Quietly bleeding escrita por Clarinha


Capítulo 3
Sophia


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Sylwia {narra}

Dia seguinte, segunda-feira. Acordei tarde para o trabalho então decidi nem ir. Fazia tempo que não acordava cedo para ir à algum lugar, então estava desacostumada.

Falando em emprego, consegui um numa livraria à duas quadras de minha casa. É simples e não tem que fazer muita coisa, mas rende um bom dinheirinho. Peguei meu celular que estava jogado ao chão e em sua tela de início havia uma mensagem.

"Syl, hoje não estarei online. Meus pais me levarão para vermos bolsas de estudo em faculdades próximas daqui. Quero fazer educação física!

Abraços,

Aleks."

Respondi com um "está bom" e fui direto ao banheiro. Não podia faltar no meu segundo dia de trabalho, então eu tomei um banho. Quando saí do cômodo, reparei de onde havia levantado quando acordei. Do chão, sim, chão.

Provavelmente adormeci logo após ter tomado aquele remédio que acaba com a insônia. Acho que Aleksander nem sequer viu a minha mensagem, ou apenas a ignorou. Não sei. Ainda bem que dormi, ao invés de fazer mais besteira em minha vida.

Assim que troquei de roupa, arrumei meu cabelo e saí de meu quarto. Avistei meu pai deitado no sofá e minha prima Sophia usando seu notebook. O apoiava na mesa de centro enquanto usava seus fones de ouvido.

– Sophia?

– Ah, oi Sylwia! - Disse, retirando os fones. - Indo trabalhar?

– Sim, infelizmente.

– Boa sorte! - Sorriu. - Melhor ir logo, está atrasada!

Sorri de volta e me retirei do recinto. Observei o céu acinzentado e pensei, "ótimo Sylwia, vai pegar chuva no meio do caminho". Perto do local onde tinha de ir, a chuva começou a cair e então apertei os passos. Não demorou muito até que eu avistasse minha chefia na porta do estabelecimento.

– Demorou, Sylwia!

– Perdão, eu...

– Esqueça! Ninguém aqui chega na hora certa mesmo. - Sorriu. - Agora vá ao fundo e ajude Antony à arrumar os livros.

Fui em direção à um menino, provavelmente chamado Antony, que pegava os livros de uma caixa freneticamente e os colocava nas prateleiras. Olhei-o por alguns segundos e comecei a fazer o mesmo.

Passamos a tarde inteira fazendo isso, e então quando estávamos terminando, o tal resolveu trocar uma palavra comigo.

– Oi. - Murmurou.

– Oi...

– Você é Sylwia, certo?

– Certo... Antony?

– Isso. - Riu - Sou filho da dona.

– Ah sim.

– Bem... Obrigada pela ajuda!

– Imagina.

Antony então sorriu e me deu as costas. A noite chegara e eu estava saindo do lugar, então o mesmo para em minha frente; me dá um papel e simplesmente sai. Quando vejo que já está longe, olho para o pedaço de folha rasgado.

"Deveríamos sair a qualquer dia. Ligue pra mim, nº

XOXO"

Comecei a dar um riso meio frenético enquanto guardava aquilo em meu bolso. Chegando em casa, queria contar o que havia acontecido pra minha prima. Digamos que, não éramos tão próximas, mas quando acontecia coisas que normalmente não aconteceriam, nos tornávamos melhores amigas.

– Prima? Pai? - Gritei, enquanto trancava a porta.

Não obtive respostas. Papai provavelmente havia saído com Janel, de novo. Não gostava da ideia de tê-la, um dia, como minha madrasta. Não sei se isso passava na cabeça dos dois, mas não gostava.

Já Sophia, bem, tenho certeza de que ela iria dormir aqui hoje. Gritei mais vezes e nada dela responder. Olhei em todos os cômodos, e então, quando passei na frente do banheiro, escutei-a chorando.

– Sophia? O que houve?

Virei a maçaneta mas a porta estava trancada. O desespero começou a tomar meu corpo. Eu me batia na madeira maciça que separava-me de minha prima.

– Sophia, abra pra mim!

Esperando que ela o fizesse, virei a maçaneta de novo. Nada! Provavelmente, trancar a porta para ninguém entrar era seu objetivo. Continuei me debatendo mas a porta não dava sinal de que abriria. Peguei um grampo que sempre usava pra abrir a porta do sótão quando ela travava, e então a porta deu um estralho e se mexeu.

– Abri!!

Minha empolgação se foi assim que vi o que havia acontecido naquele cômodo. Minha prima estava jogada ao lado do vaso sanitário, no chão frio de azulejos. Estava quase desmaiada, ao lado de vomito e de um frasco de remédios para dormir... Os meus remédios.

Lágrimas começaram a percorrer minhas bochechas, e então corri pegar o telefone. Liguei à emergência, e até que não chegava, apoiei sua cabeça em meu colo. Vi seus olhos se fechando lentamente, mas não quis acreditar que ela havia ido. Apenas pensava que tinha tirado um cochilo. Eu não fazia ideia de quantas... Quantas pílulas ela havia tomado.

Aleks {narra}

Era segunda-feira, 05:00am. Estava nublado; pude ver pela janela. Eu e meus pais íamos procurar bolsas de estudo em faculdades de educação física. A mais próxima ficava na cidade vizinha, então, sabia que iria ficar fora o dia inteiro. No caminho, lembrei de avisar à Sylwya. Quando desbloqueei a tela do celular, um toque soou, avisando-me que eu tinha recebido uma mensagem. "Sylwia... Não faça nada", pensei.

Escrevi uma resposta a ela, mas não pode ser enviada pois não tinha sinal. "Merda!". Tentei contatá-la várias vezes, inclusive avisando que estaria fora. Por incrível ironia, esta foi.

Durante todo o percurso, ficava lhe enviando sms e mensagens de voz. Algumas foram... Bem, pelo menos as que falavam que eu não estava lá, foram. Quando me dei conta, já havíamos chego. Era um lugar grande e bonito, cheio de árvores e bem receptivo.

– Olá. - Um senhor idoso disse - Vocês devem ser a família Labormiski.

– Isso. - Mamãe concordou com a cabeça.

O homem que nos recebeu, mostrou todo o local. Era calmo e divertido. Diferente do que eu pensava ser uma faculdade. Papai olhava para os alunos que frequentavam o lugar, principalmente para as meninas.

– Acho que vai se dar bem aqui, filho. - Sorriu, com um ar malicioso.

Abaixei a cabeça, e por um momento, a vontade de explodir tomou conta de mim. Levantei o rosto, e ao olhá-lo, cerrei os olhos. Nada respondi.

Continuamos pelo tour naquele lugar grande. Foi então que olhamos ao céu e vimos que uma tempestade viria pela frente. Já não bastava termos pego chuva quando estávamos no caminho, agora também?!

Agradecemos o homem pela sua bondade e entramos no carro. Durante o caminho, não trocamos nenhuma sequer palavra. Tudo estava quieto, então minha mãe colocou um de seus cd's preferidos. Chegando em casa, as gotas começaram a cair. "Bem a tempo!".

Já era noite e eu ainda não havia falado com Sylwia. Olhei pela janela enquanto ligava a ela, e pude ver os relâmpagos claramente lá em cima. Ela não atendia. Apenas dava caixa postal, então fiquei preocupado. Não demorou muito até que uma mensagem chegasse.

"Aleks, não pude atender. Estou no hospital San Handes...

Abraços,

Sylwia."

Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça; "estou no hospital". O que será que teria levado Sylwia até lá? Será que ela fez o que imagino? De novo?!

Desesperado com o que poderia ter acontecido, peguei o carro de meu pai e saí correndo pelas ruas. Obviamente ele deve ter dado por falta, mas como sempre, não daria a mínima do 'porquê'.

Chegando no lugar, avistei ela sentada num banco com estofamento vinho. Ela chorava inconsolavelmente.

– Syl, o que aconteceu?

– Minha prima, Aleks. Ela... Ela está mal.

Por sua pele, pude deduzir que as coisas estavam bem ruins. Era um tom bem pálido, que por mais que fosse muito branca, nunca havia visto em seu rosto.

– E agora? - Perguntou.

– Calma, está tudo bem. - Abracei-a, confortando-a em meus braços.

– Estou com medo... Medo de perdê-la também.

Obviamente, aquele "também" se referia à Dominik. Meus olhos se encheram de lágrimas e então a apertei mais forte. O que nos interrompeu foi ele, o que mais temíamos aparecer. Não era um medo "medo", e sim um medo de sabermos o que ele nos diria.

– Parente da paciente Sophia?

Syl me olhou com uma expressão de medo. Acho que estava fraca de mais, então me coloquei em seu lugar para ouvir o que ele diria.

– Então, eu sinto em lhe dizer mas, na situação em que Sophia foi encontrada; jogada ao chão quase desmaiada...

O médico continuou falando, mas meus ouvidos fizeram questão de se taparem. Só ouvia zumbidos. Sophia foi encontrada jogada? Estava desmaiando?

– ... Ela tomou muitos remédios, o que fez seu corpo parar...

Remédios? Então foi de propósito? Será... Suicídio?

–... Sinto muito!

Olhei para o senhor de barba branca que me encarava. Fiz um "sim" com a cabeça, mostrando-lhe minha gratidão. Quando me virei, Sylwia estava no chão, olhando de volta enquanto chorava.

– E então...?

– Sylwia... Venha cá. - Respondi, a puxando para meus ombros. Eu sabia o que viria em seguida. Ela choraria em meu suéter até uma parte ficar ensopada. Seus olhos vermelhos só iriam parar quando estivessem cansados de demonstrar aquela tristeza que a apunhalava pelas costas. Eu estava com ela agora, a partir dessa noite, eu cuidaria dela do jeito que nunca fiz antes.

– Não! - Ela gritava. - De novo!

Ela me olhava daquela forma. Aquele simples olhar desesperado que dizia muita coisa. Era o mesmo olhar... O mesmo olhar que Dominik fez naquele vídeo, quando buscou um abraço de ajuda e conforto que o salvasse...

E ninguém deu.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Dramático de mais? Pode ser que não entendam a introdução de Sophia na fanfic, mas dará início a um sentimento puro entre Aleks e Sylwia. Uma coisa mais, "irmão".