos para o jardim.
–Amanda-
"ARGH que luz é essa no meu olho?" pensei. Virei para o outro lado e coloquei um travesseiro sobre meus olhos. Senti alguma coisa me cutucar.
–Amanda...acorde.
–Eu vou em 10 minutos – resmunguei apertando mais o travesseiro contra o meu rosto.
– Senhorita, levante por favor, Aslan está no castelo! – ela cutucava meu braço.
– Quem é Aslan? Que Castelo? - resmunguei sem pensar no que dizia.
– Como assim, quem é Aslan? Senhorita, vamos, levante-se. Não está nem conseguindo pensar direito.- Ela puxou minhas cobertas e abriu ainda mais as cortinas. Levantei sonolenta e fiquei um bom tempo sentada meio acordada, meio adormecida, enquanto Lilian pegava outro vestido.
– Seu banho já está preparado.
Me arrastei para o banheiro e me joguei dentro da banheira assim que tirei minhas roupas. O ato foi tão inconsciente que levei um susto. Arregalei os olhos e fiz uma cara de medo enquanto tentava pular fora da banheira. A água estava congelando.
–LILIAN VOCÊ É UMA PESSOA MUITO MÁ!!! – Gritei para que ela pudesse me ouvir do quarto.
Pude escutar sua risada, alta e contagiante.
Voltei para a banheira, e encarei o frio. Já estava bem acordada e até que foi relaxante.
...
– Lilian, como consegue rir? – Perguntei sentada na cama a observando procurar um sapato.
– Como não rir e sorrir? Aslan está de volta! Ele vai resolver tudo! – Ela dizia, mesmo de costas podia notar que estava sorrindo pelo tom de sua voz.
– Espero mesmo – disse baixo, mais para mim mesma do que para ela.
– Bem, coloque este e vamos descer para comer, não podemos nos atrasar! Ou melhor, você não pode. –ela me entregou o par de sapatos.
– Tudo bem – Assenti, eu estava ansiosa para falar com Aslan e ao mesmo tempo desanimada, estava com medo de não haverem respostas.
...
Estávamos a mesa a um bom tempo e Aslan e Edmundo eram os únicos que ainda não tinham chegado. Todos conversavam alegremente sobre a chegada de Aslan e eu apenas observava o céu pela janela.
Até que a porta se abriu e os que faltavam tinham acabado de chegar. Assim que Edmundo entrou, Aslan veio logo atrás. Olhei com mais atenção...Aquele Leão, Aslan, na floresta, era ele! Foi ele quem me protegeu e me guiou pra onde os reis estavam, era inconfundível. Sem motivos aparentes eu sorri, sendo afetada por toda aquela alegria. Todos levantaram da mesa para abraça-lo. E quando o último voltou a se sentar, ele se pronunciou.
– Não demorarem muito, temos muitos assuntos para tratar, e quanto menos tempo perdermos melhor.
Todos comeram bem rápido, em meio a sorrisos e conversas. Não pude deixar de notar que Edmundo também sorria e parecia muito menos preocupado do que antes. Não conseguia entender, pela cara deles parecia que Aslan estalaria os dedos e fim de toda aquela confusão.
– Edmundo -
– Então...O que vamos fazer? – disse Pedro preocupado.
– Profecias não podem ser evitadas. – Aslan parecia um pouco aflito. E com essa curta frase todo o clima da sala se tornou pesado. – "Na chegada da terceira filha de Eva
Das cinzas um grande mal ressurgirá
Nem mesmo o mais bravo guerreiro,
Sua fúria suportará
Apenas a que estivera perdida,
o vosso reino poderá salvar
Ao perecer da majestade
A batalha cessará." – Ele a recitou calmamente, bem devagar, o que deixou o clima ainda mais pesado. – A profecia não é clara, não sabemos quem irá viver, nem morrer, então precisamos nos preparar. Aquelas criaturas que vocês viram são chamados em Nárnia de Torpes, são como monstros de pele muito pálida e com olhos mortos, eles são criados por feiticeiros e apesar de não aparentar, são fortes, porém não tem inteligência nenhuma, só obedecem ordens.
Senti um frio na barriga, e todo meu corpo começou a ficar rígido. Aquilo só poderia significar uma coisa...
– Alguém está os controlando. O "grande mal" já ressurgiu – eu disse rígido e preocupado. Dessa vez eu não era o único, olhei para Pedro e ele olhava para o chão procurando um ponto fixo e respirava um pouco pesado, Lúcia fazia o mesmo.
– Sim Edmundo. Precisamos estar preparados para os ataques, se eles entraram uma vez, vão entrar de novo e vão tentar leva-la novamente. – Ele se referia a Amanda e quando disse isso, meu olhar se voltou para ela. Ela encarava a janela e tentava respirar fundo. Podia ver o medo e a tristeza em seu olhar.
– Mas por que querem leva-la? O que tem de tão perigoso em uma garota normal? – Lúcia gesticulava com as mãos enquanto falava.
– Isso nós não sabemos querida, mas temos que protege-la!
– Mas não sabemos exatamente contra o que estamos lutando. – Eu disse.
– Então guardas guardarão o quarto dela, a vigilância dos portões será dobrada, e todos vamos nos preparar para batalhar até que possamos elaborar um plano, estaremos prontos para qualquer ataque. – Pedro falou com convicção e autoridade, como sempre fazia, porém podia ver a preocupação em sua expressão.
– Muito bem Pedro, comunique os guardas e a todos agora mesmo! Não podemos perder tempo.
E assim todos saíram da sala e uma grande correria começou pelo Castelo, pessoas com armas passavam de um lado para o outro. Era notável o medo no rosto de cada um daquele castelo. A qualquer momento poderíamos começar uma grande batalha.
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