Estou sentada sob a sombra de um carvalho que fica perto da cachoeira. É um belo lugar, apesar de ser um pouco distante da nossa vila. Luana e eu vinhamos aqui sempre que podíamos, escondidas dos nossos pais. Brincávamos na água e sempre trazíamos alguma comida para dividir quando ficássemos cansadas. Era assim até Tatia chegar.

Sinto uma mão pesada pousar em meu ombro e viro-me para trás em um movimento brusco. Sorri ao ver que era Niklaus. Ele senta ao meu lado, segura minha mão e a beija. Aproximo-me dele e lhe dou um beijo casto nos lábios. Afasto-me e algo dentro de mim diz que há algo errado com ele. Como se... Como se faltasse algo. Algo que estava ali há dois dias, mas que agora não está mais.

Encaro-o com um olhar inquisitivo.

Minha mãe ensinou-me a confiar em meu instinto, que os instintos de uma bruxa sempre estão certos.

– O que aconteceu, Niklaus? - pergunto, já assustada.

Ele respira fundo e vejo um lágrima rolar por seu rosto. Aproximo minha mão de seu rosto e enxugo a lágrima. Eu nunca o vi chorar antes. Nem mesmo quando contava das surras que o pai lhe dava.

Seguro seu rosto em minhas mãos e digo:

– Você pode contar-me qualquer coisa, Nik.

Ele respirou fundo mais uma vez e começou a falar:

– Meus pais... Fizeram algo comigo e com meus irmãos...

~~*~~

A voz de Elijah tirou-me de meus pensamentos.

– Davina, vá buscar algumas roupas para Rosalie. - ele fala calmamente enquanto continua a encarar-me.

Davina sai do aposento, deixando Elijah e eu a sós. Nos encaramos por algum tempo, mas algo atrás dele chama minha atenção. Levanto-me e caminho em direção a um livro antigo que está sobre uma mesa de madeira. Ele é feito de couro marrom e tem a inicial do meu nome na frente. É o meu antigo grimório. Ele está velho e desgastado.

– Quanto tempo se passou? - pergunto voltando a olhar para Elijah.

Ele já encontrava-se de pé ao meu lado, encarando o grimório com um certo fascínio.

– Aproximadamente mil anos.

Mil anos? Não... Não é possível que Nik... Começo a sentir meus olhos lacrimejarem. Viro-me de costas. Não vou chorar. Não aqui. Não agora.

– Ele chegou a procurar por mim durante todo esse tempo?

Elijah manteve-se em silêncio, deixando claro qual era a resposta. Respiro fundo, sentindo as lágrimas querendo descer, mas eu pisco algumas vezes para afastá-las. Elijah muda repentinamente de assunto, sabendo que se não falasse algo, eu começaria a chorar.

– Venha, troque-se. Tem alguém que ficará feliz em vê-la.

Viro-me para trás e percebo que ele segura algumas roupas. Davina está ao seu lado, com o rosto sério. Vou até eles, pego as roupas e olho em volta, procurando algum lugar onde eu possa trocar-me. Davina aponta para uma porta branca, que eu só notara agora. Ela caminha até a porta e eu a sigo.

Entro no cômodo e ela entra logo depois de mim e fecha a porta atrás de si. Ela encara-me, e eu começo a despir-me já envergonhada.

– Você é uma bruxa? - pergunto.

– Sim. E você uma maldita vampira.

Encaro-a por um momento, e começo a desdobrar uma das peças de roupa.

– Deixe-me ver se entendi bem: você odeia vampiros, mas trabalha com um?

Encaro a peça de roupa, sem entender como usá-la. Davina toma a peça de minhas mãos e me entrega outras duas peças minúsculas, ambas pretas. Seguro-as, uma em cada mão, sem saber bem o que fazer. Mas logo identifico cada uma delas. Uma cobre os seios, e a outra as partes mais íntimas.

– Eu não odeio todos os vampiros, mas a maioria. - ela responde assim que eu termino de vestir as peças.

Davina me entrega a outra peça, que é um vestido colorido que só vai até metade das coxas. Seguro a peça na minha frente. Não posso acreditar que terei de usar isso. Olho em volta a procura de qualquer outra peça de roupa, mas só vejo meu antigo vestido jogado no chão. Respiro fundo e visto o minivestido.

– E por quê odeia-me?

Ela segura meus ombros, e faz-me sentar em um banco em frente a uma mesa, e sob a mesa tinha algo que refletia minha imagem clara, como se fosse água.

– Eu nunca disse que te odiava. Mas veremos isso mais para frente.

~~*~~

Saio do quarto seguida por Davina, e Elijah está a minha espera. Ele sorri ao me ver. Vou até ele, tentando acostumar-me ao salto que Davina me fizera calçar.

– Assim está bem melhor. Rápido, ela está nos esperando.

Ele oferece-me a mão e eu a seguro.

– Ela quem?

Ele lança-me um sorriso.

– Você verá.