Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 12
Ambições


Notas iniciais do capítulo

"Por vezes, as pessoas são obrigadas a tomar atitudes que nunca pensariam ser capazes."
— Katherine Muirden



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/579610/chapter/12

Katherine

Os olhares tortos direcionados constantemente pelas outras meretrizes eram capazes de trazer sensações de constrangimento e inquietude, deixando-a inquieta até que se acostumasse com aquilo, já que nada poderia ser feito para reverter a situação. Não era culpa de Katherine que ela fosse considerada um produto novo e mais atraente para os clientes, roubando todo o sucesso das antigas prostitutas e se tornando o novo centro das atenções ao lado da irmã.

As gêmeas, com sensibilidade, delicadeza e fragilidade, conquistavam e enlouqueciam os homens que frequentavam o Rosa Indomável. Arrecadavam muitos lucros que poderiam ser usufruídos de formas construídas caso não houvesse problemas que as impedissem. Era um trabalho sujo, mas aquilo não duraria muito tempo e elas conseguiriam ter uma vida longe de todo aquele inferno que atualmente eram obrigadas a chamar de casa.

Tomada pela coragem, Katherine rebateu dignamente aqueles olhares e caminhou de braços dados com Evelyn pelo salão, sem se importar com a presença daquelas que não eram nada mais do que invejosas concorrentes que não obtinham mais êxito com a profissão. Um verdadeiro ninho de cobras, onde as irmãs deveriam tomar o máximo possível de cuidado para que não fossem atingidas pelo veneno de cada uma.

— Essas loucas agem como se nunca tivessem sido importantes quando entraram. Deveriam saber que isso é natural e daqui a pouco deixaremos de ser as novidades para dar espaço à novas garotas. São horríveis e não possuem nenhum tipo de sonho, querendo destruir o único trunfo que temos nas mãos agora.

— A verdade é que esse lugar acaba sendo uma eterna disputa. — disse Evelyn. Katherine sabia que a irmã estava com total razão. Os homens disputavam com armas pesadas e as mulheres praticavam jogos de palavras e de sedução para conseguirem cumprir seus desejos e objetivos. — Algumas pessoas percebem isso tarde demais, como nós. Prova disso foi a discussão horrível que tivemos

...

As primeiras semanas foram extremamente sufocantes para ambas. Katherine e Evelyn atendiam um cliente após o outro, sem que tivessem muito tempo para respirar e tomar um ar fresco lá fora. Aproveitavam a grande fila de homens que se formava às suas disposições para obterem lucros e vantagens. Dos mais gentis aos mais selvagens, sem preferências específicas, impacientes para que chegasse logo a vez deles.

Antes do nascer do sol, Kath retornou exausta aos seus aposentos, curiosa para descobrir o total de moedas de ouro recebidas durante todos aqueles consecutivos atendimentos. Sem ter a chance de finalizar sua contagem, foi assustada pela súbita entrada de Mafalda no cômodo, o que a fez se perder. Precisaria recomeçar.

— Vejo que você foi um belo investimento, Katherine! — Havia algo em sua voz, como se a mulher tivesse segundas intenções ao proferir aquelas palavras. A jovem recuou, com medo do que esta poderia fazer. — Que belíssima aprendiza você se tornou, minha filha! Saiba que sinto um imenso orgulho de seu trabalho!

— Agradeço, senhora Mafalda. —Tentou sorrir, contornando a situação, para que Mafalda não percebesse o que realmente sentia. Sabia que as palavras não eram verdadeiras. Inexplicável, mas sua intuição insistia que a cafetina não planejava algo bom. — Estava fazendo a conta de meus lucros. Até quando seremos importantes aqui?

— Essa resposta cabe a vocês duas responderem. Tudo está em suas mãos e pode ser manipulado aos seus favores. Os homens gostam de joguinhos, de pessoas que não se tornam repetitivas e irritantes. Temos muitos exemplos disso aqui dentro. Muitas de nossas mulheres cometem a fatalidade de se apaixonar por clientes que muitas vezes já são casados, causando sua própria ruína e acabando com o poder que tinham antes. Ficam dependentes das mesmas pessoas e deixam de ser o que eram inicialmente.

— Não desejo me apaixonar por alguém. — Kath foi ríspida, tentando cortar aquele assunto e voltar a seus afazeres, mas Mafalda persistia em continuar a conversa.

— O que é um grande avanço! Ignore todos os juramentos que fazem na cama, pois dificilmente serão cumpridos. Palavras ditas em momentos de prazer não passam de mentiras estúpidas e esfarrapadas. Evite decepções para que as coisas possam dar certo, filha. Seu futuro dependerá disso!

Katherine balançou a cabeça positivamente, sem saber qual resposta daria para aquilo. Apesar das palavras aconselhadoras, o tom de voz da mulher não era gentil. Era como um alerta, talvez algo próximo de uma ameaça. Quando Mafalda se aproximou, Kath andou outra vez para trás.

— Está me assustando com esse olhar, senhora...

— Observa essa grande quantia em dinheiro recebida em suas primeiras noites? Em comparação com o que está em suas mãos nesse momento, temo que o que sobrará será muito pouco.

Sua ganância estava visível. Como Katherine não havia reparado antes? Mafalda desejava se aproveitar das riquezas e roubar tudo para si, deixando o mínimo possível do salário para as funcionárias. Era compreensível o motivo das mulheres não conseguirem sair dali nunca e perderem as esperanças, o que explicava o fato de se agarrarem às promessas feitas por aqueles que contratavam seus serviços.

— O que está dizendo? — Seus olhos se arregalaram. O dinheiro era sua única garantia de que teria condições de viver bem em pouco tempo, junto com a irmã em um lugar simples, reservado e bonito.

— Preciso ser mais clara, meu bem? Os investimentos feitos em vestidos, maquiagens e hospedagens não foram doações generosas oferecidas de bom grado! Foram caros e agora terão que pagar por tudo o que foi e ainda será comprado!

— Nada disso nos foi informado quando entramos aqui! — Desesperada, a jovem se controlava para não chorar na frente da mulher. Não cederia a essa fraqueza a um lobo em pele de cordeiro como Mafalda. — Tinha nos prometido abrigo e segurança quando precisávamos, sem pedir nada em troca. Pensei que estivesse preocupada conosco!

— E precisava? Era meio óbvio que não receberiam nada gratuitamente, pois nada em nosso mundo funciona assim. Seus pais não a acostumaram a desconfiar daqueles que não conhecem? Temo que preciso ensinar mais do que pretendia a vocês, minhas adoráveis burrinhas.

Mafalda retirou do bolso uma pequena sacola, apressando-se a colocar nela todas as moedas encontradas sobre a superfície da mesa. Katherine, sem hesitar, segurou sua mão. Com ódio, gritou:

— Não levará o que foi conquistado com tanto suor e esforço! Isso é meu por direito e não será roubado por ninguém!

A porta se abriu. Evelyn veio ao encontro das duas, sem saber o que estava acontecendo. Um dos seguranças do estabelecimento a seguiu, permanecendo no corredor.

— Que gritaria é essa?!

— Sua irmã é uma sonhadora imbecil que não possui a capacidade de duvidar da face das pessoas. Não compreende nada do que diz respeito à sobrevivência em Hastryn. — Dito isso, voltou-se para a gêmea mais nova, enfurecida. — Largue meu braço, sua ingrata e estúpida.

— Mafalda está roubando tudo o que é nosso! Não passamos por tudo aquilo para jogarmos nosso dinheiro fora. Por favor, não permita que ela saia desse quarto!

— Irmã... — Evelyn percebeu tudo e parou e falar, abaixando a cabeça, tristonha. Era a primeira vez que Kath a via daquele jeito, sem rebater ou ao menos lutar para fazer o que era certo. — Ela fará o que quiser. Estamos em sua propriedade, onde prevalecem as suas regras. Se não a obedecermos, iremos voltar a morar na rua e sobreviver comendo lixo.

— Quanta inteligência! Vejo que Evelyn não é um caso perdido, afinal. Agora, largue-me, antes que meu guarda venha espancá-la e puni-la da pior forma.

Kath a soltou, permitindo que se distanciasse e deixasse o recinto. Ouviu a porta sendo trancada, deixando as duas irmãs presas dentro do cômodo. Irritada, ficou sobre a cama, ignorando a presença da gêmea. Deitou sobre o colchão e se virou para a parede. Não queria olhar para a cara de ninguém por muito tempo, até que toda a raiva que sentia passasse um pouco.

— Por favor, não me trate assim. Sabe que nada disso foi minha culpa. Caso a atacássemos, daríamos razão para sermos colocadas para fora e ficaríamos sem o dinheiro do mesmo jeito. Dessa vez, não pude fazer nada!

— Essa situação não ficará assim. Farei Mafalda pagar o preço pelo que fez e continua fazendo com todas. Compreendo porque muitas garotas ainda estão trabalhando sem conseguirem sair.

Não conseguiu ter uma boa noite de sono.

Quando tentou sair para respirar um pouco, percebeu que a porta estava trancada por fora, certamente pela discussão de horas atrás. Concluiu que Mafalda queria evitar que invadissem seu precioso quarto e pegassem de volta o que lhes foi tirado.

Ninguém levou alimentos para elas durante a manhã. A fome que sentiam era imensa. Quando finalmente foram libertas, desceram a escada e foram apressadamente até o salão para que desse tempo de almoçar.

...

— Mafalda não para de nos olhar.

As gêmeas estavam na entrada do salão, à procura de uma mesa vazia para enfim desfrutarem da primeira refeição que lhes seria servida após uma noite mal dormida. No ambiente, ninguém havia almoçado ainda, estando à espera do preparo dos pratos.

— Vejo que a burrinha finalmente se acalmou. Teve uma boa noite, querida? — Mafalda exibia um sorriso provocante. Estava sentada na maior mesa do local, sem mais nenhuma pessoa ao lado. Com ódio, Katherine sentiu vontade de ir à cozinha, apanhar uma faca e cortar sua língua na frente de todos, mas controlou o instinto selvagem. — Sentem-se e desfrutem de um maravilhoso banquete. Agradeçam aos deuses por existir alguém tão generoso como eu.

— Mafalda, quero trocar algumas palavras. — Katherine afirmou, erguendo a cabeça, sem demonstrar medo. Não seria humilhada por aquela senhora na frente de todas sem mostrar a força que tinha. — Sem ninguém por perto. Será bem rápido.

A cafetina ficou em silêncio por um tempo. Em seguida, virou-se para as prostitutas, que tinham expressões de curiosidade estampadas em seus rostos, demonstrando que não sentiam a mínima vontade de sair dali. Desejavam saber o que seria discutido.

— Vocês ouviram! A mocinha quer privacidade, portanto, saiam!

Quando restaram apenas as duas, Kath se sentou à sua frente sem pedir permissão, com o mesmo sorriso lançado por ela minutos antes. Estalou os dedos para que o garçom servisse a refeição àquela mesa e trouxesse uma taça de vinho. Mafalda apenas assentiu, concordando com a ordem, curiosa para ouvir o que a jovem estava para dizer. Não cederia à provocação e jogaria o mesmo jogo que ela.

— Com que autoridade pensa que pode falar comigo desta maneira e se comportar como se fosse a dona do Rosa Indomável? Não tem medo de ser morta e ter seu corpo jogado para servir de alimento para cães famintos?

— Honestamente? Não, pois estou acostumada a ver um todos os dias. — A cafetina se enfureceu, compreendendo a indireta que havia sido feita. Perdeu a posição superior mantida segundos antes, dando lugar à uma expressão irritada. — Nessa madrugada, disse que devo manipular os jogos a meu favor. Sendo assim, utilizando suas próprias palavras como argumento, Evelyn e eu não devemos ter medo de suas ameaças sem fundamento enquanto formos vistas como belas e preciosas por nossos clientes. Elas se tornam inúteis, pois atualmente somos o que mantém esse bordel ativo e cheio. Diariamente, ouvimos comentários a respeito disso. Discorda?

Katherine bebeu um pouco do vinho, tornando a falar.

— Sabe, Mafalda, por um tempo realmente pensei que éramos nós que dependíamos de sua hospedagem e sustento. Porém, para manter os homens entretidos, percebo que é a senhora que necessita de nosso trabalho. Sem ele, a senhora é que não sobrevive. As outras não foram capazes de reparar isso, mas agora será diferente.

— Isso é loucura! — Estava sem reação, pois perdera completamente a máscara de impotente. Katherine soube atingi-la exatamente em seu ponto fraco e Mafalda não sabia como lidar com aquela situação. — Posso trocá-las facilmente por qualquer garota virgem e disposta a vender seu corpo!

— Quando conseguir, comemore. Faça uma festa inteira com o dinheiro que receber delas! Por enquanto, é preferível que nos trate do jeito que merecemos: com respeito. Não sou manipulável e muito menos cega como as outras. Acredito que sua idiotice não é tanta para desconhecer esse fato, já que disse que fui um grande investimento. Quero deixar claro que suas artimanhas não funcionarão comigo e é a senhora que não compreende nada em relação à sobrevivência em Hastryn!

A cafetina se encolheu, como se um grande leão estivesse se erguendo sobre a mesa, prestes a devorar a presa. Era assim que Katherine Muirden se sentia: uma fera pronta para atacar os inimigos que tentassem destruí-la. Atacaria quem fosse preciso para atingir todos os objetivos.

— Quero que me devolva ainda hoje tudo o que pegou. — disse ela, voltando a sorrir para a inimiga. — Caso contrário, avisaremos aos homens que não faremos mais o seu trabalho sujo e diremos quem é a verdadeira culpada. Estamos entendidas?

Mafalda, sem se pronunciar, fez um gesto positivo com a cabeça.

— Realmente pensei que poderíamos ser amigas... — Katherine apanhou o prato que o garçom trouxe e o colocou em uma mesa vazia, retornando para apanhar o copo. — Mas, pelo visto, estava redondamente enganada a respeito disso. É uma pena.

Mafalda permaneceu no mesmo lugar, com o pensamento distante. Os olhos arregalados, incrédula com a reação da prostituta à tentativa de roubo.

Katherine foi até a entrada do salão, onde as garotas se espremiam para tentar saber o que ocorria ali dentro. Abriu as portas e olhou para elas, que aguardavam a permissão para retornarem às suas respectivas mesas e se alimentarem bem para mais uma noite movimentada no bordel.

— A conversa está encerrada. Podem entrar.

Kath piscou para Evelyn, assim que a mais velha, chocada, cruzou o portal e se juntou a ela. A partir daquela tarde, a situação das gêmeas Muirden mudaria naquele estabelecimento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? O capítulo ficou bem construído? Houve algo que não gostaram e desejariam que mudasse? Opiniões!
Até o próximo, meus amados leitores