Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 68
Se não fosse amor - Cap. 25: Quando a felicidade incomoda.


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!!!!!!!
Babado, confusão e gritaria no capítulo! hahaha
E tem os links para os looks da nossa protagonista fashion,
Espero que gostem,

Beijos!



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POV Sophie Trammer

Acordei de muito bom humor, o que era raridade, mas baseado na noite anterior, era até compreensível. Sentei na cama e peguei o celular, mas não tinha nenhuma mensagem de quem eu queria. Ele ainda deve estar dormindo Sophie, não seja tão carente! Baby saltou em cima da cama e depois de ficar um tempo o fazendo carinho, levantei e fui andando com a ajuda da muleta até o banheiro. Tomei meu banho e coloquei uma calça de moletom e camiseta, para a fisioterapia e separei a roupa para o trabalho, Baby já tinha voltado a dormir, por que era um preguiçoso assumido. Estava terminando de pentear os cabelos quando ouvi a campainha tocar. Deve ser Mabel... Fui me arrastando até a sala, por que estava sem a bota, já que faríamos exercícios sem ela, não adiantava perder meu tempo colocando, abri a porta e, para minha surpresa, Matthew estava lá, parado, com várias sacolas e o ridículo sorriso perfeito.

“Trouxe o café da manhã!” Ele levantou um pouco as sacolas, me mostrando. Soltei a muleta e pulei, me jogando em seus braços e o beijei. “Essa é sua forma de me desejar ‘bom dia’?” Ele falou rindo entre o beijo e eu assenti com a cabeça. “É muito boa mesmo...” Ele largou as sacolas no chão, entrando no meu apartamento e fechou a porta.

Fomos até o sofá, onde ele me deitou, com cuidado e ficou por cima de mim, levantei um pouco sua blusa, passando as unhas pelas suas costas e ele começou a beijar meu pescoço, alisando minha coxa.

“Matthew...” Falei quase sem ar e ele apenas resmungou alguma coisa. “A Mabel vai chegar a qualquer minuto.” Ele levantou seu olhar na altura do meu.

“Dispensa ela.” Ele sorriu me fazendo sorrir também.

“Não posso...” Fiquei passando a mão em seus cabelos. “Estou tentando deixar de ser uma semi-aleijada.” Disse e ele riu.

“Eu realmente não me importo se você é semi-aleijada.” Ele apoiou seu queixo um pouco acima dos meus seios.

“Mas eu me importo...” Levantei um pouco, me apoiando em meus cotovelos.

“Então você podia ir dormir comigo, no meu apartamento.” Ele mordeu meu queixo, me fazendo rir.

“Eu iria adorar...” Beijei seu nariz. “Mas o Luke chega hoje de viagem, tenho que cuidar do jantar e me preparar para falar com o Kenny.”

“Por que se preparar?” Ele franziu a testa.

“Eu não sei como ele vai reagir quando souber... Você sabe... De nós dois.”

“E o que ele acha de nós dois importa tanto assim?”

“Não que importe, ou não importe... Eu só não quero um certo ‘mal-estar’ entre ele e eu sabe? Talvez isso acabe afastando o Luke de mim e eu definitivamente não quero isso.”

“Como vamos fazer isso? Quer que eu fique com você para conversar com eles?”

“Não... Acho melhor falar com eles sozinha.” Disse pensativa. “Eu vou fazer um jantar pra eles, vou convidar todo mundo, inclusive, chame a Megan também. Aí eu converso com eles antes de vocês chegarem, vai ser melhor desse jeito.”

“Tudo bem, se você prefere assim...” Matthew disse e a campainha tocou.

“É a Mabel.” Falei e ele se levantou, sentei no sofá e Matt foi abrir a volta, pegando a minha muleta do chão.

“Muito bom dia, Matthew!” Mabel falou surpresa e olhou para mim rindo.

“Bom dia Mabel.” Ele sorriu e andou até mim, me entregando a muleta e fiquei de pé.

“O que é isso?” Perguntei quando vi que ela estava segurando um pacote comprido.

“São alguns ferros, vamos montar umas barras pra você andar.” Ela respondeu entrando e fechou a porta.

“Andar? Você quer dizer sem a bota maldita?” Perguntei e ela assentiu. “Ah não, sinto muito. Da última vez eu fiquei gritando de dor no chão do banheiro depois de uma câimbra.” Matthew me olhou preocupado. “Não foi nada demais.” Tentei tranqüilizá-lo.

“É exatamente por isso que vamos alongar o músculo antes de você tentar andar, você não vai ter câimbras e precisa voltar a se acostumar a andar sem a bota maldita.” Ela riu. “E vamos fazer as coisas no seu tempo, Sophie. Começar, literalmente, com um passinho de cada vez.”

“Está bem...” Suspirei derrotada.

“Eu vou fazer o café então...” Matthew juntou as sacolas do chão. “Se junta a nós não é Mabel?”

“Claro, obrigada!” Ela falou educadamente e se voltou para mim. “Vou montar isso aqui primeiro.”

Mabel tirou os ferros e em poucos minutos, uma espécie de corredor estava montado. Tinham as barras de cada lado para que eu pudesse me apoiar e eu estava começando a ficar tensa sobre isso, não sabia se ia conseguir e não queria me decepcionar. Nós fizemos alguns exercícios iniciais que envolviam a respiração, Mabel havia me explicado na primeira vez que fizemos isso que era importante manter o corpo e a mente relaxados e que a respiração e a postura correta eram fundamentais para isso. Depois fomos para o grande problema, alongar a perna. Acontece que para isso era necessário ela forçar o músculo, o que era terrivelmente doloroso, muitas vezes eu sentia meus olhos encherem de lágrimas, mas eu sabia que era necessário e confiava nela como profissional. Drew ainda fazia algumas sessões comigo, mas Mabel é que tinha assumido o meu caso oficialmente.

“Pronta?” Ela se abaixou ao meu lado e eu sentei.

“Eu tenho escolha?” Perguntei receosa.

“Não.” Mabel sorriu e me ajudou a levantar.

Matthew sentou na minha poltrona, observando tudo e esperando nós duas para comer. Prendi meus cabelos e fiquei entre as duas barras, segurando nelas enquanto Mabel estava do outro lado, no final do percurso, esperando por mim.

“Agora você dá o primeiro passo com a sua perna esquerda, que é a machucada. Sem pressa, se apoia nas barras, elas estão ai justamente pra te dar esse suporte.” Mabel falou e eu apenas concordei e respirei fundo antes de dar o primeiro passo.

E não tinha sido tão horrível, era doloroso, mas era suportável... Claro que eu não iria poder já sair correndo saltitante por aí, mas já era um começo. Ela sugeriu que eu não usasse a bota no dia seguinte, como hoje já tínhamos ‘abusado’ um pouco naquele dia, era bom colocar ela para me dar um descanso, mas que eu tirasse uns dois dias na semana para ficar sem, dessa forma eu já ia me acostumando a sair da zona de conforto que a bota me dava. Após a sessão tortura, fomos para a cozinha comer e Matt me ajudou a sentar em cima do balcão, o meu lugarzinho de sempre. Estava tomando um suco enquanto conversávamos sobre a noite anterior.

“E sua mãe? Tudo bem com ela?” Mabel perguntou para Matt.

“Sim, só uma queda de pressão em uma pessoa que por si já é bem dramática.” Matt riu. “Acho que ela só queria chamar um pouco de atenção do meu irmão ou fazer ele ficar com a consciência pesada.”

“Quando eu vejo esses dramas familiares, até agradeço não ter uma família.” Disse rindo.

“Ah, mas você tem seu pai e o Brian ainda...” Mabel disse tomando um gole do seu suco também.

“Meu pai não conta...” Ri. “E o Brian... Bem, a gente se escolheu pra ser família um do outro.”

“Vocês não são irmãos de sangue?” Ela perguntou surpresa.

“Não, ele é filho da atual esposa do Richard. Mas a gente cresceu juntos, então a gente se considera irmãos. Não sabia disso?”

“Não.” Ela sorriu. “Ele não me disse nada sobre e sempre que fala de você é com tanto carinho, jamais iria deduzir por mim que não são irmãos mesmo.”

“É, mas essa convivência começou a ficar mais pacífica de uns tempos para cá, nem sempre foi essa harmonia toda.” Matt disse com diversão.

“Pode ser que eu não seja uma pessoa muito legal e por isso eu e Brian não éramos tão próximos assim...” Sorri docemente. “Mas eu sou uma nova mulher agora, uma pessoa calma, centrada...”

“Desde quando?” Matthew debochou e eu bati em seu braço.

“Enfim...” Coloquei meu copo em cima do balcão. “E como vocês fizeram ontem?” Perguntei para Mabel.

“Em que sentido?” Ela disse confusa.

“Vocês deixaram o Matt no hospital, depois você deixou o Brian em casa e aí como você foi para a sua casa?”

“Ah... Bom... Vocês sabem né...” Ela falou um pouco sem graça e Matt e eu trocamos olhares até que eu entendi tudo.

“Ai. Meu. Deus.” Falei chocada olhando para Matthew, depois voltei meu olhar para Mabel. “Ai. Meu. Deus.” Comecei a rir. “Você dormiu com ele!” Mabel ficou vermelha na hora. “Sua safada!” Bati em seu ombro e Matthew tentou conter a risada, provavelmente por pura educação já que Mabel estava completamente constrangida. Já eu, não ligava nada se ela estava com vergonha ou não. “Pode ir contando tudo! Agora mesmo!”

“Eu não vou contar nada, Sophie. É seu irmão!” Ela falou perplexa.

“Mas eu nunca fui amiga de nenhum dos rolos do Brian, eu tenho curiosidade ué!”

“Não vou dizer nada!” Ela passou o dedo na boca, fingindo ser um zíper.

“Não acha que é um pouco evasivo demais perguntar isso?” Matt disse com diversão.

“Claro que não é!” Disse séria. “Olha, tudo bem não contar os detalhes... Eu acabei de comer, pode ser que me daria uma ânsia de vômito mesmo...” Mabel e Matt riram. “Mas assim... De 0 a 10, onde 0 é: Nem que fôssemos os últimos seres humanos na terra e a continuação da espécie dependesse de nós eu iria para cama com ele de novo. E 10 é: Queria poder tirar minha calcinha agora e ir para cama com ele novo.”

“Eu não mereço ouvir essas conversas!” Matt falou. “Vou ao banheiro.” Ele disse saindo da cozinha. “Dá pra eu escovar os dentes aqui?” Ele gritou entrando em meu quarto.

“Tem escova de dente nova na primeira gaveta do banheiro!” Gritei respondendo. “E então?” Sorri maliciosamente para Mabel. “De 0 a 10...?”

“Eu não acredito que você vai me fazer responder isso!” Ela cobriu o rosto com as mãos.

“Agradeça o Matthew não ter agüentado e saído, por que senão você ia responder na frente dele, então aproveita que estamos só nós duas.”

“Ok, de 0 a 10 seria... Acho que 11.” Ela respondeu sem graça e eu gritei animada. Gritei alto o suficiente pra fazer Matthew sair do banheiro com a boca toda suja de pasta de dente.

“O que foi?” Ele me olhou assustado.

“O Brian é nota 11!” Bati as mãos comemorando enquanto Mabel batia a cabeça no meu balcão de vergonha.

“Puta merda, quase morri do coração!” Ele voltou resmungando para o banheiro.

“Você é oficialmente a minha cunhada agora!”

“Na verdade não...” Ela me olhou séria. “A gente combinou que não seria nada demais sabe, tipo amizade colorida.”

“Amizade colorida? É sério isso?” Falei irônica.

“Muito sério, nós dois não queremos relacionamentos agora.”

“Acontece que isso de amizade colorida nunca dá certo. Um dos dois sempre se apaixona e consequentemente se ferra.”

“Mas não vai acontecer com a gente, nós dois queremos a mesma coisa.”

“Vocês querem a mesma coisa? Que no caso é não querer um relacionamento?”

“Exatamente isso.” Mabel assentiu.

“Vai dar merda isso aí...” Falei baixinho.

“O quê?” Ela perguntou sem ter entendido o que eu tinha falado.

“Nada não.” Sorri e Matthew veio voltando para a cozinha. “Me desce, por favor.” Estendi os braços para ele que riu e me ajudou a descer. “Vou só me trocar e a gente vai para o escritório.”

“Você quem manda.” Ele falou.

“Já venho.” Fui para o quarto me trocar e poucos minutos depois, voltei para a sala.

Mabel estava ajeitando os materiais que tínhamos usado e Matthew terminando de colocar a louça suja na pia.

“Pronto.” Beijei o ombro de Matthew que sorriu e beijou minha testa. “Sem muletas...” Levantei os braços. “Mas com a botinha ridícula.”

“Não é ridícula...” Ele me abraçou por trás.

“Já terminei aqui, Sophie. Eu vou te mandar os exercícios novos pra você fazer antes de dormir.” Mabel falou e eu assenti. “Já vou indo então.”

“Certo.” Disse cordialmente. “Ah, o Luke e o Ken vão chegar hoje de viagem e eu vou fazer um jantar para eles. Eu não sei se no seu novo tipo de relacionamento com meu irmão isso é permitido, mas pode vir se quiser, por volta de 19h30min.”

“Será um prazer.” Ela falou com sarcasmo e saiu deixando a porta apenas encostada.

“Que tipo de relacionamento?” Matthew me olhou curioso.

“Amizade colorida.” Revirei os olhos e terminei de guardar minhas coisas na bolsa.

“Amizade colorida? Isso nunca dá certo...” Ele disse rindo.

“E eu não sei?!” O olhei rindo também. “Sabe...” Parei pensativa. “Eu tô com essa impressão de que eu tinha alguma coisa muito importante hoje, mas eu não consigo lembrar o que era...”

“Pode ser a reunião que você tem com o pessoal do banco.”

“Deve ser isso...” Voltei a prestar atenção na minha bolsa.

“Você lembra que horas é a reunião?” Ele disse olhando para o relógio.

“Sei lá... 11hrs?”

“Não Sophie, é as 9hrs.” Ele disse e eu olhei para o relógio do celular.

“Cacete... São 9h30min!” Peguei minha bolsa e saí correndo para fora de casa.

“Você tem sérios problemas em chegar no horário!” Matthew falou com diversão.

“Pode ser que eu tenha.” Disse enquanto apertava insistentemente o botão do elevador. “Você também não tem uma reunião?”

“Tenho sim.”

“E por que não está surtando igual a mim?”

“Por que é a minha reunião que é as 11hrs.” Ele riu e as portas do elevador abriram e nós entramos.

Após chegar a empresa, fui o mais rápido que pude para minha reunião e me desculpei pelo atraso, fazendo o mesmo discurso sobre como o trânsito na cidade era horrível e como era impossível chegar aos lugares na hora certa. Fui almoçar em casa, por puro peso na consciência de ter deixado o Baby sozinho e quando voltei para o escritório, Matthew ainda estava na reunião dele.

“Mandaram algumas amostras de flores para a festa...” Emily disse ao telefone. Eu estava com as pernas esticadas em cima da minha mesa e tomando café enquanto lia o relatório mensal.

“Ai, sem flores! Já basta o tanto de flores que eu tive que suportar no casamento do Luke...” Resmunguei. “Como é possível que só eu ache que flores lembram funerais?”

“Sem flores.” Emily repetiu. “Os vestidos para a senhorita vão chegar amanhã e é preciso de uma resposta o mais breve que conseguir, para o caso de precisar de algum ajuste.”

“Sem problemas.” Disse distraída terminando de ler os inúmeros papéis na minha frente.

“Mais alguma pendência que deseja tratar?”

“Não Emily, obrigada, grito por você se precisar.”

“Está certo senhorita.” Ela riu e desligamos o telefone.

Ai minhas costas, ai minha cabeça, ai meus olhos... Precisava levantar um pouco e andar um pouco, aquela posição não estava nada confortável. Peguei meu café e andei para a porta, antes que eu pudesse sequer colocar a mão na maçaneta, ela abriu de uma vez, fazendo com que eu derrubasse todo o café em cima de mim.

“Tá quente, tá quente, tá quente!” Disse desesperada e vi Matthew parado na minha frente, tentando não rir da cena. O fuzilei com os olhos e andei até o meu closet no escritório, entrei e fechei a porta.

“Foi mal!” Ele gritou.

“Eu vou trancar essa porta daqui pra frente Matthew, é sério! Você vai me matar um dia desses com essa mania de não bater!” Disse com raiva e puxei a minha blusa para fora da saia e a joguei no chão, ficando só de sutiã, que por algum milagre, não tinha sido atingido pelo café.

“Não é pra tanto também né?” Ele disse e eu sabia pelo tom da sua voz que ele estava se divertindo com tudo isso.

“Você tá achando isso muito engraçado, não é?” Puxei o zíper da saia, que ficava na parte de trás, mas ele não estava querendo abrir.

“Sim, por que é engraçado, devia aprender a rir mais de você mesma...” Matthew disse, mas apenas bufei o ignorando.

Tentei puxar a parte de trás da saia para minha frente, por que seria mais fácil de tentar abrir, mas como era muito justa no corpo, aquilo não foi possível.

“Isso não está acontecendo, não está...” Continuei tentando puxar o zíper para baixo, mas ele não obedecia, continuava empacado no mesmo lugar.

“O que foi?”

“A minha saia!”

“É só uma manchinha Sophie, eu mando lavar não precisa fazer disso um apocalipse!”

“Não é só a mancha criatura!” Gritei. “O zíper não quer abrir!”

“Deixa eu ver se consigo...” Ele abriu um pouco da porta, mas eu a fechei de uma vez.

“Você não pode entrar aqui! Ainda não!”

“Por que não?”

“Por que eu estou só de sutiã, espera eu vestir uma blusa primeiro.”

“Só te lembrando que eu já te vi só de sutiã, na verdade já tirei muito sutiã seu então deixa de frescura e abre essa porta logo.” Revirei os olhos bufando de raiva e soltei a maçaneta da porta, permitindo que ele entrasse.

“Nossa, como você é gentil...” Disse com ironia quando ele entrou.

“Eu sou o Sr. Gentileza.” Ele andou para detrás de mim e tentou abrir o maldito zíper, várias e várias vezes. “O lado bom é que é um zíper bem resistente, o ruim é que está emperrado mesmo.”

“Se você não tivesse me contado isso eu nem iria notar!” Virei de frente para ele com os braços cruzados e ele ficou olhando, descaradamente, para meus seios. “Depois você olha meus peitos, agora tira essa saia de mim!” Falei e ele começou a rir.

“Tudo bem... Tem tesoura aqui?”

“Acho que sim.” Andei até a cômoda e abri uma gaveta onde tinha uma tesoura, ele estendeu a mão para que eu entregasse, mas eu recuei. “Pra quê você quer essa tesoura?”

“Como para quê? Pra tirar a saia de você.”

“Você vai cortar ela? Tá louco?” Bati em seu braço.

“E qual problema?”

“É uma Valentino exclusiva.”

“E daí?” Ele falou com desdém.

“E daí que só foram feitas cinco saias dessas, sabe o que quer dizer?”

“Que outras quatro mulheres têm uma saia igual a sua?” O olhei incrédula.

“Se eu te matasse com essa tesoura, posso alegar que foi em legítima defesa?” Cerrei os olhos e ele tomou a tesoura da minha mão.

“Não, você seria indiciada por homicídio doloso, quando há intenção de matar e pegaria uma pena muito longa, então sem assassinatos hoje. É só uma saia qualquer, eu aposto que você tem, pelo menos, mais umas 50 iguais a essa.”

“Ela custou um mês de salário seu. Entendeu agora?”

“Entendi.” Ele assentiu. “Entendi que você é uma compradora compulsiva.” Matthew colocou a tesoura em cima da cômoda. “Então eu vou quebrar o zíper, você pode mandar ajeitar e sua saia exclusiva fica intacta.”

“Eu não vou mandar ajeitar nada, você que vai e vai pagar, foi tudo culpa sua.” Virei de costas para ele e coloquei meu cabelo de lado.

“É isso que dá querer fazer algo de bom pra você...” Ele tentou forçar o zíper para baixo mais algumas vezes.

“Como assim?” O olhei por cima do ombro.

“Vai ter uma apresentação de ballet no fim do mês...” Ele tirou algo do bolso e me entregou, eram dois ingressos para lugares especiais. “Você dançava, achei que ia gostar de ir ver.”

“Nossa...” Falei distraída olhando os convites. “Eu nunca vi um ballet assim, ao vivo.”

“Não?” Ele disse surpreso.

“Não. Eu só me apresentei e vi vídeos de apresentações depois, mas nunca assim, na minha frente em carne e osso.”

“Eu já fui em alguns, minha mãe me obrigava a ir com ela por que meu pai não queria ir.” Ele riu. “Vão fazer uma releitura de O Lago dos Cisnes.”

“Sabia que foi o primeiro ballet que eu dancei?” Sorri com a lembrança.

“Acredito que isso me dá uns pontos positivos com você...”

“É...” Devolvi os ingressos para ele, que os guardou no bolso de novo. “Posso te perdoar por ter estragado uma roupa minha.”

“Deus a abençoe Sophie Trammer, pela sua generosidade!” Ele falou de forma dramática e puxou o zíper com força dessa vez, o que me fez me apoiar com os braços na cômoda para não cair e depois de mais uma puxada, ouvi o barulho dele quebrando e a saia caiu no chão, me deixando apenas de lingerie na sua frente. Levantei o olhar encontrando o seu no reflexo do espelho da minha frente. “Você realmente é perfeita.” Ele falou me olhando de cima a baixo o que me fez ficar um pouco sem graça e envolvi meus braços ao redor de mim tentando esconder o máximo que eu conseguisse.

“Perfeita?” Sorri irônica. “Não mais...” Falei enquanto observava as várias marcas que tinham por causa do acidente nos meus braços, abaixo do pescoço, na barriga... Eram sutis, nada muito exagerado e talvez mais ninguém conseguisse vê-las, mas eu conseguia e eu não tinha idéia de que isso iria me fazer sentir tão tímida na sua frente.

“Sempre achei você perfeita, desde que te vi.” Ele pôs uma mão em minha cintura e beijou meu pescoço, fechei os olhos me permitindo apenas sentir tudo o que eu estava sentindo. “E você sempre vai ser perfeita pra mim.” Ele sussurrou em meu ouvido e o mordeu levemente.

Virei de frente para ele e o beijei colocando meus braços ao redor do seu pescoço, ele me levantou pela cintura, me sentando na cômoda e ficou entre as minhas pernas, tirei o seu paletó, o jogando no chão, ele puxou levemente meu pescoço para o lado, o beijando e o chupando, afrouxei sua gravata e a tirei, abrindo a sua blusa enquanto ele abriu e tirou meu sutiã e voltamos a nos beijar. Enquanto estávamos ali, juntos, eu só conseguia pensar que não tinha outro lugar no mundo em que eu queria estar.

...

“É um carpete bem confortável...” Matthew disse de olhos fechados. Nós dois estávamos deitados no chão e eu mantive minha cabeça em cima de seu peito e o braço ao redor do seu corpo, enquanto sua mão alisava em um ritmo lento as minhas costas.

“Engraçado que quando eu mandei colocar, nem passou pela minha cabeça ficar deitada nele.” Disse ainda sorrindo e o olhei. “A gente podia passar o resto do dia aqui.”

“Sim, se não tivéssemos trabalho a fazer.” Ele abriu um olho e falou rindo. “Minha chefe não vai gostar nada se eu demorar a entregar as coisas que ela manda por que fiquei deitado no carpete agarrado com uma mulher.”

“Sua chefe te deu o resto do dia de folga, resolvemos o problema.” Deitei de barriga para baixo, me apoiando nos cotovelos e ele beijou minha mão.

“Parece até mentira que finalmente nos resolvemos.”

“Eu sei...” Sorri. “Sabe que... Eu não me arrependo de ter tido uma história com o Ethan, por que nós meio que nos ajudamos a resolver nossos problemas, mas eu me arrependo de ter perdido tanto tempo negando o óbvio.”

“E o que é o óbvio?” Ele perguntou sério.

“Que pode ser que eu seja um pouco apaixonada por você... Mas só um pouquinho.” Disse com diversão e ele se levantou um pouco, agora sorrindo.

“Eu te amo também.”

“Então...” Apoiei meu queixo em seu ombro. “Lembra o que você me perguntou sobre nós dois na noite passada?” Ele fez que sim com a cabeça. “A gente já se conhece há tanto tempo, mas de alguma forma parece que a gente está se conhecendo de novo.”

“Acho que mudamos um pouco nesse tempo, você principalmente.”

“Mudei é?” Falei rindo.

“Mudou e você sabe...” Ele alisou meus cabelos.

“Acha mesmo que a gente pode fazer isso dar certo?” O encarei séria.

“Eu tenho certeza que podemos.”

...

Tinha chegado em casa já fazia um tempo, as comidas para o jantar já iriam começar a chegar e eu iria deixar tudo pronto para quando Luke e Kenny chegassem, eles iriam vir de táxi para casa e eu fui terminar de me arrumar. Depois de me vestir, tentei manter minha calma, mas isso estava sendo quase impossível. Eu queria conversar com eles dois antes que todos chegassem, por que eu me sentia meio na “obrigação” de contar para Kenny sobre Matthew e eu antes que essa notícia se tornasse pública, e quando digo pública, quero dizer entre nossos amigos. Nós não iríamos poder assumir tão abertamente nosso relacionamento já que trabalhávamos no mesmo local e não deixava de ser proibido, mas nós iríamos nos sair bem, só precisávamos ser os colegas de trabalho, como sempre e quanto a nossa vida privada... Bom, isso não era da conta de terceiros. Preparei toda a mesa para os convidados e um pouco depois disso, ligaram da portaria avisando que eles dois já tinham chegado, respirei fundo e os esperei entrar em casa.

“Lar doce lar!” Luke disse dramaticamente, jogando suas malas no chão e veio me abraçar. “Que saudade!”

“Eu também!” Disse rindo. “Vocês não passaram uma semana, foi uns 10 anos, no mínimo!” Soltei Luke e fui abraçar Kenny.

“A viagem foi ótima, mas é muito bom voltar.” Ele sorriu e me deu um beijo no rosto.

“E esse cheiro tão bom?” Luke disse observando a mesa posta.

“Tinha que ter um jantar de boas vindas, não é?” Sorri. “Daqui a pouco o pessoal chega!”

Eles levaram as malas para o quarto e Luke me garantiu de que tinha uma só de presentes. Sentamos na cama deles conversando um pouco, eles fizeram um breve resumo de como tinha sido tudo e parecia que tinha corrido tudo bem.

“E por aqui? Alguma novidade?” Kenny perguntou. Eles estavam alegres, de bom humor e eu entendi que essa era a hora perfeita para contar.

“Até que tem...” Falei e olhei para Luke, ele com certeza já tinha entendido tudo.

“É? O que rolou na nossa ausência?” Ken falou e eu olhei para Luke, que assentiu me encorajando a falar.

“Então...” Sorri nervosa. “É que... Bom, ontem eu saí com o Brian, a Mabel e... E com o Matthew.” Ken franziu a testa. “E aí a gente meio que ficou e hoje a gente conversou... Não sei, a gente resolveu tentar e ver como vai ser as coisas daqui pra frente, mas... Enfim, eu queria conversar com vocês e em especial com você, Kenny, sobre isso antes que os outros saibam.”

“E isso é uma coisa boa.” Luke pôs a mão na perna dele. “Não é Ken?”

“É uma coisa boa...” Ken falou sério. “Só não acha que é meio rápido?”

“Eu sei, eu tenho plena consciência de que as coisas aconteceram rápido, mas...”

“A cama ainda nem esfriou e você já pôs outro no lugar do meu irmão.” Ele falou com sarcasmo, Luke e eu o olhamos surpresos.

“Não foi assim Ken.” Disse chocada. “Eu não tinha planejado me aproximar do Matthew, só que aconteceu!”

“Sophie, me poupe. Vocês dois ficavam trocando olharzinhos um com o outro o tempo todo e todo mundo notava isso, obviamente só não o idiota do Ethan, ou pior, ele notava, mas preferia não falar nada.” Ken disse com desdém. “Meu irmão te ama e é isso que você faz com o que ele sente por você?”

“O seu irmão? O mesmo irmão que decidiu ir embora sem sequer ter a decência de perguntar para mim o que eu achava ou como eu iria me sentir sobre isso?”

“Ele não foi curtir a vida, ele foi a trabalho.” Ken disse entre os dentes.

“Sério? Por que quando eu falei com ele ontem, já tinha outra na cama dele.”

“É diferente, ele é homem!” Ele falou e eu olhei perplexa para ele, Luke estava com os punhos fechados e eu sabia que ele estava tentando não se meter, mas não sabia quanto tempo ele ia agüentar.

“E você, logo você, vai vir com esse discurso machista?” Falei, ele ficou de pé e eu me levantei também.

“O que quer dizer com isso?”

“Quero dizer apenas que sempre apoiei você, vocês dois, aliás. Um pouco de apoio agora seria ótimo.”

“Você quer que eu te dê apoio pelo chifre que você pôs no meu irmão?” Ele gritou.

“Eu nunca traí o seu irmão, jamais faltaria o respeito com ele dessa forma e eu não admito que você falte com o respeito comigo dentro da minha casa!” Gritei também.

“Já chega! Os dois!” Luke ficou de pé entre nós e depois se virou de frente para Ken. “Eu que não vou admitir que você fale assim com ela.”

“Claro que você vai defender, a amiga é sua!” Ken disse de forma debochada.

“Não Kenny, a amiga é nossa!” Luke falou sério. “É a amiga que sempre esteve do meu lado em tudo e a mesma amiga que não pensou duas vezes antes de aceitar que nós morássemos aqui, a mesma amiga que organizou um casamento e uma viagem perfeita para nós. Você não sabe como ela ficou quando Ethan foi embora, eu sei, por que eu vi como ela ficou triste pela forma que as coisas aconteceram...”

“Triste?” Ken o interrompeu. “É assim que ela está triste? Já arranjando outro? É o meu irmão Luke, da mesma forma que você a defende eu vou defender ele!”

“Não é outro, é o Matthew. E isso não teria acontecido se o seu irmão imbecil não tivesse largado ela pra ir embora.”

“Basta!” Falei e eles dois se viraram para mim. “Não vão brigar por minha causa e só para deixar claro...” Encarei Kenny. “Eu apenas quis ser honesta e não ser acusada de estar escondendo nada, mas em nenhum momento eu pedi a sua permissão ou a sua opinião sobre a minha vida. Eu quase morri em um acidente e se eu aprendi alguma coisa, é que a vida é o que acontece quando você fica parado apenas fazendo planos. Se você conseguir lidar com o fato de que, sim, eu estou com o Matthew e pretendo continuar com ele, ótimo, agora se não consegue, não posso fazer nada.”

“Faz o que quiser Sophie.” Ele deu de ombros e saiu, esbarrando de propósito em mim.

“É melhor você ir atrás dele.” Olhei para Luke.

“Tá louca? Não vou te deixar sozinha aqui!”

“Não vou ficar sozinha e vocês são casados agora, ele que tem que ser sua prioridade. Ele só tá chateado, mas isso vai passar e eu não quero que vocês fiquem mal por minha causa, então vai logo atrás dele.” Luke bufou, mas no fundo ele sabia que eu tinha razão.

“Eu te ligo mais tarde.” Fomos andando para a sala, onde a porta estava aberta e Matthew, Megan, Brian e Mabel se entreolhavam sem entender nada. “Oi gente, desculpe por tudo isso.” Luke disse sem graça e saiu em direção as escadas para ir atrás de Kenny.

“O que aconteceu?” Brian perguntou enquanto todos entravam.

“Kenny e eu tivemos uma discussão...” Olhei para Matthew e ele suspirou com pesar, entendendo o que tinha acontecido.

“Mas por quê?” Megan disse.

“Porque eu contei que eu e Matthew estamos juntos.” Disse e Matt andou até mim, beijando meu rosto.

“Para tudo!” Megan gritou. “Quando você diz ‘juntos’, quer dizer que estão tipo namorando? Mesmo?”

“É Megan.” Matt falou. “Não tinha contado nada por que a Sophie queria contar primeiro para o Luke e principalmente para o Kenny, mas sim...” Ele me olhou esboçando um sorriso e eu tentei sorrir também. “Estamos namorando.”

“Isso é incrível!” Megan disse saltitante e veio nos abraçar, seguidos de Brian e Mabel.

“Até que enfim né?” Brian disse brincando.

“Infelizmente nem todo mundo ficou feliz assim...” Falei.

“É só questão de tempo Sophie.” Mabel falou tentando me reconfortar. “E mesmo assim, é a sua vida, você que sabe com quem você deve ficar.” Eu sorri e a abracei também.

Todos sentaram a mesa para jantar e enquanto eles se serviam, Matthew acenou com a cabeça me chamando para o canto e eu fui, nos afastando um pouco de todo mundo.

“Eu devia ter contado com você.” Ele disse.

“Não... Acho que teria sido pior... E também, agora já era.” Dei de ombros. “Só não queria decepcionar ninguém.”

“Decepcionar? Por querer seguir sua vida?” Ele sentou no braço do sofá e colocou os braços ao redor da minha cintura. “Estamos felizes, não é isso que importa?”

“Claro que é.” Fiquei passando a mão em seu cabelo. “Mas o Kenny é casado com o Luke agora, tenho medo que esse desentendimento faça Luke se afastar de mim, sabe? E eu não consigo imaginar ficar sem ele, é um dos poucos em quem eu confio cegamente.”

“Eu conheço o Luke, ele nunca vai se afastar de você, por nenhum motivo.” Ele sorriu. “Até parece que ele ia agüentar ficar longe de você.”

“É... Acho que você tem razão. Mas espero não causar um divórcio também.”

“Não vai.” Ele ficou de pé e me beijou. “Vai ficar tudo bem. Tá nessa junto comigo?” Ele perguntou e eu sorri.

“Sempre.”


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