Conquista do Destino escrita por Vanderlyle


Capítulo 1
Começo da estrada


Notas iniciais do capítulo




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Ela estava em um amplo palco com piso bege e paredes amarelas, decoradas com faixas vermelhas, que formavam laços semelhantes a fitas de torneio. Nos quatro lados do salão, se erguiam arquibancadas, aonde uma grande plateia gritava seu nome alegremente, formando uma verdadeira baderna. Mas após uma rápida batida no microfone, todos se calaram, dando a deixa para Mary, a pessoa que narrava os torneios, uma mulher alta e magra, com cabelos marrons encaracolados e pele bronzeada, dar continuidade a cerimônia de premiação.

— Você, Alice Grant, acaba de chegar a final do torneio de top coordenador. Tem algo a falar sobre isso? — perguntou a locutora do torneio.

— Eu estou muito feliz! Agradeço à minha família e amigos, e, sobre tudo, meus pokémons, que estiveram me acompanhando nessa jornada! — respondeu nossa vencedora.

— Ótimas palavras! Senhor Ryan, poderia dizer a nossa vencedora os procedimentos para entrar no hall da fama dos coordenadores? — perguntou Mary a um homem corpulento de cabelos grisalhos, aparentando ter entre sessenta e setenta anos.

— Alice, por favor, acorde querida. Você tem muito que fazer hoje. — Uma amável voz feminina, particularmente familiar, obviamente não pertencente ao senhor que se encontrava ao lado dos outros dois júris, entrou pelos ouvidos da menina.

O quê?! — Exclamou Alice, percebendo que tudo aquilo não passava de um sonho, daqueles que estava tendo desde que decidiu o que queria se tornar.

— Sua jornada começa hoje. Como pode esquecer depois de tudo? — perguntou Aurora Grant, mãe de Alice.

Senhora Grant não aparentava passar dos trinta e dois, mas, na verdade, tinha mais de quarenta anos. Era uma mulher com ótima aparência, lindos cabelos loiros longos que quase sempre estavam presos num coque bem arrumado e olhos violetas, no mesmo tom dos de Alice. Era vista como uma mulher que não media esforços para ver o bem de sua família, especialmente depois da morte de seu marido, Robert Grant, que foi um dos melhores líderes de ginásio, segundo uma revista local. Tinha uma paixão por pokémons do tipo grama, e passa seus dias em casa, localizada na cidade de Rustboro, cuidando da filha mais nova ou plantando no jardim da casa onde morava, acompanhada de sua fiel Roserade, que lhe fazia companhia desde sua juventude.

— É claro que eu não esqueci. Como pode dizer isso? Eu estava apenas sonhando de novo... — esclareceu Alice, enquanto assistia sua mãe abrir as janelas de seu quarto, deixando finos raios de sol entrarem em seu quarto branco, desarrumado demais para o gosto de sua mãe.

— Sonhando de novo? Por que você não levanta, toma um banho e se arrume para tornar esse sonho realidade? — sugeriu sua mãe sorrindo, enquanto puxava e guardava no armário os cobertores que antes cobriam uma Alice sonolenta.

—Tudo bem! — disse a menina, pondo imediatamente um sorriso radiante no rosto. — Onde está Tsuki¹? — perguntou à mãe, se referindo à sua Absol, que quase sempre dormia em seu quarto, no pé de sua cama. O Pokémon lhe fazia companhia desde criança. Foi um presente de seu pai, pouco antes do mesmo partir para nunca mais retornar.

— Acordou um pouco mais cedo que você, creio que ela tenha ido para o jardim. Ultimamente ela aparenta estar tão ansiosa quanto você. — respondeu, com uma leve expressão de divertimento no rosto. — Agora vá se arrumar, enquanto eu preparo o café. — disse, se retirando do cômodo e deixando uma Alice intrigada sozinha.

Então ela também está ansiosa? Pensou, enquanto se levantava e caminhava rapidamente até o banheiro, para fazer sua higiene matinal e se arrumar.

Depois do demorado banho, se dirigiu ao espelho que estava encostado a parede do quarto. Observou seu reflexo, e constatou que estava horrível: Os cabelos loiros claros na altura das costas estavam todos bagunçados, semelhantes a um ninho de pássaro. Seus olhos violetas vibrantes estavam emoldurados por olheiras levemente roxas, que tiravam totalmente o encanto do seu jovem rosto, a deixando parecer bem mais velha do que os seus quatorze anos.

Começou penteando seus cabelos, que com muita persistência resolveram abaixar e voltar ao seu estado normal. Prendeu sua longa franja na lateral da cabeça com a sua costumeira presilha roxa. Decidiu que maquiagem não era necessária, pois caminharia muito, suando e, consequentemente, estragando todo o seu trabalho. Pôs sua roupa favorita: Uma blusa de tecido leve roxo escuro, com mangas compridas, que nos pulsos, eram brancas. A parte da frente era composta por dois pares de botões que seguiam verticalmente até no limite do tecido, quase de encontro com a saia rodada, duas palmas acima do joelho, também roxa. Achou suas meias três quartos, do mesmo tom de sua blusa e saia, embaixo de sua cama — Obra de Tsuki, imaginava — Colocou-as e deu uma rápida olhada ao seu redor, achando suas botas num tom mais escuro de roxo com um salto reto, ideal para longas caminhadas. Quando se olhou pela segunda vez no espelho, viu a Alice que ela mesma conhecia. Satisfeita, pegou sua mochila branca em cima da mesa, deu uma rápida checada nos objetos dentro da mesma e correu escada abaixo, pronta para encontrar sua mãe.

Alice se dirigiu até a cozinha, onde encontrou sua mãe sentada à mesa, lendo uma revista qualquer. Havia uma grande variedade de alimentos próprios para um café da manhã, desde frutas até pães de diversos sabores. A loira supôs que aquilo tudo era uma espécie de despedida, provavelmente aquele seria o último café que tomaria em casa em tempos. Ela não sabia se ficava feliz, pois estava faminta, ou ficava triste, afinal de contas, estava deixando a casa na qual cresceu, por um tempo indeterminado. Resolveu pensar nisso mais tarde, e aproveitar o momento com a Sra. Grant.

— Finalmente desceu! Já estava quase pedindo para Roserade invadir seu quarto e lhe trazer usando Vine Whip! — Riu da expressão de desagrado que se formou no rosto de Alice.

— Não acho que isso seja necessário. Vou chamar Tsuki, já volto para terminar de comer. — Pegou uma maçã e se dirigiu à porta do lado da pia, que levava ao jardim, aonde, segundo sua mãe, a Absol estaria.

Andou até o fundo do jardim, passando por canteiros de rosas de diversas espécies e cores, até chegar ao limite da cerca, onde facilmente pulou e continuou, passando por arvores de cerejeira, sua favorita. E da Tsuki também, pensou, com um sorriso brotando inconscientemente no seu rosto. Era incrível o laço de amizade que havia construído com a Absol no passar dos anos. Ambas são semelhantes em vários aspectos e gostos, o que torna sua ligação muito profunda. Elas se completam em vários sentidos.

Andou alguns passos e logo se deparou com Tsuki a fitando, indecifrável, como sempre. Gostava disso, de coisas que te convidam a entendê-las. A Absol era o Pokémon que em sua opinião, mais personificava mistério. Seu pai havia acertado em cheio, mesmo que indiretamente, lhe presenteando Tsuki, que na época, era um pequeno Absol recém-chocado. O pokémon tinha a metade de sua altura, com pelos brancos como a neve e patas azuis escuro. Ela tinha uma espécie de meia lua em seu rosto, na mesma tonalidade de suas patas e cauda, contrastando perfeitamente com seus profundos olhos vermelhos. Apesar de ser, segundo à dex, o pokémon disastre, que aparece antes de coisas ruins acontecerem, Tsuki era, na opinião de Alice, uma das melhores coisas em sua vida.

— O que você faz aqui? — perguntou, tombando a cabeça de lado, imitando o gesto de Tsuki. — Vamos voltar, tenho que terminar de tomar e café, para nós podermos partir para nossa jornada!

A Absol concordou com a cabeça, e partiu em disparada para a cozinha, deixando uma Alice risonha pela hiperatividade repentina do pokémon.

Quando Alice chegou à cozinha, viu Tsuki comendo pokéblocs da tonalidade amarela, que prometiam aumentar o cool appeal. Sorriu e começou verdadeiramente o seu café, enquanto conversava banalidades com Aurora.

Quando terminou o café, correu para o banheiro e escovou os dentes, checou sua mochila de viagem pela última vez e desceu as escadas, pronta para iniciar sua jornada em busca das fitas de torneio. Viu sua mãe parada na porta, e sorriu.

— Então você já vai, não? Ah, como vocês crescem rápido... — disse, com um longo suspiro.

— Por favor, não chore. Sei que minha presença é muito boa. — respondeu com ironia, acariciando o pelo de Tsuki, que tinha acabado de chegar. Mas logo depois seu rosto mudou para uma expressão seria, transbordando determinação. — Mas a senhora sabe que eu tenho esse sonho desde pequena. Essa é minha oportunidade de provar para todos, e especialmente para Winona que eu posso me tornar uma top coordenadora! — continuou, dando uma espécie de soco para cima, um gesto de comemoração ou usado para dar ênfase em suas falas. Apenas mais uma de suas muitas manias.

Winona era a irmã mais velha de Alice, líder do ginásio da cidade de Fortree. Apesar de pouco se verem, ambas se dão muito bem, até o assunto do futuro da menina entrar no dialogo: Winona insiste em achar a carreira de uma coordenadora inapropriada para a filha de um grande líder de ginásio. Alice já perdeu as contas de quantas vezes discutiu com a irmã, que aparenta apenas se importar para o que os outros irão achar, e não para o verdadeiro desejo de sua irmã. Por esse motivo, Alice queria se tornar uma top coordenadora, mostrando para sua irmã que quem decide seu futuro é ela mesma.

— Eu creio que você pode ultrapassar sua irmã. Vejo muito do seu pai em você. — Deu um sorriso cansado, que logo foi substituído por uma expressão que aterrorizava Alice, e que só podia significar que um grande favor está para ser pedido. — Alice, minha querida, seria incômodo demais pedir que você entregar uma carta a uma amiga na cidade de Petalburg? — disse, com uma voz doce demais para o gosto da menina.

— M-Mas...Mas hoje minha jornada começa, por que a senhora não manda pelo carteiro? Petalburg não está nos meus planos nem na minha rota de viagem! — exclamou indignada para a mãe, enquanto a mesma tinha uma expressão neutra na face.

— Eu não posso mandar essa carta pelo correio, então só me resta você para entregar isso. Eu também ouvi dizer que na rota próximo à cidade, há vários pokémons de nível baixo, ideal para iniciantes como você.

Sra. Grant assistiu uma face indignada se transformar num grande sorriso, que em sua opinião, era um dos mais lindos que já tinha visto. Lembra tanto o Robert. Pensou tristemente.

— Bem, se tiver pokémons bons lá, não vejo o porquê de eu não ir lá...

— Ótimo! Entregue esta carta à Catelyn Bloom. O endereço está no verso. — Apontou para a carta sorrindo. — Acho melhor você ir, se você quiser chegar a Petalburg antes de anoitecer.

— Certo! Hum... Mãe... Ér... Até logo! — falou rapidamente, dando em seguida um abraço de urso em sua mãe, que imediatamente foi correspondido. Alice não gostava de despedidas.

— Até! — respondeu, rindo ao observar sua filha mais nova correndo, com Tsuki em seu encalço, para o mundo e para as suas tão sonhadas aventuras.

A menina sonhadora, que constantemente era subestimada, morria ali. A partir daquela despedida, nascia uma nova Alice: A coordenadora determinada, que junto com seus parceiros Pokémon, não medira esforços para realizar seu sonho de menina.


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Notas finais do capítulo

¹Na mitologia japonesa, Tsukoyomi é o deus da lua. Achei que combina pelo fato da Absol ser do tipo dark.
Obrigada por ler, e espero que tenham curtido o primeiro capítulo. Já tenho o segundo pronto, então não demorarei a aparecer aqui novamente. Peço que por favor comentem, para mim saber o que vocês acharam. Se viram algum erro que passou despercebido por mim, me contem! Sugestões e criticas construtivas são bem-vindas! Beijos, até o próximo :*