Entre o Espinho e a Rosa escrita por Tsumikisan


Capítulo 22
Renegado


Notas iniciais do capítulo

Ta acabando ç_ç chorosa



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“Vocês lutaram” a voz parecia entediada quando nos alcançou, no interior da casa dos gritos. “Valorosamente. Lorde Voldemort sabe valorizar abravura. Vocês sofreram pesadas baixas. Se continuarem a resistir a mim, todos morrerão, um a um. Não quero que isto aconteça. Cada gota de sangue mágico derramado é uma perda e um desperdício. Lorde Voldemort é misericordioso. Ordeno que as minhas forças se retirem imediatamente. Vocês têm uma hora. Deem um destino digno aos seus mortos. Cuidem dos seus feridos.”

“Eu me dirijo agora diretamente a você, Harry Potter. Você permitiu que os seus amigos morressem por você em lugar de me enfrentar pessoalmente. Esperarei uma hora na Floresta Proibida. Se ao fim desse prazo, você não tiver vindo ao meu encontro, não tiver se entregado, então a batalha recomeçará. Desta vez eu participarei da luta, Harry Potter, e o encontrarei, e castigarei até o último homem, mulher e criança que tentou escondê-lo de mim. Uma hora.”

— Não dê ouvidos a ele – disse Rony.

— Tudo dará certo – concordei, balançando a cabeça. – Vamos voltar ao castelo, se ele foi para a Floresta precisaremos pensar em um novo plano...

Olhei brevemente para o corpo do professor Snape caído no chão da casa e me forcei andar até o túnel que havia nos trazido até ali. Rony e Harry me seguiram em silencio. Ninguém falou nada durante toda o caminho de volta para o castelo. Os jardins estavam silenciosos e escuros, apesar de faltar menos de uma hora para o amanhecer. Não havia uma alma viva que pudesse nos dizer o que estava acontecendo ali.

A escola estava parcialmente destruída. Vigas se encontravam estateladas no chão, estatuas estavam melancolicamente quebradas em um canto e metade de uma parede no saguão de entrada havia desabado. Tirando isso, não parecia que acabara de ocorrer uma guerra ali.

— Onde estão todos? – sussurrei.

Rony saiu na frente, chutando as pedrinhas em seu caminho. A porta do salão principal estava escancarada, mas ele a empurrou com força.

Ninguém parou para nos ver chegar. Todos estavam muito ocupados tratando os ferimentos ou velando seus mortos. Uma fileira bem grande repousava em um canto, todos de olhos suavemente fechados. Tentei não olhar, mas foi inevitável. Os rostos conhecidos que nunca mais sorririam de novo me assombraram. Rony parou no meio do salão por um instante e depois correu para onde a família dele estava, parados ao lado do corpo de Fred. Os irmãos o abraçaram, aos soluços.

Eu também estava chorando, silenciosamente em respeito a todos os outros mortos no local. Alguns nem mesmo tinham quem velasse sua morte. Me aproximei devagar, abraçando Gina de lado. Ela encostou a cabeça em meu ombro. Foi a primeira vez desde o segundo ano que eu a via chorar.

Notei que Harry havia se retirado e me alarmei, mas preferi não contar a Rony. Deixei os Weasley sozinhos para que pudessem sentir a dor em família e tentei ir atrás de Harry para me certificar que ele não havia ido até a floresta. No entanto não fui muito longe. Antes que chegasse a porta do salão principal, notei Draco sentado em um banco ao lado de Goyle ainda estuporado e mudei de direção. Ele notou minha aproximação e estendeu a mão, segurando a minha com força.

— É culpa minha. – ele murmurou.

— O que você esta dizendo? – sentei ao lado dele no banco.

— Eu não devia ter seguido as ordens dele. Quem sabe assim, Dumbledore ainda não estivesse vivo. Ele teria evitado tudo.

O puxei para perto e ele veio sem pestanejar, deitando a cabeça no meu ombro. Passei a mão delicadamente pelo seu cabelo, ignorando a poeira que havia se depositado ali durante a batalha. Com a outra, afaguei o rosto dele, sentindo o raspar da barba por fazer em meus dedos.

— Voldemort teria arranjado um jeito de matar Dumbledore de qualquer forma. – disse, convicta. – Não é sua culpa. Você não podia fazer nada.

— Como você pode ter certeza? – ele suspirou.

— Não pense nisso. Não vale a pena viver pensando no que poderia ter sido, Draco.

Ele se mexeu, saindo da posição em que estávamos e se endireitando. Depois me abraçou com força, beijando o topo da minha cabeça.

— Pelo menos uma coisa certa eu fiz. Nunca teria me perdoado se tivesse deixado a oportunidade de ter você passar.

Ficamos assim por um tempo. Nenhum de nós queria ser o primeiro a soltar e acabar com aquele momento de paz relativa. Estar com Draco me trazia novas esperanças. De qualquer forma, sempre teríamos um ao outro.

Neville entrou mancando no salão, carregando mais um corpo. Ele me avistou e, após deixar quem quer que fosse no chão ao lado dos outros mortos, se aproximou de nós. Notei que seu olho estava ainda mais inchado. Ele pareceu ignorar o fato de que Draco estava ali também e se dirigiu somente a mim:

—Hey, vocês sabem o que o Harry foi fazer?

— Fazer? – Repeti, abobada.

— É... Ele estava com uma cara estranha. Disse que precisava resolver um assunto. – Neville coçou a parte de trás da cabeça. – Mas ele me garantiu que não ia até a Floresta.

Harry tinha um obvio instinto de heroísmo. Mesmo que ele tivesse dito aquilo a Neville, até onde essas palavras eram verdadeiras? Ele iria a qualquer lugar para proteger aqueles que amava. O pensamento me deixou tensa. Não podia ser. Ele não podia ter feito isso.

— Mione, está tudo bem. – Draco tentou me tranquilizar, sentindo meus ombros retesarem. – Ele deve saber algo que você não sabe...

— Ainda falta a cobra. – sussurrei, mais para mim mesma do que para os outros. – Neville, ele te falou algo sobre a cobra?

— A cobra de Você-sabe-quem? Sim, ele disse, mas eu não entendi...

— Ah não! – me lamentei. – Então ele foi. Ele foi até a floresta, e vai se entregar!

Mesmo a contragosto, me levantei exasperada. Draco me olhava com preocupação, mas eu não podia contar para ele agora. Antes de chegar sequer na metade do salão, chamei por Rony. Ele ergueu a cabeça, com o cenho franzido e se separou da família, vindo até mim. No instante em que nos encontramos, a voz retornou, parecendo triunfante.

“Harry Potter está morto. Foi abatido em plena fuga, tentando se salvar enquanto vocês ofereciam as vidas por ele. A batalha está ganha. Trazemos aqui o seu cadáver como prova de que o seu herói deixou de existir.”

Eu e Rony arregalamos os olhos, boquiamertos. Meu coração começou a bater com força em meu peito, como se quisesse fugir. Todos no salão ficaram alarmados e, aqueles que ainda podiam andar, correram para o lado de fora, se empurrando e resmungando alto. As pessoas me davam cotoveladas, mas eu não percebia. Balancei a cabeça e perguntei em voz alta, seguindo o fluxo de gente:

— Como ele pode ser tão estúpido?!

Chegamos até o pátio. O sol já nascia, sua luz refletindo no lago negro e se contrapondo com a horda de pessoas vestidas de negro que se aproximava. Tive que lutar para chegar na frente, empurrando quem quer que estivesse no meu caminho. Rony vinha logo atrás, seu rosto pálido como um fantasma.

A professora McGonagall foi a primeira a enxergar o corpo. Hagrid o trazia, ladeado de comensais da morte, chorando como um grande bebê. Tapei a boca com ambas as mãos, perplexa demais para emitir qualquer som. O grupo de comensais parou no meio do pátio e mesmo obrigando Hagrid a se ajoelhar, algumas pessoas ainda tinham que levantar na ponta dos pés para ver melhor, mas para mim não havia duvidas. O corpo realmente era de Harry.

— É o Potter? – alguém sussurrou.

— Não!

— Harry! Não!

— Não pode ser!

Os comensais riram, desdenhando de nosso desespero. Apertei o braço de Rony com força, pois não tinha nenhuma palavra para aquela cena. Não era real, não podia ser real.

— SILENCIO! – Voldemort ordenou e todas as lamurias cessaram no mesmo instante. Senti a língua enrolar até o céu da boca, impedindo-me de falar. – Não há mais ninguém que possa salva-los! Juntem-se a mim, ou sofrerão!

Ninguém atreveu a se mover. Voldemort analisava a cena com um sorriso sádico no rosto, como se apreciasse a ideia de que não nos submeteríamos a ele.

— Vamos, não se acanhem. Quem será o primeiro?

Houve uma ligeira perturbação no grupo de comensais. Dois deles pareciam tentar chegar a frente, empurrando os outros. Reconheci Lucio e Narcisa Malfoy apesar da aparência acabada de ambos.

— Draco. – Lucio chamou com a voz levemente alterada. – Draco, venha cá.

Olhei na direção em que Lucio chamava. Draco encarava o pai com ar de profundo desprezo. Cruzou os braços ao redor do peito, desafiador. Mas eu pude ver sua confiança fraquejar quando a mãe estendeu a mão e o chamou também, com mais veemência.

Não pude ficar parada. Eu já o havia perdido vezes demais e mesmo que ele escolhesse ir com os pais, dessa vez eu saberia que tinha lutado para tê-lo comigo. Soltei o ombro de Rony e me aproximei vacilante, estendendo-lhe a mão da mesma forma que a mãe fazia.

Draco encarou os pais por apenas mais um minuto antes de segurar a minha mão com força. O restante dos comensais da morte fizeram chacota, rindo e vaiando, mas ele se manteve firme, puxando para mais perto e me abraçando. Lucio franziu o cenho, confuso, e Narcisa deixou a mão pender ao lado de seu corpo, parecendo extremamente furiosa.

— Ótimo. – até mesmo Voldemort parecia desconcertado. – Não precisamos de gente que anda com ralé em nossas fileiras. Mais alguém?

Dessa vez a espera não durou nem um segundo. Neville saiu da multidão, mancando. Os comensais riram ainda mais.

— Devo dizer que esperava mais. – O Lorde das Trevas gargalhou, mas fez uma imitação de reverencia a Neville. – E quem é você, meu jovem?

— É Neville Longbottom, Milorde. – Reconheci a voz esganiçada de Belatriz. – O filho dos aurores!

— Ah, sim, lembro. Mas você tem sangue puro, não tem, meu bravo rapaz?

— E se tiver? – respondeu Neville em voz alta.

— Você demonstra vivacidade e coragem, e descende de linhagem nobre... Você dará um valioso Comensal da Morte. Precisamos de gente como você, Neville Longbottom.

— Me juntarei a você quando o inferno congelar. Armada de Dumbledore! – ele gritou e todos na multidão urraram em resposta, concordando.

Voldemort não pestanejou. Girava a varinha lentamente nos dedos, sem mais sorrir.

— Muito bem – disse. – Se essa é a sua escolha, Longbottom, revertemos ao plano original. A culpa será toda sua.

Voldemort acenou displicentemente com a varinha. Nada aconteceu por um instante, mas algumas pessoas exclamando e apontando fizeram-me ver o propósito do feitiço: algo voava em nossa direção. Caiu molemente aos pés de Neville e eu reconheci o chapéu seletor, velho e mofado.

— Não haverá mais Seleção na Escola de Hogwarts – disse Voldemort. – Não haverá mais Casas. O emblema, escudo e cores do meu nobre antepassado, Salazar Slytherin, será suficiente para todos, não é mesmo, Neville Longbottom?

Ele apontou a varinha para Neville, que pareceu se transformar em uma estatua rígida e calada. Depois, fez com que o chapéu entrasse em sua cabeça, forçando até que metade dela não fosse mais visível. Os comensais da morte riam, deleitando-se com a cena. Não fui a única que teve a ideia de mover a varinha, mas antes de realizarmos qualquer coisa, os comensais já tinham as deles prontas, apontadas diretamente para cada combatente de Hogwarts. Eles eram muitos e nós não.

— Neville agora vai demonstrar o que acontece com quem é suficientemente tolo para continuar a se opor a mim – anunciou Voldemort e, com um aceno da varinha, fez o Chapéu Seletor pegar fogo.

Gritei, apavorada. E então muita coisa aconteceu ao mesmo tempo. O gigante do lado inimigo começou a brigar com Groppe, o meio irmão de Hagrid, amassando uma boa parte dos comensais no processo. Da floresta, saiu um bando de centauros armados com arco e flecha, disparando na direção dos inimigos, que fugiam ou caiam. Mas o que me deixou realmente chocada foi Neville, que conseguiu tirar o chapéu em chamas durante o momento de distração de Voldemort e de dentro dele puxou uma espada cravejada de rubis. Num movimento rápido, ele cortou a cabeça da cobra empoleirada no ombro do mestre.

— NÃO! – O grito de Voldemort pode ser ouvido até mesmo por cima da balburdia dos gigantes.

O caos foi instantâneo. Nossos amigos, centauros e comensais começaram a se empurrar para dentro do castelo, me impedindo de ver o que acontecia. Draco não me soltou nem um minuto enquanto nos dirigíamos apressados para o salão principal. Era uma batalha terrível. Pessoas caiam mortas o tempo todo e outras eram atingidas por coisas piores.

Praticamente no meio do salão, notei Gina e Luna duelando com Belatriz Lestrange. O sangue ferveu em minha cabeça e eu soltei Draco, apesar de seus protestos, já puxando a varinha e atacando a bruxa. Ela deu uma risada sarcástica. Era uma excelente duelista e não tinha dificuldade nenhuma em lutar contra nós três.

— Você vai pagar por ter arruinado a vida do meu sobrinho, sua sangue ruim! – Belatriz rosnou e lançou uma maldição da morte da qual eu consegui desviar bem rápido, mas passou apenas a três centímetros de Gina.

— A MINHA FILHA NÃO, SUA VADIA!

A Sra. Weasley se pos entre nós, batalhando tão bem quanto a adversária. Belatriz provocava e ria, mas estava se tornando lenta demais. A adrenalina permitia que a Sra. Weasley tivesse uma mobilidade maior. O erro da outra foi parar para gozar dela. Nesse meio instante a mãe de Gina deu um tiro certeiro, atingindo o feitiço bem no coração da bruxa. Sua risada maléfica congelou em seu rosto e ela caiu para trás, sendo agora apenas um peso morto.

— Hermione! – Draco finalmente havia me encontrado, me puxando para perto enquanto lançava feitiços por cima do ombro. – Você está louca!?

— Se eu pudesse, a teria matado eu mesma! – rosnei, também duelando.

Ele não discutiu, mas pude ver um brilho divertido em seus olhos. Batalhávamos em sincronia, desviando os feitiços e acertando o maior numero de comensais que podíamos. Eu estava prestes a desarmar um deles quando algo me empurrou para trás com força. Quase cai em Draco, mas ele conseguiu nos equilibrar a tempo.

— Harry!

— HARRY! Ele está vivo!

Olhei para o centro do salão. Era verdade. Harry estava ali, sabe-se lá como, com a varinha que outrora pertencera a Draco em punho. Voldemort o encarava com uma fúria inimaginável.

— Dessa vez ninguém mais vai me ajudar. – Harry declarou.


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Notas finais do capítulo

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