Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 33
A Profecia


Notas iniciais do capítulo

Demorei SÉCULOS por causa do ritmo universitário, mas aqui estou eu de volta!!



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Lothar

Lothar teve dificuldades para conseguir dormir durante as últimas noites. Sobre a cama, procurava uma posição confortável, mas era impossível. Seus pensamentos estavam fixos demais em um problema que aparentemente não tinha nenhuma possibilidade de ser resolvido.

Esse problema se chamava Charlotte.

Desde a inesperada visita da filha, o rei se sentia extremamente decepcionado consigo mesmo ao praticar aqueles atos na frente da jovem. Até mesmo quando a princesa era uma criança que morava no castelo, era trancafiada o tempo todo e dificilmente via o demônio no qual o pai se transformava ao agredir pessoas. Apesar de isso não ter sido feito de maneira proposital, acabou impedindo que Charlotte presenciasse seus surtos agressivos.

“Perdi minha garota para sempre... Se antes já tinha esse pensamento, agora é uma certeza concreta. Esse é o castigo que os deuses me destinaram a ter. Tiraram de mim uma das pessoas que mais amo.”

Lothar tinha dificuldades para acreditar na existência deles. Em algumas vezes, dizia para si mesmo que consistiam em uma mera invenção do homem para explicar a existência das coisas. Em outras reconhecia que eram reais e os odiava justamente por causa disso. Por serem reais e permitirem que os seres humanos se tornassem monstruosos daquela forma. Jamais compreenderia as razões que os levavam a isso.

O sol nasceu e Lothar ainda não havia conseguido adormecer. Desistindo, levantou da cama e abriu as cortinas, fazendo os raios solares invadirem o cômodo anteriormente escuro.

Katherine teve seu sono interrompido. Irritada, puxou os lençóis e se cobriu por completo, tentando permanecer dormindo mais um pouco. Lothar riu daquela cena enquanto trocava de roupas. Após se vestir, deixou o aposento.

Desceu até chegar ao primeiro piso, caminhando diretamente para a sala de jantar. Sentou-se sobre a cadeira localizada na ponta da larga mesa, aguardando que uma das criadas ali presentes lhe servisse o desjejum.

— Vá logo, mulher! — Lothar estalou os dedos, ordenando que esta fosse logo até as cozinhas. — Meu estômago não pode esperar, senão, serei obrigado a fazer ensopado de serviçal!

A empregada arregalou os olhos e o obedeceu, aparecendo rapidamente com a refeição em mãos. Um mingau simples para começar aquele dia, apenas para não continuar com fome durante a manhã.

— Já pode ir! — O rei fez um gesto com as duas mãos, expulsando a mulher do local. Não gostava de se alimentar com outras pessoas o observando. — Retorne para limpar a mesa somente após minha saída.

Lothar saboreou o café da manhã sem pressa. Não tinha motivos para se alimentar rapidamente, pois o dia estava calmo e ele esperava que permanecesse assim. Detestava quando algo fugia de seu controle e o estressava a ponto de afetar seu equilíbrio mental.

Nesse momento, um mensageiro chegou trazendo algo.

— Sua Majestade, há uma carta que chegou de supetão, direcionada ao senhor. Achamos que sua leitura de imediato fosse de grande importância, pois vem dos territórios do sul.

— O que a população do outro continente quer comigo? — Lothar se levantou e apanhou o documento, curioso. Tempos atrás, os Prince foram acusados de cometer um assassinato por envenenamento ao seu irmão mais velho, Horace Wildshade. Lothar não permitiria que os descendentes da família inimiga tentassem quaisquer tipos de sabotagens em seu reino.

O sul havia declarado guerra contra o norte, afirmando que seus exércitos estariam marchando até Arroway para que fosse travada uma luta mortal que envolvia a posse do reino.

Chegou ao fim da leitura, trêmulo. A simples possibilidade de perder seu trono para um Prince era inadmissível. Lothar se levantou, pronto para ir atrás dos membros da segurança real. Reuniu todos em uma mesa circular, com a finalidade de espalhar a notícia.

— Uma guerra está para começar. Avisem a todos aqueles que saibam colocar uma espada nas mãos, mesmo sendo garotos jovens. Precisaremos de bastantes guerreiros aqui presentes quando for a hora! As alianças de Siedronus, Gwenum e Yedria serão extremamente importantes.

Os homens assentiram e o obedeceram de imediato.

...

Lothar se encontrava sentado sobre o trono de pedra no salão real, de frente para um grande aglomerado de cidadãos plebeus que formavam uma fila organizada pelos guardas do local. Uma das assembleias marcadas para que fossem ouvidas suas petições de melhorias no sistema governamental. Caso o rei concordasse, com os pedidos que eram feitos, os realizaria sem hesitação.

 — Próximo.

Um rapaz de aproximadamente dezoito ou dezenove anos se abaixou e fez uma reverência em respeito ao soberano de Arroway. Em seguida, se pronunciou.

— Sua Majestade, minha família sobrevive do comércio e enfrenta problemas. Nossas terras não são mais férteis como eram antes e essa falta de alimentos produzidos nos prejudica financeiramente. Imploro que o senhor nos conceda terrenos onde possamos produzir mais.

Lothar encarou o garoto com um olhar de desprezo.

— Próximo.

Inicialmente, ele se recusou a deixar o salão, mas a firme e forte presença dos guardas o obrigou a isso. Cabisbaixo, o jovem se virou e caminhou até a saída.

Uma mulher de aparência estranha apareceu. Seus cabelos eram negros como a noite que não possui luar. Os olhos tinham um tom que variava entre o verde e o castanho. As vestimentas eram vermelhas e cobriam todo seu corpo, inclusive parte da cabeça, deixando apenas o rosto à mostra.

Curioso, Lothar aguardou até que a mulher falasse. Seus olhos subitamente se arregalaram, alterando a feição calma de antes, o que assustou a todos que perceberam. 

— Uma guerra sangrenta se aproxima. — Parecia estar cega. Sua voz era alta e firme, fazendo-os prestarem atenção no que dizia. — As nações inimigas voltarão a se enfrentar e sobrarão muitos mortos. O inferno se aproxima de Hastryn. Meu rei, ajude-nos e impeça nossa morte. Sua proteção é crucial!

A cigana abaixou a cabeça, amedrontada.

— Prendam esta louca.

Quando os capangas a levaram até o calabouço, Lothar ficou pensativo sobre as palavras que ouviu. Não atendeu de imediato os cidadãos restantes, optando por refletir um pouco sobre aquela hipótese ser verídica.

Era comum a existência de ciganas videntes por Arroway. Algumas eram charlatãs, fingindo ter o dom da visão para atrair pessoas apaixonadas ou apavoradas com o futuro que as cercam e arrecadando lucros. Outras, porém, pareciam realmente enxergar um pouco do que viria a acontecer. Lothar não sabia dizer a qual dos dois grupos aquela pertencia.

Esses pensamentos o torturaram por um longo tempo. Até que, depois de tantos planejamentos, teve uma ideia que considerava extremamente válida. Para isso, precisaria da ajuda de seu aliado mais confiável.

Ulrick Yorkan.

...

Katherine ainda não havia sido notificada do acontecido. Para informá-la pessoalmente, Lothar foi até uma varanda externa onde a mulher conversava com suas damas de companhia. Tomavam café juntas e debatiam os inúmeros assuntos que envolviam seus respectivos maridos.

Lothar se aproximou e a fitou seriamente, com uma expressão que a fez compreender a hora exata de se levantar e ir a seu encontro, para saber do que se tratava.

— O que quer? Aconteceu algo com um de nossos filhos?

— Não, o que tenho para dizer não apenas os envolve. Envolve a todos nós, as cidades e o continente inteiro. Katherine, estaremos nos preparando para enfrentar a nação do sul, que está marchando para Arroway com sede de guerra.

A rainha se sentou em uma mesa vazia para processar a notícia. Demorou a falar, provavelmente incrédula com o fato de que presenciariam uma luta mortal que envolvia a vida de muitas pessoas e poderia destruir famílias para sempre.

— Temos soldados suficientes?

— Os três exércitos restantes se juntarão ao nosso para que tenhamos um número considerável de guerreiros capazes de lutar com os viajantes. — Lothar também se sentou, limpando com as mãos o suor da testa causado pelos fortes raios solares que invadiam a varanda. — Há uma missão para você.

— Qual? — Kath demonstrou interesse, disposta a ajudar no que fosse preciso. Essa atitude o lembrou um pouco de sua primeira esposa, alguém que fazia de tudo para cuidar da nação do norte.

— Será a responsável por levar as mulheres e crianças, inclusive Cedric e Daevon, até um abrigo seguro distante do campo de batalha. Lá, permanecerão até que o conflito tenha cessado por completo. Não podemos correr o risco de nosso povo ser sequestrado ou assassinado por aqueles que sucederam os Prince na linhagem real.

Katherine concordou.

— Falarei sobre isso com elas. Pedirei a Charlotte, Hazel e Diana para me auxiliarem quando for o devido momento. São pessoas capacitadas e confio nelas para isso. Temos que deixar as diferenças de lado e nos unir para enfrentar um inimigo maior.

Lothar não de opôs. Reconhecia que tanto a princesa quanto sua ama conseguiriam realizar a tarefa com êxito ao lado da rainha que as lideraria. Por mais que não tivesse uma boa relação com ambas, aprovou a ideia da esposa. Talvez pudesse ser uma forma de mostrar à Charlotte seu arrependimento pelas ações cometidas nos dias anteriores.

— Excelente. — Respirou fundo, aliviado por ter se livrado de mais uma função. — Caso haja algum problema, avise a mim imediatamente. Estamos entendidos?

— Sim.

...

Assim que a chegada dos guerreiros nortenhos a Arroway chegou a seus ouvidos, Lothar se apressou para colocar suas vestimentas formais para aparecer em público. Por cima da armadura brilhantemente prateada, um manto escarlate com um W estampado em amarelo. A coroa dourada também brilhava, atraindo a todos os olhares quando se encontrava sobre a cabeça do homem.

De mãos dadas com a amada Katherine, andou pelos corredores até a varanda cuja vista era direcionada a uma área onde os exércitos se encontravam. A mulher tinha uma elegância única que era admirada por ele. Sabia que tinha sido a escolha certa e não existiria melhor rainha na época.

No instante em que visualizou a quantidade de pessoas formadas no grupo lá em baixo, Lothar sentiu um forte arrepio na espinha e ficou ainda mais nervoso. À esquerda se encontravam os lutadores que vinham de Yedria, com armaduras pretas e a inicial da cidade onde moravam. No centro, os de Arroway dividiam espaço com os de Gwenum, que utilizavam azul. Por último, na direita, os de Siedronus estavam de verde. A quantidade de homens que serviriam como mão de guerra era imensa, o que trazia uma sensação de alívio e impotência ao rei diante do povo sulista. As chances de que o norte obtivesse vitória cresciam cada vez mais.

A trompa soou e Lothar Wildshade quebrou o silêncio que havia se formado. A população aguardava até que fizesse o discurso que os motivaria a batalhar.

— Caros cidadãos de Hastryn do Norte, estamos nos preparando para a invasão de um grande caos em nossas terras. Devemos ser fortes e enfrentar o inimigo com sabedoria, encontrando seus pontos fracos e os atingindo sem misericórdia. Seguindo esses planos e não permitindo que consigam vantagem, venceremos e traremos novamente honra e glória à nossa nação!

A população gritou, excêntrica. Todos aplaudiram o monarca e ergueram suas espadas, demonstrando obediência e apoio. Um sinal de que estariam dispostos a lutar pela pátria até o fim de suas vidas. Lothar sorriu e também ergueu a sua, correspondendo ao sentimento de união que envolvia a todos. Sentiu-se de volta aos velhos tempos, quando ainda era um príncipe amado e idolatrado. Era reconfortante a ideia de que aqueles tempos poderiam voltar.

Mas Lothar não tinha certeza disso e era melhor que fosse assim. Não havia nada pior do que ser otimista com algo e fazer planejamentos para isso e, em seguida, acontecer decepções que o tornassem pior do que já era. Eram pessoas ingratas que o valorizavam apenas quando necessitavam de alguém que os liderasse e os conduzisse por aquela trajetória.

Os cavaleiros se espalharam por toda Arroway. Alguns foram postos para dormir em hospedagens localizadas em bares. Outros, em aposentos no próprio castelo distribuídos por Lothar para poucos. Existiam também pensões e casas vazias preparadas para caso houvesse necessidade de receber novos habitantes. Acampamentos eram feitos nos bosques, onde tendas eram levantadas se as noites se tornassem chuvosas. Neles, histórias eram contadas e compartilhadas pelos povos enquanto os sulistas marchavam. Tinham a oportunidade de conhecer melhor a cultura de cada um dos aliados. Isso os tornava, de certa maneira, próximos.

Desse modo, Arroway aguardou o início do confronto.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Expectativas para o que está para acontecer?



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