Gaia, sem ter nenhuma opção do que fazer, teve que usar a porta da frente para entrar na mansão de Dimitrius. Ela não possuía asas para voar e tão pouco podia usar seus poderes para entrar na casa sem ser vista.

Ela sabia que correria um risco muito grande de encontrar o arcanjo da humanidade, mas não imaginava que fosse tão desprovida de sorte.

No momento em que empurrou a porta para entrar, primeiramente seus olhos encontraram as costas de um anjo e em seguida ela viu os rostos de todos os tenentes de Dimitrius parados um ao lado do outro.

Inclusive Christopher, o tenente que servia o arcanjo como espião, estava presente.

Os quatro soldados olharam em direção de Gaia sem nenhuma expressão em seu rosto, mas por um único segundo ficou evidente o espanto que surgiu em seus olhos por vê-la toda suja de terra.

Esse único segundo bastou para que o imperador da humanidade se virasse para ver o que seus tenentes encaravam.

O anjo inclinou sua cabeça para o lado e seus olhos brilharam com curiosidade enquanto ele a observava cuidadosamente.

— Eu devo deduzir que você não será amiga das outras imperatrizes?— Ele perguntou e Gaia negou com sua cabeça imediatamente, pois não podia deixar que Dimitrius pensasse que aquilo era obra de Niffie e Ellylan.

Ela não negava que talvez se parecesse com algo que a imperatriz do inferno faria quando perdia o controle da sua própria raiva, mas insuniar que Niffie fizesse algo do tipo parecia estranho demais.

— O que aconteceu?— O arcanjo voltou a questioná-la, mas naquele momento as sombras que assombravam a sua alma começaram a aparecer em seus olhos escuros.

Gaia olhou para os tenentes que estavam logo atrás de Dimitrius a olhando em espera de uma resposta também, mas ela não poderia dizer nada até que eles estivessem longe. Compartilhar sua humilhação com Dimitrius era algo que ela podia lidar, mas com todos já era um pouco demais até mesmo para a imortal que tolerava muitas coisas.

— Vão.— O arcanjo da humanidade ordenou sem ao menos olhá-los e foi obedecido no mesmo segundo.

A filha dos elementos ficou sozinha com Dimitrius no hall da enorme mansão do arcanjo e se ela não tivesse visto que a casa estava cheia com os tenentes antes, poderia acreditar que não existia mais ninguém ali dentro pelo enorme silêncio que se formou enquanto o anjo a encarava a espera de respostas.

— Isso é para você.— Gaia estendeu seus braço em direção de Dimitrius para que ele pegasse o pequeno vaso improvisado de margaridas.

O arcanjo da humanidade olhou em direção das flores e arqueou uma das suas sobrancelhas, deixando evidente que não estava compreendendo nada.

— É um presente.— A imortal disse para explicar.
— Por que você está me dando flores, Gaia?—
— Ellylan disse que gentileza é muito importante em um relacionamento.— Ela falou.— Eu estou tentando lhe agradar.—

Dimitrius sorriu por alguns segundos e antes que Gaia desistisse de dar aquele vaso para o arcanjo, ele tirou de suas mãos.

— Obrigado, gatinha.— O imperador falou com sinceridade.— Mas eu acredito que nós vamos ter mais chances de sobreviver se você não seguir os conselhos de Ellylan.—
— Na verdade, eu não estou fazendo o que ela disse.— Gaia foi sincera.— Ellylan falou que eu deveria beijá-lo e Niffie concordou.—
— Ok.— O anjo falou rapidamente enquanto olhava para as margaridas e por um momento pareceu ficar constrangido.— Entenda que minhas cunhadas são completamente intrometidas e você não deve dar ouvidos para o que elas falam.—
— Eu não tenho intenção de beijá-lo para começar um relacionamento.—

A imortal aproveitou o silêncio do arcanjo para espionar os seus pensamentos, sua intenção era saber o que ele estava pensando sobre o seu presente, mas foi impossivel não sentir pena de Ellylan e Niffie, pois Dimitrius estava sendo bem criativo sobre a parte em que ia matá-las pelos conselhos desnecessários.

— Agora,— Ele começou enquanto caminhava para colocar a xícara com flores na janela mais próxima para ter suas mãos livres.— Me diga o que aconteceu para ficar toda suja de terra.—
— Não é nada importante.—
— Pra mim parece muito importante, pois não imagino que você tenha se sujado tanto por minha causa.—

Gaia não queria dizer a verdade para Dimitrius, pois sabia que o arcanjo acabaria se irritando com as angelicais que a trataram de forma que já estava tão acostumada. Contudo, ela não queria mentir também desde que era ciente que suas mentiras não convenciam a ninguém.

— Quando estava voltando para a mansão encontrei duas angelicais que não gostam muito de mim...— A filha dos elementos sussurrou e sua voz morreu no instante em que as sombras surgiram nos olhos de Dimitrius novamente.— Mas eu estou bem, elas apenas jogaram a terra.—
— Você é uma imperatriz agora.— O arcanjo rosnou.

A imortal ficou em silêncio por não ter o que dizer naquele momento, pois ela era muito mais do que uma imperatriz e ninguém nunca a respeitou. Gaia já estava acostumada a ser tratada de tal maneira e não compreendia muito bem por que Dimitrius se importou tanto com o que ocorreu.

Mas, aparentemente, ele estava irado.

O arcanjo da humanidade começou a andar em direção da porta e bateu com força a porta no momento que saiu de dentro da mansão. Gaia o seguiu também, correndo o mais rápido que podia para que o anjo não voasse pra longe dela.

— Espere, Dimitrius.— A imortal o chamou.— Você nem ao menos sabe quem são para ir procurá-las.—
— Eu não preciso saber.— Seu tom foi frio e sem nenhuma emoção.

E o imperador realmente não precisava saber quem era. Afinal, como um arcanjo, Dimitrius tinha o poder de acessar qualquer mente que desejasse e isso apenas tornava as coisas mais facéis quando ele já imaginava o caminho que ela percorreu para buscar as margaridas.

— Você não pode matá-las!— Gaia quase gritou quando invadiu a mente do anjo para saber o que ele pretendia fazer ao encontrar as angelicais.

E no momento em que Dimitrius estendeu suas asas, mesmo que de forma imprudente e mortal, a filha dos elementos foi obrigada a agir.

A imortal correu em direção do arcanjo da humanidade antes que ele se afastasse do solo e o abraçou por suas costas. Um abraço, obviamente, não era algo que detia o movimento de um anjo tão forte como Dimitrius, mas Gaia fez questão que seus braços, que se passaram ao redor do corpo dele, tocassem as pontas de baixo das suas penas e ainda apoiou uma das suas bochechas na borda de uma das asas.

A posição não era algo que agradava a imortal, mas essa era a única maneira que pensou para deter o arcanjo que estava prestes a fazer tolices por se permitir ser movido pela raiva das sombras que existia em sua alma.

O toque nas asas de Dimitrius fez com que ele congelasse imediatamente e como as mãos de Gaia estavam em sua barriga, ela sentiu que nem ao menos respirando estava por causa da sua atitude tão insana.

O imperador da humanidade era conhecido por nunca ter permitido que uma mulher tocasse em suas penas tão brancas e macias.

As únicas que tiveram essa chance foram Diane e sua mãe.

Todo anjo possuía orgulho de suas asas e elas eram como troféis que não deviam ser tocadas por qualquer um, então apenas aquelas pessoas que eram amadas por eles podiam ter esse privelégio de toque.

E o fato de Dimitrius ser um arcanjo, que nunca permitiu que uma mulher tocasse suas asas, apenas o tornava como algo raro e desejável para as imortais que se iludiam em um relacionamento com ele.

Gaia sabia, sem ao menos estar na mente do arcanjo, que seus pensamentos eram todos brancos e essa reação acabou a deixando com remorso por ter roubado algo que ele valorizava tanto por ser o presente mais valioso que daria para a mulher que amava.

A imortal estava prestes a se afastar para se desculpar e permitir que o arcanjo da humanidade se recuperasse do seu choque, mas antes que ela fizesse isso o seu olfato capturou um aroma doce que chegava a ser até mesmo enjoativo.

Era um essência muito feminina e que nunca havia estado impregnado em Dimitrius desde que eles se casaram.

A filha dos elementos se afastou no mesmo instante, sentindo algo incômodo crescer em seu interior, mas ela não conseguia compreender exatamente o que era. Gaia podia dizer que se sentia traída pelo fato de Dimitrius exigir sua lealdade quando o próprio não fazia nenhum esforço para fazer o mesmo.

— Vá matá-las se é isso que desejava,— A imortal começou a falar com raiva.— Mas em seguida faça o mesmo com você.—

Gaia se virou e começou a caminhar de volta para a mansão, sem se importar com o fato de que Dimitrius havia se tornado uma pedra de gelo.

Naquele momento ela desejava que ele congelasse até morte, se fosse possível, para que aprendesse que não se pode exigir algo que nem mesmo o anjo podia cumprir.

Dessa vez Gaia não se importou em bater a porta da entrada com a mesma força que o arcanjo usou momento antes e ela pode compreender qual era o sentimento maravilhoso que as pessoas sentiam ao descontar a ira com algo tão simples como uma batida.