Entre o Espinho e a Rosa escrita por Tsumikisan


Capítulo 1
Traição


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^.^



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Hermione

“Ah, ele não fez isso.”

Eu repetia mentalmente aquelas palavras, torcendo para que em algum momento elas se tornassem reais. As pessoas ao meu redor gritavam, festejavam e outras até mesmo choravam. Eu nunca iria entender essa fascinação que as pessoas tem com quadribol. Era apenas um jogo, ora essa! Mas agora eles haviam ido longe de mais. Enquanto todos na torcida estavam alegres pela vitoria, eu torcia meu lenço da Grifinória, pensando no que fazer. Não queria repetir o caso da firebolt, quando eu os denunciei para a professora McGonagall, mas talvez fosse preciso... Afinal, o que Harry fez era ilegal!

Todos desceram para o campo, conversando animadamente. Eu no entanto segui para o vestiário, exasperada. Harry e Rony já estavam de saída, sem o uniforme de quadribol. Evitei olhar para Rony e concentrei minha fúria em Harry, que ria para mim debilmente.

— Quero dar uma palavrinha com você, Harry. – disse mecanicamente, tomando fôlego. – Você não devia ter feito isso. Você ouviu o que o professor Slughorn disse, é ilegal.

— Que é que você vai fazer, nos denunciar? – Rony perguntou com grosseria. O ignorei deliberadamente, apesar de essa ter sido minha ideia a principio...

— Do que é que vocês estão falando? – Harry virou-se para guardar as vestes de quadribol no armário.

— Você sabe do que eu estou falando! – minha voz assumiu pelo menos três tons mais altos quando eu falei, tamanha minha raiva. – Você colocou Felix Felicis no suco de Rony hoje de manha!

— Não, não fiz isso. – Harry respondeu, virando-se para nos encarar.

— Fez, sim, Harry, e foi por isso que tudo deu certo, jogadores da Sonserina faltaram e Rony defendeu todas as bolas!

— Não pus nada no suco! – Harry ria como uma criança que acabara de ganhar o presente de natal. Ele tirou do bolso do paletó um frasquinho, o mesmo que eu havia visto em sua mão naquela manhã. Estava cheio com a poção dourada e a rolha continuava lacrada com cera. – Eu queria que Rony pensasse que eu tinha posto, por isso fingi quando percebi que você estava olhando. – E virou-se exclusivamente para Rony, enquanto eu o encarava aturdida. – Você defendeu tudo por que se sentiu sortudo. Fez tudo sozinho.

— Não havia nada no meu suco de abóbora? – Rony perguntou, pasmo. – Mas o tempo está bom... E Vaisey não pôde jogar... Sinceramente você não me deu a poção da sorte?

Desviei o olhar. Oh não... Rony realmente se dera bem e defendera tudo sozinho. E eu o julguei, achando que era culpa da sorte. Ele próprio estava boquiaberto. Respirei fundo para dizer o quanto estava arrependida por ter pensado que eles fariam algo assim, mas Rony virou-se para mim e começou a dizer com algo que deveria ser a imitação da minha voz:

“Você pos Felix Felicis no suco do Rony hoje de manhã, foi por isso que ele defendeu tudo!” Está vendo! Consigo pegar bolas sem ajuda, Hermione!

— Eu nunca disse que você não conseguia... Rony, você também achou que tinha bebido! – comentei, de olhos arregalados, mas Rony já havia me empurrado e saia pela porta com a vassoura no ombro.

Lágrimas vieram aos meus olhos. Eu não pretendia dizer aquilo, realmente. Eu estava certa de que... Ah, droga! Por que garotos eram tão complicados quando se tratava de seu precioso quadribol? Harry parecia confuso com aquele desfecho, mas me perguntou meio sem graça:

— Ah... Vamos... Vamos andando para a festa, então?

— Vai você! – resmunguei, tentando me conter. – Estou farta do Rony, no momento, não sei o que ele pensa que eu fiz.

Sai bruscamente do vestiário e segui o caminho para o Salão Comunal. Francamente... Há semanas ele estava estranho comigo, todo grosso e distante! Certo, eu havia merecido o que aconteceu no vestiário, não devia ter duvidado da palavra de Harry, mas eu já havia os visto irem aos extremos por causa desse jogo idiota, como poderia adivinhar?!

Realmente havia uma festa no Salão Comunal. Pelo visto Fred e Jorge tinham contado para alguém alem de mim como chegar a cozinha, por que todos os doces estavam ali, mesmo que os gêmeos não estivessem. Não vi Rony em lugar algum, mas também não queria acha-lo. Passei pela multidão e me sentei ao lado de Gina, que brincava com Arnaldo, o mini-pufe.

— Por que seu irmão esta sendo um trasgo ultimamente? – perguntei, com as sobrancelhas franzidas.

— Hm? Ah, ele esta? – Gina revirou os olhos. – Bem, desculpe, acho que é culpa minha. Ele apareceu um dia desses quando eu e Dino estávamos nos beijando e só faltou nos azarar. Então eu disse que ele era um bebêzao, que Harry já tinha dado uns amassos com a Cho – a ruiva fez uma careta nessa parte. – e você no Vítor Krum.

— Ele esta bravo por isso?! Mas isso foi...

— No quarto ano, é, eu sei. – Ela deu de ombros, indicando que não fazia a menor ideia do que se passava na cabeça do irmão. – Ah, olha lá, que babaquice.

Me virei para onde Gina apontava. Aparentemente, Lilá Brown conseguiu abrir um espaço na rodinha que dava os parabéns para Rony e agora estava enroscada com ele, fazendo algo que em mundo nenhum poderia ser definido como um beijo. Senti um frio na barriga que não tinha nada a ver com fome e foi como se alguém tivesse atirado diretamente no meu coração, de tanto que doía. Gina, que fazia uma expressão de nojo para a cena, notou minha reação e colocou a mão em meu ombro.

— Mione...

— É... Eu... É melhor eu... – não completei a frase, apenas me levantei e passei por todas aquelas pessoas, que gritavam incentivos para o casal no meio da roda.

Até o corredor parecia abafado. Eu não conseguia respirar direito, me sentia uma idiota. O choque havia sido tão grande que as lagrimas se recusavam a cair. Segui por um corredor aparentemente vazio, a cena daquele beijo passando milhares de vezes em minha mente. Era como se eu tivesse sido traída. Mesmo que no fundo, ele nunca houvesse sido nada meu. Aquilo era vingança? Por que causa do que eu disse? Patético.

— O que esta fazendo aqui, Granger? – Ouvi uma voz fria e arrastada atrás de mim. — Está bem longe do andar da Grifinória.

Draco Malfoy me olhava com desprezo. Não o encarei, apenas baixei a cabeça e a balancei. Abri a boca para responder, mas engasguei com minha própria saliva. Parecia que as palavras haviam se perdido em algum lugar dentro de mim, junto com meu coração.

— Você está bem, Granger?

Não sei se foi o modo como ele perguntou, por um segundo parecendo genuinamente preocupado, ou se foi por dentre todas as pessoas do mundo, logo ele perguntar, mas eu cai no choro. As lagrimas vinham em uma velocidade inacreditável, enquanto eu balbuciava coisas incompreensíveis. Senti ele se aproximando de mim, mas não tive forças para manda-lo ficar longe. Me surpreendi, contudo, quando Draco Malfoy me deu palmadinhas no ombro.

— O que está fazendo? – choraminguei, reprimindo um soluço.

— Ah... Eu... Não gosto de ver garotas chorarem. – poderia jurar que vi ele corar um pouco.

— Nem mesmo uma sangue ruim como eu? – dei uma risada irônica.

— Vamos, Granger, não torne as coisas mais difíceis. – ele resmungou, parecendo absolutamente cansado. Com um aceno da varinha, fez aparecer um lencinho branco. – Tome. Agora suma da minha frente, sim?

Concordei, pegando o lenço e voltando na direção em que havia chegado. Tentei varias portas, até achar uma aberta, próxima demais da torre da Grifinória para o meu gosto. Sequei as lagrimas, respirando fundo. Comecei a invocar os passarinhos, como o professor Flitwick ensinou na ultima aula, para que se alguém entrasse não desconfiasse o real motivo para eu estar ali, pensativa. Pelas barbas de Merlin, o que havia acabado de acontecer? Draco Malfoy foi gentil comigo?

Uma fresta da porta abriu devagarzinho. Imaginei que fosse ele de novo, já arrependido de ter sido legal comigo. Por sorte, eu já não chorava mais e estava bastante consciente dos meus atos. Abri a boca para mandar o Malfoy cair fora, mas era Harry quem estava na porta, com um olhar de pena que me deu uma certa raiva.

— Oh, olá Harry. – disse, ironicamente. – Eu estava praticando.

— Estou vendo... São... Realmente bons.

Sorri debilmente. Harry parecia perdido, coçando a cabeça. Minha voz estava muito fina quando comentei:

— Rony parece estar se divertindo na comemoração.

— Ah... está? – ele perguntou, sem me olhar nos olhos.

— Não finja que não viu. Ele não estava bem escondendo, estava...

A porta se escancarou novamente. Para o horror de Harry e minha total falta de sorte, Rony entrou, rindo e puxando Lilá pela mão. Meu rosto ficou bastante vermelho, mas eu não conseguia desviar o olhar.

— Opa! – disse Lilá, com várias risadinhas nauseantes. A porta tornou a fechar quando ela passou, deixando apenas eu, Harry e Rony.

Um silêncio horrível se instalou na sala. Eu ainda encarava Rony, querendo que ele pegasse fogo apenas com a força da minha raiva e ele se recusava a me olhar. Passados alguns minutos de tensão, ele comentou com a voz um tanto constrangida:

— Oi Harry! Estava me perguntando aonde você teria ido!

Desci da escrivaninha. Então ele iria me ignorar é? Fingir que eu era parte da parede. Bom, pois lamento muito, mas eu não permitiria que ele me tratasse assim. Os passarinhos me seguiram, piando alegremente. Meu olhar para Rony era ameaçador.

— Você não devia deixar a Lilá esperando lá fora. – disse, baixinho. – Ela vai se perguntar aonde você terá ido.

Rony parecia aliviado de eu estar lhe dirigindo a palavra. Dei um sorrisinho para ele também. Ergui a varinha e ordenei que os passarinhos o atacassem com um simples feitiço. Pareciam flechas cruzando o ar e indo bicar qualquer parte do corpo visível dele. Um sentimento forte de vingança tomou conta de mim quando o vi se machucar.

— Me livra disso! – ele berrou, olhando-me com fúria.

Ao invés de ajudar, simplesmente sai da sala, batendo a porta ao passar.

******

Na verdade, eu sou apaixonada por Ronald Weasley desde os meus doze anos. Ele era engraçado e irônico na medida certa, apesar de ser bem atrapalhado e grosso na maioria das vezes. Mas seu jeito humilde e corajoso me conquistara. É claro que naquela época, ele não percebia nada. Como minha mãe dizia, garotos demoravam a ter esses sentimentos. Então eu fui paciente. Gina me entendia, é claro, sendo ela mesma vitima de uma vida amorosa tão medíocre quanto a minha quando se tratava de Harry. Mas parecia que Rony nunca ia sacar. O baile de inverno no quarto ano havia sido um fiasco total, tanto para fazer ciúmes nele quanto para me divertir. O tiro saiu pela culatra e ficamos sem nos falar por semanas. Ele ainda tiver a audácia de dizer que queria uma garota bonita para ir ao baile. Ora, ele nem é tão bonito assim para ficar exigindo! E depois, no quinto ano, ele também não tomou nenhuma atitude enquanto estávamos sozinhos no Largo Grimmauld.

Como seguir com a vida normalmente então, quando ele agarrou Lilá daquele jeito? Estava obvio que nenhuma vez havia pensado em mim em algo mais que uma amiga. Eu devia ter seguido o conselho da Gina, quando ela decidiu que estava cansada de esperar o Harry e começou a sair com outros caras. Mas eu persisti e olha no que deu. Ali estava eu, deitada no meu dormitório vazio, olhando para o teto e sentindo as lagrimas caindo. Apenas uma semana se passou, mas foi tão devagar que pareceram anos. Rony e Lilá se agarravam em todos os cantos de Hogwarts e eu resistia ao gostinho de dar uma detenção para eles, saindo de perto toda vez que ouvia um dos dois. Eu estava completamente apática. Harry parecia querer fazer com que nos falássemos de novo, mas era uma missão impossível.

E em alguns momentos solitários, eu não podia deixar de pensar na gentileza de Draco Malfoy. Aquilo foi completamente inesperado, para não dizer confuso. Desde quando ele tinha compaixão por alguém? Ainda mais comigo, que ele realmente odiava. Era estranho. Eu me sentia um tanto quanto em debito com ele. Por isso um dia, após a aula de poções, me afastei de Harry (Rony e Lilá estavam se aproximando, de braços dados) e aproveitei a deixa para ir atrás de Malfoy, que parecia não querer ser visto. O segui sorrateiramente até o sétimo andar onde, notei depois, nos encontramos naquele dia.

— Hmm... Malfoy?

Ele quase saltou para fora das calças, sacando a varinha. Sorri, mas ele não retribuiu, apenas ficou ali me encarando.

— Céus Granger, você não devia ficar bisbilhotando por ai, não é educado. – ele rosnou quando eu não disse nada, ainda com a varinha em punho.

— Não é educado. – repeti, com deboche. – Escute, eu queria... Te agradecer.

Malfoy olhou ao redor, se certificando que não havia ninguém para nos ouvir por perto. Seu olhar era muito desconfiado, como se quisesse penetrar em mim e descobrir tudo que eu escondia. Continuei sorrindo inocentemente, torcendo para conseguir outro contato amigável como da ultima vez.

— Não fique espalhando coisas sobre mim por ai, ouviu? - resmungou.

— O que, não posso dizer que Draco Malfoy na verdade é um cavalheiro?

Ele fechou os olhos, corando levemente. Quando os abriu novamente, notei o quanto ele estava cansado.

— Em outros tempos eu te lançaria uma azaração e você iria se arrepender. – ele suspirou.

— Em outros tempos você já teria me chamado de sangue ruim pelo menos sete vezes durante nossa conversa. – comentei, cruzando os braços. – O que esta acontecendo com você?

— Não é da sua conta, é? – sorriu, debochado. – Que tal sair do meu caminho?

— Tudo bem. – dei de ombros. – Mas eu vou descobrir o que esta acontecendo.

Ele deu uma risadinha. Quando me afastei, pude jurar que ouvi ele comentando “aposto que vai” parecendo completamente sincero.


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Notas finais do capítulo

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