Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 60
Se não fosse amor - Cap. 17: Como aprender a te amar.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite gatissimas!
Obrigada pelos reviews, espero que gostem do capítulo novo.
Boa leitura,
Beijos,
Suy!!!



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POV Sophie Trammer

Eu não podia acreditar no que Ethan tinha feito comigo, eu estava tentando manter minha calma e principalmente, minha sanidade, mas eu estava com tanta raiva e tão decepcionada, que estava difícil. O que mais tinha me magoado é por que ele viu o que passei com Matthew, ele sabe que terminamos por uma mentira dele e então, ele vai e faz a mesma coisa. Tudo bem, não foi a mesma coisa, Ethan nunca me traiu, pelo menos não que eu soubesse, mas eu odiava mentiras de todas as formas e ele esconder que voltou para o exército e pior, me enganar, me fazendo acreditar que ele estava na boate... Era inaceitável!

“Senhorita?” O motorista disse e eu o olhei pelo retrovisor.

“Oi.”

“Eu estava lhe dizendo que ainda tem fotógrafos na entrada principal, devo dar a volta e entrar pela lateral onde descarregam materiais?”

“Já chegamos?” Olhei pela janela e reconheci a avenida onde fica a entrada principal da Trammer’s. Acho que fiquei distraída planejando um assassinato...

“E então?”

“E então o quê?” Perguntei ainda distraída.

“A senhorita quer que eu pare na entrada principal com os fotógrafos ou na lateral?” O motorista disse calmamente.

“Ah sim... Bem...” Parei um momento pensando. “Podemos fingir que os fotógrafos são pinos de boliche e atropelá-los?” Disse e meu motorista tentou conter um riso.

“Eu acredito que isso seja ilegal senhorita.”

“Qual a graça que tem de ser a chefe e não poder fazer nada?” Revirei os olhos.

“É por que isso, no caso, seria crime senhorita.”

“Está bem.” Levantei as mãos em forma de rendição. “Não está mais aqui quem falou.”

“Vou dar a volta no prédio para fugirmos dos jornalistas.”

“Não... Quer saber? Quero ser jogada aos leões.” Estava com a cabeça tão quente que precisava me irritar com outras pessoas, para tentar esquecer a raiva que eu estava de Ethan.

“Tem certeza senhorita?”

“Tenho sim, pare na entrada principal.” Disse e o motorista assentiu.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Black, informando que estaria na entrada principal, para que ele mandasse alguns seguranças para me ajudarem a entrar. Quando paramos o carro, três homens enormes já estavam esperando por mim. Abri um pouco a porta e entreguei para um a minha bolsa, ele me ajudou a descer com minha muleta e logo um bolo de gente se formou ao meu redor. Eles chamavam meu nome e faziam perguntas, todos os mesmo tempo, estava impossível entender alguma coisa.

“Sophie! Sophie! O que pode nos contar sobre seu acidente?” Ouvi um rapaz ao meu lado falar, enquanto caminhava em direção a entrada do prédio, parei e virei em sua direção, o que fez com que todos ficassem em silêncio.

“Bem, eu só sei o que todos vocês já sabem e acho que sabem até mais do que mesma.” Disse calmamente. “Foi apenas um acidente de carro, uma fatalidade... Poderia ter acontecido com qualquer pessoa.”

“Como está sendo a recuperação?” Uma moça próximo ao rapaz com quem estava falando perguntou.

“É uma recuperação lenta, ainda estou fazendo fisioterapia e como podem ver...” Levantei um pouco minha muleta. “Não estou 100% ainda, mas estou melhorando, tanto que voltei para o escritório.”

“E o Sr. Trammer? Está acompanhando sua fase de recuperação?” Outro rapaz perguntou. Como eu esperava... Esse tipo de pergunta sempre vinha à tona, o problema é que para o resto do mundo, Richard e eu éramos melhores amigos e ele era um pai excepcional.

“Ele está acompanhando todo esse processo, está do meu lado me apoiando e cuidando de mim, como sempre.” Sorri cinicamente.

“Por que levou tanto tempo para uma declaração oficial? Vocês estavam esperando o resultado da fusão primeiro?” Fusão? Que fusão? O olhei confusa, mas não podia demonstrar que não sabia de nada do que ele estava falando.

“Eu queria um pouco de privacidade, pelo menos nas primeiras semanas, por isso não dei nenhuma declaração oficial... Até por que, acredito que não tinha o que declarar, como disse, vocês já sabem de mais informações do que eu mesma.” Esbocei um sorriso.

“Então a fusão da Trammer’s vai acontecer mesmo?” O jornalista insistiu.

“Estamos avaliando propostas.” Dei minha resposta automática para qualquer pergunta que eu não soubesse responder. “Sem mais perguntas.” Falei acenando para os seguranças e eles me ajudaram a passar pela multidão e entrar no prédio.

O segurança devolveu minha bolsa e eu os agradeci pela ajuda. Andei rapidamente para os elevadores, ou pelo menos, o mais rápido que eu conseguia. Quando as portas se abriram, Matthew estava com o Ipad na mão e Emily ao seu lado me esperando.

“Fusão? Que porra é essa?” Gritei.

“Antes de surtar...” Matthew disse me seguindo enquanto eu ia para minha sala. “Nós também não estávamos sabendo.”

“Sua entrevista lá embaixo foi ao ar, ao vivo. Foi uma surpresa para nós, não sabíamos sobre esses boatos de fusão.” Emily falou e eu parei.

“Alguém pesquisou sobre isso?” Disse e Matt me entregou o Ipad com uma página da internet em aberto.

“Segundo os sites, seria uma fusão entre a Trammer’s e uma empresa inglesa, mas não divulgaram o nome dela.” Matthew explicou. Li rapidamente e entrei em minha sala, fechando a porta. Ele a abriu entrando também, joguei minha bolsa no sofá e sentei em minha cadeira, Matt sentou de frente para mim. “Como ele pôde? Ele sabe que sou contra isso, não queria sócios dirá uma fusão!” Disse com raiva.

“Ai que está Sophie, ele não pode.”

“Como assim?”

“Você tem boa parte das ações, ele pode negociar o quanto quiser, mas tem que passar por você primeiro se quiser fechar o negócio.”

“Tem certeza disso?”

“Eu sou formado em direito Sophie, eu sei o que eu estou dizendo.”

“Eu sei...” Bufei e apoiei a testa em minha mesa.

“Está tudo bem?”

“Está tudo ótimo.” Disse sem levantar a cabeça.

“Eu estou vendo...” Ele disse irônico. “O que aconteceu?”

“Nada que seja da sua conta.” Resmunguei.

“Entendi... Discutiu com o Ethan então.”

“Não discutimos!” Levantei a cabeça. “Tivemos uma pequena divergência de opiniões, apenas isso.”

“Ou seja... Discutiram.” Ele riu e eu o olhei feio. “O que foi que aconteceu?”

“Eu não vou te contar sobre os meus problemas com o Ethan.”

“Então você admite que vocês têm problemas...” Ele falou vitorioso. Peguei minha muleta e bati em seu braço com força.

“Ai! Doeu!” Ele reclamou.

“A próxima vai ser na sua cabeça se você não calar a boca!” Apontei a muleta em seu rosto e ele a tomou de mim.

“Deviam te proibir de andar com isso, qualquer coisa na sua mão vira arma.” Arma. Arma me lembra guerra. Guerra me lembra exército. Exército me lembra Ethan. Ethan me lembra que eu estou com raiva de Ethan. “Não somos uma espécie esquisita de amigos? Amigos contam essas coisas, vamos lá, abre o coração.”

“Eu não vou falar sobre a minha vida com ele para você querido, desista.”

“Qual problema?”

“É a mesma coisa de você vir falar sobre a Demônia, quer dizer, a Lindsay. Não quero saber, não é da minha conta e não é muito confortável de ouvir.”

“Você é meio sociopáta Sophie, não me compare. Não vou sair daqui até dizer o que houve.”

“Eu posso te obrigar a sair...”

“Não pode, estou com sua muleta e você está semi-aleijada.”

“Posso chamar os seguranças...”

“Eles obedecem a mim também.”

“Mas obedecem mais a mim.”

“Quer apostar?” Ele riu com sarcasmo.

“Que saco Matthew! Você irritante quando quer... Meu Deus.” Recostei-me em minha cadeira.

“Então se poupe de todo esse drama e diz logo que aconteceu.” Ele falou e eu revirei os olhos.

“Sabe que ele estava saindo mais cedo de casa para ir trabalha não é?” Comecei a explicar.

“Sim, pra boate.”

“Pois é, acontece que ele não estava na boate, ele estava trabalhando em uma unidade das forças armadas!”

“Olha só!” Ele riu abertamente. “Então eu não sou o único mentiroso por aqui afinal não é?”

“Você não está ajudando muito Matthew.” Disse impaciente.

“Tudo bem, só estava brincando. Mas por que te incomoda tanto ele trabalhar com isso? É só por preocupação mesmo?”

“Também.”

“Também? Então que outros motivos você tem pra não querer que ele vá?”

“Você ouviu a parte que eu falei que ele mentiu? Ou disse só mentalmente?” O olhei incrédula.

“Sophie, na boa... Todo mundo mente. E sinceramente, acho que se ele teve que mentir pra poder ir trabalhar com o que quer, é por que significa alguma coisa pra ele.”

“Significa porra nenhuma!” Disse brava. “Ele já tem trabalho, não tem por que ir atrás de outra coisa pra fazer, se ele se dedicasse pra valer na boate, ia ficar ocupado tempo suficiente. Nunca ouviu falar que mente vazia é oficina do demônio?”

“Se o Richard chegasse em um belo dia e dissesse que não quer mais você trabalhando aqui e que você está demitida, como você ia se sentir?” Matthew falou e eu o olhei confusa.

“O que isso tem a ver?”

“Uma simples pergunta... Só responda.” Nem precisava pensar muito pra responder isso.

“Eu iria ficar péssima né?! Trabalhei muito pra ter o reconhecimento que eu tenho hoje, isso aqui é a única coisa que eu consegui fazer direito na minha vida, é quem eu sou...” Parei e o olhei, ele estava sorrindo e eu chocada. “Eu estou entendendo o que você está tentando fazer.” Cerrei os olhos.

“Talvez esse trabalho no exército seja quem o Ethan é, vai julgá-lo por lutar pelo o que quer quando você fez isso sua vida toda?”

“Por que você está defendendo ele?” Eu já não estava entendendo nada.

“É que consigo ver os dois lados da moeda e não é questão de defender você ou ele, é só o que eu acho certo. Você mesma disse que trabalhou muito pra ter o reconhecimento que tem hoje, por que não se coloca no lugar dele?”

“Porque não é assim tão simples, Matthew.”

“Já que não é simples, me explica então, por favor.” Ele disse e eu suspirei desviando o olhar dele.

“Eu vejo muito de mim nele, a gente pensa muito parecido.”

“E isso é um problema?”

“É. Por que eu realmente acho que vamos chegar em um ponto que ele vai ter que escolher entre esse trabalho e eu. E o problema real, é que não sei se vou agüentar outra rejeição dessas.”

“Como você tem tanta certeza de que se ele precisasse escolher entre trabalho e você, ele escolheria o trabalho?” Ele me encarou e nossos olhos se encontraram.

“Por que se fosse essa situação comigo, o que você acha que eu iria escolher?” Falei e Matthew ficou calado por uns momentos, como se estivesse digerindo o que eu tinha dito.

“É sério isso? Escolheria seu trabalho a ele?”

“Escolheria meu trabalho a qualquer outra pessoa.”

“Eu não sei como ainda me consigo surpreender com essas suas linhas de raciocínio...” Ele esboçou um sorriso. “Não pode por isso aqui como prioridade Sophie, tem pessoas do seu lado que se importam com você e te amam, essas deveriam ser suas prioridades.”

“Eu gosto do Ethan, a gente se dá bem e é ótimo, mas que garantias eu tenho de que em um belo dia ele não vai acordar e perceber que talvez eu não sou a pessoa que ele quer pra vida dele? O meu trabalho aqui é a única coisa de certa que eu tenho.”

“Não tem como ter garantias Sophie! Essa é a graça do negócio, todo dia é uma aventura, uma descoberta... Você acha que não viveria sem o seu trabalho, mas que aguentaria ficar sozinha? Você percebe o quão egoísta é esse seu pensamento?”

“Eu tenho certeza que aguentaria ficar sozinha. Na verdade, sempre achei que iria ficar sozinha, se isso acontecer, tanto faz.” Dei de ombros.

“Sabe o que é o mais engraçado?” Ele riu. “Quando você sofreu esse acidente e ficou semanas em coma no hospital, ficamos do seu lado, orando e torcendo que você acordasse logo. E sabe o que aconteceu com sua empresa? Sobreviveu sem você. Nada mudou Sophie, negociações continuaram a serem feitas, pessoas foram admitidas, demitidas... Nada parou por sua causa. Não se iluda achando que você é a razão de isso aqui estar em pé, de fato, você fez falta, tem um senso de liderança inegável e é mais inteligente do que todos os empresários que eu já conheci, mas a empresa não vai fechar as portas se você se ausentar. Já em contra-partida, sentimos sua falta todos os dias e eu acho uma ignorância da sua parte achar que pode viver bem estando sozinha, por que quando você estiver mal, ou triste, não é o seu amado trabalho que vai te abraçar e acalentar.” Ai Sophie... Essa doeu heim?

“Então...” Abaixei a cabeça sem graça de ter ouvido tudo aquilo que eu tinha ouvido. A verdade é bem dolorosa mesmo... “Está querendo dizer que devo desculpar o Ethan e vivermos felizes para sempre?” Tentei mudar um pouco o rumo da conversa.

“Não me pergunte isso, sabe que por mim, você sequer teria se envolvido com ele.”

“Você e Lindsay pareceram estar muito bem ontem.” O olhei ironicamente.

“E eu acredito que isso sim, não é da sua conta.” Ele esboçou um sorriso e eu o olhei surpresa. “Não pode me cobrar nada Sophie e já disse inúmeras e incansáveis vezes, não vou voltar com ela só por que está grávida, mas também não vou abandoná-la e só procurar ela quando o bebê nascer.”

“Eu não tenho direito então de me meter na sua vida, é isso?” Falei com diversão.

“É exatamente isso.” Ele riu também.

“Amigos se metem na vida dos outros amigos.”

“É, mas existem certos limites que os amigos não podem passar. Claro que, se você fosse minha namorada...”

“Tá tentando me convencer a voltar a ser sua namorada pra que eu possa me meter na sua vida?”

“Eu não colocaria dessa forma, mas basicamente, é.”

“Você não existe...” Sorri.

“Eu sei que provavelmente você ainda tem raiva de mim por causa do que eu fiz naquela noite, mas...”

“Sabe que...” O interrompi. “Acho que essa história de traição não seria mais um problema para mim.”

“Não?” Ele levantou uma sobrancelha.

“Tecnicamente, você traiu a Lindsay comigo primeiro, no elevador.”

“Ah, o elevador... Boas memórias.”

“Boas memórias.” Assenti.

“Então acha que conseguiu me desculpar por aquela noite?”

“Eu tenho certeza que consegui te desculpar por aquela noite. Mas...”

“Sempre tem um ‘mas’...” Ele fez uma careta e eu ri.

“Vocês vão ter um filho sabe. Querendo ou não, ela vai estar sempre presente na sua vida e eu não saberia lidar com isso, acho que é demais para mim.”

“Eu sei que isso seria um problema para você. Mas se não fosse por isso, acha que nós dois poderíamos ter alguma coisa ainda?” Ele ficou sério.

“O que quer dizer?”

“Só imagine que agora, nesse momento, não existe Lindsay ou Ethan nas nossas vidas. Acha que estaríamos juntos?”

“Eu ainda gosto de você Matthew e isso toda a população mundial sabe.” Desviei o olhar dele. “É muito difícil ver você com ela, eu não consigo me acostumar.” Sorri. “Parece que alguém está enfiando uma faca no meu estômago sempre que eu vejo vocês dois.”

“E eu sinto muito, muito mesmo, fazer com que você se sinta tão ruim dessa forma, nunca foi minha intenção.” Ele colocou sua mão sobre a minha e eu voltei meu olhar para ele.

“Não sinta... Eu entendo que, como você disse, não pode simplesmente deixar ela de lado até que o bebê nasça. Acho que no fundo eu tenho um pouco de inveja dela.”

“Por que teria inveja da Lindsay?”

“Ela vai ter um filho seu.”

“Você queria ter um filho meu?”

“Nem sei mais o que eu quero... Só sei que não quero magoar ou decepcionar o Ethan, ele não merece. Mesmo que seja um idiota mentiroso.” Ficamos calados por uns momentos. “O ponto é que são histórias tão diferentes... Com o Ethan, tudo foi aos poucos, tipo degrau por degrau, sabe? Com você foi tudo tão intenso e parece que terminou mais rápido do que começou.” Falei e Matthew concordou.

“Não tivemos oportunidade de viver o que deveríamos ter vivido.”

“É... Mas pelo menos nós conseguimos manter nossa amizade. Eu me sinto mais aliviada por saber que tenho você aqui.” Matt sorriu abertamente.

“Sempre vou estar aqui, só quero ver você feliz.” Ele beijou minha mão.

“Eu sei que vai.” Sorri. “Mas sei também que não sou a melhor pessoa do mundo ou a mais fácil de se lidar...”

“O quê? Você?” Ele falou incrédulo. “É a mulher mais doce e delicada que eu já conheci na minha vida!” Ele disse com ironia.

“E você o homem mais engraçado que eu já conheci na minha vida!” Disse irônica também.

O telefone começou a tocar e eu o atendi, soltando minha mão da de Matthew.

“Trammer.” Disse calmamente.

“Senhorita, a reunião com os acionistas vai começar em 10min.” Emily falou.

“Tudo bem Emily, eu e Matthew já vamos descer. Qual vai ser a sala mesmo?”

“Sala 10 senhorita.”

“Estamos indo para lá então, obrigada Emily.” Desliguei o telefone. “A reunião já vai começar e pela primeira vez, Sophie Trammer vai chegar na hora!” Disse de forma dramática.

“Realmente, um milagre!” Ele se levantou rindo.

“Eu já posso pegar minha muleta de volta, ou eu preciso ir me arrastando até a sala?” Disse e ele me devolveu a muleta.

“Mas lembre-se que isso não é para ser usado para agredir os funcionários.”

“Não garanto nada... Sabe como os acionistas me amam, se algum me fizer raiva, posso enfiar essa muleta em locais considerados inapropriados.” Matt gargalhou e eu fiquei de pé.

“Você é assustadora ás vezes, sério.” Ele falou ainda rindo e descemos para as salas de reuniões.

O assunto do momento era a suposta fusão da Trammer’s com outra empresa, alguns acionistas concordaram que isso era sem fundamento, já outros achavam uma boa idéia e até tentaram me convencer disso, mas em vão. Nossa empresa tinha conseguido nome, prestigio e seu espaço no mercado sendo apenas a Trammer&Trammer’s. O começo, que geralmente é o que é mais difícil, tinha sido feito com nosso sobrenome e eu queria que continuasse assim, meu avô pensaria da mesma forma, eu sei disso por que conversamos inúmeras vezes sobre negócios.

“O mundo ainda vai conhecer quem são os Trammers Sophie, vai estar estampado nas revistas e nos jornais que somos a maior e a melhor sucedida empresa do nosso ramo. Pessoas de todo o mundo vão viajar até aqui, apenas para nos conhecer.” Meu avô dizia com um entusiasmo. Eu era apenas uma menina, mas quando eu o via falando assim tão animado, só me fazia ter certeza de que eu queria ser como ele quando crescesse. “Tudo isso aqui...” Ele me mostrou a maquete do prédio da Trammer’s. “Vai ser seu futuramente.”

“Tudo isso?” Falei surpresa ainda admirando a maquete, que na época equivalia à metade, da metade, da metade do tamanho do prédio nos dias atuais. “Mas é muita coisa vovô...” O olhei assustada em saber que eu teria que assumir tudo aquilo um dia.

“Você vai dar conta pequena.” Ele beijou meu rosto. “Seu pai, que é um cabeça dura, vai precisar da sua ajuda quando eu não estiver mais aqui. Ele não vai admitir que precisa, mas saiba que ele vai, então esteja lá para ele.”

“Você não pode ficar com a gente pra sempre? O papai me dá medo...” Falei assustada.

“Ele tem um coração duro minha pequena, muita coisa aconteceu quando você era apenas um bebezinho e isso fez com que seu pai ficasse tão fechado assim. Mas ele te ama, não se esqueça disso, Sophie e quando tiver com medo ou com raiva dele por algum motivo, lembre-se que você o ama também.”

“Está bem, vovô.” Assenti e voltei a olhar a maquete do prédio. “Eu vou mandar nas pessoas?”

“Vai sim, em centenas, quem sabe milhares delas.” Ele sorriu. “Quando chegar a sua vez de sentar na cadeira da presidência, as coisas estarão mais fáceis. A tecnologia estará ao seu favor e as pessoas vão saber, por você pequena, que os Trammers são as estrelas, os demais, apenas coadjuvantes.” Ele me puxou para seu colo e ficamos fazendo planos para um futuro em que eu, uma simples menininha de grandes bochechas e dentes tortos, me tornaria uma empresária mundialmente famosa.

Eu nunca havia esquecido aquela frase que ele tinha dito, ‘Os Trammers são as estrelas, os demais, apenas coadjuvantes’. Nos sonhos do meu avô, não havia espaço para outros nomes, era o nosso sobrenome que deveria ser conhecido e não o de outra empresa, por isso, quando assumi eu tinha em mente que não haveria a menor possibilidade desse tipo de negociações. Richard não respeitava os desejos e a memória do meu avô, mas eu iria respeitar.

A reunião acabou um pouco mais tarde do que eu gostaria, já era do almoço e eu estava morta de fome.

“Nossa que fome...” Matthew disse enquanto voltávamos para nosso andar.

“E eu.”

“Quer ir almoçar?” O elevador abriu e saímos. “Só como amigos, não precisa se preocupar.” Ele disse e eu sorri.

“Vou ficar te devendo, podemos ir amanhã. Vou comer em casa hoje.” Paramos de frente um para o outro. Ethan já devia ter ido para lá e eu queria resolver logo essa situação.

“Tudo bem, amanhã então.” Ele assentiu.

“Posso te dar um abraço? De amigos.”

“Claro que sim.” Ele se aproximou e me abraçou apertado. “Senti falta desse abraço.”

“Eu senti também.” Nossos corações batiam tão rápido que dava pra senti-los.

Nos afastamos, nosso olhar se encontrou e eu me senti ficando vermelha.

“Estou atrapalhando alguma coisa?” Viramos o rosto e Lindsay estava em pé, com a mão sobre a barriga me fuzilando com os olhos.

“Como entrou aqui?” Matthew a olhou surpreso.

“Eu não preciso de autorização para entrar, todos sabem que estamos esperando um bebê.”

“Qualquer um que não trabalhe aqui, precisa de autorização para subir Lindsay.” Ele respondeu secamente e ela o olhou com raiva.

“Encontrei com Brian lá embaixo, ele me autorizou a subir. Satisfeito?” Ela disse arrogantemente.

“Eu vou pegar minha bolsa e vou para casa.” Disse para Matthew ignorando a presença da Demônia.

“Está bem, nos vemos mais tarde.” Matthew sorriu, o que fez Lindsay ficar com mais raiva ainda.

Entrei em minha sala e me senti bem só por ter irritado Lindsay um pouco. Peguei minha bolsa e mandei uma mensagem para o motorista, ele respondeu avisando que já estava descendo. Quando saí do escritório, Matthew e Lindsay não estavam mais lá. Deve ter ido levar ela para almoçar... Bufei e desci indo para a garagem. O motorista me levou até em casa, pedi que ele voltasse em 1hr para me buscar, subi para meu apartamento e, não para minha surpresa, Ethan estava lá sentando em minha poltrona. Ele se levantou rapidamente assim que me viu e eu fechei a porta.

“Sabia que ia encontrar você aqui.” Disse e me sentei no sofá.

“Quero resolver as coisas entre nós.” Ele disse sério e voltou a sentar na poltrona. “E esperava que você já estivesse mais calma.”

“Eu estou mais calma, de fato.”

“Então podemos conversar como dois adultos civilizados agora?” Ele disse e eu fiz que sim com a cabeça.

Ethan me contou desde o começo, como recebeu o convite e como ele estava ficando sem tempo. Ele me explicou que queria conversar comigo primeiro, mas com a demora da minha recuperação, ele teve que tomar a decisão sozinho e tinha ficado receoso sobre como seria minha reação quando eu soubesse.

“Eu entendo o seu lado Ethan... Acho que no fundo, não é tanto o trabalho que me incomodou, foi mais a mentira.” Disse calmamente. “O que temos hoje é especial graças à sempre sermos sinceros, deveríamos confiar um no outro, pelo menos em tese. Mas quando você age assim pelas minhas costas...”

“Eu sei, eu tenho plena consciência de que eu errei, mas eu só fiz o que eu fiz, por que não queria te magoar.”

“Mas magoou, acidentalmente.” Falei e ele apoiou a testa na mão. “Você tem certeza de que é isso que você quer? Esse trabalho?”

“Tenho. Sempre achei que eu tinha um propósito maior na vida do que servir bebidas e ganhar dinheiro à custa das farras dos outros.” Ele falou e eu recostei-me no sofá.

“Eu vou ser honesta Ethan, estou com medo que esse seu trabalho acabe nos afastando de alguma forma.”

“Por que isso aconteceria?” Ele cerrou os olhos. “Você trabalha também e por mais tempo do que eu trabalho na unidade, nunca nos atrapalhou."

“Não dá para comparar. Eu faço o meu horário, eu só praticamente moro no prédio por que adoro trabalhar, mas na hora em que eu quiser, posso ficar trabalhando de casa, não preciso ir lá sempre. Diferente de como é com você, desde que começou a trabalhar com isso, só conseguiu uma folga hoje... Semanas depois.”

“Estamos no começo do treinamento, ainda não sabemos o que funciona ou não, por isso o trabalho é mais puxado. Mas no normal, eu trabalho um dia e ganho folga no outro, se trabalhar uma semana completa, ganho a outra de folga e por ai vai.” Me calei pensativa, tentando analisar toda a situação. “Vai terminar comigo por causa disso então?”

“Não Ethan.” Respirei fundo. “Seria hipocrisia da minha parte terminar com você por lutar pelo que quer, sendo que eu faria a mesma coisa pelo meu trabalho se eu estivesse no seu lugar.”

“Graças a Deus!” Ele suspirou aliviado.

“Eu prometo tentar, por que estou vendo como isso é importante para você, não quero que desista por minha causa. Eu vou tentar me acostumar com essa sua nova rotina e confiar que você tem certeza de que tomou a melhor decisão que poderia. Só, por favor, sem mais mentiras, sem mais segredos ou coisas do tipo.”

“Com certeza, sem mais isso tudo!” Ele se levantou e sentou do meu lado. “Vou te contar tudo agora, você vai precisar mandar eu me calar.”

“Eu acho bom mesmo, ainda posso pegar aquela arma e me vingar...”

“Eu vou deixar ela sempre bem escondida, principalmente sabendo disso.” Nós dois rimos e ele me beijou. “Com fome?” Ele perguntou.

“Morrendo de fome.” Disse, ele ficou de pé e me ajudou a levantar.

“O Luke deixou o almoço feito, vamos ver o que tem ali pra gente atacar.”

“Falando no diabo... Onde ele e o Ken estão?”

“Eles foram fazer a prova das roupas para o casamento.”

“Nossa...” Bati na testa. “Acredita que eu consegui esquecer do casamento? Mas se você contar isso pro Luke eu nego.”

“Seu segredo está bem guardado.” Ele riu.

“E você? Não vai fazer a prova da sua roupa?”

“Eles adiaram para o fim de semana, tem o seu vestido também... Agora você pode experimentá-lo.”

“Acho que nem consigo lembrar direito como era...”

“Eu te lembro, era lindo igual você.” Ele beijou meu rosto e fomos andando para a cozinha.

Eu tinha certeza que Ethan me amava, só pela forma que ele olhava para mim. Ele era bom, com bom coração, trabalhador, lindo, engraçado... E todas as outras qualidades que as mulheres buscam em um homem. Então por que raios eu não sentia meu coração bater mais forte por ele? Por que seu coração é burro, idiota, imbecil... Fiquei o observando, enquanto ele fazia nossos pratos, ele percebeu e sorriu para mim com o sorriso mais verdadeiro e lindo do mundo, sorri de volta para ele. Eu quero aprender a amar você Ethan Cross, quero poder dizer que te amo. Terminamos de comer e ainda restou um pouco de tempo até que o motorista chegasse, Ethan queria ir me deixar, mas eu o convenci de que não precisava.

“Você vai dormir aqui hoje?” Perguntei levantando do seu colo.

“Não... Eu vou dormir na unidade hoje, meu sargento quer que comecemos o treinamento amanhã de madrugada e só assim pra eu chegar lá na hora.”

“Ah...” Tentei disfarçar minha decepção. “Você é muito rígido com eles lá?”

“Eu tenho que ser.” Ele sorriu. “Parece que essa nova geração é mais preguiçosa do que o normal... Quero que vá um dia lá, pra ver como não é assim tão horrível.”

“Está bem... Quero ver se você é durão mesmo ou só faz tipo.” Bati em seu braço e ele me deu língua. “Vem, me leva até o carro.”

Demos as mãos e descemos, nos beijamos rapidamente e entrei no carro indo para o prédio. Fiquei feliz por ter resolvido essa situação com Ethan... Claro que eu estava chateada ainda por tudo, mas não adiantava perder tempo remoendo essas coisas não é? A comparação que Matthew tinha feito para tentar justificar o que Ethan tinha feito, na verdade fazia sentido. Era importante para ele aceitar o emprego e eu não poderia julgá-lo, a confiança entre nós iria se restaurar com o tempo, eu só precisava de um pouco de paciência e auto-controle, saber impor limites entre Matt e eu, por que não iria, de forma alguma, trair o Ethan. Eu já havia passado por isso e sabia como a sensação era horrível, não iria fazer ele passar pela mesma coisa.

Cheguei em meu andar e estava tudo silencioso, Emily ainda estava no horário de almoço e Matthew ainda deveria estar almoçando também. Entrei em minha sala e joguei minha bolsa no sofá. Ai, preciso de café... Saí com a intenção de ir em buscar de café, Black sempre tinha uma garrafa cheia, então iria roubar um pouco dele.

“Estava te esperando.” Quase caí para trás de susto quando vi quem estava ali na minha frente.

“Lindsay?” Mas o que essa maluca está fazendo aqui?


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