Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 17
Parte III - A Caçada - XVII




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Dom Leoni desembarcou do aeroporto de Trevo tranquilamente, tinha estado fora por quase meio mês fazendo um retiro, sua vida estava muito conturbada naquele ano, precisava ter um encontro com Deus e se acalmar. Não tinha tido contato com ninguém e não sabia de nada, por isso se assustou com o número de repórteres na ala de desembarque do aeroporto.

–Dom Leoni, uma palavra por favor. -disse um jornalista e ele se aproximou confuso, seu secretário ainda não tinha chegado para buscá-lo, até porque não havia necessidade de pressa, o aeroporto de Trevo não era muito movimentado naquela época, era quase que fantasmagórico.- O que o senhor tem a dizer sobre o caso do Pe. Valério?

Ele sorriu confuso.- Como assim, meu caro?

O repórter riu.- O senhor não sabe?

–Creio que não, eu estava fazendo um retiro espiritual. Eu estou literalmente desinformado. O que houve com Pe. Valério?

–A polícia foi informada que Pe. Valério não é sacerdote ordenado, suas faculdades são todas forjadas. Seu verdadeiro nome é Roberto, ele é acusado de falsidade ideológica, homicídio doloso entre outros diversos crimes. Durante sete anos ele enganou a todos, inclusive a igreja.

–Mas... Isso é um absurdo! Quando isso correu?

–Hoje de madrugada. O padre tinha sido chamado para rezar as exéquias do jovem Enzo Goldberg que faleceu ontem num acidente supostamente forjado por George Curious. Supõe-se que Enzo estava forçando uma relação com a moça e George tenha impulsos um tanto violentos e não conseguiu conter o seu desgosto pelo o que estava acontecendo.

Dom Leoni abriu a boca espantado mas nada disse, apenas se retirou as pressas enquanto os jornalistas avançavam em seu encalço. Assim que chegou a porta do aeroporto viu o carro episcopal estacionando, embarcou o mais rápido que pode e logo saíram do alcance.

–Acho que vou precisar de outro retiro, esse lugar está corrompido demais.



Stella chegou cantando pneus no Hospital de Trevo, passou como uma bala pelos repórteres que tentaram uma entrevista mas ela os ignorou. Ken tinha dado entrada na ala de internação. Tinha sido operado há pelo menos uma hora, já eram quase sete da noite, tinha esperado um pouco para poder ir ao hospital.

–Ken, pelo amor de Deus! -disse Stella entrando no quarto particular do sobrinho.- O que aconteceu?

Ele riu. Stella o olhou de cima a baixo. Estava lindo como sempre, intacto como um boneco de cera. Estava com um notebook branco na mão, parecia uma criança em casa brincando no seu videogame. Aquilo, para Stella, não parecia nada bom, era sinal de algo ele estava tramando, ou tinha tramado.

–Oi, titia. -ele riu de novo.- Eu estou bem, melhor do que nunca, meu plano está dando certíssimo. A cada ato insano desses idiotas que me ferraram naquela época eu chego mais perto do meu objetivo.

–Pelo amor de seu pai, Hugo, pare com isso. Já chega. Seu objetivo já está alcançado, todos já estão desestruturados, você já feriu inocentes demais.

–Não. Eu ainda não alcancei meu objetivo. -respondeu o rapaz.- Eu quero ver todos na lama, acabados, pisoteados e quando estiverem na miséria, quando todos estiverem vendo-os e rindo deles, ai sim, matá-los. Lenta e dolorosamente.

–Você vai ficar doente com isso, Hugo. -ela se aproximou.- Pare com isso, já chega. Até onde você quer chegar? Tem inocentes no meio disso.

–Que inocentes? -perguntou ele frio.- Os gêmeos Goldberg são filhos do Dom Leoni com a Rita, mas ele a deixou, ela sofreu, mas aguentou calada. Eu não tenho culpa se ela se apaixonou por um padre, quero vê-lo desabar assim como eu desabei. Vamos ver, mais um inocente? Pe. Valério, ele me incriminou de algo que eu não fiz, ele me mandou para a prisão a mando dos De Lune que vão ser acusados por contratá-lo e forjar toda a sua falsa identidade de padre. -ele sorriu.- Quer mais? George agora será acusado pela morte de Enzo, claramente ele tem distúrbios mentais, o peso na consciência está começando a incomodar. Outro inocente? A srta. Carter. -ele riu.- O pai dela deu minha sentença, eu não sabia disso até voltar e ser entrevistado por ela, ele cedeu a elite e me fez perder minha vida, agora ele vai perder a filha já que Enrico vai descobrir que ela acusou o irmão dele de mulherengo. Enrico age por impulso, não viu o que ele fez comigo? -perguntou fingindo horror.- Pobrezinho de mim, Ken Isao, sempre ajudei os Goldberg e agora fui baleado por um dos meninos que sempre admirei.

–Você está louco, doente, Hugo. -falou Stella horrorizada.

–Eu estou louco? Porque eu sou o louco? Porque eles não são loucos quando fizeram diversas, mil e umas armações para me incriminar? Eles queriam me ver morto! Isso tudo por ambição, por dinheiro, poder, medo de perderem tudo o que tem, toda essa coroa corruptível que eles tem. Eu estou no comando agora, eu dou as ordens, as cartas conforme eu quero.

–O que você está dizendo, Hugo? -Stella estava chocada.- Pare enquanto há tempo, largue tudo, mude de identidade, de cidade, de aparência, de vida! Você pode. Olhe só aonde você chegou por ódio. Aonde estão os valores que seu pai te ensinou?

Ele gemeu.- Eu estou fazendo isso por ele. Ele foi o único que me apoiou, abriu meus olhos e eles acabaram com ele, com tudo o que eu tinha.

–As pessoas perdem umas as outras o tempo todo, Hugo.

–Não, papai não tinha culpa de nada. Ele era inocente.

–Seu pai também teve os erros dele e veja como ele era bom.

Cale a boca! -ele berrou.- Não fale do meu pai! Você foi tão burra quanto ele, você se safou da explosão da casa de vocês mas nunca o procurou, nunca procurou consolá-lo, viverem uma vida, juntos, como irmãos, Você nunca moveu um dedo. Ele pensou que você estava morta!

Stella deu um passo para trás e quase caiu. Ele realmente tinha razão, mas isso não o fazia inocente. A mulher enxugou as lágrimas que estavam embaçando seus olhos e saiu apressada do quarto. Hugo estava fora do controle.



Os De Lune estavam inquietos na mansão, a polícia já havia sido comunicada do sequestro, haviam levado Claire para mostrar o local da ação, mas não faziam ideia do que poderia acontecer. Suspeitava-se que fosse alguma manifestação do envolvimento dos De Lune com o gêmeo Goldberg ou com a do Pe. Valério, todos já estavam sabendo que ele tinha ido embora, mas a polícia foi informada da sua falsidade ideológica e de que os De Lune tinham colaborado para a atual identidade dele.

Madeline estava na janela da casa olhando os jornalistas parados no portão. Estava com o rosto sério, impassível. Roger brincava entretido com a sua aliança de casamento. Claire estava com os braços apoiados nos joelhos chorando desenfreadamente, Harold tentava consolá-la, afinal, Maycol também era filho dele e ele estava abalado.

–Então. -disse Roger entretido, como uma criança que acaba de chegar da escola, inocente, e não sabe o motivo do semblante sério dos pais.- O que vocês vão fazer?

Madeline riu.- Como assim, o que vocês vão fazer? Todos estamos destruídos.

–Sinto dizer, mas eu não tenho nada a ver com as falcatruas de vocês. -Madeline se virou, olhando o marido, confusa.- Claire matou Pe. Maycol por estar inconformada com o término do namoro dos dois. -a filha o olhou chocada, Harold com a cara fechada e Madeline impassível.- Vocês duas compraram os outros envolvidos, George, Pe. Valério e até um marido para Claire, o Harold.

–Você sabia de tudo. -acusou Madeline.- Não se faça de santo.

Roger riu.- Mas as pessoas não sabem que eu sei. E mesmo se vierem a descobrir, eu conto tudo em troca de redução de pena, afinal, eu não tenho nenhum envolvimento com isso. Apenas sabia de tudo.

–Você não é louco, Roger. Se cairmos, você cai também. Não pode abandonar o barco assim. Ainda somos sua família.

–Família? -perguntou o homem se pondo de pé.- Vocês não sabem o valor de uma família, esqueceu o que você fez com a do Pe. Maycol? Eu sei que seus pais eram loucos para que você se casasse comigo então te fizeram seduzi-lo para você poder aos poucos corrompê-lo, envenenar a família dele, sabotar as terras dele até explodir a casa onde eles moravam, matar todos e deixar apenas ele. Claire realmente puxou você, Madeline.

–Pai, pare com isso! -disse Claire com o rosto vermelho.- Aonde você está querendo chegar? Está me ofendendo!

–Não seja tola, Claire. -respondeu Roger.- Você não é mais uma menina, sabe das suas ações. Matou aquele pobre padre apenas para fazer o rapaz que você diz que amava sofrer. Eu não sei que amor é esse, mas isso já está passando dos limites. Veja aonde chegamos. Não apelem para o ser “família”, isso nós já deixamos de ser a muito tempo. Estou farto das armações de vocês.

–Seja claro, Roger, o que você quer? -perguntou Harold.- Seu neto está desaparecido, todos estamos em crise. Por favor não é hora disso. Faça isso pelo pequeno Maycol.

Roger riu.- Realmente, Harold, alguma coisa de sensato você disse finalmente. O jovem Maycol não tem nada a ver com isso, pelo menos o nome que ele carrega é por um bom motivo, é de um bom cidadão, mas isso não limpa a sua barra e na sua sabotagem nas câmeras da igreja naquela época. -o rapaz balançou a cabeça.- Eu só quero que fique claro de que lado eu estou, do meu lado.


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