Hiro

Ninguém sabia o que dizer, mas imaginei que o mesmo que passava pela minha cabeça, era o que passava na de todos: "acabou".
O que deveríamos fazer agora? Mais da metade do nosso exército estava morto e, provavelmente vamos estar também se Hans nos alcançar antes de completarmos nosso objetivo. O que deveríamos fazer?! Eu não quero morrer...
– Majestade - disse Refri, indo na direção do nosso rei Jack, que nem se mexia - Quais são as ordens? Alguma ideia do que devemos fazer?
Um silêncio perturbador surgiu. Todos olhavam para Jack, esperando alguma resposta. Pude vê-lo cerrar o pulso, antes de finalmente quebrar o silêncio.
– Eu não sou "majestade" - sussurrou, com uma voz totalmente alterada - e nem sei o que estou fazendo aqui... Eu não quero lutar, não quero ver pessoas morrerem. Me desculpem, mas eu não consigo...
As lágrimas começaram a descer como um rio pelo seu rosto. Era a primeira vez que eu o vi chorar.
Christian... Ele estava realmente morto... Era inacreditável. De repente, todas as memórias, todas as risadas, as vezes que nós três brincamos de esconde-esconde pela mansão dos Frost quando éramos crianças... Todas aquelas memórias passaram pela minha cabeça como uma agulha.
"Ei, irmãozinho! Se cuida..." foram suas últimas palavras, da última vez que o vimos.
Um tempo depois, decidimos todos nos juntar numa roda para orar pelos mortos antes de desmontar o acampamento e seguir a viagem. Todos menos Jack, que ficou sentado no canto, olhando para o chão. Depois da oração fui falar com ele.
– O chão vai começar a achar que você tá apaixonado por ele se continuar olhando-o assim.
– Era para ter sido eu... - sussurrou, ainda encarando o chão.
– Não fala assim, Jack! O que era pra ser aconteceu. Você ainda tem a vida toda pela frente. Tem uma princesa, em algum lugar, precisando de você, tem um rei precisando de você, Arendelle inteira conta com você!
– A que preço?! Eu não sei ser um rei, não sei governar um reino e nem sei se conseguirei fazer Elsa feliz! Por que eu?! Eu... eu não vou conseguir, Hiro. Eu sou um inútil!
Coloquei as mãos sobre seus ombros, fazendo-o olhar para mim.
Se você continuar assim, prometo que desistimos agora, pegamos nossas coisas e voltamos para San Fransokyo deixando sua noiva, seu futuro reino e seu trono e ficando apenas com a culpa, o ódio de todas as pessoas que confiaram em você, inclusive seus pais, e com o sentimento de ser o grande "m*rda" que você acha que é. - respondi, com a voz rígida e os olhos cravados nos dele, que me olhavam assustados - é isso que você quer?
– Eu...
– É realmente isso que você quer, Jack?!
Um rápido silêncio surgiu enquanto ele pensava em uma resposta.
–Não... - disse por fim - não quero isso...
Dei um sorriso ao ver que o que eu tinha dito abriu os olhos dele. Mas não o culpo por estar deprimido, entendo o que ele deve estar passando. A notícia veio à tona, e se eu estou triste (e assustado) por isso, imagina ele! Eram seus guardas, pessoas de seu futuro reino. E era seu irmão...
– Ele gostaria que você continuasse a lutar - comentei - Faça isso por ele, amigo! Por todos os que morreram ontem!
– Você tem razão - deu um sorriso - Obrigado, Hiro.
– Disponha! É pra isso que servem os amigos.
Estávamos arrumando as coisas quando BMO correu em nossa direção gritando:
– Uma menina! Tem uma menina desmaiada!
– Onde? - perguntou um dos guardas de Arendelle.
– Ali! Atrás daquela árvore!
Quando corremos para a árvore, avistamos um corpo caído no chão, coberto por um longo manto preto e um ninho de cabelos ruivos todo desengonçado.
– Ela está viva, - disse BayMax, escaneando-a - mas com muito frio e leves arranhões.
– Ela tá molhada. Rápido, montem uma barraca! - ordenou Jack - GoGo e BayMax, vou precisar da ajuda de vocês.
– O que tenho que fazer?
– Você é a única mulher aqui, GoGo. Preciso que entre na barraca e tire as roupas dela. Ela pode ficar doente se continuar com as roupas molhadas. Toma, vista-a com meu casaco.
Jack entregou seu sobretudo para GoGo, que foi até a barraca com BayMax para cuidar da estranha inconsciente. Logo depois, Refri e Finn vieram em nossa direção, junto com os dois guardas de Arendelle.
– Talvez seja impressão minha - começou Refri - mas estou começando a suspeitar daquela moça.
– Ele tem razão - afirmou Finn - e se for uma armadilha do Vans?
– É "Hans". - corrigiu um dos guardas - E não é muito a cara dele mandar garotas "indefesas" para espionar pessoas. Mesmo assim, ela pode atrasar nossa viagem, majesta... Jack.
– Mas nós nem vimos o rosto dela direito... E se ela realmente estiver perdida, precisando de ajuda?
– Quando BayMax e GoGo terminarem o trabalho deles iremos ver esse assunto com mais calma - encerrou Jack - Agora precisamos discutir por qual rota iremos, para não termos o perigo de topar com Hans no caminho.
– Tem uns atalhos pela floresta. Talvez a Princesa do Reino de Fogo possa nos emprestar uns guardas. Posso falar com ela se quiser - disse Finn.
– Não, não quero prejudicar mais ninguém. Muito menos colocar guardas de uma princesa que eu nem conheço em perigo.
Depois de dizer isso, os dois guardas de Arendelle cochicharam algo entre si e riram, antes de um deles dizer:
– Isso é uma batalha! Não pode decidir quem vai morrer ou viver. Achou mesmo que teriam piedade de nós e poupariam nossas vidas se perdêssemos?! Nós vamos morrer se o Rei Gelado ou o Hans tiverem alguma oportunidade. Se achou mesmo que seria fácil, sugiro que arrume suas coisas, volte para seu país e deixe Arendelle em paz, com um herdeiro digno de um dever que você não pode cumprir! Hahaha! Sério, o que o Rei viu em você?!
Babaca...
Dava para sentir de longe a raiva nos olhos de Jack. Mas não foi só ele que ficou revoltado com o que aquele imbecil disse. Todos nós percebemos. Aquele cara vacilou.
Com o rosto frio como gelo e os olhos quase vermelhos de raiva, Jack se aproximou do guarda até ficarem cara a cara. E sussurrou, com a voz fria e rígida:
– Antes de abrir essa sua boca imunda e cuspir esse monte de m*rda para mim, lembre-se de quem você é. Você não é nada comparado a mim - deu ênfase ao "nada" - Se você acha que mandar homens fiéis e corajosos para morrer é algo bom, você é pior do que nada.
Seus olhos cerravam o guarda friamente como duas pedras de gelo.
Lembre-se que não é menosprezando os outros, ou melhor, menosprezando o SEU futuro rei que se vence uma batalha. Nós vamos vencer se estivermos juntos, confiando um nos outros. E depois disso, espero que se lembre de que posso muito bem acabar com a sua raça - Jack tinha os olhares de todos voltados para si. Antes de terminar, ele deu um leve sorriso sarcástico - Estamos entendidos?
– S-sim... - respondeu o guarda.
Demorou um pouco para o clima tenso voltar ao normal. Depois que terminamos de arrumar as coisas e decidirmos que pegaríamos um atalho pela floresta adentro, um pouco distante da estrada, GoGo saiu da barraca, avisando que a moça acordou.
– Você deu uma bronca naquele guarda! - sussurrei, enquanto Jack e eu seguíamos em direção a barraca. Ele pediu que o ajudasse a interrogá-la.
– O que queria que eu fizesse?
Sorrimos um para o outro. Apesar dos momentos de tristezas e raiva, da notícia ruim e e tudo mais, estávamos sorrindo. Estávamos sendo fortes. É disso que precisamos.
Quando olhei em volta, vi que todos já tinham superado os acontecimentos. Estavam rindo e conversando, sem se importar com o que vinha pela frente. Só Finn que estava um pouco chateado porque não passaríamos mais pelo Reino de Fogo, já que pegaríamos um atalho. Ele deve ter uma grande amizade com a princesa de lá.
– O que foi, Hiro? - perguntou Jack - Parece distraído.
– Estava só pensando...
– Huuum... Pensamentos eróticos?
– O QUE?! Hahaha, não! Eu só estava pensando... Bem... Só acho que você realmente vai ser um bom rei.
Ele deu um sorriso orgulhoso, e entramos na barraca.