Violetta Castillo

—...então foi isso.

— E o León não parou nem para ouvir você? Saiu de lá sem nem sequer ouvir suas explicações?

— Ele estava nervoso; eu também ficaria.

— Sim... — Ela disse pensativa. — Àquele Clement estraga tudo!

Estava contando para Angie o que havia acontecido no parque, minutos antes do meu desmaio, que, agora eu já sabia o motivo. Obviamente que ela ficou irritada, seu instinto materno que tinha por mim apareceu de imediato. Agora, tanto ela como eu estávamos odiando Clement. A pessoa que eu jurava ser meu amigo, que me apoiou quando eu estava grávida das gêmeas, e que eu esperava me apoiar em minhas decisões, independente de quais seriam. Pensei seriamente que ele fosse meu amigo. Mas percebi que não. Ele não passa de uma pessoa egoísta e possessiva!

Soltei um breve suspiro. Estava preocupada com León. Estava preocupada com Angel e Melissa. E agora também estava preocupada com esse bebê, pois o médico informara à Angie e papai que essa gravidez seria de risco.

— O que foi? — Angie perguntou ao perceber meu silêncio repentino.

— Tô com um pressentimento ruim.

— Isso deve ser preocupação com esse novo bebezinho aí. — Disse ela com um sorriso nos lábios, e apontou para minha barriga.

— Talvez. Mas sinto que não é só isso. — Disse olhando diretamente para ela.

— Então...— Ela pareceu lembrar de algo.

— As gêmeas. Me dê seu celular, Angie. — Pedi apressada.

— Mas...

— Celular! — Praticamente gritei e ela retirou o celular do bolso rapidamente.

— Aqui. — Ela me alcançou.

Peguei o celular de sua mão depressa, e, sem pensar, disquei o número de León, que à essa altura eu já sabia de cor. Novamente veio aquela sensação ruim, principalmente no momento em que a ligação foi atendida; eu esperava que León não fosse atender, isso pelo menos provaria que ele, e supostamente as gêmeas, estariam bem. Mas não. A ligação foi atendida. E não era León.

— Quem está falando? — Perguntei nervosa. — Por que está com o celular do meu namorado?

Era um pouco estranho usar o termo "namorado" tão claramente, raramente dizíamos isso. Afinal, já tínhamos duas filhas, não éramos mais tão jovens assim, afinal.

— Você é namorada de Leonard Vargas, Violetta Castillo?

— Sim. Quem está falando?! — Perguntei com a voz trêmula. Angie, que estava parada na minha frente me encarava com a expressão preocupada.

— Foi o que eu imaginava...— O homem do outro lado da linha murmurou triste, quase que imperceptivelmente.

— Quem está falando? Cadê o León? Passa o celular pra ele agora! — Gritei nervosa. Angie me olhou assustada.

— Desculpa, senhora Violetta, eu realmente não queria estar dizendo isso, mas... o senhor Leonard e suas filhas sofreram um acidente de carro.

Naquele instante só o quê consegui ouvir foi o estralo do celular ao chegar ao chão. Angie gritando por mim enquanto eu permanecia parada, deixando as lágrimas inundaram meu rosto.

León Vargas

Eu acordei em um lugar branco. Primeiramente pensei que estivesse morto. E agradeci por isso. Eu não merecia viver depois do que causei. Porém, em seguida, veio-me a noção de que estava em um quarto de hospital, e junto à isso veio a dor.

— Ai! — Reclamei, e instantaneamente me arrependi. Por que estava reclamando? Eu fui o causador disso.

— As dores irão aliviar um pouco quando os remédios fazerem mais efeito. Por enquanto você terá que aguentar...

Me virei rapidamente — o que eu não deveria ter feito, pois minha cabeça latejou —, e observei Francesca. Francesca? O que ela estava fazendo ali?

— Mas...

— Eu estava aqui no hospital quando você chegou em uma maca. Vi você todo ensanguentado... e as gêmeas...— Ela balançou a cabeça como quê querendo esquecer tais pensamentos, e olhou para baixo. Naquele instante eu percebi que ela tentava não olhar para mim, pois deveria estar à ponto de chorar.

— Como Angel e Melissa estão? — Perguntei me sentando na cama, e não sei o que houve, mas não senti dor naquele momento, minha maior dor era imaginar minhas filhas sofrendo.

— Mal. Não vou mentir para você. — Ela suspirou.

Eu agradeci por Francesca ter falado a verdade, mas por um momento quis que ela mentisse e não fosse tão verdadeira assim. Queria que isso não passasse de uma brincadeirinha sem graça de Francesca, contudo, eu sabia que ela nunca brincaria com algo assim.

— Preciso vê-las! — Digo já me levantado.

— Não, León! Não precisa. Elas estão na UTI. As duas. Não podem receber visitas.

Ao ouvir isso, caí na cama novamente, e me permiti chorar, sem ligar para a presença de Francesca. Sabia que ela não iria me julgar por nada, mas eu precisava ser julgado. Precisava de alguém que falasse que a culpa por minhas filhas estarem num hospital era toda minha. Mas ninguém falaria isso. E naquele momento odiei meus amigos.

Violetta Castillo

— Violetta, acalme-se! — Angie disse apavorada. Provavelmente nunca havia me visto tão nervosa.

— Não posso ter calma, Angie! Não sem antes ver minhas filhas... bem! — Respondi com a voz embargada.

Assim que recebi a notícia do acidente, liguei para papai e ele imediatamente chegou em casa para nos levar até o hospital aonde Angel, Melissa e León estavam. Desde então lágrimas não pararam de cair de meus olhos.

— Filha, estamos chegando, acalme-se. Lembre, você também precisa se cuidar agora. — Papai disse tentando manter a calma. Eu assenti, tentando imaginar o quanto daquelas palavras eram verdadeiras. Eu deveria me cuidar, isso era verdade, mas manter a calma... isso não estava mais ao meu controle.

— Chegamos — Angie disse assim que paramos em frente ao hospital.

Não consegui ouvir mais nada, pulei do carro sem esperar ninguém. Só pude ouvir Angie e papai gritarem para que eu esperasse, mas já estava correndo para a entrada do hospital.

Assim que as portas abriram-se automaticamente, corri até a recepção, mas não antes de avistar Diego, Ludmila, e Federico. Estranhei na hora.

— Já soubemos. — Ludmila disse, em seguida veio me abraçar

— Eu não sei de nada ainda. Só do acidente. O que falaram para vocês? —Perguntei respirando fundo, e sequei um pouco das lágrimas de meu rosto.

— Não sabemos nada. Não somos nada deles, lembra? Só dão informações para a família. — Ela respondeu apreensiva.

— Francesca conseguiu entrar no quarto para visitar León, ela que nos avisou do acidente. Mandou uma mensagem para mim, mas sem muitos detalhes. — Disse Diego com um semblante preocupado. Aqueles olhares não estavam ajudando a me acalmar.

— Vilu, venha. — Ouvi Angie chamar. Ela estava conversando com a recepcionista.

Fui até ela com a respiração acelerada. Não sabia se estava preparada para ouvir o quê quer quê seja.

— Nome do paciente? — A moça perguntou.

— Angel e Melissa Castillo. — Respondi com a voz trêmula.

— E o que você é das pacientes? — Perguntou a mulher.

— Mãe. — Ela me encarou, um pouco surpresa, então voltou o olhar para a prancheta em sua mão.

— Sinto muito, mas suas filhas estão na UTI... em estado grave.