Eu sabia que ainda restava algum sentimento pela antiga Bella, e respeitava isso. E além do mais, eu não era a mesma Bella, e nem nunca seria, por mais que tentasse. Ele ainda achava que eu seria a Bella santa, a tímida, a desprotegida e totalmente ingênua. Coisas que nem em sonho eu seria. Talvez só minha mãe achasse que eu tivesse essas características.

- Não decepcionou – ele me envolveu em seu abraço frio e aconchegante.

- Não tenho tanta certeza quanto a isso – murmurei tão baixo para Edward não ouvir, mas acho que não deu certo.

- Desculpe – ele sussurrou ao meu ouvido.

Então desencostei minha cabeça de seu peito e o beijei. Essa minha atitude o pegou desprevenido.

Quando nos separamos ficamos nos olhando nos olhos por algum tempo em silêncio.

- Precisamos voltar para a aula – eu disse, ao notar que todos estavam saindo do refeitório.

- Você não me perdoou totalmente – ele disse, me segurando entre suas mãos gélidas.

- Porque sei que não me ama verdadeiramente – fui sincera, mesmo que me sentisse mal por deixá-lo chateado.

- Aya, eu te amo mais que a minha própria vida – ele disse ainda chateado.

Então por que não me transforma? Por que não aguentaria viver comigo pela eternidade? Ou por que só estava querendo se aventurar comigo?

Ele passou a mão em meu rosto. Seu toque gélido passou por minha pele, dando a mim uma sensação de segurança e apreensão. Me fazendo esquecer a que a poucos segundos atrás eu discutia comigo mesma. Ele dedilhava meu rosto tão carinhosamente e delicadamente que entendi tudo aquilo mais como um abraço apertado do que apenas toques.

- Você sabe o quanto eu te amo, certo? – ele disse por final, me obrigando a responder essa pergunta da maneira mais decente, olhando nos olhos dele. O suficiente para me tornar como você? – Sim, Edward, eu sei. E você? Sabe o quando eu te amo? – essa é a vantagem dele não ler meus pensamentos, aquela pergunta ficaria para outra hora...

Meus pensamentos foram interrompidos pela inspetora Florinda, mais conhecida como Dona Linda.

- Acabou de bater o sinal pessoal, vão para suas classes – ele disse séria.

- Depois conversamos – ele disse, e me envolveu pela cintura.

Fomos para a próxima aula de Matemática juntos. Ficamos em silêncio a aula inteira. Alice nos olhava com uma expressão preocupada. De uma coisa eu tinha absoluta certeza, ela viu tudo que aconteceu.

Assim que a aula terminou, corri atrás de Alice e disse:

- Alice, preciso falar com você.

- Certo, pode ser na quarta aula? – olhei para ela perdida, não fazia a mínima ideia de qual aula seria, então ela esclareceu - A de Física. Ficaremos na mesma sala.

Assenti. E continuei olhando-a. Não pude evitar ficar preocupada, pois não queria que Edward escutasse nossa conversa, pelo menos não agora.

- Ele não estará lá – ela esclareceu.

Na terceira aula, uma garota parou na porta, toda descabelada.

- Está atrasada, senhorita... ? – o professor disse com a voz um pouco alterada.

- Winks, professor, Amélia Winks. Desculpa o atraso – A garota respondeu.

Levantei o rosto imediatamente. Eu reconhecia aquela voz, era a minha melhor amiga de infância, Mia. Abri um sorriso, e assim que ele reparou a minha presença na sala de aula, correspondeu o meu sorriso.

- Sentarei ao lado de Alice para que você e sua amiga possam conversar – Edward sussurrou e me beijou no alto da testa – Te amo.

Apenas assenti. Mia veio ao meu encontro, quase pulando de alegria.

- Aya! Ai, que saudade! – ela disse me abraçando.

- O que você está fazendo aqui? – perguntei.

Ela me ignorou.

- Fico feliz que tenha sentido a minha falta também – ela fingiu estar magoada.

- Senti muito a sua falta – revirei os olhos, e ela se segurou para não rir – Mas, o que você faz aqui? – tornei a perguntar.

- Assim que soube que você viria estudar aqui, convenci a minha mãe. No começo ela ficava falando que ia sentir a minha falta, que eu não gostava mais dela, e mais um monte de blá, blá, blá – ela falava mexendo as mãos – Mas aí, eu falei que não suportava ficar longe da minha melhor amiga, que desde pequenas nós nunca tínhamos nos separados... No fim ela acabou concordando – ela recuperou o fôlego - Mas me conta quem era aquele gato que estava ao seu lado?

Ela espiou por cima do ombro.

- Bom, Mia, ele é o meu namorado... – comecei a dizer, mas ela nem me deixou terminar.

- Pera aí, eu escutei bem? Você disse a palavra namorado? Conte-me tudo, Aya! – ela disse, sorrindo maliciosamente.

- Todos em seus lugares, turma – disse o diretor me encarando com a pior cara possível. Pelo jeito ele ainda não havia se esquecido do meu beijo com Edward. Segurei uma risada.

Todos pararam de falar rapidamente.

- Primeiramente gostaria de dar boas vindas a todos, pois estamos no início do ano. E segundo gostaria que qualquer dúvida que tenham venha me procurar... Bem, é só isso.

- Depois, Mia, depois. Agora é melhor prestarmos atenção na aula – comecei a me endireitar, não estava nenhum pouco a fim de levar outra bronca. Pelo menos não por enquanto.

- Meu Deus! Esse gato te mudou, hein? Você nunca prestou atenção... – Então ela interrompeu, e mudou de assunto – tem um garoto super gato te olhando, na verdade a palavra que descreve melhor é, admirando, baby. Aliás, ele é um gato.

Me virei para verificar quem era. Fiquei surpreendida ao notar que o “gato” era o Bruno.

Acenei para ele, e o mesmo piscou para mim.

- Oh My God! Você o conhece? Apresenta-me? – ela me perguntou. Tinha certeza que ele escutou, porque ele estava dando uma risada abafada. Ela percebeu o mesmo – Será que ele escutou?

- Acho que não, a não ser que ele tenha uma super audição – dei uma risada, sabendo que aquilo era pura verdade – Mas pode deixar que eu te apresento a ele.

Olhei para Bruno e notei que ele também deu uma risada.

- Ótimo, agora tenho certeza que ele está nos ouvindo. O que justifica o fato de ele estar dando risada? – ela perguntou bufando.

- Mia, acalme-se. Ele não escutou nada, tenha certeza. E caso ele tenha escutado, só vai te achar uma garota louca, só isso. Nada de mais – disse rindo.

Ela me mostrou a língua. E eu fiz o mesmo.

- Senhoritas, queiram se comportar. Sim? – o professor disse. Em seguida todos os alunos começaram a dar risadas – Silêncio!

- O que você acha do Bruno? – ela me perguntou depois das risadas.

- Ele parece ser legal. Por quê? – falei olhando para o chão e procurando prender a minha atenção em qualquer coisa.

- Senti um clima entre vocês – ela sussurrou.

Olhei incrédula para ela.

- E quando você sentiu este clima?