Filho do Inverno escrita por Hurricane


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Primeira fantasia medieval, vamos ver no que dá?



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Estava chovendo, os cascos do cavalo reviravam a lama. O vento frio vinha do norte, trazendo lembranças ao cavaleiro. A capa estava ensopada e pesada e seu cavalo, cansado.

Mas eles não podiam parar ainda, a cidade estava distante. Mais alguns metros e o cavaleiro encontrou uma estalagem. Decidiu que não podia fazer Galleth continuar correndo na noite fria e chuvosa. Desceu do cavalo e entregou-o a um garoto nos estábulos, junto de uma moeda de cobre.

— Cuidado com as coisas que ele carrega — advertiu.

Não queria mais nenhum incidente como o de Aleran. O cavaleiro entrou na estalagem, que era simples: o primeiro andar de pedra e o segundo, colocado ali muito depois e nem tão cuidadosamente, de madeira. Tinha uma simples placa acima da porta com um desenho feito à mão que podia tanto representar uma cama quanto um cavalinho de madeira. De dentro, emanava um cheiro que encheu sua boca d'água. Não estava muito cheia mas isso não era surpresa. Tirou sua capa e pendurou-a ao lado da porta para não molhar muito o chão. Por baixo, o homem vestia uma cota de malha, leve mas resistente, com uma Rosa dos Ventos azul — exceto pela ponta norte, que estava em negro — e uma espada embainhada na cintura.

— A paz do Senhor, viajante. — Uma forma estranha de se cumprimentar, mas não inválida nesses tempos.

— A minha própria paz.

— O mundo é um lugar muito perigoso pra se recusar a proteção do Nosso Senhor, viajante.

— Nosso Senhor não fez muito por mim nos últimos tempos, por isso prefiro optar pela paz que eu mesmo me arranjei. Não que eu seja um infiel, apenas não sou muito fervoroso em minha fé.

— Entendo, entendo. Talvez queira um outro Deus? As crenças andam muito divergentes esses tempos, não acho que seria difícil achar um que lhe fosse mais agradável.

— Um homem que troca suas crenças não crê em nada de verdade.

— Sábias palavras. Então, em que posso te ajudar?

— Um quarto seria muito bom. E um pouco do dono desse cheiro.

— Aceita algo para beber também?

— Com toda a certeza.

O cavaleiro sentou-se no balcão e pôs-se a escutar algumas das poucas conversas enquanto sua comida não chegava.

— A cidade está sitiada, eu te digo! Nenhuma pessoa em sã consciência vai até lá!

— Bobagens e mais bobagens, ninguém poderia fechar Shetfield!

— E por que não há mais movimento nas estradas? Por que você acha que ninguém mais vai até Shetfield?

O cavaleiro nem percebeu que já estava comendo, tão interessante se tornara aquele assunto.

— Eu não sei, mas...

— Shetfield foi sitiada, isso é verdade. Dizem que o Duque não conseguiu achar um exército pra combater o que a fechou — entrou um terceiro.

— E nem achará, segundo o que ouvi. A cidade foi fechada por um necromante ou alguma cosia do tipo, um servo do Diabo!

Todos fizeram o sinal da cruz, exceto pelo cavaleiro. Ele apenas sorriu por entre seu cavanhaque castanho.

— A sua paz lhe protege do Diabo, viajante?

Como resposta ele simplesmente deu dois tapinhas na espada em sua cintura.

— Muita coragem dizer que uma espada pode te proteger do Diabo.

— Não é a espada, mas aquele que a empunha. — Ele havia terminado seu guisado e agora bebia um pouco de cerveja. — Talvez não seja o suficiente pro próprio Diabo, mas para um servo dele é.

Aos poucos as conversas sobre Shetfield foram parando e eles começaram a prestar atenção no que o cavaleiro dizia.

— O Duque pode não ter conseguido um exército para mandar até Shetfield, mas ele conseguiu um homem.

— Você vai até a cidade...?

— Vou. O Duque me contratou para ir até lá e libertar Shetfield das mãos dos mortos.

A descrença se espalhou pela estalagem como se fosse fogo, pois não havia homem sozinho que tivesse capacidade de enfrentar um exército de mortos sitiando uma cidade.

— E você vai derrotar um necromante e seu exército?

— Não seria exatamente a primeira vez, embora esse possa ser o maior que já enfrentei.

Aquilo arrancou risos das pessoas que o escutavam. O cavaleiro era louco, com certeza. Ele se retirou para seu quarto com aqueles risos ao fundo, parando no topo das escadas para responder uma pergunta.

— E quem é você, grande guerreiro?

— Eu? Eu sou sir John. Sir John Northenhall.

— Mas os Northenhall estão mortos, senhor!

— Então talvez eu esteja indo ajudar a sitiar a cidade, ao invés de libertá-la.

O clima ficou tenso enquanto sir John se retirava para o quarto. Escutou os burburinhos que começaram depois de ele sair, mas não os entendeu. E nem se importou.

Tirou a cota, depois as luvas e então as botas, soltou o cinto e deixou-o — com a espada — do lado da cama, ao alcance de sua mão. Por fim, tirou as grevas e deitou, sentindo a palha por baixo de suas costas.

Ele encarou o teto um pouco, à luz de um lampião. Suas pernas estavam doendo, e também o abdômen, seu corpo estava cansado. Sir John estava exausto no geral, mas a sua mente ainda trabalhava. Precisava derrotar um exército de mortos que sitiava uma cidade, nunca fizera algo assim antes.

O cansaço finalmente o agarrou e jogou-o nos braços do sono.

Sir John desceu de seu cavalo, decidindo que percorreria o resto do caminho a pé.

— Se eu não voltar, vá embora, Gal.

Ele pegou seu escudo maior e o prendeu ao braço, ajustou a espada em sua cintura e prendeu o outro escudo — menor e feito de carvalho com um pouco de metal — nas costas. Botou o capacete, de aço e sem ornamentos, e ajustou para a proteção do nariz não atrapalhar a visão. Sir John olhou para a frente, sentindo o peso da caminhada.

Pegou um alforje com algumas pequenas garrafas e outro com um pouco de bebida e um pedaço de pão, afagou seu cavalo mais uma vez e deu-lhe um beijo no focinho. Começou a caminhar pela estrada, sabendo que Galleth não sairia dali e que nenhum ladrão se aventurava tão perto da cidade para roubá-lo.

John Northenhall começou a sua caminhada, meia hora depois ele conseguia ver a cidade no horizonte.

Seus grandes muros de pedra se desenhavam contra o céu azul, no alto havia uma grande mansão que servia de moradia para o senhor da cidade e as casas se esparramavam pelo monte onde se erguia Shetfield, o Sol sobre as colinas verdejantes tornavam a vista quase uma pintura.

O tom mais escuro da cidade era a fumaça negra que subia do centro.


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Notas finais do capítulo

Com o decorrer dos capítulos a magia vai vir aos poucos, assim como o Willian (que aparece ainda antes do fim desse "mini-arco" de Shetfield), então não se afobem. Eu planejo essa história pra ser meio longa, então vou ir apresentando cada detalhe aos poucos. E então, gostaram? Querem falar algo sobre que impressão eu passei? Comente ^-^



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