Eu vou abrindo os olhos devagar, quando eles se acostumam com a luz, olho ao redor e o vejo dormindo numa cadeira ao lado da minha cama, enquanto segura minha mão. Ele ficou, ele ficou.

Eu movo minha outra mão e faço carinho no seu cabelo, que mesmo curto é tão macio. Oliver levanta a cabeça assustado, mas sorri quando me vê acordada, retribuo automaticamente.

– Oi...

Dissemos juntos. Minha garganta está tão seca.

– Você pode pegar água pra mim Oliver, por favor? - Eu peço com um sorriso tímido.

– Claro. - Ele responde radiante. Oliver traz a água, eu tento levantar a cabeça, mas ainda dói, ele percebe e pega um canudo. - Eu vou chamar a enfermeira.

– Não! - Ele franze a testa e me olha confusa

– Por que não? Você está com dor.

Olho para minhas pernas e antes de olhar no mar azul que são seus olhos, sempre que o encaro me perco, me sinto flu... Foco Felicity.

– Por que vão me dopar e eu não quero ficar dopada, quero conversar.

Ele franze a testa e depois dá um pequeno sorriso.

– Ok, um acordo. 5 perguntas suas e 5 minhas, depois eu chamo as enfermeiras. Você começa.

Eu penso um pouco e isso vai ser interessante. Concordo.

– Como?

Ele suspira como se já esperasse essa pergunta.

– Maseo. - Eu arqueio uma sobrancelha pra ele, que dá um sorriso, que se eu não estivesse sentada, ia ter que sentar. Acho que ele faz isso inconscientemente. - Eu o conheci em Hong Kong quando estava sendo treinado lá pela Argus, fiquei um tempo com sua família. Coisas aconteceram, eu achei que ele tinha morrido, ou qualquer outra coisa, mas ele estava na liga. Ele me ajudou, mesmo estando na liga, agora ele está jurado de morte por me ajudar.

Eu comecei a sorrir, tenho que agradecer ele, por ter trazido o Oliver de volta para nós, assim como o arqueiro.

– Sua vez Oliver. - Ele faz uma cara d quem está pensando e logo fica sério.

– Você está mais magra. - Isso não é um pergunta e sim um fato. Quando ele olhou em meus olhos eu vi vários sentimentos. Dor. Culpa. Raiva. Decepção. Insegurança. Tristeza. Arrependimento. Amor.

– Por que você passou mal?

Eu fiquei vermelha, eu sei disso. Posso mentir, mas eu minto muito mal, ele vai saber. Tomo fôlego e começo a falar (omitindo minha recente amizade com a tequila).

– Eu não comia a três dias, na verdade, eu não como direito desde que você foi embora, desde que nós achamos que você... Você sabe.

Eu vejo ele levantar e começar a caminhar de um lado para o outro no quarto como um animal selvagem enjaulado,na verdade, ele estava lutando contra si mesmo. Oliver se vira pra mim, mas não se aproxima. Como se fosse capaz de me machucar. Isso doeu, ele nunca seria capaz de me machucar, não intencionalmente.

– Sua vez.

A tristeza em sua voz, me entristece também. Dou um sorriso, ele não se controla e retribui, mas não chegou aos olhos.

– Por que você voltou? - Oliver franziu a testa como se doesse responder.

– Eu não ia voltar. - Meus olhos marejam assim que eu ouço essa frase. - Maseo me trouxe à Starling, eu estava apagado. Acordei ontem, e já estava aqui. Eu achei que vocês estavam superando e...

– Idiota!

Ele riu sem humor, como um riso de autodepreciação, e continuou

– Eu sei. Mas então ele começou a me falar sobre como vocês estavam e eu ia ver vocês, ver voê de longe, mas eu descobri que você estava na UTI, por que havia se machucado e tinha perdido muito sangue, desisti de qualquer ideia de me manter longe e vim correndo.

Não consigo impedir o sorriso que toma conta do meu rosto. Ele voltou por mim, voltou por mim... Foco Felicity, foco, ele não ia voltar.

–Por que não ia voltar?

Ele vai ter que me contar, eu não vou desistir dessa resposta.

– É a minha pergunta Felicity.

Eu cruzei os braços como uma criança birrenta, e concordo irritada.

– O que há entre você e o Ray? Eu vi o beijo.

Ele engole em seco, como se tivesse medo da resposta. Eu me lembro do que ele falou ao Ray, e bufo antes de responder.

– Nada Oliver. Sobre o beijo... Eu não o beijei, ele me beijou. Eu estava com raiva de você, magoada, confusa, e aí aconteceu. Mas foi só um beijo. O Ray e eu somos iguais, não iguais, não somos iguais, eu sou mulher, ele é homem... Eu quero dizer... Hã....

– Felicity? Eu entendi. Continue. - Ele me interrompe sorrindo, e eu retribuo, respiro fundo e volto a falar.

– Ele é como o Barry, um amigo. Seríamos perfeitos juntos, mas não rola o coração disparado, pernas bambas, borboletas no estômago, incapacidade de falar, ou no meu caso, falar coisas constrangedoras. Eu quero isso, mas não com eles.

Eu terminei meu discurso vermelha, com toda certeza e olhando para as pernas. Quando olhei para cima, e encontrei os olhos de Oliver brilhando com confusão e um pequeno sorriso brincando nos lábios.

Tomei coragem e fiz minha pergunta com medo de saber a resposta, tanto quanto ele.

– Por que não ia voltar?

Ele respirou como se doesse responder.

– É melhor deixar pra lá. Vamos brigar. - Oh não Queen, você vai falar.

– Eu quero, eu mereço saber. - Eu tenho medo de saber.

– Eu não matei Rha's. Eu não podia deixar ele vir à Starling, eu não podia deixar ele usar vocês, usar você, para me atingir. Me mataria Felicity, saber que ele chegou perto de você. Eu não posso imaginar isso. Eu te... - Ai meu Deus, será? - Me importo muito com você.

Eu não tento esconder nada, eu mostro a ele minha frustração, minha raiva, por ele não falar o que sente por mim. De novo. Ele riu.

– Idiota! - Ele me olha com um sorriso sem humor.

– Idiota?

– Eu falei alto, não foi? – Eu pergunto já vermelha e ele assente sorrindo.

– Me entenda. Se você me visse beijando alguém, depois de tantos foras seus, o que você pensaria? Que essa pessoa está seguindo em frente, certo? Pois eu pensei.

Ele falou com uma tristeza que me fez querer ir consolá-lo, mas eu me lembrei que não sei se consigo me levantar da cama.

– Por que não seguir em frente Felicity?

Sério? De todas as perguntas no mundo, ele me faz justo essa?

– Por que não se pode seguir em frente quando se é separado de quem se ama.– Ele me olha surpreso. - Não dá, quando você é separado da metade da sua alma, metade de você. Eu preferia morrer, vendo você longe de mim e aqui, do que achando que você estava morto ou sei lá o que.

Antes dele responder, faço logo minha pergunta.

– Por que não seguir em frente, ao invés de voltar? - Ele parece surpreso.

– Por que eu achei que sim, mas não pude seguir em frente sabendo que podia salvar quem eu amo. Não pude seguir em frente, não quando é a vida da metade da minha alma que está em jogo, metade de mim. Eu prefiro tê-la por perto, correndo perigo, a deixá-la longe sofrendo. Agora eu vejo. Eu te amo Felicity, e vou lutar por nós.

Estava sem palavras, mas sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Antes que eu pudesse filtrar minhas palavras eu respondi.

– Eu também te amo.

E logo estávamos nos beijando.