Gomenasai escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Capítulo Único




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O tilintar de metal ecoava pelo cômodo. O som repetitivo originava-se da algema que envolvia apenas um dos pulsos de Hibari, e era causado pelo incessante movimento realizado pela sua mão esquerda. Ele trincou os dentes ao alcançar o clímax, não querendo denunciar para o seu companheiro de cama o prazer que tomava conta do seu ser no momento.

Hibari sentiu o corpo contra o seu estremecer de satisfação instantes depois, e permitiu-se fechar os olhos para dormir quando o outro retirou-se de dentro de si, indicando o término do ato.

— Por acaso eu lhe dei permissão para descansar? — questionou Rokudo, sentando-se na beira da cama para vestir suas roupas. — Acorde. — essa simples palavra saiu carregada de autoridade, no entanto Hibari manteve-se deitado de bruços e de olhos fechados.

Diante da ausência de resposta, o ilusionista fez um rápido gesto — a corrente que pendia da algema solitária no pulso esquerdo de Hibari alongou-se até a mão de Rokudo, e este segurou o metal com firmeza. Um forte puxão foi dado, fazendo com que o moreno abandonasse sua posição na cama e tivesse de sentar-se, finalmente vendo o rosto de Mukuro.

Por fim, possuindo total atenção de Hibari, Rokudo soltou a corrente da algema, que retornou ao seu curto tamanho inicial. Apesar de suas ações indelicadas, as palavras ditas pelo ilusionista possuíam um toque de entusiasmo dissimulado:

— A noite não acabou ainda para nós. Vamos para o centro da cidade nos divertir, Kyoya. — deu um sorriso enquanto ajeitava suas longas madeixas azuis no seu usual penteado excêntrico.

— Por acaso eu lhe dei permissão para me chamar pelo meu primeiro nome? — Hibari simplesmente respondeu, com uma expressão indiferente no rosto. Mukuro seguiu pela cama até parar em frente ao moreno. Estendeu uma mão para afagar a maçã do rosto alheia:

— Você prefere que eu o chame de servo? — ergueu uma sobrancelha em desafio, porém logo sua fisionomia tornou-se falsamente animada: — Agora vamos, Kyoya-chan; a pista de dança não tem graça sem você. — Mukuro foi sarcástico.

Hibari passou a noite com uma expressão entediada no rosto, parado ao lado de Rokudo na pista de dança, enquanto este o forçava a se mexer apenas pelo prazer de vê-lo irritado — Hibari Kyoya nunca faria algo tão estúpido como dançar. O moreno reprimiu um suspiro de alívio ao saírem da boate e deixarem aquela multidão de herbívoros para trás.

Mukuro guiou Hibari até o beco mais próximo, e ele hesitou ao compreender a intenção do ilusionista:

— Não. — simplesmente disse, no entanto seu repúdio era quase tangível mesmo transmitido em uma única palavra.

— Será que eu devo recordá-lo qual é a sua posição? —Rokudo perguntou retoricamente, e no segundo seguinte a corrente da algema estava em suas mãos. — Servo, venha. — dessa vez ele não puxou a corrente, preferindo fazer Hibari vir até ele por conta própria. — Parece que eu terei de domesticá-lo mais.— observou, pensativo. — De joelhos. — ordenou, gesticulando com a cabeça para o espaço à sua frente.

— Não. — Hibari insistiu com mais convicção. — Em público não. — para ele, perder seu orgulho entre quatro paredes era mais preferível do que fazê-lo com aqueles malditos herbívoros à sua volta.

— Eu dito as regras. — declarou Mukuro. Seu rosto exibia a mais pura superioridade, o que dava nojo a Hibari. — Portanto, de joelhos, Kyoya. Agora. — a última palavra foi sussurrada de forma ameaçadora. O moreno estava considerando a hipótese de tornar a luta física, quando um assobio soou próximo deles:

— Estou interrompendo algo? — um loiro na entrada no beco, acompanhado de dois homens altos, perguntou em falsa inocência. Ele falou de forma autoritária, e o seu olhar para a algema de Hibari e a corrente nas mãos de Rokudo não passou despercebido por nenhum deles.

Mukuro deu um suspiro cansado que beirava impaciência, e enroscou seus dedos com mais força na corrente enquanto seguia para fora do beco, trazendo Hibari consigo.

— Na verdade, sim, você nos interrompeu. — Rokudo ignorou a retórica da pergunta do estranho. — Mas nós vamos continuar isso em casa, não é, Kyoya-chan? — ele nem sequer olhou para Hibari enquanto falava, preferindo sorrir sarcasticamente para o loiro desconhecido. Estendeu a mão em falsa educação: — Rokudo Mukuro.

— Dino. — retribuiu o cumprimento com um sorriso reservado. — Ele não fala? — referiu-se a Hibari, que estava mudo, atrás de Mukuro. Este sorriu com orgulho:

— Só fala com minha permissão. — começou a andar em direção à rua principal, sendo seguido por Hibari — Adeus. — Rokudo acenou sem realmente se preocupar com tais formalidades.

Dino abriu um sorriso, sentindo seu interesse despertar:

— Adeus... "Kyoya-chan".

* * *

As mãos de Mukuro fecharam-se feito garras de ferro nos cabelos de Hibari:

— Isso é para você aprender a me obedecer. — informou enquanto adentrava o moreno sem nenhum cuidado.

Kyoya gemeu de dor.

* * *

— Veja só isso. — Rokudo chamou a atenção de Hibari em meio aos corpos quentes que dominavam a pista de dança.

O moreno seguiu o olhar do ilusionista até um casal que estava mais focado em se beijar do que dançar propriamente. Mukuro estalou os dedos da mão direita, e quase no mesmo instante o homem que eles observavam largou a sua companheira, exibindo um olhar assustado e enojado enquanto retirava-se rapidamente do local. Rokudo se explicou apenas após ver, com orgulho, a garota abandonada ficar triste:

— Eu criei uma ilusão para que o homem pensasse que estava beijando a própria mãe. — deu um sorriso arteiro, feito criança. Hibari não esboçou reação alguma à façanha do outro, mantendo sua fisionomia desinteressada. — Vamos fazer um acordo, Kyoya-chan. — Mukuro decidiu repentinamente, envolvendo a cintura de Hibari com um de seus braços, puxando-o para próximo de si. — Se você dançar uma música inteira comigo, eu permitirei que você passe o resto da noite sentado no bar. — propôs ao pé do ouvido do moreno.

— Ficar entediado na pista de dança ou no bar não faz muita diferença para mim. — Kyoya não se deixou levar pela proposta, continuando estático sob o toque de Rokudo. Este nem pestanejou diante do contra-argumento:

— No bar você terá o prazer de ficar longe de mim. — ofereceu, numa voz que indicava falsa decepção.

— Você quer tanto dançar comigo a ponto de admitir que sua companhia é irritante? — Hibari ergueu as sobrancelhas, abandonando a sua postura indiferente. — Seu pervertido, isso é por apenas uma música. — cedeu, seguindo o bailar do corpo de Mukuro com certa ponderação.

— Pervertido, eu? — Rokudo fingiu surpresa, dramático como sempre. — Engraçado, porque não fui eu quem passou a noite inteira gemendo tão alto... — abriu um sorriso malicioso, porém logo o desfez para morder o lóbulo do moreno. Hibari trincou os dentes com a observação divertida do ilusionista, preferindo não lhe dar ouvidos.

Depois de passar uma canção inteira esforçando-se para ignorar a forma como Mukuro friccionava seus quadris contra os seus, Kyoya tratou de se retirar da pista de dança, rumando ao bar. Havia herbívoros ali também, mas em menor quantidade, algo que agradou o moreno profundamente. Ele sofria em meio a multidões, e Rokudo tinha o péssimo hábito de se divertir com isso.

— Você deseja algo? — o barman atrás do balcão perguntou de forma profissional ao ver Hibari aproximar-se e sentar numa das banquetas.

— Uma água. — pediu, voltando suas costas para a pista de dança. De fato ficar no bar era mais agradável; não havia ninguém se esfregando contra suas costas, algo pelo qual Kyoya era grato.

Ele já estava com o copo de água na mão quando notou uma movimentação no lugar vago ao seu lado. Uma pessoa sentou-se, porém Hibari nem se deu ao trabalho de olhá-la, preferindo encarar o relógio do bar enquanto esperava as horas passarem, torcendo internamente para que Rokudo se cansasse logo.

— Eu quero o que ele está bebendo. — disse o estranho para o barman, e então se virou completamente na direção de Hibari. — Você está bem?

Nenhuma resposta.

O estranho estava prestes a tentar novamente iniciar uma conversa quando o barman entregou-lhe um copo de água idêntico ao do moreno ao seu lado. Ele baixou o olhar para seu pedido, e Hibari teve de reprimir um sorriso debochado ao notar a decepção do estranho devido à ausência de álcool na bebida.

— Então você não bebe? — insistiu o outro, e então franziu o cenho de frustração: — Eu terei que te chamar de Kyoya-chan para que você me responda? — resmungou feito uma criança mimada.

— Bebidas alcoólicas deixam as pessoas ainda mais idiotas. — Hibari enfim abriu a boca, e virou-se para o homem. Oh, era o loiro da última vez. Kyoya trincou os dentes ao lembrar-se do constrangimento de quando se conheceram. — Eu esqueci o seu nome. — comentou, seco.

Dino sorriu, divertido, e deu um gole na sua bebida sóbria antes de falar:

— Não, você não se esqueceu. — balançou a cabeça em um movimento negativo, parecendo achar graça da expressão contrariada no rosto de Hibari. — Kyoya-chan, você não sabe que é errado mentir?

— Não me chame assim. — os cantos da boca do moreno viraram-se para baixo. — E não pense tão grande de si mesmo, posso garanti-lo de que você não é uma pessoa inesquecível. — alfinetou.

— Posso não ser inesquecível, porém ser obrigado a conviver com aquele abacaxi deve impedi-lo de conhecer gente nova. — notou o loiro, e a certeza em sua voz irritou Hibari profundamente. — Você sabe o meu nome. — concluiu. Focando-se na menção de Rokudo, Kyoya sibilou:

— Não se meta onde não foi chamado.

Dino ergueu as sobrancelhas em desafio:

— Mas eu fui de fato chamado. O clube é meu, e meus clientes não estavam gostando do show de vocês na rua. — informou com um ar de superior. — E mais — curvou-se sobre o balcão, aproximando-se de Hibari. Este permaneceu parado feito uma estátua ao ver o loiro estender a mão para tocar a algema no seu pulso esquerdo —, eu quero ajudar. Eu faço a mínima ideia o que aconteceu com você, mas eu estou disposto a ajudá-lo.

Hibari recolheu suas mãos, afastando-se do balcão e levantando-se da banqueta. Sua expressão era fria ao virar-se para o outro:

— Não se meta onde não foi chamado. — repetiu num tom ameaçador. Inspirou fundo antes de rumar à pista de dança, porém ele ainda foi capaz de ouvir as próximas palavras do loiro:

— Até mais, Kyoya.

— Até mais, Dino.

* * *

— Kyoya-chan, você se divertiu hoje no bar? — Mukuro perguntou, acariciando a maçã do rosto de Hibari com carinho dissimulado.

O moreno não mordeu a isca, ignorando o ilusionista e seguindo por Kokuyo Land até chegar ao quarto onde dormia. Rokudo alongou a corrente da sua algema antes que ele pudesse alcançar a porta:

— Me responda. — ordenou, apertando com força o metal em suas mãos. Hibari suspirou de frustração com a sua insistência:

— O que você quer que eu fale? — ergueu uma sobrancelha, submisso.

— Kyoya-chan, não diga uma coisa dessas; você sabe que eu prefiro quando você age de forma mais autônoma. É uma pena que tenhamos parado de discutir com frequência. Você dava cada resposta... — Mukuro pensou em voz alta, parecendo estar completamente perdido dentro de sua cabeça.

Uma hora eu cansaria de resistir, Hibari pensou com amargura, e tratou de não deixar seu rosto transparecer seus pensamentos.

— Eu sei que aquele tal de Dino conversou com você. — Rokudo finalmente voltou seu foco à conversa. Seus dedos percorreram a linha do lábio inferior de Hibari com devota atenção. — Não perca seu tempo com ele, ele não vale nada.

— Isso é irônico, vindo de você. — Kyoya bufou de desprezo. Mukuro fingiu que não o ouviu:

— Sempre se lembre de que você é meu. — a mão que não estava sobre o rosto de Hibari tocou a algema do moreno de forma possessiva. — Que tal eu deixar uma marca em você para que todos compreendam que você é propriedade minha?

* * *

As pessoas na loja de conveniência não tiveram nem a educação de fingir que não estavam encarando Hibari, porém o moreno pouco se importava em ser o alvo de constantes olhares de surpresa e curiosidade. Saiu do estabelecimento carregando uma sacola de compras cheia de comidas gordurosas que Rokudo o mandara comprar.

Hibari ousava dizer que a coleira que o ilusionista mantinha em si não era tão estreita — ele ficava contente em poder sair para fazer atividades mínimas, como compras. No entanto essa liberdade oferecida por Mukuro também indicava algo importante: Rokudo sempre sabia onde Kyoya estava. Sempre. Hibari nunca compreendeu a pseudo-onisciência que o ilusionista parecia possuir quando o assunto se tratava do moreno.

Fechou as mãos em punhos, tentando ignorar o tilintar irritante da corrente da sua algema enquanto andava. Quando tinha ele parado de lutar contra o cativeiro? Quando tinha ele perdido forças? Quando tinha ele desistido? Hibari preferia iludir-se com a mentira de que ele estava apenas esperando o momento certo para pôr em prática um plano de fuga, entretanto a realidade era bem menos agradável: Hibari Kyoya havia se tornado um submisso.

Lembrou-se da proposta daquele loiro irritante: por que diabos alguém ofereceria ajuda a um completo estranho? Na verdade, o mais surreal era que Dino agira com intimidade quando estavam os dois a sós no bar.

Dobrou uma esquina, e uma senhora que passara ao seu lado soltou uma exclamação constrangida de censura ao vê-lo. Hibari revirou os olhos.

— A noite foi boa? — escutou perguntarem atrás de si.

Kyoya interrompeu subitamente seus passos ao reconhecer a voz, e logo se arrependeu de fazê-lo — se ele tivesse continuado sua caminhada, ele poderia fingir que não havia ouvido aquilo.

— Você está me seguindo, Dino? — perguntou enquanto virava-se para encarar o loiro.

— Pensei que você não se lembrasse do meu nome. — este abriu um sorriso animado.

— Não mude de assunto. — Hibari revirou os olhos, voltando a andar. Dino acompanhou-o ao seu lado.

— Você que mudou de assunto primeiro. — o loiro não perdeu a batida e nem seu entusiasmo, apesar da indiferença de Kyoya. — Eu perguntei se a noite foi boa. — gesticulou para o pescoço de Hibari, que exibia dezenas de marcas de dentes e beijos.

— Isso não é nada que não tenha acontecido antes. — simplesmente respondeu, deixando Dino decodificar o que ele quisera dizer com isso. Um silêncio confortável acomodou-se entre eles, e o loiro demorou a quebrá-lo:

— Minha oferta continua disponível, caso você esteja interessado. — ofereceu, e então abaixou o tom de voz, relutante: — Eu não sei o que ele fez contigo, eu não sei qual é o relacionamento entre vocês, mas qualquer um é capaz de ver que não é consentido. Se ele te mantém como uma espécie escravo, saiba que tráfico humano é crime, então podemos colocá-lo na prisão pelo resto da eternidade.

Hibari abriu a boca para rebater algo, porém Dino não o deixou fazê-lo, silenciando-o com um dedo sobre seus lábios:

— Este é o meu cartão. — entregou um pedaço retangular de papel. — Você tem boa memória? Por que eu o aconselho a gravar o meu número; se ele fez isso — observou o pescoço marcado de Kyoya — apenas por você ter falado comigo, não imagino o que aconteceria se ele encontrasse algo meu contigo.

Hibari aceitou o cartão em silêncio, parecendo não saber o que falar. Desconcertado por não encontrar as palavras certas para se expressar, deu as costas para o loiro, seguindo seu caminho.

Quando ele chegou aos portões de Kokuyo Land, ele já tinha se livrado do cartão de Dino.

E o número já estava bem guardado na sua memória.

* * *

— Se eu dançar de novo com você, eu poderei ficar no bar? — perguntou Hibari ao se curvar sobre Rokudo para que este pudesse ouvi-lo em meio à música alta. O ilusionista fingiu considerar a proposta por um momento, e então envolveu a cintura do moreno com seus braços:

— Apenas se você dançar bem próximo de mim. — seus lábios roçaram contra a orelha de Hibari. Ao vê-lo assentir, aproximou ambos os corpos, guiando-os de acordo com o ritmo da canção. — Você acha que eu não notei o que você anda fazendo, Kyoya-chan? — indagou enquanto lançava um olhar sugestivo a certo loiro que se localizava no bar a alguns passos da pista de dança.

Hibari simplesmente revirou os olhos para Mukuro, esperando impacientemente que a música terminasse para que ele pudesse sair dali. A escassa resposta do moreno não desestimulou o ilusionista:

— Você sabe como isso vai terminar. É melhor você poupar seus esforços e nem mesmo tentar. — alertou com uma voz séria, no entanto seu rosto exibia uma expressão divertida. Kyoya nada disse novamente.

Ao ouvir as últimas batidas da canção, Hibari fez menção de se afastar de Mukuro, porém este enrijeceu seu aperto na cintura do moreno.

— Me deixando sozinho tão rápido? — Rokudo fez uma careta exagerada. — Eu dito as regras, portanto você vai dançar comigo pelo resto da noite. — Kyoya fechou a cara, e o ilusionista rebateu antes que ele pudesse contestar: — Entre nós dois, minha vontade é lei. Me desobedeça e sofrerá as consequências mais tarde.

Hibari não conseguiu ir ao bar naquela noite.

Hibari não conseguiu falar com Dino naquela noite.

* * *

O moreno sentiu uma mínima satisfação ao ver o loiro passar pela porta de entrada do café. Dino abriu um largo sorriso ao encontrar Kyoya sentado numa mesa no canto do estabelecimento.

— Eu recebi sua mensagem de texto. — comentou o óbvio enquanto sentava-se na cadeira oposta à de Hibari. Começou a mexer no cardápio sobre a mesa com interesse: — Por que você escolheu esse lugar? Por acaso você gosta das bebidas daqui?

— Eu gosto daqui porque os banheiros são grandes. — e Kyoya levantou-se sem mais nem menos, atravessando o salão do café e abandonando Dino. Demoraram longos cinco segundos para que ele entendesse que deveria seguir o moreno.

Hibari trancou a porta da cabine assim que o loiro juntou-se a ele.

— Você acha que Rokudo Mukuro nos escutaria caso conversássemos lá fora? — perguntou Dino, tentando entender o porquê de estarem no banheiro. Hibari ignorou a confusão do outro, descendo aos seus joelhos na frente do loiro. Levou suas mãos ao cinto alheio, começando a desafivelá-lo. — Kyoya, o que você está fazendo? — a incompreensão de Dino tornou-se surpresa, e ele segurou os pulsos de Hibari, restringindo seus movimentos.

Kyoya bufou, como se fosse óbvia a resposta da pergunta de Dino, entretanto, ao notar o loiro em silêncio encarando-o com um genuíno olhar interrogativo, ele finalmente se explicou:

— Você não disse que estava disposto a me ajudar? — questionou, retórico. — Então, eu estou pagando para conseguir sua ajuda.

— O quê? Não! — Dino aparentava sentir-se insultado pela presunção de Hibari. — Eu não preciso de nenhum estímulo para ajudar você; eu quero ajudá-lo e ponto final.

Agora foi a vez de Kyoya de ficar confuso:

— Se você não vai ganhar nada em troca, então por que quer me ajudar? Isso não é racional.

— Não é racional ser um escravo em pleno século XXI. — Dino rebateu com certa nota de decepção na sua voz. — E mais — curvou-se para acariciar brevemente uma das maçãs do rosto de Hibari —, será muito interessante finalmente poder conhecê-lo quando você for livre.

Kyoya não soube como responder isso.

* * *

— O seu cheiro mudou. — comentou Rokudo, com seu nariz enterrado na curva do pescoço de Hibari. — Perfume italiano... De quem será? — foi irônico, sendo óbvia a resposta para sua indagação.

— Pare com isso. — Kyoya disse a meia-voz, fazendo menção de se afastar de Mukuro.

— Parar com o quê? Não é minha culpa se você acha que pode fazer coisas por trás de minhas costas, Kyoya-chan. — manteve seu corpo contra o de Hibari, apesar dos esforços deste de se distanciar. — Você já sabe o final do livro e insiste em lê-lo mesmo assim; que tédio.

Atípico, Hibari mostrou um sorriso debochado para Mukuro:

— O livro dessa vez é interessante.

* * *

— Eu sou bom com o chicote. — informou Dino enquanto observava um Hibari calado em meio a pensamentos, tentando bolar um plano para obter enfim a liberdade.

— Masoquista? — questionou o moreno com uma sobrancelha erguida, voltando sua atenção para o loiro.

— Não, claro que não! — o outro respondeu rapidamente, aflito.

— Então se eu me oferecesse para você de mãos amarradas sobre essa mesa, você não mostraria nenhum interesse? — Hibari lançou um olhar desafiador, reprimindo um sorriso malicioso. Curvou-se brevemente sobre a mesa do café para checar a calça de Dino, vendo que o interesse do loiro estava manifestando-se de forma bem expressiva. — Masoquista. — dessa vez seu tom foi de confirmação.

— Eu nunca faria isso com você sem antes levá-lo a um encontro. — Dino declarou com confiança, e Hibari revirou os olhos diante de tal ingenuidade. — Eu tenho tanto para te mostrar quando conseguirmos nos livrar daquele homem. Eu realmente gosto de você, Kyoya.

Hibari sentiu um arrepio percorrer por sua espinha.

Lágrimas formaram-se em seus olhos.

* * *

O corpo ensanguentado de Dino estava largado sobre o chão sujo de Kokuyo Land.

— Tenho de reconhecer que ele possuía uma tática muito bem elaborada. — a voz de Mukuro quase soara respeitosa. — Ele era com certeza mais forte do que o último, aquele das dinamites. Qual era o nome dele mesmo?

— Eu não me lembro. — Hibari permanecia inexpressivo, sentado num canto e portando de papel e pincel. Escreveu Dino de forma majestosa, dando forma aos katakanas com dedicação.

Ele levantou-se para guardar o papel com o nome de Dino na gaveta da escrivaninha de seu "quarto" — talvez o termo correto fosse cela. Kyoya tentou ignorar como o compartimento estava quase sem espaço, devido à grande quantidade de papel mantida ali. Passando os olhos por cima de forma corrida, ele foi capaz de ler alguns dos escritos — Gokudera Hayato, Yamamoto Takeshi, Irie Shoichi, Basil. Nomes e mais nomes. Eram os nomes das pessoas que outrora tentaram ajudar Hibari, e terminaram mortas por Rokudo.

— Não posso negar que me divirto com esses conflitos que você planeja de tempos em tempos, porém você compreende que é impossível alguém te tirar de mim? — Mukuro foi retórico, observando todas as ações do moreno da soleira da porta.

Hibari inspirou fundo:

— Eu sou seu, Mukuro-sama.

A gaveta foi fechada.

Ai nante shiranai

Ai shikata wakaranai

Eu não conheço o amor

Eu não sei amar

Hitoribocchi no Sadame


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