PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 34
Capítulo 33 – Lívia


Notas iniciais do capítulo

Galera, sinto muito pelo atraso no capítulo, mas fiquei sem internet nesse fds e com isso ocorreu a falha da postagem do episódio!

Mas, estamos aqui para dar continuidade e acredito que muita gente vai gostar deste, assim como gostaram dos outros dois! Afinal, reta final é assim, não tem capítulo fraco, né?



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Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin



"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."



Capítulo 33 – Lívia



Meu avô sempre foi uma pessoa simples, gostava das coisas dele certinhas e fazia o estilo linha dura que recompensava o esforço, mesmo que sem sucesso. Meu pai herdou a linha dura e pensa que recompensa o esforço das pessoas, mas a diferença é que meu avô recompensava as pessoas com o que elas queriam ou mereciam e meu pai recompensa-as com o que ele quer. Meu avô sempre estendeu a mão para várias pessoas que precisavam, era querido por todos e nunca se meteu em problemas, mesmo ao ajudar pessoas ruins. Meu pai seleciona a quem ajuda e algumas pessoas dizem que se fosse investigado, ele nunca mais veria a luz do dia.

Meu avô, uma vez, abriu as portas para um treinador pokémon, em meio a uma tempestade. O treinador dizia ter se perdido, pois o mapa que possuía mostrava trilhas que não davam em lugar nenhum, apenas no meio da mata. Meu pai foi incumbido de ao final da chuva, mostrar a estrada correta para o treinador. O viajante ficou dois dias ali, falando que a vida dele havia sido salva pelo meu avô pois não havia nada por aqueles lados que se assemelhasse a uma pousada. Aos poucos meu avô foi convencido de que ele poderia construir uma pousada ali para apoiar os viajantes e que iria ajudá-lo se ele animasse a fazer aquilo.

Eles firmaram um acordo e o treinador foi guiado pelo meu pai pela estrada, com a promessa de voltar, tanto que levava consigo alguns dados de meu avô para poder iniciar o projeto da pousada. No entanto, meu pai estava impressionado com o treinador e foi lhe fazendo tantas perguntas que começou a perceber que as histórias dele divergiam e desconfiou que algo estava errado. Meu pai foi golpeado e ficou desacordado no meio da estrada por horas após começar a pressionar o treinador. Quando voltou encontrou o pai, meu avô, chorando por descobrir que o treinador havia roubado tudo que havia de valor.

Não só meu avô, mas toda a cidade havia sido roubada durante a chuva, pois outros buscaram abrigos em quase todas as casas. Os populares se juntaram para ir atrás dos treinadores, mas eles já estavam longe.

Um mês depois pessoas de várias indústrias chegavam dizendo que compraram as propriedades de meu avô, e de outros da cidade, e mostravam diversos documentos que comprovavam a compra. Os treinadores eram trambiqueiros que aplicavam golpes por diversas localidades. Como ele havia levado os documentos da propriedade a justiça deu causa a empresa e a família de meu avô fora despejada, bem como mais da metade da cidade.

Meu pai passou fome e amaldiçoou os treinadores pokémon. Junto a irmã dele, minha tia, começaram a trabalhar ainda muito novos, em busca de sobrevivência. Meu avô e minha avó morreram sem ter onde serem enterrados e a raiva contra os treinadores pokémon de minha família só aumentou. Foram anos até que meu pai e minha tia ascendessem profissionalmente. Minha tia não levou consigo tanta raiva, acabou puxando ao vovô, mas meu pai não podia ouvir falar em treinador e como empresário apoiava qualquer causa que fosse contra eles. A divergência causava brigas constantes entre os irmãos, até que meu pai casou com minha mãe. Minha tia, nessa época, começou a se afastar de meu pai, até que romperam criando duas empresas distintas.

Essa é a história que conheço da família Landsteiner. Superação é uma marca que meu pai leva com ele, assim como minha tia. Mas, infelizmente ele tornou-se intolerante com tudo o que tivesse haver com treinadores pokémon. Uma vez chegou a apoiar um grupo que queria o fim das atividades de uma liga pokémon regional. Minha tia dizia que ele era cego e não compreendia que aquele rapaz que os roubou não era um treinador pokémon.

Eu lembro do dia que percebi o ódio que meu pai tinha contra treinadores. Eu estava assistindo a um filme e nele o protagonista era um treinador. Meu pai parou observando o filme por pouco mais de dois minutos, eu achava que ele ia sentar para assistir comigo. De repente ele pegou o primeiro objeto rígido próximo dele e jogou contra a televisão, explodindo tudo. Eu demorei para entender que foi o treinador que o irritava, mas quando compreendi eu sabia que meu pai jamais aceitaria treinadores na vida dele.

Minha tia explicou tudo isso e muito mais depois de me acolher nada casa. Ela tentou me manter amando meu pai e de certa forma ela conseguiu. Eu não tenho raiva dele, eu até tinha. Hoje eu tenho mais revolta do que raiva. Fico feliz que minha irmã tenha sido esperta em perceber quem meu pai é, sozinha. Ela não só entendeu isso como tentou me ajudar, mas não sei se isso realmente é uma ajuda.

Meu pai escolheu Medicina Pokémon pois sabe que o salário é alto e que isso daria definitivamente rumo a minha vida. Mas, ele odeia treinadores e seus similares, então uma profissão que ajude-os a resolver as burradas cometidas seria algo impossível. Eu o questionei e sinceramente nunca soube a resposta. Ele não me disse, apesar de não fazer diferença. Preferi escutar minha mãe.

Minha mãe é uma pessoa simples, muito parecida com o que minha tia dizia que meu avô era. Isso atraiu meu pai e ela não mudou com o passar dos anos. Ela não vê meu pai como uma pessoa má, ele não é mal. Ela o vê como uma pessoa que teve um pesadelo com um monstro quando criança e agora fica por ai alarmado quando escuta falar no monstro, tentando derrotá-lo. Mas, que quando não está lutando contra seu monstro de infância ele é uma pessoa amável.

Para ela o papai só quer alguém que ele possa controlar para massacrar os treinadores, ainda mais. Mamãe acredita que ele quer me tornar médica pokémon para que ele dite qual treinador devo atender e não atender. Que minha profissão será mais uma vertente empresarial para ele que os treinadores saberão que ele é quem manda na vida deles.

Eu não sei como ele pretendia fazer isso, mas em algum outro lugar que não há UPK ele deve ter outras pessoas a quem patrocinava para esse tal empreendimento megalomaníaco. Mas, não dou a mínima para isso. Medicina Pokémon não era o que eu queria, mas gosto. Conheci pessoas legais e realmente aprendi a gostar dos pokémon.

Se meu pai não tivesse tentado dominar minha vida, talvez eu seguisse não me interessando muito por pokémon e os treinadores. Qual seria a reação dele ao descobrir que me apaixonei pelo pior dos treinadores pokémon, um legítimo campeão? Bem... Nem quero pensar nisso. Além de não ser uma conversa que eu realmente pretendo ter com meu pai, talvez eu não tenha essa conversa com ninguém do jeito que as coisas andam indo.



– Tem certeza que não quer ir conosco? -



Núbia sempre parece animada ao falar em compras. Uma pessoa comunicativa e despojada, fazendo o que quer, do jeito que quer, na hora que der. Falou em ir as compras tantas vezes por esses dias que nem acredito que ela conseguiu sobreviver. Olhou-me animada enquanto tentava me convencer a segui-la para o que ela chamava de terapia. Apenas balancei a cabeça, negativamente. No entanto, o olhar de Sarah era quase piedoso.

Sarah completa Núbia de uma forma única. Se elas fossem lésbicas eu não ficaria surpresa, mas Núbia gosta de correr atrás de uns rapazes e Sarah não fica atrás, mesmo com seu jeito mais contido e comportado. Queria poder contar as duas o que está acontecendo, mas elas me achariam louca e isso poderia colocar a vida delas em risco. Pensando bem, com os novos rumos a vida delas agora está nas minhas mãos.



– Eu preciso descansar depois dessas provas de recuperação. - Suspirei percebendo que eu precisaria ser mais convincente.– Nunca vi nada como aquilo! -



Infelizmente eu havia ficado de recuperação em duas matérias. Não só eu como quase toda a sala. Tirando Kevin e Rafael, todos ficaram de recuperação em alguma coisa, até mesmo Sarah que era, sem dúvida alguma, a mais inteligente e esforçada. Não bastasse minha tristeza por Kevin, ainda tive que lidar com a pressão da recuperação.

A última bateria de provas me deixou surpresa, misturar duas matérias era algo pesado. Mas, a prova de recuperação me assustou. Na teoria a prova era apenas de uma matéria, mas me dava problemas médicos para falar a respeito da mesma que estava de recuperação. Ler sobre um treinador pokémon que chegava ao hospital ensanguentado e dizendo que seu pokémon estava morrendo pois foram atacados por pokémon assassinos era estressante, me fazia lembrar de Kevin e seus pokémon, mas buscar os problemas de português, dentro do relato do treinador em choque e assim conseguir interpretar corretamente a história que ele estava contando para poder preencher o prontuário corretamente era demais.

Eu fiquei de recuperação em português e não esperava aquele tipo de questão, e essa era apenas uma das questões. Não fosse Rafael ter nos alertado sobre como era a prova que viria, teríamos ido despreparados. Mas, ele falar sobre a prova não me preparou para as questões. Ainda assim, nada foi pior que a prova de Sociologia. Eu só fiquei de recuperação na prova por causa de um ponto, e a questão da prova de recuperação me destabilizou demais, querendo que eu fizesse a carta comunicado informando sobre a decisão médica de sacrificar ou não um pokémon.

Por que tudo tinha que falar de morte?



– Realmente, você não está com uma cara muito boa! - Sarah riu me olhando de cima em baixo.– Trazemos algo para você! -



As vi saindo e acabei relaxando no meu colchão, no chão. Estava dormindo ali a mais de dez dias. Foi a única forma de me sentir segura para conseguir estudar. Núbia e Sarah me convidaram para estudar, para as provas finais, com elas durante a semana passada e dormir no alojamento, com elas, parecia ser a minha salvação. Quando as provas acabaram, na sexta, eu gelei. Eu não queria ir para casa sozinha e pedir para ficar ali não tinha cabimento, eu estava a uma semana dormindo no chão e ninguém entenderia a troca de uma cama de casal por um colchão no chão. Felizmente uma tempestade começou e eu não consegui sair do campus e acabei ficando com elas.

Infelizmente, depois foi noticiado diversas vezes que aquela tempestade havia matado algumas pessoas, ou ao menos era o que parecia. Entendi na hora que não era uma tempestade normal e que na verdade, aquilo foi Kevin em guerra contra os inimigos dele.

Kevin consegue criar uma tempestade como aquelas? Isso é possível? Eu não acredito que seja possível, provavelmente a tempestade veio e acabou parecendo que foi a tempestade que os matou. No máximo, Kevin intensificou-a.

De qualquer forma, fique com as meninas mais uma noite e quando acordamos as notas tinham saído e o desespero da recuperação iniciado. De lá para cá, foi só estudo. Mas, hoje o semestre acabou. As meninas resolveram sair para fazer compras e aliviar o estresse, mas hoje eu não estou com clima de compras. O medo dos inimigos de Kevin tinham sido deixadas de lado devido as duas provas de recuperação, mas hoje eu vi algo que me deixou apavorada.



– Lívia? -



A voz de homem do lado de fora do quarto me arrepiou. Mas, eu já esperava-o. Eu precisava conversar com alguém, eu precisava de alguém que me dissesse que eu estava segura e estava apenas ficando louca, ou que eu estava louca de achar que poderia ficar segura. Mas, a única pessoa que eu conhecia que poderia conversar sobre aquilo era no mínimo um inimigo certo.



– John! -



Abri a porta já ganhando o corredor do alojamento, passando a chave rapidamente no quarto. Eu já estava pronta, na verdade só agora percebia que as meninas perceberam que eu não havia trocado de roupa depois de chegar da prova, então elas sabiam que eu ia sair e por isso não insistiram muito. O olhar de cima em baixo de Sarah era tentando decifrar o que eu iria fazer. Se ela soubesse será que estaria tão tranquila?

Encarei John que apenas me fitou por alguns instantes e olhou para o notebook nos meus braços. Ele foi da Estilo de Poder e por tanto um inimigo de Kevin e isso significava que era meu inimigo já que quem queria Kevin também matava todos os amigos dele. No entanto, estávamos todos vivos e isso indicava que ele não era do grupo que tentava inimigo naquele momento. Na verdade, eu não tinha certeza disso, mas ele era a minha melhor chance. Ele era a melhor chance de todos.

Começamos a andar sem dizer nada, pegou o notebook dos meus braços e colocou na mochila dele. Não disse nada, porque talvez ali em meio aos corredores não fosse seguro, ou talvez porque ele já havia dito demais. Eu liguei para ele quando cheguei da prova e gaguejei duas palavras e meia: mostrar, invasão e Fan... Ele berrou do outro lado do telefone. Alguns palavrões e muitos insultos e de repente ele falou que estava vindo e que eu não saísse.



– Prostituta? -



O nível dos insultos dele tinham sido daí para pior. Algumas coisas eu sequer sabia do real significado e outras eu tinha certeza, nunca tinha escutado as palavras.



– Era isso ou deixar você morrer. -



No fundo eu sabia que sim. Aquelas palavras eram para me frear e impedir que eu falasse mais alguma coisa. Confesso que não me abalei muito com os insultos, fiquei surpresa, mas eu não era nenhuma daquelas coisas. No início do ano eu teria me incomodado, mas aprendi a ignorar esse tipo de coisa. Mas, fiquei muito surpresa. Ninguém tinha falado aquele tipo de coisa para mim antes.

Caminhamos até o refeitório mais próximo do alojamento das meninas. Estava deserto devido ao horário. Fomos até o centro dele, eu fui para sentar nos primeiros locais, mas ele pegou na minha mão e me conduziu até o meio. Não entendi porque o meio do salão, para mim parecia ruim, nossa conversa poderia ecoar.



– Sente ao meu lado. Passe o braço por cima do meu ombro como se estivesse me abraçando e não fique olhando em volta. Do local que escolhi podemos ver qualquer um que entra, antes mesmo que ele comece, e até quem estiver próximo, sem pontos cegos. -



Pisquei aturdida. Aquilo foi um murmúrio, se eu não estivesse ao lado dele e tudo em completo silêncio, eu não teria escutado. Ele estava com o mesmo ar de sempre, mas agora eu via que realmente ele tinha aquelas habilidades de criminosos que tanto falavam. Falar de forma sútil e inaudível. Ter identificado de imediato sobre o que eu queria falar com apenas duas palavras, e agora me guiava de forma discreta e dando ordens e instruções rápidas e claras, procurando manter nossa integridade.

Eu sentei fazendo o que ele pediu. Abraçá-lo foi meio estranho, era desconfortável pois nem amigos eramos. Ele pegou o computador abriu e a tela mostrava um e-mail, o e-mail que deixei pronto para mostrá-lo. Acompanhei a expressão dele enquanto ele lia, eu li apenas três vezes, mas havia decorado cada palavra.

Irmã! Espero que leia isso o mais rápido possível. Saia de Khubar imediatamente. Presenciei o sequestro de Julia Maerd e o anúncio de um exército que irá invadir a cidade atrás de Kevin e pretendem matar todos que tiverem envolvimento com ele para atingi-lo. Eles devem chegar na sexta, mas duvido que esperem tanto!”



– Ela mandou isso na terça. - Ele não mudou muito a expressão, mas percebi que ele lia e relia. De repente, com a mão esquerda segurou a minha que estava sobre o seu ombro.– O quanto você sabe sobre isso? -



– Kevin é campeão. Fez inimigos. Se juntaram e perseguem ele e os amigos. - Eu sabia mais. Sabia muito mais.– E você? -



Ele fechou os olhos e por um momento vi em seu rosto uma expressão preocupada. Eu estava com medo e acho que ele também. Senti um tremor em seu corpo, mas que passou rapidamente. Só então percebi que fiquei com medo dele ser do grupo inimigo e que eu poderia ser a próxima vítima por mostrar saber dessas coisas, mas que na verdade ele tinha mais medo de tudo isso do que eu.



– Tentaram me recrutar para caçar Kevin. Mas, eu não sou esse tipo de assassino. Matei, roubei e fiz coisas terríveis. Mas, eu fazia isso acreditando em grana e muita coisa. Vingança ou por prazer, não! - Ele abriu os olhos e me encarou.– Não que eu fosse santo ou queira justificar o que fiz, apenas não matava por matar ou feria as pessoas por prazer. Tanto que eu não era de uma equipe de destruição, mortes e outros mais. Eu era da turma de ocultação, camuflagem, entrar e sair sem ser visto, despistar e destruir provas. Proteger a retaguarda de um grupo em missão. -



Eu quis me afastar dele naquele momento, mas ele segurou minha mão e fez um sinal estranho. Ao menos, achei que era um sinal.



– Eu não aceitei ir atrás de Kevin, eu tinha a oportunidade de virar Médico Pokémon porque um ricaço queria-me de médico pokémon e guarda-costas. Eu ainda estava pensando, já que a proposta era vir para Khubar e pesquisando descobri que Kevin vinha pra cá. - Ele suspirou.– Uma pessoa normal iria para o outro lado, então me perguntei quantas pessoas morreriam aqui, antes que Kevin morresse. O cara é teimoso demais para morrer, era provável que todo o campus morresse antes dele cair. Um verdadeiro selvagem. Não era problema meu, mas achei que salvar algumas vidas poderia compensar as que matei. -



– Então você veio proteger Kevin. -



John balançou a cabeça negativamente o que me fez ficar confusa.



– Kevin não pode ser ajudado. Ele se tornou uma pessoa perdida num ciclo de mortes. Eu posso apenas tirar as pessoas de perto dele, evitando que ele tenha com quem se preocupar. Mas, lutar ao lado dele? Não tenho as habilidades necessárias. São poucos, mas existem treinadores de elite e assassinos profissionais nesse grupo de Fantasmas. Khubar se tornará palco de uma guerra que não é de seres humanos. -



Eu tentei tirar a imagem que estava se formando na minha mente. Aquela menção de Khubar virar palco de uma guerra me assustava. A ideia de que Kevin estava nela me assustava. A ideia de que a guerra não era de seres humanos e que Kevin também não era, me assustava. Meu pescoço inclinou-se e só então percebi que ele havia me abraçado e veio para me beijar.

Que loucura era essa? O que ele achava que estava fazendo? Eu tentei lutar, mas não consegui impedir o beijo, ele era duas vezes mais forte do que eu sequer poderia imaginar, não parecia nem fazer força para me puxar para ele.

Nossos lábios se tocaram e ele me beijou, percebi que ele permaneceu calmo, apenas molhando meus lábios enquanto os sugava. Não sei como, mas apertou meu pescoço e acabei abrindo a boca, parecendo que eu realmente aceitava o beijo. Quando ele parou simplesmente escorregou pelo meu rosto indo até a minha orelha.

Eu estava pronta para dar-lhe uma mordida, eu apavorada pedindo ajuda e aquele idiota se aproveitando de mim.



– Árvore a esquerda, pelo caminho que fizemos. -



Ele disse com os lábios encostados na minha orelha. Ele parou todo e qualquer movimento e eu jurava não ter compreendido, até que meus olhos encontraram o que ele havia falado, mesmo sem eu seguir as instruções dele. Existia um homem careca parado, próximo do refeitório, encostado em uma árvore, nos olhando.

Eu já havia visto aquele homem. Ele estava do lado de fora do alojamento quando saímos, antes disso esteve na entrada do prédio de Medicina Pokémon nesta manhã e tenho quase certeza que esteve no refeitório onde almoçamos no dia anterior.



– Ele está nos seguindo desde domingo. Você, eu, o professor e outros. - Ele permanecia com os lábios colados na minha orelha.– Sorria. - Ele disse eu não consegui entender, até ele mordiscar minha orelha e rir, percebi que estava fazendo um teatro. - Ele está aqui desde o início do semestre. Sabe que você era caidinha por Kevin. Eles mataram gente queimada por terem trocado duas palavras com Kevin. Imagina o que farão com você? -



Engoli um seco. Aquilo não parecia estar realmente acontecendo. Tinha alguém realmente procurando me matar? Só porque eu gostava de alguém? Por sinal, eu só admiti que gostava dele a uma semana. Então as pessoas perceberam isso antes de mim?



– Agora são quatro da tarde. As sete da noite pegaremos um barco para o continente. Existe uma boate famosa duas cidades após o porto. Ligue para todos e diga que tenho ingressos. Todos da turma e o professor. Finja ser meu aniversário. – Ele passou a olhar nos meus olhos. - Para todos os eventos, você e eu já temos um caso desde abril e você odeia o Kevin. -



Odiar Kevin? Eu tenho que odiar o Kevin? Como eu posso odiar quem eu amo? Eu deveria fingir que nunca o beijei? Eu deveria fingir que nunca ouvi o coração dele e ouvi sua história?

Vi que ele se desfez do abraço e se levantou rápido, tirou uma arma de dentro da bolsa engatilhando-a e girou apontando a arma para a pessoa que acabava de nos alcançar, também apontando uma arma. Fiquei sem ação, tudo era tão rápido que eu não tinha certeza de quando o careca havia saído da árvore e ido até nós. Mas, estava com a arma apontada para John e John apontando a arma pare ele.

Como John falara, tínhamos visão total do lugar e de quem se aproximava. Eu estava meio perdida com tudo, mas John, mesmo de costas, estava atento.

Eu nunca havia visto uma arma tão de perto e sinceramente não queria que ela se aproximasse mais. Meu coração estava palpitando e os olhos arregalados. Segurava a respiração, com medo de eu fazer algo errado e resultar em um tiro. Aquele maldito pesadelo estava começando a ficar na minha mente novamente.



– Não precisa chorar, lindinha. -



Não era um homem musculoso ou alto, mas suas feições duras impressionavam. Só me dei conta que eu estava começando a chorar por que ele falou aquilo. O vi desengatilhar a arma e baixá-la, num riso meio sacana. No entanto, John manteve a arma erguida. Encarando-o, sem piscar.



– Não vim aqui te matar, John! - Disse o careca observando-o. - Quero a loira. Kevin vai vir atrás dela. Sua namoradinha infelizmente tem que ser uma isca. Se você aceitar o trabalho, podemos poupá-la. -



– Trabalho para o Landsteiner. -



Um estampido e sangue voou para todos os lados. John havia puxado gatilho.



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– Já te vi mais alegre em uma prova. -



Núbia riu da piada que o professor tentara fazer. Não que fosse algo realmente engraçado, mas John estava mais sério do que o normal. Claro que estavam pegando no pé dele, apenas por causa dessa suposta festa de aniversário na boate, pois comparado a mim ele estava muito bem.

Uma hora tremendo dentro debaixo do chuveiro, tentando tirar o sangue que havia manchado o meu rosto. Acho que só saí de lá porque as meninas ameaçaram derrubar a porta. Mas, ver uma pessoa sendo assassinada na sua frente, a menos de dois metros e com o sangue dela jorrando em cima de você era algo que te congelava.

Não bastasse tudo o que já havia na minha cabeça, agora aquela imagem do careca morrendo misturava-se as imagens do meu pesadelo e daquela frase: “Trabalho para o Landsteiner.” Como assim trabalha para a minha família? Será que o Landsteiner que ele disse é meu pai? Eu não consegui formular nenhuma pergunta na hora, estava em choque.

Depois que John matou o careca, sem sequer piscar, ele viu que fiquei abalada. Disse que ia dar um jeito no corpo e que ligaria para todos. Eu olhava todo aquele sangue espalhado, imaginando como ele poderia ocultar aquilo e não tive a capacidade de formular as perguntas, ou uma fala inteligente, ou mesmo burra.

Só no chuveiro as coisas começavam a clarear. Meu pai poder ser o ricaço que ajudava John. O quanto eu estava assustada. Aquele refeitório havia sido escolhido para o caso dele matar o vigilante. O piso era de um azulejo mais fácil de limpar, o tiro poderia ecoar pelo local, mas próximo tinha o povo da engenharia com máquinas barulhentas e assim o som poderia ser confundido com qualquer coisa e aquele era um dos locais que não possuíam câmeras de vigilância.

John já havia preparado-se para matar aquele cara desde o início. Não tenho certeza se a ideia era matar na minha frente, me usar de isca, ou deixar ele ter contato comigo para me dar um choque de realidade. Mas, não importava, a fuga estava acontecendo. Estava acontecendo e eu ainda tentava reagir a tudo.

O horário de encontro era as 18:30 numa das praças da cidade que dariam não no porto, mas próximo a uma espécie de clube de barcos, onde ele dizia já ter alugado um barco para nos levar. Todos pareciam acreditar na questão do aniversário, apesar da seriedade dele e do meu abatimento.



– Só estou preocupado de conseguirmos sair de Khubar antes desta tempestade. -



Eu o olhei por alguns instantes, tentando descobrir se ele falava da tempestade de sangue ou da de água. Uma verdadeira tempestade se aproximava de Khubar, além da de guerra. Nuvens de chuva pesadas se aproximavam e sentia-se o vento frio soprando e começando a ficar mais forte. Já estava ficando escuro, o pôr do sol não havia acontecido da forma linda como acontecia normalmente. As pessoas, por isso, quase não estavam nas ruas.



– Lívia? -



O professor chamou-me. Olhei-o e soube no mesmo instante que minha expressão estava assustando as pessoas. Mas, o que eu poderia fazer? A pouco mais de duas horas atrás eu havia visto uma pessoa ser assassinada na minha frente, com o sangue dela espirrando no meu rosto como agravante que se não fosse ele a morrer, eu sofreria e iria ver quem amo sofrer. Não bastasse tudo isso eu ainda estava pensando no Kevin, se ele ficaria bem sozinho.



– Ela está assim desde o final da prova, professor. - Disse Sarah. – Acho que ela não foi bem. -



O professor pareceu acreditar e desviei o olhar. Não sabia se conseguiria mentir, mas aquilo era algo que eu tinha que aproveitar. Simplesmente olhei para a praça e parei de andar. Aquela praça era a praça do meu sonho. Aquele pesadelo onde Kevin me carregava, enquanto algo demoníaco nos seguia e um louco apontava uma arma para nós e atirava. Eu gostava de Kevin não estar aqui, assim o sonho jamais se realizaria.



–Achei que você e o Kevin não se davam bem. -



A voz de Rafael me chamou a atenção .



– Não nos damos, por isso não o convidei. -



Disse John preparando-se para entrar na rua que daria ao clube de barcos.



– Então, o que ele está fazendo aqui? -



Olhei para John que parou de andar alarmado e virou-se para a direção que Rafael olhava. Também virei e o vi, a pouco mais cinquenta metros, saindo da rua que parecia ser o caminho do Centro Pokémon. Ele parava de andar sorridente e abrindo os braços para abraçar uma menina morena que deveria ter a idade de minha irmã, ou talvez até mais nova. A menina se lançou animada aos braços dele e então os dois se beijaram.

Pisquei algumas vezes tentando fazer a cena se mostrar apenas uma miragem, ilusão ou minha imaginação. Mas, era real que Kevin estava ali, beijando uma menina morena que estudava no mesmo colégio que minha irmã.



– Kevin! -



Eu gritei num misto de decepção, raiva, espanto e tristeza, pelo menos eram esses os sentimentos que eu acreditava sentir. Mas, minha voz parecia muito mais forte e cheia de tons diferentes, inclusive masculinos e mais jovens. Pois a praça foi preenchida por aquele grito.

Mas, e daí? Pouco importava como estava a minha expressão. A pessoa que eu amava e havia demonstrado me amar a menos de uma semana estava beijando uma garota mais nova enquanto eu temia pela vida dele. O cara que disse que me queria, mas tinha que ficar longe estava se agarrando no meio da praça com uma garotinha?


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Notas finais do capítulo

Se você fosse a Lívia, o que você faria? hehehehe



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