PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 32
Capítulo 31 – Kevin


Notas iniciais do capítulo

A derradeira e última saga começa aqui. Ela estará dividia em etapas, como as demais foram. Porém, essa terá apenas duas.
Perceberão que essa etapa trará muito mais sentimentos do que as outras, pois farei todos amarem ou odiarem cada personagem importante para a fic.

Então... hoje eu garanto... Vão querer que o episódio da semana que vem chegue logo!



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Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin

"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."

Capítulo 31 – Kevin

Quando eu nasci, minha mãe morreu. Aos meus dez anos meu pai morreu. Aos treze, meu pokémon inicial morreu. Aos quatorze vi muita gente morrer gritando para que eu os ajudasse, sendo que eu sequer os conhecia, e não muito tempo depois vi morrer um lendário líder de ginásio. Aos quinze morreu um amigo, segundos depois um rival e enquanto eu via os dois agonizando, o meu melhor amigo também se foi. Aos dezessete morreu o meu especialista pokémon. Quando completei dezenove morreu minha namorada. E a contagem não para.

Acho que nada te prepara para aceitar a morte, nem a sua nem a das outras pessoas. Eu fui treinador, voluntário em equipe de resgates, membro de grupo de músicos, segurança, faz tudo de um hotel, líder de ginásio, prefeito interino, patrulheiro, explorador, participante de ligas clandestinas, aprendiz de dj, dançarino, organizador de eventos, coordenador pokémon e campeão de liga. Mas, nenhuma dessas experiências me ensinaram como se faz para sentir menos dor com a morte. Eu sentia muita dor a cada morte. Eu chorei. Eu gritei. Eu sofri. Quando achava que tudo começava a ficar bem outra pessoa morria. Eu só não consegui fazer o que eu realmente queria, impedir que o próximo morresse. Parece bobo querer vencer a morte, mas eu tenho culpa em todas elas.

No meu nascimento ocorreram algumas complicações e precisaram decidir entre a minha vida e a de minha mãe, ela forçou os médicos a me salvarem e por isso ela morreu. Meu pai tinha o espírito de um herói e sacrificou-se para dar uma chance de vida para mim, coisa que só vim saber muito tempo depois. Meu pokémon inicial morreu enquanto seguia um dos meus comandos. Diversas pessoas morreram por minha incapacidade de salvá-las. O líder de ginásio morreu por tentar me salvar. Meu amigo, meu rival e o melhor amigo morreram ao tentar resgatar meus pokémon. O especialista morreu porque ficou ocupado demais me ajudando, ao invés de se cuidar. Minha namorada morreu por ser minha namorada.

Se eu morresse as pessoas estariam salvas dessa maldição que levo à vida delas. Se eu morresse, eu nunca mais choraria em cima de um corpo novamente. Se eu morresse eu não teria mais que encarar o olhar das pessoas. Olhar de piedade, de pena, de revolta, de indignação, de ódio e de muitos outros que fariam qualquer um querer se matar.

Só tem um problema. Vou morrer antes de pensar em me matar ou aceitar que me matem.

Minha mãe morreu por minha vida. Meu pai morreu por minha vida. Meu pokémon seguia minhas ordens para salvar pessoas, logo morreu salvando vidas. Aquelas pessoas que morreram pedindo ajuda se foram me vendo salvar o máximo de pessoas que eu podia. O líder de ginásio morreu por minha vida. Aquele meu amigo morreu defendendo minha vida e meus pokémon. Meu rival morreu defendendo minha vida e meus pokémon. Meu melhor amigo morreu defendendo minha vida e meus pokémon. Minha namorada morreu me defendendo.

Todo mundo defendia a vida. A maioria defendo a minha vida. Então eu não posso simplesmente morrer. Todo mundo sabia pelo que lutar. Então eu tinha que lutar. Eu parti pra cima para bater com o máximo de força possível naqueles que tiraram a vida dessas pessoas, só que não era nisso que eu tinha que bater. Não era vingança que eu tinha que cometer. Eu demorei para aprender que a vida é preciosa e arriscar a sua vida pela de outra pessoa era algo que você só faz quando aprende o que ela realmente representa.

O engraçado é que aprendi isso com seres assassinos. Enquanto tentava me tornar letal para me vingar eu encontrei alguns pokémon que já eram letais e que estavam a caminho de suas vinganças pessoais. Você aceitar morrer para salvar uma pessoa é diferente de aceitar morrer para vingar outra pessoa. Os modos são diferentes e com os Bersekers, forma como chamo esses pokémon letais que agora me seguem, descobri isso, pois eles sentiam a mesma dor que a minha. Queriam vingança tanto quanto eu, estavam dispostos a matar tanto quanto eu e estavam dispostos a morrer tanto quanto eu. Mas, eles não tinham mais ninguém enquanto eu ainda tinha muita gente.

Eu sentia pena de mim mesmo na época, mas eles não. Estávamos fazendo as mesmas coisas, no mesmo caminho, pelos mesmos motivos. Perdemos pessoas queridas, eramos caçados para sermos mortos e ainda assim não nos sentíamos da mesma forma. Eles não sentiam pena de si mesmos. Eles estavam dispostos, e ainda estão, a morrer antes de começarem a sentir pena de si mesmos. Então, eu não podia simplesmente sentir pena de mim mesmo.

Os selvagens me salvaram. Não apenas me tornei um selvagem e parei de sentir pena de mim mesmo, mas como também consegui motivos para viver. No final das contas, eu aprendi com eles o que significava a vida. Resolvi que iria salvá-los e salvar a todos que eu pudesse. O primeiro passo foi decidir me tornar médico pokémon, eu vivo me metendo em confusão então sempre tem alguém perto precisando de ajuda e geralmente o conhecimento de quem tá perto só atende ao básico, o grave ninguém consegue. Ser médico pokémon ia me permitir salvar, manter-me longe da ideia de matar e me ajudaria a proteger os selvagens.

Os selvagens precisavam socializar e isso significava problemas. Fiz uma jornada por Sinnoh para ensiná-los a medir força, pegar leve em batalhas, não machucar sem motivos. Mostrar formas diferentes de como fazer as coisas. Eu consegui, com a maioria, que eles entendessem o valor da vida.

Eu percebi que minha tentativa de ensinar aos Bersekers o valor da vida ia me trazer confusão. Que muitas vezes eu colocaria a vida de adversários em risco, a vida de quem estivesse comigo em risco, a vida deles em risco, sem falar na minha própria vida. Imaginava que faria alguns novos inimigos, mas nunca que me caçariam por todos os cantos do mundo e descontando em meus amigos, familiares e conhecidos que sequer sabiam sobre o que havia acontecido.

Quando minha namorada foi assassinada eu levei um tempo para lembrar que eu também era um selvagem e que não podia sentir pena de mim mesmo. Passei dias sofrendo e pensando em toda a jornada por Sinnoh e percebi que aquilo não tinha acabado, que ainda iriam me caçar e caçar meus amigos. Então, fugi.

Não falei nada para ninguém, pois ninguém vivo sabia sobre Arton e a faculdade de medicina pokémon além da minha irmã, Julia, e as meninas, Juliana e Amanda. Basicamente, tinha que me preocupar apenas comigo mesmo, pois elas sabiam se cuidar. Por sorte sempre me apresentei como Kevin Maerd Júnior, então ninguém sabia que meu nome era Kevin Kirian Maerd Júnior. Papai sempre disse para não usar muito o nome de mamãe, para não ficarem me fazendo muitas perguntas sobre ela, foi bom tê-lo escutado.

Arton era um sonho em muitos sentidos. Vida nova, pensamentos novos, estilo de vida novo e o mais importante, as pessoas não queriam pokémon em suas vidas. Isso me dava uma vantagem incrível, eu ficava oculto porque ninguém era ligado, realmente, no mundo pokémon. As pessoas me viam e não sabiam quem eu era. Quando me viam em fotos ou na televisão e olhavam em seguida direto para mim, o corte de cabelo, penteado e uma sobrancelha feita e ninguém notava.

Eu confesso que em Arton sempre fiquei alerta, mesmo assim. Gengar vigiava o quarto e muitos locais do campus. Mantive a forma, minha e dos pokémon. Sempre observava a cidade e analisava cada caso estranho que acontecia. Nunca deixava ninguém se aproximar o suficiente temendo que eles virassem potenciais vítimas. Talvez eu devesse agradecer ao John, por mais idiota que ele fosse falando mal de mim para todos, ele acabava mantendo as pessoas distante e assim eu não tinha que me preocupar muito em manter as pessoas afastadas. E como foi difícil me manter distante de Lívia.

Eu sinto falta da Joy! Nos conhecemos quando os dois estavam entre a cruz e a espada, sendo os únicos adolescentes de uma cidade sitiada e ambos com um fardo para carregá-las que não tinham ideia nem se alguém era capaz de fazê-los. Apoiamos um ao outro nas responsabilidades, no aprendizado, nas dores, nas pressões, nos lazares, um dia cada um percebeu que sentia algo a mais pelo outro e pouco depois percebemos o que o outro queria e sentia. Eu não perdi uma enfermeira linda. Perdi uma parte de mim que me fazia seguir em frente, iluminava meu mundo e me apoiava até quando eu caminhava para me encontrar com a morte.

Foi engraçado que quando vi Lívia pela primeira vez foi meu primeiro sorriso sincero desde que ela morreu. Eu esboçava um sorriso para todos porque nada selvagem sente pena de si mesmo. Mas, eu me peguei sorrindo de verdade quando estive frente a frente com ela. Demorei para entender que eu estava gostando dela, mais ainda que ela estava gostando de mim. Minha mente era apenas pensamentos de sobreviver, estudar, treinar e me esconder. Já meu coração não podia vê-la que resolvia mostrar para minha cabeça que existiam outras coisas além da pressão de ser Maerd.

Aqueles olhos azuis, aquele sorriso radiante, a pele rosada, altura diminuta e a empolgação de quando as cosias davam certas, que ela não percebia que fazia. Como se arrumava bem e ainda como se esforçava em manter-se acompanhando o curso. Sim, eu percebia que ela não levava muito jeito, mas não era assunto meu. Eu não queria que ela fosse assunto meu.

Mas, a surpresa não foi encontrar alguém por quem eu me interessasse, mas sim encontrar alguém que me encantasse. A primeira vez que eu a vi tinha certeza que estava vendo um fantasma. Naquele dia eu tinha tido uma noite cheia de pesadelos e só conseguia pensar na minha irmã. Então aquela fantasma loirinha apareceu gritando, me olhou por algum tempo e depois saiu correndo. Eu fiquei ali parado sozinho. Eu achava que era apenas delírio meu, mas outras pessoas estavam vendo aquele fantasma, então resolvi segui-la.

Eu levei algum tempo, seguindo-a pensando que eu devia estar carente. Sozinho nessa região sem conseguir falar com ninguém, tendo pesadelo atrás de pesadelo, eu só queria poder abraçar minha irmã. De repente um clone de 16 anos de Julia aparece na minha frente. Maya é idêntica a minha irmã, quando ela tinha 16 anos. Loira, olhos azuis, pele clara, o contorno do rosto, o formato do nariz, a forma dos dedos das mãos e muitas outras coisas. A única diferença entre Julia e Maya, tirando que hoje Julia tem 23 e não 16 como Maya, é a altura, minha irmã nessa idade era mais alta, o cabelo, que minha irmã sempre o usa liso enquanto Maya é ondulado quase cacheado, e o sorriso que de Maya é mais sapeca e espevitado enquanto Julia é serena e acalmador.

Eu fiquei observando-a por dois dias, o primeiro apenas pelo prazer de ver a imagem de minha irmã, mas no segundo eu fiquei me perguntando como ela podia ser tão parecida com Julia e foi ai que percebi o erro que estava cometendo. Julia e eu somos muito parecidos, temos os mesmos traços e quando eramos pequenos, e com menos corpo, poderia se confundir os dois olhando apenas o rosto. Então Maya não era apenas parecida com Julia, mas também era parecida comigo. Na escola, a primeira vez que nos vimos, estavam todos desesperados e certamente ninguém realmente ficou nos reparando. Mas, se eu fizesse contato com ela seria questão de tempo para alguém ver nossas semelhanças e o problema era quem iria perceber isso? Seria alguém que Maya confiava ou seria um inimigo meu?

Resolvi nem mesmo tentar descobrir porque somos semelhantes, isso só criaria um rastro de minhas pesquisas e certamente aumentaria as chances de perceberem que somos parecidos. Mas, quando o destino nos colocou juntos de novo, no festival da praia, eu resolvi arriscar dar meu telefone a ela dizendo para ligar quando precisasse. Ela me ligou duas vezes, uma eu não sabia quem era e ela desligou logo depois. A outra eu estava no centro pokémon e ela também e a vi ligando, estava com o Mevoj no dia e ela quase surtou.

Eu percebi que ela não sabe que somos parecidos, percebe e se sente atraída e encantada por mim, mas sem perceber essas semelhanças físicas. Por sinal, ela tem entendido que há algo entre nós que não é bem amor homem-mulher. O que é no momento bem reconfortante, porque as vezes é difícil não ver Julia em Maya. Talvez por esse motivo brigamos. Eu nunca briguei com Julia por nada, chamamos a atenção um do outro sem que o outro se zangue por isso, mas não há esse tipo de laço com Maya. Então quando não queria que ela se tornasse uma assassina como eu, eu não estava vendo Maya, estava vendo Julia. E Julia é serena, Maya é como eu, cabeça dura.

Por isso aceitei ensiná-la a se defender. Eu mataria por minha irmã, mas fico muito tranquilo porque ela sabe se defender. Na verdade, ela é mestra porkémon, sabe se defender muito melhor do que um mero campeão. Então, precisava saber que quando Maya estivesse sozinha ela fosse saber se defender. Não quero que ela seja uma selvagem como eu, mas não precisa sentir pena de si mesmo. Não sei se porque ela é parecida comigo e idêntica a minha irmã, mas gosto dela assim mesmo.

– Então, vou fazer uma aventura de campo? -

Ela parecia só animação naquele momento. A regra era não sair de casa quando Mevoj viajou para tentar conseguir uma rota de fuga para eles e após as primeiras horas só ela, Riley e Kevin na casa, quase acreditou que seria uma semana longa e difícil. Mas, estava passando rápido e de forma divertida. Já era quarta feira e Kevin já queria testar tudo que ensinou-a.

Maya usava a palavra aventura, mas Kevin usava a palavra teste, já que as chances de algo sair do controle durante uma aventura era grande e durante um teste era bem pequena. Ela não conseguia pensar como Kevin, ou entenderia que o teste deveria ser feito a noite, logo não poderia ser feito na sexta, e certamente precisaria descansar, por isso não poderia ser na última noite, quinta. Quarta feira a noite era o horário em que ela teria de ser testada, mostrar realmente o que havia aprendido.

– Claro! Quero que veja que conseguiu aprender, ganhar confiança que saberá o que fazer na hora certa! - Kevin esticou uma pokebola para ela. - Mas, eu não sou tão irresponsável assim. Nesta pokebola está Meganium. Caso algo de errado aconteça, libere-a que ela está instruída em fazer o que ela mais gosta de fazer. - Kevin deu uma risada.

– Que tipo de algo errado poderia acontecer? - Questionou Maya sorrindo e viu que Kevin ficou sério. - Ahn... - Ela olhou para trás e viu a floresta que a aguardava. Escura, fechada e altamente sombria, já que não havia lua naquela noite. Nunca havia entrado nela, Mevoj nunca havia deixado. - Eu só preciso sair daqui as dez da noite e atravessar a floresta até chegar na parte perto de casa, né? - Por um momento Maya pareceu insegura.

Khubar possui algumas matas, mas as pessoas pouco se aventuravam nelas. A cidade-universitária não tinha treinadores, maiores interessados naqueles ambientes, com isso os poucos que passavam pelas matas eram os estudantes de biologia.

– Você vai precisar se guiar na escuridão e por um terreno que não conhece, em uma direção que não conhece. - Kevin disse calmamente. - Para isso vai usar o que lhe ensinei sobre rastreamento, orientação e exploração. - Viu que Maya pareceu começar a pensar nas coisas que ele falou. - Não sabe o que tem ali, nunca viu os pokémon daquela mata, imagino que Pidove e Totodile sejam o suficiente, já que são os seus mais fortes, mas se houver algo mais perigoso que a ameace, Meganium resolvera. -

Maya lembrou-se de que ela não havia realmente aprendido a batalhar, mas havia melhorado muito em batalhas pois tinha muito mais conhecimento sobre habilidades pokémon. Não acreditava que poderia haver adversário naquela mata para uma treinadora, mas de repente lembrou-se como apanhou dos pokémon de perto do centro pokémon quando tentava capturá-los, e isso tinha sido a apenas duas semanas.

– Meganium será bem-vinda, se eu ficar sem recursos. - Disse Maya sorrindo sem graça.

– Só se não puder fugir e se esconder. E sabe que estou falando de um perigo chamado império. - Diz Kevin sério que de repente sorriu. - Até porque, Presa Selvagem é muito esperto para deixar você libertar Meganium. -

– Presa...Selvagem? - Maya pareceu incerta.

Kevin sorriu e sacou uma nova pokebola. Uma luz se fez no ambiente de penumbra e materializou-se um pokémon roedor de pelo bege completamente ouriçado, um rabo esguio, grandes tentes e um ar malandro.

– Nunca vi um olhar como esse em um pokémon. - Maya piscou algumas vezes, ele parecia analisá-la e debochar dela. - Ele vai me caçar? -

– Vai! - Diz Kevin que olhou o pokémon. - Vai ter vantagem de dois minutos e depois disso, ele vai atrás de você. Ele vai tentar te capturar, se ele conseguir, você perdeu. Ele vai te liberar e te guiar para casa. -

Maya encarou o pokémon Raticate a quem Kevin chamava de Presas Selvagem. O pokémon não parecia tão impressionante, mas ela nunca havia visto um daqueles e nunca havia visto um olhar malando em um pokémon. Tinha certeza que ele não era apenas forte, mas visivelmente inteligente e estava debochando dela.

– Faltam dez minutos para as dez, acho que podemos começar. - Disse Kevin que foi até a menina e abraçou. - Tome cuidado! - Ele balbuciou ao pé do ouvido dela. - Espero você em casa. -

Maya o apertou no abraço naquele momento. A quanto tempo ninguém era carinhoso e atencioso com ela como Kevin era. Seu tio Cody era realmente atencioso e preocupado com ela e Riley era carinhosa por natureza, mas eram sua família e estavam com ela desde que se lembrava. Mas, não se lembrava de nenhuma outra pessoa que lhe dava atenção, sorria e demonstrava carinho por ela, nem mesmo seu irmão Roger.

– Não vou te decepcionar! -

Dizendo aquilo a loira soltou-se do abraço e virou-se de costas para ele, indo em direção a mata. Quando saíram de casa, vestida de preto de cima em baixo, até no calçado, ela imaginou que fariam algo ousado, mas aquilo superava suas expectativas. Não faria feio. Kevin havia dito que ela deveria chegar em casa por volta de uma hora da manhã, ou talvez duas. Ela chegaria antes, meia-noite e meia era sua marca máxima.

Mas, desconfiava que se chegasse muito cedo ficaria sozinha na casa, afinal Kevin estava vestido para um passeio noturno. Uma calça jeans cinza com uma blusa branca e uma espécie de blazer quase do mesmo tom da calça. Ele também havia pedido para que Riley se arrumasse para saírem e a loira precisou conter a morena para que ela não parecesse ir a um casamento.

– Sua vez! - Ele sorriu caminhando em direção a Riley.

A menina estava sentada nas costas de Pidgeot a cem metros de onde Kevin havia conversado e instruído Maya. A morena não escutou muito do que fora dito, apenas entendeu que Maya seria caçada pelo tal Presa Selvagem. O que ela achava interessante, viviam sendo caçadas, se ela pudesse aprender algo que as ajudasse seria perfeito.

Respirou fundo quando sentiu que a ave havia levantado voo, ela ficou olhando Kevin e pensando no que Maya faria que nem se deu conta que o loiro havia montado em sua ave e seguido para a cidade. O céu estava tão escuro e o vento era gelado. Acima só via as nuvens de chuva que se acumulavam. Abraçou Kevin, pelas costas, procurando se aquecer. Nesse momento, teve a impressão de ter escutado-o dizer algo parecido com um pedido de desculpas pelo frio, mas não tinha certeza, a ave voava rápido e atrapalhava escutar qualquer fala.

Sentiu o pousar e viu que estavam num parque vazio, no meio da cidade. Não havia muita luz ali, apenas para o lado em que parecia ser a rua. Kevin ajudou-a a descer e enquanto ele recolhia a ave para pokebola ela deu alguns passos em direção a calçada iluminada. Lá ela conferiu seu pequeno figurino e os cabelos, era incrível que nada estivesse fora do lugar. Seu cabelo continuava bem penteado, apesar de estar usando-o solto. Sua blusa branca com babados não estava amarrotada e nem seu pequeno colete preto. Sua calça preta também estava alinhada.

– Ficou mais alta nas últimas horas! -

O comentário saiu com um ar divertido, o que fez Riley sorrir. Ela apenas levantou a barra da calça e Kevin, que se aproximava dela, viu um tamanco plataforma de quinze centímetros. O loiro não havia realmente prestado atenção em como a morena havia se arrumado, saiu da casa para verificar se podiam sair enquanto as duas ainda estava se arrumando e não estava tão iluminado quando elas chegaram a ele.

– Achei que se ficasse um pouco mais próxima de sua altura ficaria mais fácil de conversarmos enquanto dançamos. - A morena deu um sorriso aberto e satisfeita com seu pensamento, mas viu que Kevin fez uma expressão de dúvida, junto ao sorriso costumeiro. - Eu não vou cair. - E ela girou e pulou algumas vezes no lugar, demonstrando que sabia andar com aquilo. - Viu? -

Kevin segurou o riso. Ela percebeu e escutou uma risada que claramente não era emitida por ele. Olhou ao redor e viu que estavam numa avenida da cidade e algumas pessoas passavam ali e viam a cena que ela fazia de pular e girar, de forma engraça e claramente, para eles, sem motivo algum. Ela riu sem graça, abaixando a cabeça. Quando chegou a calçada não havia ninguém e muito menos percebeu ser uma avenida. Torcia para não ter nenhum conhecido ali.

– Sinto muito... - A voz de Kevin saiu um pouco sem graça e ela olhou-o. Não era aquele pequeno mico que a faria se chatear. - Depois de sexta, nunca mais nos veremos e pensei em dar algo especial para vocês duas, infelizmente vocês queriam coisas especiais diferentes. -

Riley ficou olhando-o, já nem lembrava das risadas que escutara a segundos atrás. Realmente aquela incursão noturna era algo especial para Maya, a menina era aventureira, mas oprimida. Aquela fuga toda que viviam era sua grande oportunidade, mas nunca sentia-se confiante no que fazer, não se sentia segura. Kevin estava dando a ela a oportunidade de sentir-se segura. Era realmente algo especial.

– O que eu quero de especial? -

Riley fez a pergunta mais para ela mesma do que para Kevin. Ela viu que ele sorriu mais abertamente naquele momento e desviou o olhar dela para algo que estava atrás dela. Virou a cabeça com calma e acompanhou o olhar dele, atravessando a avenida até o outro lado da rua onde havia um prédio com uma fachada antiga e uma televisão de tela fina que exibia a palavra cinema.

– Mas, asei de duas festas que poderíamos ir danç... -

Kevin parou de falar ao ser puxado pela morena de forma apressada. Ela atravessava a rua a passos largos, sem olhar para os lados, segurando o braço do loiro que só conseguiu se endireitar quando ela parou próximo aos cartazes.

A morena examinou todos os cartazes, sempre espiando a cabine de ingressos. Quando terminou de ver o último cartaz foi até a cabine onde havia uma entendiada senhora a tricotar.

– Qual filme deseja? - Disse a senhora, sem parar de tricotar.

– O próximo a começar! -

A voz animada chamou a atenção da senhora que parou o trico e olhou a face sorridente da menina. Ajeitou-se em sua cadeira e viu o que o seu computador indicava como o próximo a começar.

– Em vinte minutos teremos Pokémon Zumbi. - Disse a senhora.

Riley abriu a boca e parou. Deu um passo para trás e sentiu alguém atrás dela e estremeceu. Olhou, um pouco endurecida e viu Kevin sorrir.

– Também já tenho minha cota de terror para a semana. - Disse Kevin. - Podemos esperar um tempo a mais. Escolha o que mais te agradar! -

Ela adoraria ir ao cinema, seria sua primeira vez, mas jamais conseguiria assistir filme de terror. Os pesadelos que tinha já atormentavam-na o suficiente sem que ela adicionasse zumbis à fórmula. Estava até curiosa que na última semana ainda não tinha tido pesadelos, o que era raro. Acabou por respirar aliviada com a fala de Kevin e imaginou se ele realmente falava sério ou se estava apenas sendo gentil.

– Esperem! - Disse a velha olhando-os. Ela pegou um pequeno radiocomunicador! - Juca, Lambida Adorável está nos traillers ainda? - Ela olhou-os sorrindo. - Quarta feira é a noite dos casais. Temos sempre uma sessão as dez da noite com um filme de romance, ou comédia romântica, para aqueles que trabalham ou estudam até tarde, mas querem manter o romantismo. -

“Dois minutos para encerrar o trailler!”

– Então vá para a porta com o kit promocional do casal que estou mandando um casal fofo! - A senhora sorriu. - O kit promocional tem dois ingressos com desconto, pipoca, refrigerante, sorvete de saída e assentos de namorados! -

Riley ficou sem graça e as covinhas dela apareceram naquele momento. Pensou em consultar Kevin com os olhos, mas uma porta se abriu lateralmente e um senhorzinho simpático apareceu, com uma lanterna, segurando um balde de pipoca e um copo gigante de refrigerante. Seu filme estava a pouco mais de dez passos e a menos de dois minutos. Não parecia importante explicar que Kevin não era seu namorado.

– Vem namorado! -

Riley agarrou a mão de Kevin puxando-o. Ela já havia sido a pokémon dele, ele poderia ser seu namorado por duas horas.

Lambida Adorável é um ótimo filme. Uma comédia romântica onde ocorre um acidente de carro e a mocinha do filme adquire os poderes de sua Jynx e Licktung de realizar o Beijo Adorável e o Lambida, ao mesmo tempo, com isso sua lambida se torna uma lambida que desperta o amor das pessoas por ela. Quando descobre o que pode fazer ela tenta conquistar o rapaz que sempre quis, mas acaba sempre lambendo a pessoa errada o que deixa o rapaz com medo dela. Quando finalmente ela lambe-o os poderes já tinham ido embora e não faz efeito. Ela sai correndo, sem deixar que ele diga que gosta dela.

Esse é um cinema antigo, que passa apenas filmes antigos, tanto que existem apenas seis casais na sala. Mas, Riley pareceu tão animada me puxando para a sala, que não quis contar que já assisti. É um bom filme. Tem apenas dez minutos de filme e ela já riu mais do que a vi rir na primeira semana que fiquei na casa dela.

– Kevin. - Riley debruçou-se no braço da cadeira e aproximou-se da orelha esquerda do rapaz, murmurando. - O que é cadeira para namorados? -

Kevin soltou um pequeno riso. Ele ia pouco ao cinema, sua vida era corrida e perigosa demais, mas ficava surpreso como as vezes Riley parecia desconhecer algumas coisas que deveriam ser intuitivas.

O loiro pegou na mão da menina, fazendo-a desapoiar-se do braço da cadeira que os separava, retirou a pipoca do apoio e levantou o braço da cadeira retirando assim a barreira que os separava. A morena sorriu balançando a cabeça indicando que havia entendido observou os poucos casais em volta e viu que todos estavam com os braços das cadeiras levantados e resolveu deixar o seu assim, especialmente pela crise de risos que teve ao ver uma cena na tela, a moça lambia o rosto do rapaz que caia para trás de imediato, acabou desviando a atenção completamente.

Eu nunca imaginei encontrar alguém como a Riley. Ela me fascina e diverte ao mesmo tempo. Eu tenho a habilidade de olhar dentro da alma da pessoa se por ventura tivermos vivido a mesma coisa e sentido a mesma coisa com aquilo. Assim eu me conecto aos pokémon Bersekers, pois nós flertamos com a morte diversas vezes, assim eu consegui escutar Lívia sem que ela precisa-se falar, pois ela vive pressionada como eu. Mas, Riley? Nossas vidas são totalmente diferentes e as poucas coisas que temos em comum, encaramos de formas diferentes.

O jeito meigo e inocente dela para muitas coisas me faz pensar em como alguém que vive oprimida e fugindo consegue se manter com esse ar doce. Nenhum dos meus amigos, ou conhecidos, são assim. Talvez por que todos que conheço estão envolvidos com os pokémon e assim precisam ter muito mais pulso e ímpeto que uma jovem que já nasceu para ser criada para um casamento arranjado.

Eu demoro para conseguir compreender o rosto de tristeza dela. Se ela não me contar apenas sei que ela está triste, que algo a incomoda, que ela quer pedir algo e está com vergonha. Acabo nem sempre sabendo o que falar para ela nos momentos complicados, mas é curioso. Nos divertimos um com o outro de uma forma que eu nunca me diverti com ninguém. São brincadeiras bobas, piadas bobas. O esperar que ela se abra, sem que eu invada a alma dela ou a pressione.

Aquele momento onde você fala algo que poderia ser interpretado de várias formas, mas ambos acabam escolhendo a mais leve, mais gostosa e não a mais pesada ou a mais provocante. O meio em que vivo faz com que eu sempre espere o pior e é incrível que ela vive fugindo, assim como eu, e consegue viver de forma leve e esperançosa.

Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo. Um pássaro morrera de tanto cantar antes de sentir pena de si mesmo. E isso eu levo para minha vida e vejo muitos levando. Respiramos fundo, enrijecemos os músculos, trincamos os dentes, cerramos os punhos, inclinamos levemente a cabeça para baixo de uma forma que não percamos a visão da meta e marchamos para frente. Estamos dispostos a quebrar qualquer barreira. Mas, Riley não o faz. Riley é diferente.

Quando a conheci senti algo diferente ao vê-la. Mas, eu estava encantado com Maya ser igual à minha irmã, não havia tempo para entender o que uma menina quase em prantos por causa de uma confusão na sala de aula estava me transmitindo. Nunca a via sorrir e imaginava que ela sentia pena de si mesma, mas não é verdade. Pelo menos nesses dias eu pude ver que ela não sente pena de si mesma, apenas tem receio das coisas. Ela está cheia de sonhos e tenta tirar o melhor de cada situação. O melhor exemplo é ter me pedido para aprender a dançar no meio de um prelúdio de guerra. Ela acredita que vai acabar tudo bem e que aprender a dançar vai ser importante para seu futuro, de alguma forma.

Acreditar que tudo vai ficar bem. Nas nossas primeiras conversas ela não parecia acreditar nisso, mas agora parece. Foi por causa dela que decidi sair com elas essa noite. Se ela está com esperanças de dias melhores, eu preciso confirmar para ela que dias melhores virão. Que ela é selvagem ao modo dela.

– Obrigada! Obrigada! -

Riley caminhava animada, ao lado de Kevin, em meio a noite. Eles tiveram que voltar para casa caminhando, já que o parque onde pousaram e pretendiam levantar voo havia sido tomado por alguns jovens fazendo uma confraternização ao ar livre. Até tentaram ir para o ponto de ônibus, mas perderam-no por questão de segundos e o próximo levaria uma hora para passar. Táxi estava fora de cogitação, pois tinham que manter o anonimato deles por ali. Não havia quase ninguém nas ruas e como Riley ainda estava elétrica com o filme, resolveram caminhar para casa. Seria meia hora, no máximo.

– Foi um prazer! - Kevin sorriu. - Que bom que gostou! -

– Gostei? Adorei! - Riley abriu os braços animada. - Meu primeiro filme no cinema foi um máximo! Mesmo tendo um filme antigo. -

– Então, você sabia? - Perguntou Kevin.

– Sim! Eu nunca tinha visto o filme, mas eu já tinha escutado falar sobre ele. - Ela riu. - Eu lembro que quis assistir esse filme no cinema na estreia, mas não consegui. - Ela parecia concentrar-se entre falar e tomar o sorvete. - A maioria das cidades em que ficamos eram pouco movimentadas e não possuíam cinemas. As cidades grandes que ficávamos, ou pelas quais passávamos, os cinemas tinham todo um aparato tecnológico que praticamente registrava quem assistia os filmes ali e meu pai tinha medo que nos identificassem por essas gravações. - Ela voltou ao sorvete. - Acho que a única vez que eu já estava com o ingresso comprado tivemos que sair da região correndo. -

– Encontraram vocês? - Perguntou Kevin que até ali achava que eles sempre estiveram bem ocultos.

– Não. - Disse ela. - Estávamos em Hoeen próximo a um deserto. A cidade começou a ficar lotada por causa de um show daquela cantora Marjori e algo aconteceu no deserto, pois ocorreram explosões e tempestades de areia vindas do nada. -

Eu lembro desse incidente. Pelo menos, estive em Hoeen, perdido no deserto, com um forte confronto acontecendo no deserto e Marjori fazendo show em uma cidade próxima. Curioso que não é a primeira vez que descubro que os Mevoj estiveram em uma cidade em que eu estive, quase que na mesma época, ou incidentes que me envolveram afetaram-nos de alguma forma. Kevin parou de caminhar olhando-a enquanto percebia essas coincidências.

– Tudo bem? -

A voz de Riley me trouxe para uma realidade da qual eu estava me distraindo no meio da rua. Ela tocava meu peito para me despertar. Olhei-a, mas ela estava tranquila. Talvez tivesse falado mais alguma coisa e eu apenas não tivesse escutado, realmente havia me perdido em pensamentos, percebendo essas coincidências. Sorrir era a melhor resposta, não tinha como falar muito sobre meu passado para ela, ainda mais ali no meio da rua.

– No que estava pensando? - Ela me perguntou ainda próxima a mim.– Você estava dando um sorriso mais bobo que o normal. -

Um sorriso mais bobo que o normal. Como se o sorriso de curiosidade dela não fosse tão bobo quanto o meu. Para falar a verdade, é a primeira vez que a vejo sorrindo e curiosa ao mesmo tempo. Nunca a vi curiosa e sem que ela estivesse triste ou preocupada e isso fazia nunca sorrir.

– Que consegui fazer você sorrir com tão pouco! - Disse Kevin mentindo. - Agora quando pensar em cinema vai ter que se lembrar que seu primeiro filme foi comigo! -

– Sim! - Ela riu. - E provavelmente vai demorar para eu conseguir ir a outro, então minha única vez vai ter sido com você! E foi um máximo! - Ela estico os braços animada, como quem comemorava e acertou o sorvete que estava na mão de Kevin, derrubando-o.

Kevin parou de andar e riu, enquanto a menina olhava o que ela havia acabado de fazer. Jantaram antes de sair de casa e o balde de pipoca era demais para os dois, mas algo doce não estavam propensos a dispensar.

– Desculpa! -

A menina ficou toda sem graça e olhou para seu próprio sorvete pensando em dá-lo para Kevin que olhava em volta, passava da meia-noite e meia e ninguém estava naquele caminho para a casa dos Mevoj. Finalmente Kevin achou uma lixeira, caminhou até ela jogando a casquinha recolhida do chão, ali, e voltou para o lado de Riley enquanto eles voltavam a caminhar.

– Quer o meu? - A morena acabou se calando por algum tempo, olhando-o sem graça pelo que havia feito. Mas, ele sorriu dando uma negativa com a cabeça. - É sério! Ao menos divide para que eu não me sinta culpada. -

– Foi só um sorvete. - Ele sorriu para ela.

– Você pagou tudo essa noite. Acho que o mínimo que dá para fazer é dividir o sorvete. - Disse Riley esticando o sorvete. - Então me dá pelo menos uma lambidinha! - A morena pareceu ficar chateada por ter derrubado o de Kevin.

O loiro parou de andar e ficou olhando-a durante algum tempo, sorrindo, e imaginando quantas pessoas que ele conhecia realmente iriam se preocupar com aquilo. Chegou a lembrar-se de uma vez que teve que correr atrás de Joy para conseguir pegar um bombom da caixa que deu a ela. Realmente Riley era muito diferente de qualquer pessoa do meio pokémon.

– Esse sorriso mais bobo que o de costume, de novo! -

Ela riu e percebi o que ela estava chamando de sorriso mais bobo que o de costume. Me aproximei do sorvete a minha frente e abri a boca, de forma escancarada e lambi o rosto dela! Na bochecha direita. Ela riu se contorcendo e reclamando.

– Que ideia maluca! -

Ela mais ria do que reclamava. Não chegou a limpar o rosto ou nada parecido, apenas ficou rindo.

– Foi você quem ofereceu. -

Era aquilo que me fazia sorrir de forma mais boba que de costume. Nossas conversas eram divertidas, brincávamos um com o outro sem ficar preocupado que o outro fosse ficar bravo. Era estranho como tudo acontecia, mas parecia natural. Além disso, eu gostava de vê-la sorrindo.

– O sorvete, não meu rosto. -

Ela esticou a casquinha em minha direção e fui em direção o sorvete e ela tirou-o na mesma hora.

– Babadinha, não! -

– Por acaso seu rosto tá babado? -

Ela parou por alguns instantes e soltou uma risada esticando o sorvete. Dessa vez ela retitou o sorvete já rindo.

– Mordidona, não! -

Ela tirou o sorvete de lado e eu praticamente mordi o ar. Nos olhamos por alguns instantes e ela esticou de novo o sorvete, com aquela cara risonha. Eu já sabia que ela não ia me dar o sorvete naquela tentativa também. Fui com a mão para segurar o sorvete e ela percebeu o que eu ia fazer, pois novamente tirou o sorvete na hora que eu ia morder.

– Mãozinha, não! -

Ela gargalhava com minhas tentativas. Ofereceu-me o sorvete novamente, olhando nos meus olhos, e puxou no mesmo instante. Dessa vez eu não fiz o movimento de tentar nada e ambos acabamos caindo na risada. Aproveitei a risada para tentar pegar, mas ela movimentou para um lado diferente e sujou o próprio rosto de sorvete.

– Lambuzada, não! -

Ela caiu na gargalhada e manteve o sorvete que começava a derreter longe dela, mantendo o braço direta esticado. Eu ria da situação, além de estar com parte do rosto lambuzado de sorvete estava distraída com as minhas tentativas de pegar o sorvete que nem lembrava mais de que havia uma acordo ali, ao que parecia.

– Lambidinha pode? -

Perguntei sorrindo e mostrando a língua. Ela entrou em crise de riso. Acabei lembrando que em uma das cenas do filme a protagonista foi para lamber um sorvete, e lambeu a pessoa toda ao invés de só a casquinha. Por isso ela tinha achado tão engraçado no começo.

– Lambidinha pode! -

Ela trouxe o braço para perto e eu dei um passo para poder pegar o sorvete e coloquei a língua para fora, mas ela tirou-o.

Eu me inclinei e a lambi de novo! Mas, desta vez o rosto estava lambuzado. O que a fez rir de nervoso depois de uns instantes. Senti que ela chegou a dar uma tremida, mas as risadas dela, dali onde eu estava, eram gostosas de se ouvir.

– Doido! -

Ela disse rindo enquanto eu me preparava para lambê-la de novo. Ela levantou o ombro esquerdo e virou o rosto para o meu lado. Eu estava lambendo o rosto dela pela segunda vez e senti que lambi algo diferente no rosto. Parei no mesmo instante e vi que eu lambi o cantinho da boca dela.

Senti que ela percebeu o que aconteceu pois também parou de rir e até de se mexer. Ela simplesmente estava ali, parada, me olhando de forma indecifrável, com a cabeça virada, enquanto meu rosto estava a centímetros dela e minha boca parou grudada em seu rosto porque parei a lambida na mesma hora que percebi o que aconteceu.

Este se tornou um momento, um momento que paira e dura muito mais que um momento. O som parou, o movimento paro e sinceramente o pensamento parou.

Eu sinto o ar de sua respiração saindo, saindo hesitante pelas suas narinas. O calor emanado de seus lábios, junto a umidade deles, sendo que parte agora era porque eu os tinha molhado. Sinto o perfume que ela havia passado, lembrava o Aroma Doce de uma chickorita, misturado ao sorvete que a sujava.

As pálpebras dela se abaixavam lentamente e as minhas reagiam da mesma forma, sincronizadas. Da mesma forma que não há pensamento nesse momento, não há necessidade de visão.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram? Tem gente me xingando? Alguém quer que o episódio da semana que vem chegue logo para ver como essa cena termina? hehehe



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