O pra sempre, começa agora. escrita por La Belle DJour


Capítulo 1
Capítulo 1




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Prefácio

Nós estamos em constante mudança. Todos os dias, ao acordamos, nos deparamos com múltiplas escolhas que acarretarão em diversas outras ao longo do dia. Cada decisão influenciará outras decisões, cujas conseqüências ecoarão pela eternidade. É o chamado “Efeito borboleta”.

Dizem que cada conseqüência desse grande “efeito” é imperceptível. Você nunca sabe o minuto exato em que está diante de uma mudança, dessas que muda o rumo de toda a sua vida.

Bom, isso não aconteceu comigo. Eu sei o dia e a hora exata em que a minha vida mudou para sempre...

Capítulo um

“A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, Precisa apagar o caso escrito.”

_ Por favor... Por favor, deixe-me falar com você. Sandra! Você precisa me ouvir... Meu amor... Eu te imploro...

Alex nunca implorava...

Ele era do tipo que sempre tinha razão. Sua confiança, por muitas vezes, colocava em duvida minhas próprias certezas. Um líder nato, não aceitava perder, principalmente em nossas discussões. Era eu quem sempre implorava pelo seu perdão, para esquecermos tudo e começarmos do zero. Eu, sempre eu.

Talvez por esse motivo não consegui pregar o olho quando voltei pro quarto depois da nossa briga. Ouvi-lo implorar por algo pela primeira vez me desestabilizou. Por pouco não cedi e me joguei em seus braços dizendo que o amava que o perdoava. Mas eu precisava esperar, precisava senti que estava no controle de uma situação ao menos uma vez nesses dois anos de relacionamento.

Passei a madrugada toda pensando se tinha feito alguma besteira. Mas ele tinha me magoado e me humilhado na frente dos amigos. Mesmo que não tivesse a intenção de fazê-lo, ainda assim o fez. E eu estava no meu direito de ter algumas horas de silencio.

_ Sandra, está na hora...

_ O que? – levanto as vistas pra encarar minha mãe olhando pra mim por cima de uma pilha de roupas.

_ Como assim o que, Sandra? Hoje você não tem trabalho minha filha? Seu despertador tava gritando para o prédio todo ouvir enquanto sua cabeça tava ai no mundo da lua.

_ Não é um “trabalho” mãe. É apenas um estágio. – Respondi, buscando em mim coragem para sentar na cama.

_ Um estágio remunerado, portanto um trabalho. – Separou algumas roupas minhas da pilha que segurava e guardou na arara. Antes de sair completou. _ Sandra, seja mais responsável com seus compromissos. Você sabe o quando foi difícil consegui essa oportunidade, seu pai e eu estamos...

_ “preocupados com o seu futuro” _ Completei pulando da cama e andando em sua direção._ Já chega dona Beatriz, volta pro seu escritório que eu tenho um monte de curativos pra fazer e estou atrasada... – Fui empurrando ela até a saída.

_ E o Alex? – Perguntou de repente girando o corpo.

_O que tem o Alex? – Ganhei tempo tentando não da muita bandeira.

_ Vocês brigaram de novo, minha filha? Parece que esse noivado só fez aumentar as brigas de vocês...

_Mãe, mãe escuta... Nós não brigamos ok?! Agora volta lá pro que você tava fazendo porque eu preciso me arrumar... - Sorri na tentativa de mostrar que estava tudo bem.

Ela devolveu o sorriso e desistiu de dizer qualquer coisa que estava passando em sua cabeça. Fechei a porta atrás dela e corri até o celular.

Na noite passada o tinha desligado para evitar qualquer insistência do Alex em falar comigo. Como eu tinha imaginado, assim que a luz do visor acendeu várias notificações começaram a piscar na tela, quase travando o celular. Esperei alguns minutos e abrir cada uma delas. Havia 28 chamadas não atendidas: dezoito do Alex, três do Pedro, cinco da minha sogra – “Sério que ele apelou pra mãe?!”- e duas da minha amiga e colega de trabalho, Luciana.

Confesso que por um momento fiquei preocupada com o que poderia ter acontecido, imagens de acidentes, assalto, suicídio, seqüestro, passaram como um filme diante dos meus olhos. Mas logo a preocupação deu lugar à sensatez, meu noivo chegava a ser chato de tão responsável que era nunca se colocaria a risco por pouca coisa.

Afastei qualquer pensamento pessimista e corri pro banheiro. Hoje não teria tempo pra pensar na vida e na inevitável DR que teria mais tarde, então fiquei pronta em cinco minutos. Saí do quarto decidida a ter um bom dia hoje, sem nenhuma lembrança da noite anterior.

_ Bom dia mãe, pai, pestinhas! – gritei diante da grande mesa do café da manha, pegando um pedaço de bolo e dando um beijo no meu pai.

_ Sandra, vai sair outra vez sem café da manha? – Seu Elísio.

_ Aqui. – Falei com a boca cheia e mostrando o pedaço de bolo que ainda restava na mão.

_ Eca! Vocês não deram educação pra sua filha, não?

_ Cala a boca, Cláudia. Até parece que ontem não peguei você bebendo água direto da garrafa. – Otavio veio em minha defesa.

_ Eu estava com sede e estava com pressa, seu dedo duro...

_Chega os dois!! – Beatriz

_Olha... – Engoli o resto do bolo. - Eu adoraria ficar e discutir educação com vocês, mas estou atrasada. Beijos!!

Sair antes que pudesse ouvir mais algum comentário ou minha mãe me empurrasse mais alguma coisa pra eu comer. Estava sem fome e sem tempo. Desci o elevador com uma sensação estranha no peito, tudo estava estranhamente muito calmo. Não que eu esperasse o Alex ás sete da manha na minha porta, me esperando para conversarmos. Será que não esperava? Talvez.

_ Bom dia Seu Gilson. – Cumprimentei o porteiro e agradeci mentalmente sua discrição sobre ontem à noite. Se fosse Dona Zuleica, sua esposa, certamente me encheria de perguntas sobre o escândalo do meu noivo e a forma de como entrei chorando no elevador.

Botei o pé pra fora e acenei para um taxi. Disse-lhe o endereço e pedi para ir o mais rápido possível. Suspirei, geralmente ficava empolgada para trabalhar. A sensação de ajudar o próximo, salvar uma vida, ser útil: amava tudo isso. Mas hoje estava diferente... É como se tudo estivesse calmo demais.

Paguei e agradeci ao taxista que por pouco não me deixou dentro do hospital. Falei com as garotas da recepção e antes de chegar à sala das enfermeiras, ouço meu nome.

_ Sandra!

Não foi o tom alegre ou de surpresa que a Luciana costumava me chamar. Havia aflição, medo e tristeza na voz dela. Assustei-me ainda mais com sua aparência: Olheiras, cabelos desalinhados e... Sangue, seu jaleco estava todo respingado de sangue. Pensei em perguntar o que tinha acontecido, mas uma voz dentro de mim gritava para eu adiar aquele momento o máximo possível. Algo me dizia que, seja lá o que tenha acontecido, eu não ia gostar de saber. A certeza veio quando sorri e ela não sorriu de volta.

_ Por Deus, Lúh, o que aconteceu?

_ Oh, amiga... – Ela segurou a minha mão como se quisesse me dá forças. Mas antes que dissesse qualquer outra palavra, me abraçou e desatou a chorar. Nessa hora lembrei que havia duas chamadas não atendidas dela as quatro da manha e meu coração acelerou. Será que algum familiar ou amigo tinha sofrido algum acidente e ela precisou do meu apoio?

_ Fala, Luciana! Ou prefere falar comigo em uma sessão espírita? Porque to pra morrer de aflição aqui.

_ Eu...Eu tentei, a-aconteceu um acidente...E nós não conseguimos...Infelizmente... Tentamos de tudo...Eu sin-sinto muito...

_ Ãh-hã... Amiga, escuta – Segurei o rosto dela com as duas mãos de modo que ela olhasse pra mim. - Infelizmente isso faz parte da nossa profissão, nós não vamos consegui salvar todo mundo...

_Você não entende...

_ Lúh, a vida de ninguém nos pertence... Quando é a hora de ir, não podemos fazer nad..

_ Alex! – Ela conseguiu dizer.

Olhei pra trás esperando vê-lo ali, meu coração já cheio de saudades. Nós brigávamos muito, mas as pazes não demoravam mais que algumas horas. Olhei pros lados, procurando-o e depois pra minha amiga que tinha os olhos vermelhos cheios de pena.

Dois três... Não lembro quantos segundos exatos demorei pra constatar que aquela pena em seu olhar era direcionada a mim. Aquelas lágrimas eram por mim. Soltei as mãos do seu rosto lentamente sem querer acreditar na hipótese do...Não, não...

_ Que brincadeira é essa, Luciana? – Não encontrei minha voz, mas ela entendeu.

_ Sandra...Eu tentei te ligar...Eu tentei..

_ Eu preciso sair daqui, preciso ligar pro Alex e.. – Ela agarrou meu braço com força.

_ Sandra, o Alex não vai te atender. Amiga, ele se foi... – Eu não queria ouvi-la, não queria ficar ali.

_NÃO, NÃO! Para! Porque você esta fazendo isso? - senti minhas pernas fraquejarem e se não fosse um par de mãos me segurando, teria caído no chão._ Por favor...Por fav... Você não pode...

Em um minutos a recepção do hospital estava cheio de olhares, alguns curiosos, outros cheios de compaixão. Meu corpo estava ali, estático. Minha mente tinha voltado à noite anterior, mas especificamente na hora em que eu entro prédio sem olhar pra trás enquanto Alex me implora pra falar com ele.

Levei a mão ao peito, apertando o tecido da blusa com força na tentativa de arrancar aquela agonia.

_ Alex... – Minha voz era um sussurro. – Alex... Alex...

_ Alguém, por favor, socorre aqui. Ela vai desmaiar

_ Chamem o doutor Eduardo.

_Sandra? Sandra fica comigo, Sandra... Tragam uma maca, rápido...

“Alex...”


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