O Despertar do Lobo escrita por Chase_Aphrodite, danaandme


Capítulo 10
Capítulo 09 - O Cheiro Lúgubre da Morte - Parte 02




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/581468/chapter/10

–QUINN!!!

A Loba Branca podia sentir seu coração batendo violentamente em seu peito, e apesar de saber exatamente o que esperava por ela, Quinn continuou correndo por entre as árvores, seguindo a voz de Rachel.

Ela podia sentir sua companheira há alguns quilômetros dali, e a ânsia de alcançá-la fazia com suas patas se impulsionassem com mais ímpeto sobre o solo.

“Eles querem você.” A voz de sua parceira ecoou em sua mente, fazendo-a frear de uma vez. No mesmo instante, Quinn se viu cercada por cinco lobos enormes, que avançavam lentamente na direção dela, mostrando seus dentes pontiagudos ameaçadoramente.

...

Santana Lopez avançava pelos arbustos a toda velocidade, seguida por Brittany, Puckerman e David Karofsky. A herdeira mais jovem do clã dos Lopez nem mesmo esperou o grupo de reconhecimento virar a esquina para reunir uma patrulha de apoio. Digam o que quiserem, mas Santana não ia ficar em casa tricotando preocupações, enquanto seu pai e sua irmã estavam mais uma vez na linha de frente.

Mas apesar de terem se juntado a ela, Santana sabia muito bem que os dois garotos haviam concordado em segui-la, no intuito de impedi-la de atrapalhar algo. Não era segredo que muitos não concordavam com os métodos audaciosos da latina, principalmente quando esses métodos incluíam desafiar a autoridade do Alfa. Foi assim com Russel, e aparentemente seria com Rachel. E mesmo que Santana resolvesse contradizê-los, dizendo que sua Alfa não havia dito nada relacionado a não segui-la, a resposta que ela ouviria seria a mesma;

‘Essa sua mania de distorcer as palavras sempre nos coloca em problemas’. Há! Só que dessa vez, seu terceiro olho latino tinha acertado. Nenhum deles podia se arrepender de terem embarcado na paranoia dela, sobretudo após ouvirem sua Alfa dizer que Quinn estava em perigo.

Pelo que ela havia entendido, o grupo de reconhecimento havia se separado. A Alfa e sua companheira, as mais rápidas do grupo, tinham se adiantado na perseguição dos lobos agressores e haviam caído numa emboscada. Já seu pai e os outros ficaram para trás e estavam sendo atrasados por outro grupo de lobos inimigos, há vários quilômetros dali. Aparentemente somente Francine havia conseguido burlar as barreiras inimigas, e seguir sua irmã. Mas, eles a tinham ouvido chamando por Quinn, há alguns minutos, então era bem provável que a primogênita do clã da Lua ainda não tinha alcançado sua irmã caçula.

O que só dificultava tudo. Porque sem uma orientação especifica, eles não seriam capazes de encontrar nem Quinn, nem Frannie, muito menos Rachel a tempo.

“Ajudem a Alfa.” A voz de Russel ecoou na mente de todos, talvez percebendo a hesitação do pequeno grupo liderado por Santana. Mas no mesmo segundo, a voz em tom duplo de Rachel soou autoritária, e a ordem foi clara.

“Não! Encontrem Quinn. Agora.”

As imagens de uma trilha com o percurso feito pela Alfa apareceram na mente de todos eles, e Santana não perdeu tempo.

“Vamos seus molengas. A trilha que Rachel mostrou fica aqui perto. Vamos encontrar Quinn.” Ela sinalizou para seu grupo, forçando ainda mais os músculos e avançando pelo mato.

...

Francine rosnava furiosamente para o lobo na sua frente. O maldito havia cruzado seu caminho há alguns metros, e estava visivelmente a atrasando propositalmente.

Aquela emboscada havia sido minuciosamente planejada. E agora Logan estava morto, e ninguém tinha notícias de Hans e Michael... O que só podia significar o pior.

As imagens mostradas por Rachel indicavam que ela era a mais próxima do local da emboscada. Seu pai e os outros estavam presos por outro grupo de lobos e mesmo que eles se livrassem desse estorvo agora, quando eles finalmente chegassem até Quinn e Rachel podia ser tarde demais.

‘Não! Encontrem Quinn. Agora. ’ Foi à ordem da Alfa. E nada a havia assustado mais que aquela ordem. Porque a urgência no tom de voz de Rachel atestava exatamente aquilo que ela mais temia.

Sua irmã era o alvo.

‘Quinnie. ’

Ela precisava se livrar desse idiota o mais rápido possível.

A loba acinzentada partiu para cima do lobo malhado à sua frente, rosnando furiosa.

...

Rachel podia ser rápida e forte, mas ela não era treinada. E aparentemente, aqueles três lobos tinham um treinamento intensivo em luta. E eles haviam escolhido o lugar perfeito para esse confronto.

Nessa área da floresta as árvores eram muito próximas umas das outras, e embora os lobos fossem bem maiores que ela em sua semi-transformação, eles estavam sabendo utilizar o pouco espaço que tinham como vantagem durante a batalha. Os ataques eram sincronizados, com poucos golpes diretos, onde os lobos buscavam impulso nos troncos das árvores, mantendo-se fora do alcance das garras de Rachel, e a obrigando a acompanhar o ritmo imposto por eles e se manter na defensiva.

Mas, o que realmente não estava ajudando à morena, era esse sentimento de angustia afligindo sua mente. Ela podia sentir todos seus lobos, todos eles estavam lutando e focados em vencer o inimigo para cumprir sua ordem de chegar até Quinn. Os pontos de luz vibravam em sua mente e os sentimentos deles eram quase que palpáveis, porém não eram tão intensos quanto os de sua parceira.

A ligação com ela era mais forte. Tão forte ao ponto de Rachel saber exatamente que Quinn agora estava lutando contra cinco lobos. E apesar de sentir quão preparada para a batalha ela estava a Alfa também sabia que qualquer deslize poderia ser fatal.

...

Os lobos recuaram novamente se reagrupando. Eles haviam tentado atacá-la por todos os lados, mas Quinn era treinada para esse tipo de desafio desde sua primeira transformação. Finalmente os métodos de tortura de Sue Sylvester teriam utilidade. Quinn era capaz de se desvencilhar de seus inimigos e prever seus ataques facilmente.

Os olhos castanhos esverdeados acompanhavam os movimentos de seus inimigos, que a rodeavam por todos os lados caminhando ao seu redor. Quinn estava no centro do círculo, esperando o primeiro movimento. Então ela ouviu um galho estalando atrás dela, logo em seguida o primeiro lobo avançou e no mesmo instante ela desviou para a esquerda, se abaixando quando outro segundo lobo pulou mirando sua jugular. Quinn chutou areia na cara de um terceiro lobo, avançado em seu pescoço e girando seu corpo em cima do quarto lobo que já investia sobre ela. No mesmo minuto que os dois bateram num tronco de árvore, os outros três vieram num ataque frontal, Quinn usou as árvores como impulso e correu num meio círculo pelos troncos caindo em cima de um deles e enterrando os dentes em seu pescoço. Eles rolaram pelo chão, até Quinn firmar suas costas no solo e usando as patas traseiras, jogar o corpo do lobo desacordado sobre os outros dois que vinham em sua direção.

Ela sabia que aquela dança entre eles deveria acabar o mais rápido possível. Porque por mais treinada que ela fosse, eles a venceriam no cansaço. Essa era a estratégia, e ficou bem evidente após eles se reerguerem e se reagruparem mais uma vez ao seu redor.

Não havia escapatória.

...

Os lobos corriam ao seu redor.

“Deixe-me sair.” A voz grossa retumbou na mente da Alfa em forma de um rosnado. O Lobo Negro estava impaciente, mas Rachel tinha que manter o controle. Eles precisavam trabalhar juntos. Se o Lobo assumisse, ela não podia garantir a segurança dos membros de sua alcateia.

Esse lado obscuro era algo que ela temia. Suas lembranças, do dia que ela quase assassinou Bernardo e Helena Lopez, podiam estar um pouco nubladas, mas ela tinha plena consciência de não ter controle. Foi quase à mesma sensação de quando a treinadora Sylvester ameaçou Quinn, a diferença foi que naquela vez ela conseguiu dominar seus instintos no último minuto. Rachel não havia mentido quando dissera que a treinadora estivera prestes a perder a cabeça.

Por isso, ela precisava continuar firme. Ela podia fazer isso. Sua inteligência associada à força de seu Lobo iria ser suficiente. A Alfa firmou suas garras em um troco, saltando sobre um dos lobos. Então, seus esforços para alcançar um dos lobos, foram frustrados com um dos truques mais banais já inventados. Rachel rugiu irritada, sacudindo o rosto para se livrar da areia nos olhos. E aconteceu.

Um segundo de distração.

Um segundo, onde ela sentiu a respiração de Quinn ficar mais pesada.

Foi à brecha que eles estavam esperando.

A Alfa urrou de dor quando a mandíbula de um de seus inimigos se fechou sobre seu ombro direito, enquanto ela parava o ataque do lobo seguinte com o braço esquerdo, sem ter tempo de desviar da investida do terceiro lobo, que a atirou contra uma das árvores.

Rachel caiu desacordada.

Foi um segundo de distração...

Que acabou ocasionando outro deslize...

...

Quinn sentiu, ouviu e viu a dor de sua parceira. O urro bestial fora tão alto que certamente fora ouvido há quilômetros, enquanto a dor das dentadas se espalhou por seu corpo, como se ela fosse aquela quem tivesse sofrido o ataque. Foram dois lobos. Dois golpes. Ombro e braço. E depois uma cabeçada entre as costelas, que a atirou contra uma árvore. Rachel estava desacordada. Completamente indefesa. A imagem apareceu nítida em sua mente. No exato momento que acontecera.

Foi um deslize.

Que ocasionou outro deslize. Porque nesse mesmo instante, a Loba Branca desviou o olhar para a direção onde a luta de Rachel acontecia.

Foi à brecha que seus inimigos esperavam. E no segundo seguinte, um deles avançou. E ela foi ao chão.

...

A Loba Branca estava no chão.

Russel Fabray se jogou sobre seu adversário, quebrando-lhe as costelas e avançando floresta adentro. Helena, Angélica Puckerman, Caleb e Bernardo Lopez fincaram uma barreira defronte a rota que ele seguira, dando cobertura a sua fuga.

Quinn tentava se livrar das presas de seu captor, mas ele afundou ainda mais os dentes no seu ombro.

Francine congelou no lugar. Seu adversário estava desacordado aos seus pés. A imagem de sua mãe tirando sua irmã daquela piscina voltou à sua mente como um flash.

Um segundo lobo corre na direção da Loba Branca, que gira no chão se livrando do primeiro lobo e tentando se esquivar do segundo ataque. O sangue escorre por seu pelo alvo.

A loba acinzentada disparou desesperada na direção da trilha que levava a Quinn, mas seu inimigo havia se reerguido. Frannie percebeu o perigo, mas já era tarde para se defender.

Quinn tenta se erguer, mas é atirada contra um troco próximo. Um uivo de dor corta os céus, quando ela sente uma de suas costelas se partir com um estalo seco.

Santana e seu grupo entram na clareira onde Frannie está em vias de ser abatida, eles veem o exato momento que um lobo desconhecido pula sobre o agressor de Frannie, se colocando entre ele a Loba e levando o golpe em seu lugar.

Um dos lobos abocanha Quinn pelo tórax jogando a Loba Branca mais uma vez contra outra árvore.

Puck e David partem em defesa de Frannie e do lobo desconhecido. Brittany e Santana correm em direção aos arbustos, avançando para socorrer Quinn.

A Loba Branca geme de dor, cerrando os olhos.

“Ra-chel...”

Pálpebras delicadas abrem-se repentinamente, revelando globos negros desprovidos de qualquer emoção. Um rosnado grave fez as cordas vocais vibrarem, encontrando presas prolongadas em seu caminho até a boca alargada e selvagem. Não houveram segundos para serem contados. Nem mesmo algo mais breve que isso. Carne e sangue jorraram diante do lugar onde o corpo de Rachel estivera tingindo os troncos das árvores mais próximas de carmim. Não houve uivos ou pensamentos de dor. E então o local estava vazio. Perdido num silêncio macabro, transformado em uma tumba disforme para os pedaços dilacerados daqueles três lobos que por alguns segundos, acreditaram-se vencedores.

...

Santana chegou a clareira e logo avistou a Loba Branca caída no chão. Um lobo marrom escuro estava sobre ela se preparando para deferir o golpe final.

Ao perceberem a chegada das outras duas lobas na clareira, os outros quatro lobos presentes avançaram na direção delas. Mas, depois de alguns passos, eles pararam de uma vez. E como se tivessem ensaiado o movimento, viraram-se alarmados.

Foi só então que Santana pode vê-la ali, de pé, logo atrás do lobo marrom escuro. Rachel. Ou algo que se assemelhava à morena.

Seus olhos não eram humanos e mais pareciam portas abertas para um buraco negro. Vazios. Frios. Aterrorizantes. Seu maxilar estava prolongado, presas enormes se pronunciavam por sua boca, dando a impressão de que ela sorria perversamente para seus inimigos. Dedos alongados e dotados de garras pontiagudas, semelhantes a lanças feitas de grossos ossos. E com a exceção de suas mãos, que pareciam ter sido mergulhadas em sangue, toda a pele do corpo da Alfa tinha assumido um tom negro. Era como se ela tivesse sido coberta por completo com uma veste sombria. Até mesmo a maneira como os cachos castanhos ondulados balançavam levemente ao sabor da brisa compelia a uma visão assombrosa.

Santana não a viu se mover. Bastou um piscar de olhos, e a mão de Rachel havia afundado nas costas do lobo marrom, logo na altura do pescoço. Um estalo, um puxão e Santana viu sua Alfa arrancar a coluna vertebral do lobo que ameaçava sua parceira. Ele nem teve tempo de gemer de dor. O corpo caiu com um baque seco sobre o solo, feito uma casca vazia, completamente aberta por trás. Rachel nem ao menos piscou, simplesmente atirou a coluna, língua e pedaços do que Santana imaginou serem o esôfago e ossos das costelas do seu inimigo no chão.

Os outros lobos assistiam a cena, paralisados pelo medo. Porque não havia dúvida naquele olhar tétrico e vazio da criatura que agora seguia na direção deles. Ela era a morte. E a morte era o único destino que eles teriam.

Brittany desviou o olhar, mas não havia mais o que ver.

Um a um os lobos restantes caíram degolados no chão frio. Rachel segurava o último deles no ar com uma das mãos. O outrora imponente animal, havia sido reduzido a nada. As garras da Alfa estavam afundadas em sua pele. Ela o segurava pela garganta enquanto olhava em seus olhos agonizantes. Bastou um gesto, e o pescoço estalou sonoramente entre as mãos escuras. O corpo dele foi lançado ao chão como se fosse nada além de um objeto inútil e imundo.

Só então Santana percebeu que seu corpo todo tremia de pavor.

E agora? Ela tinha quase certeza que Rachel estava além de ter qualquer consciência do que fazia. Era impossível imaginar aquela garota que lutava por solos no clube do coral, sendo capaz de esquartejar seres vivos a sangue frio.

Foi um ganido de dor que fez com que a besta à sua frente, direcionasse sua atenção para a Loba que tentava se erguer debilmente há alguns metros. Nesse momento Santana viu algo emergir em meio a escuridão daquele olhar inumano.

Não havia mais garras, nem presas, nem pele escurecida. Rachel estava ajoelhada ao lado da Loba Branca, aninhando-a em seu colo com tanto cuidado que chegava a ser inacreditável vê-la agir assim após testemunhar sua ira.

Sem perder tempo, a morena tirou o sobretudo que vestia, e cobriu o corpo de sua parceira, incentivando-a a voltar a forma humana sussurrando palavras junto ao seu ouvido. A peça de roupa estava rasgada em um dos ombros e não tinha uma das mangas, mas serviu para cobrir o corpo da garota, que agora buscava conforto nos braços de sua companheira.

Quinn parecia frágil e debilitada, o ombro esquerdo sangrava e o tornozelo direito estava inchado. Seu rosto estava arranhado e ela tinha um corte enorme que começava na clavícula e se estendia visivelmente por suas costas. Rachel ajeitou o sobretudo, a cobrindo melhor. Quinn gemeu de dor mais uma vez, se esforçando para respirar e lutando para permanecer consciente.

Rachel não tirou os olhos dela quando falou secamente num tom duplo.

– Traga seu pai aqui imediatamente, Santana. - só quando percebeu que a garota ainda não havia se mexido, a Alfa desviou o olhar para encara-la. - Agora.

E dessa vez, Santana correu o mais rápido que pode, chamando por seu pai e avisando o que havia acontecido.

...

HORAS DEPOIS – LIMA MEMORIAL HOSPITAL

– O que vocês estavam fazendo no telhado? Eu não consigo entender, filha.

Leroy Berry continuava em pânico. Ele tinha acabado de deixar o Centro Cirúrgico quando um de seus residentes o avisou que sua filha tinha dado entrada no pronto socorro da emergência do Lima Memorial, juntamente com outra garota em estado preocupante. No mesmo minuto, ele chamou a Dra. Hilary, sua colega de plantão, e correu até a emergência para saber o que acontecera.

– Nós estávamos... Só estávamos vendo como decorar tudo para o Halloween, papai. Quinn... – Rachel engoliu seco, passando a mão na testa. – É a data preferida dela... Por favor, não me pergunte mais nada.

Eles demoraram mais de uma hora para trazer Quinn para a Emergência. Rachel se lembrava de frases soltas como ‘História Plausível’ e ‘Desassociar com os incidentes’. Ela não conseguiu focar muito no que eles diziam, na verdade. Quinn estava em seus braços, com um torniquete improvisado para estancar o sangramento, e ameaçando perder a consciência pela perda sangue, ou até mesmo entrar em choque pelo mesmo motivo. Apesar dos ferimentos em si não terem sido fatais, a simples perspectiva do que poderia ter acontecido tinha deixado Rachel aterrorizada.

Terror. Bem que podia ser a palavra do dia. Porque mesmo estando completamente absorta na garota em seus braços, Rachel não deixou de notar as expressões de terror de todos aqueles que chegavam à clareira.

Os corpos estavam espalhados por todo o lugar. O sangue. Órgãos. E não exatamente de lobos estraçalhados. Aparentemente pessoas como ela, quando mortos em sua forma lupina, voltavam a sua forma humana... Entretanto, a morte de seus adversários fora tão violenta, que seus restos mortais não foram capazes de mudar completamente. Então... Cabeças deformadas com focinhos e presas, braços com pelos, corpos humanos com caudas ou patas ao invés de membros, estavam espalhados pelo solo, num dos cenários mais bizarros já imaginados.

No final, eles inventaram uma história de Quinn havia caído do telhado, em meio a um planejamento de luzes decorativas para o Halloween. Uma desculpa estúpida. Mas o plantonista da emergência simplesmente balançou a cabeça, resmungando algo como ‘esses adolescentes’, e de repente Rachel teve que sair da sala de atendimento porque ela queria arrancar a cabeça dele fora, por praticamente ter insultado sua parceira.

O Dr. Lopez e sua equipe – todos membros da alcateia – estavam cuidando do atendimento de Quinn, assim como de todos os detalhes das outras vítimas envolvidas na tragédia. Aparentemente, esse era o procedimento padrão para proteger a Alcateia, durante eventos desse tipo. Rachel só precisava de um pouco de ar fresco. Ela queria pôr a cabeça no lugar, antes que essa impaciência, e sensação de impotência perante tudo o que acontecera, crescesse ainda mais e acabasse levando a outra crise.

E não era só Quinn.

Havia mais corpos. Karofsky, Caleb, Angélica e Noah Puckerman tinham ficado para trás para cuidar dos restos dos lobos inimigos, e esconder os traços das lutas ocorridas naquela tarde, antes que as equipes de busca do condado encontrassem vestígios de lobos. E eles também precisaram forjar as circunstâncias da morte de Logan. Um acidente durante as buscas, que havia vitimado o Sheriff e Hans, e deixado Michael gravemente ferido. O corpo de Hans ainda não havia sido encontrado, mas um rastro gigantesco de sangue seguia até uma ribanceira, por onde Michael disse ser o local onde eles haviam sido emboscados. O que não era um bom sinal.

Também havia um sobrevivente. Um dos membros do clã Fantini. Ele havia se jogado heroicamente entre Frannie e um dos lobos inimigos, mas acabou se revelando um verdadeiro fracasso como guerreiro. Senão fosse por Puck e Karofsky, aquele ato heroico teria se convertido em um ato de suicídio. Agora, a única chance de descobrir o que realmente acontecera, jazia em coma induzido em estado gravíssimo na UTI, com o agravante dos médicos estarem totalmente descrentes de uma recuperação completa.

Rachel suspirou profundamente, sua cabeça latejava. E seu pai visivelmente tinha acessado o modo ‘pai surtado’, porque ainda não tinha parado de enchê-la de perguntas desde o minuto que a viu.

– Rachel... Filha? – Leroy insistia em chamar a atenção dela.

– Com licença, Dr. Berry? Meu nome é Russel Fabray. Sou o pai da Quinn.

Rachel piscou os olhos, imediatamente direcionando sua atenção para o homem. E ele deve ter notado a razão de sua aflição, porque colocou a mão sobre o ombro dela, apertando gentilmente.

“Ela está bem?” Rachel conseguiu pergunta-lo mentalmente. O homem assentiu brevemente, voltando sua atenção ao pai da morena, que estendia uma das mãos para cumprimenta-lo de volta.

– Ah, Sr. Fabray. Lamento pelo ocorrido. Como está sua filha?

– Ela vai ficar bem. Quinn é uma menina forte. – e ele apertou o ombro de sua Alfa mais uma vez. – Assim como sua filha.

Leroy esboçou um sorriso tímido.

– Bem, sei que não deveria me intrometer, mas, por favor, me perdoe. Eu imagino que o senhor tenha muitas perguntas sobre o que aconteceu, mas talvez possa poupar Rachel por agora? Ela já está bastante preocupada. Ver sua... Amiga... Se acidentar de repente foi um tanto demais... E...

Leroy franziu cenho, passando a mão pela cabeça.

– Oh sim. Eu... Me desculpe, Rachel. É que essa tragédia na rodovia, e estamos lotados com corpos e quando recebi a notícia que minha filha estava... Me desculpe.

– Entendo. – continuou Russel solenemente.

E então Rachel se desligou do que eles diziam. Ela pode senti-los se aproximando. A família de Logan. A dor de sua esposa ainda parecia uma pontada fina e fria próxima à boca de seu estômago.

A mulher estava aparada por alguém que Rachel julgou ser outro familiar, e seus dois filhos seguiam a mãe, cabisbaixos. Nenhum deles olhou na direção dela. Logo que passaram pelas portas do hospital, um oficial da polícia foi ao encontro deles e os levou por um dos corredores, cuja uma das placas de sinalização indicava, além de outras áreas, ser o caminho para o necrotério.

Rachel sentiu um nó se formando em sua garganta.

– Com licença. – e sem esperar por alguma resposta, ela se afastou dos dois homens que ainda conversavam. Desviando dos olhares de algumas outras pessoas e seguiu diretamente pelo corredor que levava até as salas de atendimento.

Santana estava sentada em uma das cadeiras de espera da sala de emergência, ao lado de Brittany e Frannie. Ao ver Rachel passar por elas, Santana fez menção de levantar-se.

– Não. – Rachel falou por cima do ombro. – Preciso de um momento sozinha, Santana.

...

Quinn estava acordada, com o olhar perdido em algum ponto na parede. O Dr. Lopez tinha acabado de sair, juntamente com seu pai. Eles estavam tendo muito trabalho para resolver os problemas ocasionados pelo ataque ao clã Fantini. E a situação só iria piorar por causa da morte do Sheriff de Lima.

Só que nada disso importava para ela agora. Porque o único pensamento recorrente em sua mente era a maneira como Rachel veio ao seu resgate... E as trevas em seu olhar.

Quinn não havia visto exatamente o momento que ela chegou, ou como ela arrancou a coluna daquele lobo, mas ela sentiu o vazio em seu peito. Era como se a parte que brilhava em seu coração, o pedaço que pulsava e chamava por sua companheira, estivesse mergulhado num abismo de desespero e escuridão. Foi como se por um momento, ela tivesse perdido Rachel para sempre... E quando o pânico ameaçou se espalhar, seus olhos se abriram de uma vez, mal conseguindo focar em nada ao seu redor. Isso até sentir o cheiro de sangue.

Então Quinn viu Rachel se desfazendo de mais uma carcaça sem vida. Ao seu redor, órgãos, corpos, pedaços destroçados daqueles que antes ameaçavam sua vida.

... Eu arrancaria com minhas próprias mãos, a coluna vertebral do corpo do infeliz que considerasse tocar num fio de cabelo dela... ’

Ela nunca pensou que a veracidade daquelas palavras seria testada tão cedo.

– Quinnie? – a voz de sua mãe a trouxe de volta de seus devaneios. – Bernardo gostaria que você passasse a noite aqui, por precaução.

– Eu estou bem, mamãe. Quero ir para casa.

Ela percebeu a expressão de sua mãe vacilar por um instante.

– É mais seguro, Quinnie... Aquilo hoje... Eles estavam atrás de você. Rachel convocou uma reunião de emergência do conselho. Ela também já fez uma escala de vigília...

Quinn desviou o olhar, encarando mais uma vez a parede. Lógico que Rachel tinha feito uma escala de vigília. Isso era tão Rachel. E de certa forma, essa atitude consolava um pouco o coração da loira. Rachel agindo como Rachel. Provavelmente ela havia escalado metade da alcateia para cumprir turnos de patrulhas pelo perímetro do hospital. Quinn tinha toda certeza que sua companheira passaria a madrugada toda de vigia na soleira da porta de seu quarto.

– Como... Como ela está? – Quinn perguntou baixinho. Sua mãe a olhou por um momento antes de morde o lábio inferior, talvez ponderando como respondê-la.

– Assustada. Na verdade, ela tem conseguido camuflar bem seus sentimentos. – Judy Fabray disse finalmente. E de repente um sorriso tímido brotou em seu rosto. – Bem, ela realmente seria uma boa atriz, quer dizer, ela consegue bancar a inatingível quase tão bem quanto você, querida.

Quinn arregalou os olhos na direção de sua mãe, girando o pescoço tão rápido que quase conseguiu mais um trauma. Judy Fabray apenas revirou os olhos.

– Ah, vocês duas realmente nasceram uma para outra. Duas teimosas. – ela continuou, franzindo o cenho por um minuto. Mas depois um sorriso irrompeu em sua face. E Quinn por um breve momento pensou estar olhando diretamente para sua irmã Frannie.

– Vai ser interessante assistir a vocês duas se apaixonarem. – Judy concluiu se aconchegando na poltrona ao lado da cama. – Ah, Quinnie. Não precisa ficar tão vermelha. É extremamente natural. E, além disso, vocês são tão bonitinhas juntas.

– MAMÃE!

– Quinnie querida, uma dama de verdade não dá chilique. E se você não ficar quieta vai abrir seus pontos.

...

Rachel abriu a porta do banheiro com um chute, correndo até o vaso sanitário e despejando todo conteúdo do seu estômago de uma vez. Ela havia segurado a náusea o tanto quanto pode, mas agora ela não queria mais ter que se preocupar com todo o estigma de ser a líder inabalável diante da primeira grande tragédia que acontecera sob sua liderança. Naquele momento, manter a postura firme e solene era o que menos interessava à morena.

Os passos apressados que ressoaram sobre o piso vinílico claro e reluzente, denunciavam que ela havia sido seguida. E só existia uma pessoa que seria desaforada o suficiente para desafiar uma ordem direta de sua Alfa.

Santana Lopez passou pela porta que levava à toalhete feminina, encontrando a outra garota com as mãos apoiadas nas laterais do sanitário, e lágrimas escorrendo por seu rosto.

Percebendo a proximidade dela, Rachel respirou fundo.

O cheiro do sangue, da carne queimada, dos fluidos corporais que se misturavam a terra e ao óleo combustível. As imagens de corpos dilacerados, membros rasgados feito papel, os órgãos espalhados pelas ferragens, atirados sobre o asfalto quente, junto às árvores, pelo solo escuro, não podiam se comparar com aquela que seria a lembrança mais terrível de toda sua vida.

– Quinn... – a morena murmurou entredentes, travando os dedos com força sobre as laterais do vaso sanitário, quebrando a porcelana em vários pedaços.

– Não se preocupe Rachel. – o tom de voz incisivo de Santana Lopez estava mais baixo que o normal. A garota mantinha uma expressão estoica desde o momento que entrou com Rachel no Hospital local. – Nós vamos descobrir quem fez isso. E depois... Nós vamos acabar com eles.

Rachel se levantou apertando os punhos com força, deixando a dor se dissipar em meio à fúria que desejava corroer suas entranhas. Alguns dos pedaços de porcelana que se prenderam em suas palmas suadas, cortaram a pele fazendo que gotas de sangue pingassem sobre o piso branco. Era o mesmo tom carmim que ela viu se espalhar sobre o pelo, outrora imaculado, de sua Loba Branca.

– Pensei ter dito que...

– Precisava de um momento sozinha. – Santana interrompeu. – Esperei um momento... E depois vim atrás de você, Berry.

Com isso Rachel revirou os olhos.

Santana agarrou um bom bocado de papel toalha, abriu uma das torneiras e enfiou um pedaço por um breve momento debaixo d’água.

– Eu não vou limpar o chão. – ela disse se aproximando de sua Alfa e segurando uma de suas mãos. – Quando eu terminar de checar se você conseguiu cortar algum tendão, com essa sua brincadeira de destruir propriedade pública, sinta-se à vontade de esfregar algo nesse piso antes de voltar para sala de sutura para desinfetar isso direito, Berry.

Elas ficaram em silêncio por alguns instantes, enquanto Santana tirava alguns cacos de porcelana das palmas das mãos de Rachel. Quando ela terminou, os cortes se fecharam quase que imediatamente, fazendo Santana fechar a cara.

– Vai ser difícil enfiar algum juízo dentro dessa sua cabeça dura agora, não é mesmo? Principalmente, quando não tenho garantias que o buraco vai ficar aberto por tempo suficiente para que você entenda que nada que aconteceu hoje foi culpa sua.

Rachel se afastou dela.

– Você não entende...

– Não vou entrar nesse mérito com você mais uma vez, Rachel. Porque com certeza não entendo. Mas isso não quer dizer que você vai carregar isso nas costas sozinha.

Santana colocou uma mão sobre o ombro dela.

– Aprenda a dividir a carga. Não preciso de uma Alfa que assuma todas as responsabilidades... Prefiro alguém se comprometa a dar o seu melhor sempre, mas que tenha consciência de que às vezes coisas ruins vão acontecer... Você não precisa se sobrecarregar, nós somos uma família.

Rachel a abraçou, sem pensar duas vezes. E Santana devolveu o abraço... Por alguns segundos. Quando soltou a morena lhe ofereceu meio sorriso antes de sair do banheiro deixando a Alfa com seus pensamentos.

...

UMA HORA DEPOIS

– Então... Você vai estar na casa dos Fabray? – Leroy Berry perguntou, acrescentando descrente. – E Santana Lopez está esperando lá fora?

Rachel coçou a orelha, mordendo o lábio inferior.

– Filha tem algo que você deseje compartilhar? Nesses últimos dias quase não vejo você em casa, e de uma hora para outra você aparece com um trabalho voluntário, está frequentando a casa de pessoas que costumavam jogar Slushies em você e está se vestindo e falando diferente! Sei que pode parecer idiotice, mas querida, esses saltos estão ficando cada vez mais altos você ainda está em fase de crescimento... Não é bom para você.

Rachel engoliu seco, e depois cruzou os braços.

– Papai, por favor, não me entenda mal. Nos últimos meses eu quase não vi o senhor em casa, e pode parecer duro dizer isso agora, mas eu só cansei de ficar sozinha. E por incrível que pareça, hoje, os Fabray e os Lopez me consideram como parte da família, e acontece que Quinn e Santana já não são mais as pessoas que costumavam ser... Muito menos eu...

Por um momento, os olhos de Leroy Berry pareceram marejar. Porém ele conseguiu se manter firme.

– Tudo bem, querida. Eu entendo. Depois que seu pai e eu nos divorciamos tudo ficou muito confuso... Vou tentar estar mais presente, okay? Como antes. Desculpe Rachel.

Rachel se deixou ser abraçada por seu pai. Ela não podia dizer que não sentia falta dos abraços dele. Infelizmente, não importava o quanto ele se esforçasse, nada seria como antes. Nunca mais.

– Ligue quando chegar à casa dos Fabray, okay? Você pode confiar nela, mas eu já vi Santana Lopez dirigindo.

A garota só se limitou a concordar com a cabeça, e tomou a direção do quarto onde Quinn estava internada.

...

Rachel abriu a porta do quarto com cuidado. Estava escuro e silencioso, Judy Fabray cochilava na poltrona reclinável ao lado da cama, enquanto Frannie estava sentada no sofá de três lugares, enrolada numa manta cinza felpuda, assistindo um filme antigo na pequena televisão existente no quarto. O volume da TV estava tão baixo, que nem mesmo a audição lupina de Rachel estava ajudando a entender o que as personagens diziam.

No leito hospitalar, também coberta por uma manta felpuda na cor branca, Quinn também dormia. Rachel se aproximou devagar, admirando as feições delicadas e angelicais da garota adormecida aninhada entre os lençóis. Uma onda cálida pareceu percorrer suas veias, a partir de seu peito, se espalhando por seu corpo e transmitindo uma sensação de tranquilidade e contentamento quase que etéreos. Sem poder se conter, ela alcançou o rosto de Quinn, tocando a pele sedosa com a ponta dos dedos. No mesmo instante, as pálpebras alvas se mexeram, abrindo-se vagarosamente, ao passo que Quinn inclinou o rosto sobre a palma suave de sua companheira. Seus olhos se abriram finalmente, revelando as belas íris, que brilhavam com riscos esverdeados ao redor das pupilas dilatadas em meio aquele mar de caramelo.

– Oi. – Quinn sussurrou com a voz rouca.

– Oi. – Rachel sussurrou de volta com um meio sorriso.

Então as duas ficaram em silêncio, simplesmente observando uma a outra. Como se estivessem satisfeitas em ficar ali, somente absorvendo a presença e o conforto que sentiam ao estar juntas.

Do outro lado do quarto, um movimento chamou a atenção de Rachel.

– Vou até a lanchonete pegar um café. – disse Frannie se levantando do sofá e se dirigindo à porta. – Não fiquem muito animadinhas com a perspectiva de ficarem sozinhas. Dona Judith Fabray pode até dormir feito uma pedra, mas ela é perita em transformar momentos com grande potencial romântico em lembranças extremamente embaraçosas.

Frannie fechou a porta atrás de si, deixando Rachel com uma cara de ponto de interrogação. Quando a morena voltou a olhar para Quinn, pode notar as bochechas coradas de sua companheira e sorriu totalmente incapaz de impedir seu coração se deixar levar pela ilusão do que ela desejava que aquele rubor significasse.

Lucy Quinn Fabray.

Desde o primeiro momento a garota havia roubado seu coração.

Durante anos Rachel lidou com o conflito causado pelas emoções daquele primeiro encontro com a garota, e agora justamente quando ela pensava ter conseguido enterrar todos aqueles sentimentos conflituosos e proibidos em algum lugar esquecido dentro dela, Quinn retomava seu coração sem nenhum esforço. Só com um olhar. Um sorriso. Ela era como uma verdadeira rainha de um reino há muito perdido, que ressurgia para assumir seu lugar de direito. Derrubando todas as defesas e transformando todos os esforços, que durante os anos protegeram Rachel da dolorosa realidade da impossibilidade de tê-la ao seu lado, nas mesmas antigas incertezas de sempre.

– Como você está? – Rachel limpou a garganta perguntando baixinho.

– Bem. – a loira respondeu ainda rouca, se apoiando sobre os cotovelos e impulsionando o corpo mais para cima sobre o colchão. Depois ela fitou Rachel, erguendo a sobrancelha e estreitando os olhos. Um meio sorriso pareceu iluminar suas feições, quando ela voltou a falar em tom de provocação. – Eu já poderia estar liberada, e em casa a essa hora, senão fossem pelas ordens de uma certa pessoa.

– O Doutor Lopez concordou que seria melhor você passar a noite para termos certeza de que está tudo bem. – disse a morena tentando manter uma expressão neutra.

– Sei... Mas... – Quinn franziu o cenho, sua expressão assumindo um tom preocupado. Ela alcançou a mão da morena, que estava encostada na grade da cama. – E você? Se me lembro bem, você também foi ferida...

Rachel estava olhando fixamente para a mão pálida que cobria a sua.

– Eu curo rápido. – ela disse deslizando a palma pela grade fria, e consequentemente se desvencilhando do toque de Quinn.

A loira sentiu como se algo estivesse se quebrando dentro dela.

– Ah. – ela acrescentou, colocando a mão sobre o colo e mordendo o lábio inferior. Por um instante ela havia esquecido que Rachel não a queria. – Desculpe.

A morena abaixou a cabeça envergonhada.

– Não tive a intenção...

– Não precisa se preocupar. Você já deixou bem evidente como se sente...

– O quê? – Rachel arregalou os olhos para ela.

– Você me odeia Rachel. Mas, não culpo você por isso...

– Quinn, eu...

– Não precisa ficar se preocupando comigo...

– Não. – a morena agarrou-lhe a mão. – Você não está entendendo.

– Então me faça entender, Rachel. – ela disse bruscamente, fechando as mãos em punho sobre o colo. Seus olhos esverdeados se voltaram para Rachel, repletos de angustia, brilhando em meio às lágrimas que se formavam em suas órbitas. – Porque tudo o que sinto é essa dor terrível corroendo meu coração todas as vezes que você foge de mim. E eu sei que sou a única culpada por você sentir tanta aversão a mera ideia de estar ao meu lado, mas não posso impedir todo meu ser de querer estar em seus braços.

– Mas é exatamente isso! Eu não sinto aversão, Quinn. EU quero! EU sempre quis. Desde o primeiro momento que vi você entrando no colégio com aquele vestidinho amarelo e de laço no cabelo. Nós tínhamos cinco anos de idade, mas eu soube no mesmo minuto que você era especial. Só bastava um sorriso seu e meu coração parecia derreter em meu peito. E independente do que sou hoje, ou de tudo que aconteceu entre nós, você sempre foi capaz de despertar em mim a mais sublime das sensações. Mas o que você está sentindo agora não é real! Não é natural! É só uma combinação de hormônios! – Rachel se afastou frustrada, sentindo seu corpo tremer de raiva. – Se você tivesse uma opção, seria eu? Em algum momento, longe de tudo isso, você consideraria a possibilidade de ficar comigo, Quinn?

Rachel encarou a garota totalmente perplexa na sua frente, procurando por um sinal em seus olhos que contradissessem suas palavras, mas o que ela viu refletido naquele mar esverdeado só confirmou seus temores.

– Foi o que pensei. – a morena concluiu dando as costas e seguindo em direção a porta. – Por favor, fique aqui esta noite. Estarei lá fora protegendo você.

A porta de fechou vagarosamente depois da saída da Alfa, ao mesmo tempo em que Quinn sufocava as lágrimas em seu travesseiro.

Na poltrona reclinável, ainda fingindo dormir profundamente, Judy Fabray mordia o lábio inferior. Quinn podia não aprovar, mas talvez essa fosse a hora para uma intervenção materna.

...

Uma sombra enorme se moveu por entre as árvores, assustando o lobo marrom que descansava as margens de um lago.

“Você fracassou mais uma vez.” A voz grossa ressoou pela noite, fazendo os pelos do pescoço do lobo se erguerem.

“Meu mestre... Deixe-me explicar.” O lobo implorou se abaixando perante a figura envolta pela escuridão à sua frente.

O ganido de dor ecoou pela mata e no instante seguinte o lobo marrom retornava a forma humana, se contorcendo no chão com as mãos cobrindo seu olho direito, que sangrava profusamente.

“Eu quero Quinn Fabray morta, antes que aquela maldita descendente de Fenrir cumpra a profecia.” A voz do lobo voltou a falar, num tom que se assemelhava a um rosnado.

O homem jogado ao chão gemeu suas desculpas mais uma vez para a forma do grande lobo que se afastava.

– Não falharei de novo, Mestre. – ele sussurrou agradecido por ainda estar vivo.

Outros lobos deixaram seus abrigos junto às sombras das árvores, rodeando o homem.

– A Grande Batalha vai começar em breve. Precisamos estar preparados, irmãos.

À luz da lua seu rosto banhado pelo sangue deixava evidente o corte que atravessava sua face, desde a testa até o queixo. Seu olho direito, branco e mutilado, jamais se recuperaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente! Como está do lado da aí?
Escutem, a fic está indo bem e com uma boa regularidade e sei que isso deixa a todos felizes.
Vocês sabem do meu amor por planilhas e planejamentos.
Mas, a vida é imprevisível, coisas acontecem durante o percurso e não podemos prever tudo.
Primeiramente, as postagens alcançaram os capítulos escritos.
O que significa que eu e a Dana precisaremos de um tempo para conseguirmos tomar uma dianteira maior.
Em segundo, a Dana está passando por problemas pessoais.
Ela precisa de um tempo e um pouco de espaço...
Depois, também estou estudando muito, ou seja, meu tempo de escrita ficou bastante limitado a partes do meu final de semana.
Gente, eu sei que alguns de vocês tem traumas pelo o que houve em Companheiro (a).
Não é isso que vai acontecer aqui.
Só que entre esse capítulo e o próximo haverá um espaço maior, devido a esses motivos que eu falei.
Tem as formas de contato de nos duas em nossos perfis.
Sintam-se a vontade para ir lá e falar conosco.
Se tudo ocorrer como esperamos que ocorra (rezem por nós) dia 25 de abril estaremos de volta a programação normal.
Novamente, sentimos muitissímo!
Com amor,
Chase e Dana



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Despertar do Lobo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.