Diálogos Perdidos escrita por MarcosFLuder


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic procura mostrar como seria uma cena inteira, e alguns diálogos de uma cena, que eu teria acrescentado se fosse o roteirista do segundo filme. Um agradecimento especial para Autumn, da página do facebook "Beco dos Escritores", por essa capa maravilhosa, tão graciosamente oferecida.



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HOPITAL SAINT MARY

22:35 Pm

Dana Scully caminhava pelos corredores do hospital onde trabalhava, mas seus pensamentos vagueavam por outros lugares. Ela tinha acabado ser informada da doença de Padre Joe e uma mistura estranha de pena e desconforto agitava-se dentro dela. O fato de ter convivido toda a sua infância, e parte da adolescência, com Padre MacCue, tornava muito difícil a ela solidarizar-se àquele homem que ela trouxera ao hospital. Sua educação católica ainda era parte muito importante do seu ser. Por conta disso, um padre pedófilo era algo que a atingia fortrmente. A vergonha que causara a Igreja que ela ainda frequentava, e, no fundo de seu ser, acreditava, lhe era intolerável. Ainda assim, havia espaço para pena por aquele infeliz que jazia num quarto, convivendo com sua culpa e seus fantasmas. Os devaneios de Scully foram interrompidos, entretanto, pela voz de uma pessoa que ela conhecia bem, mas que preferia evitar nos últimos dias. Definitivamente, ela não estava dando sorte com padres ultimamente.

— Soube que trouxe um novo paciente ao hospital Dr. Scully – A voz do Padre Ybarra traía uma certa ironia.

— Ele não é meu paciente – Disse Scully – eu apenas estava com ele quando passou mal.

— De qualquer forma não é sobre isso que vim lhe falar.

— Se é sobre o menino, eu creio que estamos perdendo o nosso tempo – Scully não conseguia evitar uma certa irritação na voz.

Uma parte dela lhe dizia que não devia se dirigir dessa maneira ao Padre Ybarra e ela sabia que era a sua melhor parte. A pior parte dela foi a que insistiu em julgar Padre Joe, e que ainda parecia ter preponderância sobre suas ações, pois não conseguia conter a sua irritação com o homem à sua frente

— Eu soube que o senhor tentou convencer os pais dele a desistir do tratamento.

— E provavelmente você está me julgando um homem insensível e desumano por causa disso – Disse o Padre Ybarra – você me julga da mesma maneira como deve ter julgado o infeliz que trouxe a esse hospital.

O senhor foi falar com ele? – pergunta Scully, de alguma forma essa idéia a deixava muito atemorizada – o que ele lhe falou?

— Nada sobre você eu lhe garanto, e mesmo que ele tivesse dito algo, eu nada poderia revelar, pois foi em confissão.

— Não nego que não consigo olhar para aquele homem sem sentir um certo asco – Disse Scully – a Igreja não é tão importante hoje para mim como poderia ser, mas na minha infância e adolescência ela foi parte importante da minha vida. Era um lugar seguro, um refúgio certo para os momentos difíceis. Essa lembrança ainda está dentro de mim padre; me consola nos momentos mais difíceis imaginar que sempre haverá um lugar seguro para onde voltar. O senhor faz idéia de como a visão de um padre pedófilo pode afetar essa certeza consoladora?

— Eu entendo perfeitamente o que está sentindo minha filha – Padre Ybarra toca delicadamente o ombro de Scully e ela estremece ao sentir-se consolada por isso – eu batizei o menino que você está desesperadamente tentando salvar, fui eu que fiz o casamento dos pais dele. Você acha que eu não dediquei muitas das minhas orações pedindo a Deus um milagre para salvá-lo?

— Nesse caso Padre Ybarra, dedique mais algumas orações para esse menino, e para mim também. Peça a Deus que guie as minhas mãos durante a cirurgia que vou fazer.

Padre Ybarra nada diz, ele dá um leve sorriso e segue o seu caminho; Scully faz o mesmo e ao chegar próximo a escada ela vê Mulder entrando no hospital. A visão dele corta o seu coração; ela já sabe o que aconteceu com a agente Whitney e não tem dúvida de que ele se culpa pelo que aconteceu. Ao chegar ao início da escada o olhar dele encontra-se com o dela, ele lhe dá um sorriso triste, mas ao mesmo tempo aliviado, é justamente esse alívio percebido no seu olhar que mais a preocupa.

— Como você está Mulder? – o olhar dele já lhe diz tudo – você não deve sentir-se culpado pelo que aconteceu – ele se aproxima dela até suas testas tocarem uma a outra.

— Eu me sinto culpado Scully, mas não é pelo que você está imaginando – disse Mulder – eu vi a agente Whitney despencar para a morte, mas a verdade é que tudo o que conseguia pensar era no alívio que sentia por não ter sido você no lugar dela – Scully sentiu um arrepio ao ouvir aquilo – que bom que você não quis vir comigo, que bom que você resolveu seguir em frente. Se fosse você no lugar da agente Whitney eu me atiraria para a morte também.

— Não fala isso Mulder.

— Sou uma pessoa horrível Scully? Sou uma pessoa horrível por ter tido esses pensamentos enquanto a agente Whitney caia para a morte?

— Você é só humano Mulder, assim como eu – Responde Scully – As vezes não podemos evitar esses pensamentos, bem como algumas atitudes que sabemos ser erradas. Nós somos só humanos.

— Eu te amo Scully – O coração dela bate mais rápido ao ouvir aquilo.

— Eu também te amo Mulder.

Eles se beijam, mas ambos têm consciência de onde estão, e um beijo delicado, quase casto. Eles sabem que haverá uma hora melhor para demonstrar o que sentem um pelo outro. Aos poucos o profissionalismo deles volta a se impor e eles se separam. Scully fica ligeiramente ruborizada ao perceber que todos em volta olham para eles, Mulder não consegue evitar um sorriso ao perceber isso. O ligeiro recato de sua companheira é uma das características que mais o encantam. Aos poucos, no entanto, eles se recompõe; criminosos precisam ser capturados, há uma vida que ainda precisa ser salva, em poucos segundos eles já são os profissionais dedicados de sempre.

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que quem for ler, venha a gostar.