Gabriel estava sentado balançando as pernas de forma despreocupada e tomando sorvete enquanto Castiel estava jogando no sofá com o sobretudo destroçado e alguns cortes sobre a pele. Aquela foi uma cena bem confusa, todos agindo normalmente e sem nem se importar com o anjo acabado no sofá.

– Meghan! - Gabriel sorriu para mim.

– O quê... - Olhei de Gabriel para o Cass - Mas... Você! O QUE ACONTECEU?

– Calma, eu já estou me recuperando... - Castiel me tranquilizou.

– O que aconteceu aqui? - Repeti novamente.

– Como você conseguiu trazer o Gabriel? - Sam perguntou.

– Bom, foi bem fácil... Ou quase isso. - Cass sentou no sofá e olhou para nós - Nós temos um dos nossos entre eles... Ezequiel. Ele nos informou que Metatron estava planejando matar o Gabriel como forma de aviso. Se não entregássemos a tábua, mais anjos morreriam da mesma forma que o "último" arcanjo.

– Foi bem desesperador, por um minuto eu até acreditei que ele iria mesmo me matar. - Gabe rolou os olhos.

– Ele ia te matar! - Castiel o encarou e depois voltou para nós - Então tivemos que bolar um plano de emergência... Pensamos em uma troca.

– E o que vocês tinham para trocar? - Dean questionou.

– Ezequiel. Ele é um bom soldado e totalmente leal à Deus, o que fez Metatron acreditar que ele seria totalmente leal à ele... Então nós fingimos que o sequestramos e pedimos uma troca.

– E ele aceitou um simples soldado em troca do arcanjo ? - Indaguei ficando confusa com aquela história e sentei no sofá ao lado do Cass.

– Na verdade, ele quase não aceitou. - Gabriel começou a explicar - Mas os seguidores dele começaram a questionar essa decisão e ele viu que poderia levantar suspeitas, por fim ele não teve escolha... Toda essa troca foi boa para a gente, Ezequiel não levantou nenhuma suspeita e nós ganhamos tempo.

– E por que você está todo quebrado? - Perguntei para o Castiel.

– Bom...

– Metatron deu uma boa surra no Cassie antes de me devolver. - Gabriel o interrompeu e respondeu antes.

– O quê?! - Me levantei do sofá - Aquele patético machucou você? Agora eu tenho dois motivos pra cortar a garganta dele!

– Eu sou o primeiro motivo? - Gabriel sorriu presunçoso.

– Convencido, claro que é. - Fui até ele e o abracei - Eu senti sua falta, Candyman!

– Eu também senti, my cherry pie... - Ele retribuiu, deu um beijo na minha bochecha e depois sussurrou - Mas acho que o seu anjo não está gostando muito dessa nossa proximidade.

Larguei o Gabriel e me virei para o Cass, que mantinha um olhar estreito na nossa direção, aquilo foi bem fofo e todos na sala notaram o ciúmes do anjo. Até mesmo porque o Dean não perderia a oportunidade de zoar com o meu anjo.

– Olha lá hein, Cas... É bom você cuidar do que é seu... Tem muita gente de olho na sua garota. - Ele falou com um sorriso maroto.

– A começar por você, idiota! - Bobby falou e deixou o Winchester mais velho desconcertado.

– Parem com isso! - Eu pedi e fui até o Cass no sofá - Não precisa ter ciúmes, sabe que o Gabes é meu melhor amigo.

– Não estou com ciúmes. - Ele desviou o olhar de mim.

– E você? Por que não ajudou seu irmão a se curar mais rápido? - Perguntei ao arcanjo.

– Eu ia, mas ele não quis!

– Não seria prudente se ele gastasse suas energias comigo, logo eu me recupero. - Cass esclareceu.

– E que fim deu a caçada? - Bobby perguntou.

– Foi até divertida, a Meghan matou os dois dragões. - Dean contou.

– E nós conseguimos isso. - Sam jogou o livro da capa de couro que estava no santuário do esgoto em cima da mesa do Bobby - Mas não entendemos a língua.

– Bom, pra começar, isso não é papel. - Bobby falou erguendo uma sobrancelha.

– E o que é? - Dean perguntou receoso.

– Pele humana.

Eu e os irmãos fizemos uma expressão de nojo, o que fez Gabriel rir. Ele disse que aquilo era mais comum do que imaginávamos e que era um livro de rituais.

– E que língua é essa? - Sam questionou.

– Um derivado do latim, mais obscuro. Do começo do século 14, eu levaria bons anos da minha vida para traduzir isso...

– Deixe-me ver. - Gabriel puxou o livro e começou a passar as páginas rapidamente - Ah sim! Fala sobre o Purgatório, coisas que vocês já sabem... Parece que os dragões queriam invocar, de novo, a Mãe de Todos.

– De novo? - Indaguei - Olha, não quero essa palhaçada de purgatório, monstros, almas e leviatãs de novo! Da última vez, esse daqui - Apontei para o Cass - pirou, ficou se achando Deus e depois foi morto! Sorte que eu não estava perto, senão teria dado uns bons chutes nele para deixar de ser metido.

Os garotos seguraram o riso e Castiel me olhou um tanto envergonhado, eu sabia que ele não se orgulhava nem um pouco pelo o que tinha passado naquele tempo, ainda mais por ter trabalhado com o Crowley.

– De qualquer forma, até onde sabemos... Eles não conseguiram nada! - Gabriel nos avisou - Vocês libertaram as virgens e o livro está aqui.

– Ainda bem, porque eu estou cansada. Podemos voltar pra casa? - Pedi olhando para o Dean.

– Eu pensei em passarmos a noite aqui...

– Eu te levo em casa assim que me recuperar. - Cas disse segurando a minha mão.

– Obrigada... Gabe, cura o Cass! - Eu me virei para o arcanjo que agora estava com um pirulito na boca.

– Não precisa, só vai levar mais ou menos uma hora... Gabriel, você pode ir dar a boa notícia aos outros. - Castiel pediu.

– É, eu vou indo mesmo e acho melhor levar esse livro comigo. Tchauzinho pra vocês, fique bom logo, irmãozinho. - Ele acenou e sumiu.

– Que teimosia, Cass! - Bati o pé no chão e todos riram.

– Ela não fica adorável quando faz essas coisinhas de menina mimada? - Bobby perguntou com deboche.

– Sim, uma fofa. - Sam riu.

– Que coisas? - Questionei levando as mãos à minha cintura.

– Bater o pé no chão, fazer biquinho e drama por tudo... - Dean começou a contar nos dedos.

– Parem com isso! - Bati no braço do loiro - Eu não sou mimada.

– É sim! - Sam e Bobby falaram juntos.

– Mereço! - Revirei os olhos e sentei ao lado do Castiel.

Sam e Dean foram para a cozinha preparar algo para comer e Bobby os seguiu para pegar umas cervejas. Encostei a cabeça no ombro do anjo e o abracei, ele passou o braço pelos meus ombros e beijou minha cabeça, parecia a primeira vez que ele estava calmo depois de todas essas coisas e eu também estava. Gabriel estava bem, Castiel estava comigo e quase inteiro, impedimos uma tragédia e Metatron estava atrasado no que quer que ele estivesse planejando.

Aos poucos o corpo de Cas foi se recuperando e em menos de uma hora ele estava curado, nos despedimos dos três e voltamos para o bunker, guardei minha mochila no quarto e fui para a cozinha procurar algo para comer.

– O Dean deve ter comido o resto de pizza que deixei aqui... - Falei enquanto vasculhava a geladeira - Uh! Tem lasanha aqui! - Peguei a embalagem, peguei um garfo e comecei a comer. Quando me virei, notei que Castiel me olhava como se me analisasse.

– Sabe, estava aqui pensando... - Ele levou uma mão ao queixo - Depois de todos esses anos observando os humanos, notei que a maioria das mulheres se esforçam e comem o mínimo possível para chegar à um corpo tipo o seu.

– E?

– E que você come igual à uma condenada e ainda tem esse corpo... Lindo. - Ele apontou para mim e isso me fez ficar vermelha, era a primeira vez que Castiel me elogiava assim.

– Não sei se agradeço o elogio ou se fico chateada por me chamar de gulosa.

– Bom, eu não menti ao dizer nenhum dos dois. - Castiel riu.

– Bobão! - Eu me aproximei empurrando o ombro dele e coloquei a lasanha na mesa.

Castiel me puxou pela cintura e me beijou, ele passou os braços pela minha cintura e me manteve presa contra o corpo dele, eu dei umas mordidas nos lábios dele, eram tão macios que eu sentia vontade de beijá-los o tempo todo. Por um minuto pensei no que o Crowley disse, sobre eu amar o Cas... Não, acho que não era tão profundo assim. Não podia ser!

– Sabe, eu estou com um pouco de tempo livre... Acho que devíamos aproveitar. - Cas falou cheio de segundas intenções. Me afastei e o encarei, surpresa.

– O que eu fiz com você, Anjo do Senhor? - Balancei a cabeça negativamente e ri.

– Seja lá o que você fez, deveria fazer de novo. - Castiel sorriu e nos levou para o meu quarto em um bater de asas.

– Estou começando a me preocupar, não quero ser a responsável pela sua queda. - Eu ri enquanto o ajudava a se livrar das próprias roupas.

– Se você olhar bem, todos os anjos caíram... E acho que Deus não vai se incomodar muito comigo nesse momento. - Ele deu de ombros e me puxou junto dele para a cama.

Logo eu também já havia me livrado das minhas roupas, mal tinha palavras, ou fôlego, para descrever a sensação de sentir o corpo daquele anjo junto ao meu, era diferente, intenso, maravilhoso... Não dava para achar uma definição.

–---

No meio da madrugada, Castiel me acordou para avisar que precisaria sair. Aquilo era muito chato! Mas pelo menos ele avisou dessa vez.

– Eu acho que não irei demorar dessa vez, mas você sabe que nosso trabalho ainda não terminou e o Kevin ainda tem que traduzir o resto da tábua. - Ele me explicou enquanto terminava de arrumar o sobretudo.

– Minha nossa! Eu já tinha esquecido do Kevin! - Pulei da cama e vesti um roupão.

– Ele está bem Meghan, está dormindo. - Castiel me parou antes que eu chegasse na porta - E você deveria fazer o mesmo, eu volto assim que puder. - Ele segurou meu queixo e me beijou.

– Tudo bem, até mais.

Ele sumiu e eu voltei para a cama, puxei os travesseiros e os abracei aproveitando o cheiro de maracujá que o anjo deixou. Não demorou muito para que o sono me pegasse novamente.

Só acordei na manhã seguinte, com Sam batendo na porta para avisar que já estavam em casa. Fui me arrastando para o banheiro, me arrumei e fui até a sala onde todos estavam. Dean estava ouvindo músicas com fone de ouvido na poltrona da segunda sala, Sam com o notebook na mesa e Kevin, como sempre, trabalhando na tábua dos anjos.

– Oi meninos! - Falei sentando ao lado do profeta - E aí, Kev?

– Olá Meghan... Como você está? Soube que você arrasou com dois dragões.

– Estou ótima e me sentindo badass por isso! - Sorri e me virei na direção da voz do Dean vindo da segunda sala. Ele estava cantarolando alguma coisa.

– Ele está inspirado hoje... - Sam comentou.

– Percebi... Ei! Deanno! - Joguei uma bolinha de papel nele que se assustou e olhou para mim - Bom dia!

– Bom dia, Meg! - Ele sorriu para mim e depois fechou os olhos voltando a se concentrar na música.

– Meghan... Quando o Castiel vem aqui novamente? - Kevin perguntou.

– Eu não sei, descobriu mais alguma coisa?

– Mais ou menos, eles já tentaram tirar a graça de Metatron? Digo, mesmo depois que ele absorveu o poder da tábua, ele ainda tem graça e ela pode ser removida. - Ele puxou um outro livro - E talvez o poder da tábua saia junto da graça dele.

– É uma boa hipótese. - Sam concordou - Ele viraria humano e não seria mais uma ameaça.

– Quando ele aparecer, nós conversamos sobre isso com ele. - Eu falei.

Parecia que as coisas estavam indo bem, soluções estavam surgindo e algo me diz que, dessa vez, as coisas vão dar certo. Só precisaríamos falar com o Castiel... Mas ele resolveu sumir! Por dias!

Dias se passaram, todos chamamos Castiel e ele nem pra mandar um sinal de fumaça! Eu também chamei o Gabriel e ele não sabia notícias do irmão mais novo. Sim, eu estava pirando sem notícias e estava prestes a procurar um feitiço de invocação para anjos! Mais de uma semana do sumiço daquela criatura e eu estava emburrada pelos cantos do bunker.

– Meghan, você sabe que o Cass sempre some assim. Ele vai aparecer, não se preocupe. - Dean tentava me consolar.

– E se ele foi pego? Ou morto?

– Nós já saberíamos, ele deve estar resolvendo algo importante.

– Mas nem o Gabe tem notícias dele! - Joguei os braços para cima.

– Olha, eu te prometo que logo ele vai aparecer aqui. O Castiel pode ser o que for, mas ele é confiável e sempre tenta fazer o certo. - Dean me abraçou e afagou meus cabelos.

– É... - Respirei fundo - Vou dar um tapa na cara dele, assim que aparecer na minha frente.

– Sabe o que eu vou fazer pra te animar? - Dean se afastou - Alguma comida gordurosa!

– Eu quero chocolate quente! - Bati palmas ficando um pouco animada.

– Certo, vai chamar o Sammy e o Kevin. - Ele riu e foi para a cozinha.

Saí pelos corredores gritando pelos outros dois, o clima estava um tanto frio e bem que pedia um chocolate quente. Quando retornamos para a cozinha, o barulho das asas fez meu coração parar por um segundo e andei mais rápido até o local. Aquele homem de sobretudo parado e me olhando... Por mais que quisesse parecer durona e repreendê-lo por sumir, só consegui me jogar nos braços dele.

– Maldito anjo! Onde você se meteu? - Falei apertando ainda mais ele.

– Me desculpe... - Ele se afastou - É que surgiu um imprevisto. - Ele deu um passo para o lado e só então notei a garota que estava com ele.

Uma adolescente de cabelos loiros, ondulados e jogados para a direita já que no outro lado ela mantinha tranças raiz laterais, uma maquiagem pesada nos olhos e cara de metida. Ela mantinha os braços cruzados me olhando de cima a baixo.

– Quem é essa? - Perguntamos juntas.

– Meghan, essa é Claire Novak. - Ele apontou a garota - Claire, essa é Meghan Harper. - Apontou para mim.

Claire Novak... Novak! Jimmy Novak, receptáculo do Cass! Ela é filha do receptáculo! FILHA DO CASTIEL! Ai meu Deus!