Castiel e Gabriel estavam sérios, Sam parecia nervoso e Kevin também. Logo Dean apareceu na sala desligando o celular e dizendo que o Bobby estava à caminho.

– O que houve? - Perguntei olhando de um para outro.

– Metatron... Ele está vindo atrás de você. - Castiel falou.

– Ele começou uma série de massacres, Meghan. Pessoas inocentes estão morrendo só porque ele quer que você se entregue. - Sam me passou o tablet onde haviam várias notícias de homicídios coletivos e suspeitos.

– Não acredito! Anjo patético! - Rosnei jogando o tablet em cima da mesa e me virei encarando os anjos - Cass, Gabes... Sejam sinceros, o que eu tenho que fazer?

– Bom, o que não queríamos que fizesse... - Gabriel começou - Se entregar.

– Mas não sem uma boa luta. - Dean falou - Metatron está vindo, pois que venha! Estaremos prontos.

– Ele está com um exército de anjos, acabaria com vocês num estalar de dedos, literalmente! - Vociferei na direção dele - Eu vou sozinha.

– Não! - Todos falaram em um único som.

– Megh, olha só... Nós não vamos te impedir de se entregar, caso seja necessário - Sam se levantou e veio até mim me segurando pelos ombros -, eu sei bem o que se passa na sua cabeça agora e eu entendo. Mas você tem uma chance melhor do que eu tive.

– Sério? Você acha mesmo? Matamos Metatron hoje, mas e depois? Lúcifer só existe um, mas quantos idiotas saem por aí brincando de Deus? - Me virei para o anjo - Sem ofensas, Cas.

– Gente, isso é sério! - Gabriel se pôs entre nós dois - Ele também está matando anjos para usar a energia vital deles.

– Ok, vamos agir rápido então... Onde ele atacou? - Dean perguntou.

– Na Califórnia, depois no Maine, depois em Nebraska e aí foi para o Texas... Ele não está seguindo nenhum padrão! Apenas está escolhendo lugares aleatoriamente. - Kevin ergueu as mãos.

– Não, ele quer que eu o encontre! Tem que ter um padrão... - Me virei para os nerds -Vocês trabalham nisso e nós partiremos assim que o dia amanhecer, vamos nos preparar.

– Espera! Alguém pode me explicar o que está rolando? - Claire pediu.

– Um escriba surtado quer usar o meu corpo como casca e está matando todos para que eu me renda... Qual parte você não entendeu? - Questionei.

– A parte que você tem uma escolha e vai se jogar aos tubarões! - Claire rolou os olhos - Não tem outro modo de resolver isso sem que você morra?

– Eu não vou morrer!

– Também me disseram isso sobre meu pai. - Ela falou seca e me deu as costas, indo em direção ao corredor.

– Ok, isso foi coisa da minha cabeça ou ela estava preocupada com a Meghan? - Dean questionou.

– Não sei, meu cérebro deu uma pane quando elas trocaram duas frases sem gritar! - Kevin respondeu me encarando.

– Uma trégua, ok? - Esclareci - Bom, acho que seria prudente se eu fosse me preparar... Tipo, vamos precisar de óleo sagrado, espadas angelicais, aprender uns sigilos enoquianos...

– Vamos providenciar isso, voltamos em breve. - Castiel disse e sumiu junto ao Gabe.

– Vou arrumar minhas armas. - Falei e fui para o meu quarto.

Comecei pegando minhas armas e umas latas de tinta para fazer os sigilos, tentava pensar ao mínimo no que estava prestes a fazer... Mas era isso mesmo. Desde o primeiro segundo nessa vida eu sabia que morreria me sacrificando pela humanidade, é isso que eu sou. Uma caçadora.

Fora que eu já estava há anos em período de aceitação, afinal eu fiz um pacto e sei muito bem que não posso fugir, não ligo se morrerei daqui há um segundo ou daqui há dez anos, eu vou acabar no mesmo lugar e não há nada do que posso fazer, não fujo mais da morte e não batalho contra ela, no fim das contas eu ando de mãos dadas com ela.

– Meghan? - Sam bateu na porta antes de entrar - Achamos o padrão...

– Bom trabalho, nerd. - Forcei um sorriso para ele.

Para a minha surpresa, Sam veio até mim e me abraçou com força, respirando fundo contra o meu cabelo. Retribuí o abraço, era confortável e transmitia segurança... Assim como apenas a presença dele, seu abraço me fazia bem e eu não podia negar a importância do meu pequeno grande irmãozinho.

– Ei Sammy, pare de agir como se eu fosse ser usada como sacrifício. - Eu dei um tapinha no braço dele ao me afastar.

– Mas é exatamente isso! - Ele soltou um riso e eu dei de ombros.

– Faz parte da vida... Salvar pessoas, caçar coisas, o negócio da família.

– Não cite Dean Winchester para tentar me amolecer. - Ele ergueu a sobrancelha me encarando.

– Eu queria prometer que iria voltar, mas talvez não seja verdade... Quer dizer, eu acho que pode ser melhor assim.

– Nós não vamos deixar isso acontecer, Meghan!

– Não, vocês não devem interferir... Se algo acontecer à qualquer um de vocês, eu não... Não poderei me perdoar. - Abaixei a cabeça.

– Não vai acontecer, afinal... Quantas vezes nós já morremos, voltamos, morremos, voltamos, morremos, morremos, voltamos e morremos?

– Idiota... - Eu soltei uma risada, me sentindo realmente melhor - Vamos pegar aquele anjo patético de vez.

– É esse o espírito! - Dean apareceu na porta - Castiel já voltou com as coisas, estamos prontos.

– Vamos lá.

–---

Nós estávamos na estrada, Gabriel e Castiel iam no carro comigo e os Winchester na frente, pelo o que Sam e Kevin haviam descoberto, Metatron estava seguindo para o Mississipi, não entendi direito qual foi o padrão mas tinha algo a ver com coordenadas e essas coisas. Enfim, eu só precisaria estar lá e não entender como aconteceu. Por outro lado, Kevin ficou tentando traduzir o resto e seria muito bom se ele conseguisse, não quero nem pensar na possibilidade de deixar meu corpo com aquele anjo medíocre.

Todos estavam em silêncio, o único barulho era o mastigar nervoso do arcanjo que se entupia de jujubas, Castiel evitava me olhar e mantinha os olhos fixos na estrada... Aquilo estava me deixando mais nervosa ainda e decidi ligar o rádio para relaxar e estava tocando Angel do Aerosmith, não pude deixar de revirar os olhos para aquela maldita coincidência, a letra era basicamente uma declaração para um "anjo" e um pedido de socorro dramático. Mudei para o pen drive e estava tocando Maps do Maroon 5, a letra não era a mais animada porém a melodia me deixava menos nervosa.

A viagem foi longa, mas a adrenalina era tanta que eu nem me sentia cansada, nós nos hospedamos em um hotel e nos reunimos para tentar descobrir onde encontraríamos aquela criatura asquerosa.

– Ele trouxe muitos anjos, muitos anjos mesmo! - Gabriel avisou - Da pra sentir daqui!

– Isso vai ser muito perigoso. - Castiel entregou uma espada angelical para cada um de nós - Acho que devemos fazer uma armadilha, prender todos em óleo sagrado.

– O problema é que o projeto de Deus não fica preso nesse círculo. - Dean reclamou.

– Ok, deixa eu explicar uma coisa... - Fui para o meio deles - Eu disse que sabemos como tirar o poder dele, certo? Uma grande mentira, mas ele não precisa saber disso... Eu vou deixá-lo entrar e começar a importuná-lo, mexer com a cabeça dele... Vou fazê-lo revelar a fraqueza do poder da Palavra de Deus.

– E se ele reprimi-la? - Sam perguntou.

– Não vai, eu não vou deixá-lo vencer... Não vou deixar esse fardo com vocês.

– Meghan, ele pode acabar com você... Ele pode destruir você de dentro para fora. - Gabriel se aproximou.

– Não importa, ele não vai sair ganhando dessa... E vocês tem que aceitar o que quer que aconteça comigo. - Respirei fundo - Só não aceitem demais... E lembrem que sou a única ruiva da vida de vocês! - Dei de ombros com um meio sorriso.

Todos estavam em silêncio, dava para perceber que eles queriam me salvar mas sabiam que talvez não fossem capaz disso. Na verdade, era bem improvável que não acontecesse. Mas tudo bem, continuo a repetir que eu aceito o meu destino.

– Temos que montar logo essa armadilha. - Castiel falou, desviando o olhar de mim - Eu vou descobrir onde ele estará.

– Como voc... - Antes que Sam terminasse a pergunta, Castiel já havia sumido o deixando falando sozinho.

– Não se sinta mal, Sammy... O problema é comigo. - Dei uns tapinhas no ombro do Alce.

– Sabe, você está indo praticamente para a morte, deveriam conversar. - Gabriel sugeriu.

– Ela não vai para a morte! - Dean deu um tapa na cabeça do arcanjo - Mas eu também acho que deveriam conversar.

– Tentarei, mas acho que tenho outras preocupações agora. Quando tiverem notícias daquele maldito, me chamem. - Acenei e fui em direção ao meu quarto.

Assim que entrei, me deu um grande aperto no peito, pela primeira vez eu estava nervosa e com medo do que viria a seguir, só não queria demonstrar aos garotos... Não precisava de mais piedade, eu precisava de força. Aquele pavor de estragar tudo, de não ter capacidade de vencer Metatron estava me atingindo.

Sentei na cama e tirei o colar que Castiel havia me dado de aniversário, fiquei olhando para o pingente brilhante e pensando em todos os momentos que tive com o anjo, não deveriam ter existido, era injusto com ele, eu não estaria ali para sempre e iria fazê-lo sofrer mais cedo ou mais tarde, ou no caso, agora.

– Pensativa? - Aquela voz irritante me chamou e eu ergui os olhos na direção dela, lá estava Metatron com seu sorriso idiota e mãos no bolso - Tudo bem, Meghan?

– Como você é adorável! - Estreitei os olhos e falei irônica - Nem precisei te procurar, você veio até mim.

– Sim, só quis ser cavalheiro. Então, está pronta? - Ele fez menção de se aproximar de mim.

Mas antes que ele desse outro passo, Gabriel apareceu na minha frente de forma defensiva com uma das espadas angelicais na mão, o clarão de um relâmpago invadiu o quarto e ele mostrou as sombras de suas asas, eram enormes! Muito maiores que as de Castiel ou de qualquer outro anjo que eu já tenha visto, magníficas!

– Se afaste, nerd! - Gabriel falou dando um meio sorriso e fazendo os próprios olhos exibirem a luz azul.

– Poupe seus poderes, Gabriel. - Metatron fez um simples movimento com a mão e jogou o arcanjo contra a parede - Eu já tenho o que quero e posso te matar.

– Não! - Eu protestei - Eu estou bem aqui, apenas o deixe em paz.

Metatron ponderou um pouco, encarando Gabriel jogado no chão e por fim se aproximou de mim colocando a mão no meu ombro.

– Vamos para outro lugar onde poderemos conversar com mais privacidade. - Ele nos teletransportou para um tipo de galpão pequeno e acabado, parecia a parte interna de um celeiro na verdade - Espero que seus amiguinhos não tentem nos interromper, eu trouxe um pequeno exército para garantir que nada nos interrompa.

– Sei, pequeno exército...

– Estou muito ansioso, Meghan. Eu fiquei preocupado quando você disse que sabia como tirar meu poder, mas logo percebi que era mentira, afinal se você soubesse tamanha informação, já teria o feito.

– O que te faz pensar que eu não esperaria um momento mais oportuno?

– Porque você não ganharia nada esperando... - Ele começou a andar de um lado para o outro de forma tranquila - Você é tão especial! Existem poucas pessoas com seu potencial no mundo, devo dizer que Deus foi muito esperto.

– Como assim?

– O que fazia Sam e Dean serem perfeitos para Miguel e Lúcifer? O fato de serem irmãos! - Ele ergueu o dedo - Mas... O que faz Meghan Harper ser perfeita para Deus? O fato de não se apegar a nada, ninguém... Sem família, sem amigos, sem motivos para não aceitar ser um receptáculo.

– Está dizendo que eu sou o receptáculo de Deus porque sou sozinha? - Falei pausadamente, só para saber se tinha entendido direito.

– Sim, porque você é forte o suficiente para não precisar de ninguém! Um a um, sua família se foi. Seus pais, seu irmão... Você até que tentou substituí-los por aqueles caçadores, o velho bêbado... Mas não dá, você não pode! É altamente contra seus instintos.

Já ia responder, quando na verdade, ele estava certo! Eu era uma pessoa sozinha e não ligava para isso... Mas, se eu realmente era tão independente assim das pessoas, por que estava me sentindo tão desesperada só de pensar em abandonar os Winchester, Bobby, Gabriel ou Castiel? Ai! Desse jeito eu iria pirar!

– Tem razão, eu não tenho motivos para continuar nessa vida... O que eu tenho de bom aqui, não é? - Dei de ombros e o encarei - Afinal, eu não tenho ninguém e no final das contas, irei para o Inferno.

– Ah! Comigo você terá a vantagem de ir para o céu, imagina só, pode encontrar seus pais lá! - Ele se aproximou mais de mim - Vamos lá, Meghan, diga sim!

– Então... Assim que você me possuir, eu morro? - Perguntei temerosa.

– Não, vai ficar presa na própria mente, mas logo eu cuido disso. Vamos lá!

Pensei por mais um segundo, desejei que alguém chegasse ali e me dissesse que eu não precisaria fazer aquilo, mas ninguém apareceu. Que maldito nervosismo!

– Sim... - Eu sussurrei.

– Isso! Bem na hora! - Ele exclamou.

Ao fundo eu podia escutar alguns gritos e clarões vindo de fora do galpão, parecia até que estava acontecendo uma guerra do lado de fora. Então eu deduzi que era isso mesmo, os garotos deviam estar lá fora. As janelas de vidro no topo do local explodiram e os olhos de Metatron começaram a brilhar, uma fumaça de luz branca saiu de sua boca e veio em direção a mim, parecia uma possessão demoníaca.

Senti a energia se espalhando pelo meu corpo e as extremidades começaram a ficar dormentes, tive consciência de ver mais algumas luzes e Castiel surgir na minha frente empurrando o corpo de Metatron para o lado.

– Meghan! - Ele gritou, mas pareceu tão distante.

– Cas... - Eu tentei gritar de volta mas ele foi sumindo e minha visão foi se fechando.

Tudo ficou escuro, completamente no breu, não enxergava, não sentia e não escutava. Estava guardada na minha própria mente.