-Nii-chan.

O loiro tremeu, sentindo seu mundo evacuar. Aquele garotinho, com os cabelos longos e pele acinzentada o encarava, indiferente. O maior deu alguns passos temerosos até o pequeno. Tentou dizer algo, formular uma frase om sentido, mas sua mente estava vazia.

-Okaeri – ouviu sua cópia menor falar.

E tudo que ele considerava sólido se foi. A sua única vontade era abraçar o menino, envolve-lo em seus braços e garantir que ele sempre estaria seguro. Queria fugir de todos os problemas, fazer tudo voltar a ser como um dia foi, esquecer do que ele devia fazer, conseguir parar de sorrir enquanto sangrava.

O menino a sua frente continuou a encará-lo, vazio.

-Okaeri – repetiu, esperando sua resposta.

Fay engoliu em seco, lutando contra sua razão. “Não é possível vencer a morte”, repetia a si mesmo. A criança tombou a cabeça para um lado, deixando pela primeira vez a máscara sem sentimentos pra trás. “Eu não posso... Eu não devo... Mas...”

-Onii-chan? Você não vai ficar? Eu estarei sozinho... De novo?

Decidiu parar de lutar.

Correu em direção ao seu garoto, colocando as mãos em seus ombros e absorvendo com o olhar cada traço magro da criança. Os olhos não tinham mais brilho, os cabelos loiros estavam desbotados, a pele sem o seu rubor natural e adorável, mas era ele.

-Yui… Você está chorando... – o pequeno informou, meio confuso.

“Yui”. O maior estremeceu, abraçando o outro o mais forte que podia. Não iria soltá-lo, nunca mais. Paralelos, memórias, sua pessoa importante. A culpa da morte daquele garoto era dele, e o preço mínimo a ser pago era a sua alma. Mesmo que tivesse que deixar tudo.

-Okaeri –A criança falou de novo, preocupada.

As lágrimas do loiro atrapalharam sua visão. O menino menor ficou mais estranho e borrado, e o loiro soube, de alguma forma inexplicável, que seu irmão já não era mais capaz de ouvir o que quer que lhe fosse dito. Tentou responder a saudação, pedir perdão, dizer que o amava, mas não conseguia, e o menino não entenderia mesmo se ele dissesse. Gritou, apavorado, só que não ouvia sua própria voz.

-... de... A...

Começou a soluçar. Não queria perder tudo. Não de novo...

-Acorde!

Os olhos se abriram, a respiração falhou. Um homem moreno sacudia um loiro, tentando tirá-lo do pesadelo. O choro compulsivo parou por um segundo, só para voltar ainda mais forte. Kurogane abraçou o mago, como se ele estivesse quebrando. Talvez estivesse.

-Shh... – disse calmo – Acabou. Eu estou aqui.

“Ele está aqui”. A respiração ficou aos poucos regular, o cansaço chegando sorrateiramente. Ele não tinha mais casa, não tinha pra quem voltar. Mas desde que existisse alguém para acordá-lo dos pesadelos noturnos, só abraça-lo forte, dando a certeza de companhia, alguém em quem ele pudesse confiar, tudo estaria bem.

Prometeu naquele momento sempre proteger o maior. Afinal, ele era a sua pessoa mais importante.

-Tadaima – sussurrou.

E decidiu esquecer o passado.