O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Décimo quinto capítulo dedicado à Himawari Uzumaki31 pela linda recomendação! Obrigada mesmo! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

Capítulo XV

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Esperei por quase um dia inteiro por notícias depois da confissão de Ajisai.

Ela não estava mais à vista, estranhamente, e quando sondei seu avô por informações sobre o seu paradeiro, ele só me disse que ela acordou indisposta naquela manhã e preferiu passar o dia em repouso.

Não tinha dúvidas de que ela estava se escondendo de mim, evitando-me para não ter que responder minhas perguntas. Tal constatação só acentuava o sentimento de frustração que pesava os meus ombros. Além disso, eu estava irritado e impaciente, rangendo os dentes a cada hora desperdiçada dentro daquele quarto abafado — nunca fui íntimo do ócio e a inércia tinha um efeito negativo para mim.

Por isso, apanhei meu manto e minha espada e deixei o cômodo, assim como a residência em que estava hospedado. Não tinha um objetivo fixo em mente, queria apenas espairecer, desanuviar os pensamentos confusos e paranoicos que vinham povoando minha cabeça durante as últimas horas insones.

Era mais uma tarde tranquila em Imagawa com os mesmos rostos passando por minha figura, cuidando dos seus afazeres sem quaisquer outras preocupações em mente. Entretanto, Ajisai continuava recolhida, pelo que pude perceber, e seu avô partiria para mais uma viagem dentro de alguns dias, por isso estava atarefado com os preparativos e não me seria útil em fornecer respostas mesmo que minha sutileza falasse mais alto dessa vez.

No auge da frustração por não obter respostas, afastei-me do vilarejo, descendo o desfiladeiro que tinha avistado no dia anterior, o mesmo cortado pelas águas poderosas do rio Kitakamu, para buscar mais pistas sobre o paradeiro de Sakura ou sobre a emboscada que ela sofreu semanas atrás.

Devo ter percorrido quase três milhas, seguindo a margem esquerda do rio e descendo seu curso antes de refazer o trajeto, mas inversamente desta vez. Era um terreno perigoso, essencialmente rochoso com algumas árvores velhas agarrando-se aos penedos maiores e mais antigos.

O tempo estava fechando novamente; em todo o dia, apenas alguns vislumbres pálidos de sol haviam conseguido transpassar o aglomerado cinzento de nuvens. Mesmo que estivéssemos nos aproximando do término do inverno, não me surpreenderia se voltasse a nevar considerando a região montanhosa e já amena por essência.

Os sons das águas correndo no leito cheio e do canto das cotovias nos galhos dos bordos uniam-se aos demais ruídos da floresta densa que ladeava o desfiladeiro de calcário e granito. Era uma visão encantadora, apesar de extremamente perigosa. Da nascente, nas entranhas rochosas da montanha, até o desaguar violento em uma queda d’água, cercada por penedos pontiagudos e ameaçadores, eram no mínimo seiscentos metros, isso se eu descartasse a própria torrente caudalosa que se estendia adiante.

Busquei minha espada, de repente, eriçado pela certeza de que alguém estava vindo. Saltei sobre uma imensa rocha que despontava na direção da queda d’água. Ativei meu Sharingan para poder enxergar através da bruma de vapor que subia da cachoeira, umedecendo minhas roupas e deixando-as mais pesadas.

Ouvi um farfalhar de tecido, o solado de uma sandália batendo na pedra e, antes que pudesse sequer esboçar uma reação decente, três fluxos de chakra distintos pousavam na mesma rocha sobre a qual eu me equilibrava. Suspirei assim que desativei meu dōjutsu.

— Finalmente te encontramos, Sasuke! — exclamou um Suigetsu risonho, sorrindo de tal forma que todos os seus dentes pontiagudos ficassem expostos. — Mais um pouco e eu ia achar que o radar da Karin tinha pifado!

— Olha como fala das minhas habilidades, imbecil! — Karin rangeu os dentes e apontou um dedo acusatório para ele. — Não teríamos demorado tanto se não tivéssemos feito tantas pausas por sua causa!

Tsc, por que não admite que a responsável foi você? E eu que achei que a sua especialidade fosse grudar no chakra do Sasuke vinte e quatro horas por dia como a estranha que é... — ele apoiou a mão na cintura, sob o manto negro, e fez uma careta para Karin.

— Ora, seu...!

— É bom te ver novamente, Sasuke. Já faz algum tempo. — Jūgo foi o único a me cumprimentar civilizadamente, interrompendo a pequena discussão de Suigetsu e Karin, e eu assenti para todos os três.

— É, Sasuke, já faz algum tempinho — Suigetsu o ecoou com um cinismo afiado. — Não nos vemos desde o fim da guerra. Um pouquinho de consideração conosco teria sido bem-vindo, afinal, nós salvamos o seu traseiro ingrato quantas vezes mesmo?

— Agora não é hora para sentimentalismo — cortei-o pragmático e ele bufou. — Preciso de um favor.

Karin cruzou os braços irritada e Suigetsu fez uma careta emburrada. Jūgo era o único ali que claramente não ressentia do meu distanciamento depois que a guerra terminou, acho até que ele compreendia a minha necessidade de me afastar de tudo e de todos que pudessem evocar memórias do período mais sombrio da minha vida.

Mas a verdade é que a equipe Taka dissolveu-se muito antes da minha transformação no Vale do Fim. O que restava entre nós, hoje, limitava-se à lembranças de um passado desagradável para mim e tênues laços de camaradagem entre nós quatro.

Eles não eram minha família, não como Naruto, Sakura e Kakashi que me impulsionavam para um futuro brilhante e auspicioso, não inspiravam o melhor que havia em mim. Mas eles eram pessoas com quem eu podia contar quando precisasse, pessoas em quem eu poderia confiar.

— Continua mandão e insensível, pelo que posso ver — Suigetsu murmurou com um sorriso afetado. — Pensei que o tempo que você passou com os molengas de Konoha tivesse te amolecido. Francamente, Sasuke.

— Já chega de falácias — declarei peremptório. — Chamei-os aqui porque preciso que façam um favor para mim.

— E o que é, Sasuke? — Jūgo me perguntou e aparentemente era o único dos três a permanecer leal e solicito comigo.

Antes que tivesse a chance de respondê-lo, no entanto, Suigetsu espalmou ambas as mãos entre nós, silenciando-me.

— Ei, ei, espera um pouco aí! Por que nós deveríamos nos sujeitar às suas ordens de novo, Sasuke?! Eu sei que no passado era até legal e tudo mais... Eu queria, e ainda quero na verdade, obter as sete espadas lendárias. A Karin pularia de um precipício se você pedisse, sem dúvidas... — ele pausou o suficiente para afagar o próprio queixo e nesse instante recebeu um tapa de Karin no topo da cabeça; ele se liquefez, é claro, e se recompôs bem rápido.

— Cala a boca, Suigetsu!

— E, sem dúvida, o grandão ali também não hesitaria em fazer qualquer coisa por você — ele indicou com o dedo para Jūgo que não se abalou com as suas palavras. Então, deu de ombros: — Mas é sério, Sasuke, no que quer nos envolver dessa vez?

Não titubeei ao respondê-lo:

— É pessoal. Só o que precisam saber é que Konoha me delegou uma missão não oficial e... — eu pausei, buscando as palavras certas, as mais descomplicadas. — É importante para mim; eu preciso cumpri-la.

— Hmm, certo. — Suigetsu concordou num tom monocórdio. — E espera que nós arrisquemos os nossos pescoços por você... Não sei se lembra, mas Orochimaru obteve leniência dos cinco Kages pelo simples motivo de ter contribuído com a vitória da Aliança Shinobi ao levar os Edo Hokages para o campo de batalha. E Konoha está se certificando de que ele permaneça na linha desde aquele dia. Um tropeço e então... — Suigetsu estalou os dedos indicador e médio. — Nem preciso dizer que o mesmo se aplica a nós três, não? Até mesmo você, Sasuke, está metido em uma situação semelhante a nossa.

“Então, a questão que realmente importa é o que nós ganhamos se o ajudarmos?

Suspirei profundamente, prolongando o momento — e consequentemente a tensão entre nós quatro. Busquei explicar a situação da forma mais concisa que encontrei.

— Há uma organização criminosa envolvida e o Hokage acredita que o Lorde Feudal de Taki esteja de conluio com os seus membros.

— Então essa é a sua missão? — Karin me questionou, dirigindo-se a mim pela primeira vez desde que chegaram ali. — Você foi designado pelo Hokage para eliminar essa organização criminosa?

— Mais ou menos — respondi-a com franqueza, mas omiti a parte que realmente me ligava a essa missão, a verdadeira razão de eu estar aqui. — Os membros dessa organização... Eles aparentemente são Shinobis excepcionais e, para completar, Nukenins caçados pelas cinco nações.

— Então tudo o que você pode nos prometer, caso resolvamos ajudá-lo, é uma boa luta e, se tivermos sorte, um pouquinho de diversão? — Suigetsu voltou a sorrir, exibindo seus dentes afiados de tubarão. — Ora, por que não disse antes então, Sasuke?

Fulminei-o com o olhar numa espécie de admoestação conciliadora.

— É uma missão perigosa, preciso que estejam conscientes disso — alertei-os com honestidade e cheio de boas intenções porque, de fato, só pensei em envolvê-los nessa situação porque não consegui encontrar outra saída.

— Nah, mais do mesmo, não é?

Suigetsu fez pouco caso de minhas palavras, mas notei que Karin me encarava com firmeza, com olhos apertados e ariscos. Ela ajeitou a armação dos óculos no rosto, mas não desviou o olhar.

— Ei, Sasuke, isso é realmente tudo? Não está omitindo nada de nós, não é? — ela me perguntou e não fez questão de esconder o sentimento de suspicaz; era fácil dizer que ela estava tentando me ler (e ler minhas atitudes) através do meu chakra, era uma especialista nisso, afinal, e havia sido exatamente por seu talento que eu a havia recrutado anos atrás.

Não havia sentido em mentir para um sensor como Karin, portanto tratei de, ao menos, cuspir uma parte da verdade, ainda que a contragosto.

— Não, há outra razão pela qual fui designado para essa missão, mas não há necessidade que eu lhes conte, pelo menos não agora.

— E então como faremos? Você já tem um plano? — Jūgo adiantou-se, dando um passo à frente.

O eco de sua voz foi abafado pelo som da água desaguando às minhas costas e várias centenas de metros abaixo dos nossos pés. Uma película fina de névoa, decorrente do vapor úmido que subia da cachoeira, envolvia todo o entorno, tornando a vista baça e até mesmo um pouco esmorecida.

Notei que as cotovias haviam se silenciado nos galhos onde antes estiveram cantando com todo o vigor dos seus minúsculos pulmões. Apenas o som forte da água corrente persistia e isso eu estranhei: estava silencioso demais.

Voltei-me para Jūgo, intentando respondê-lo, porém, ao invés disso, tive minha atenção desviada para a expressão apavorada de Karin. Vi-a esbugalhar os olhos e a cor fugiu do seu rosto. Ela abriu a boca, mas mal conseguiu balbuciar uma única palavra.

— Cu-cuidado...!

Alcancei minha espada ao passo que Suigetsu e Jūgo adotaram uma posição defensiva, atentos. Nem um segundo depois, algo extremamente poderoso chocou-se contra nós, contra os penedos sobre os quais nos apoiávamos mais especificamente. Parecia que o mundo inteiro estava tremendo sob aquele estrondo descomunal que enviou ondas de choque através de todo o meu corpo, abalando meu equilíbrio momentaneamente.

Uma explosão se seguiu, liberando a segunda onda de choque — ainda mais poderosa do que a primeira — e levantando uma cortina de poeira que me isolou dos outros, limitando meu campo de visão. Ativei meu Sharingan a tempo de notar que a rocha sob os meus pés estava se partindo, quebrando-se ao meio.

Puxei a espada de debaixo do meu manto, libertando-a da bainha ainda presa ao meu cinto e saltei para trás, às cegas, diretamente para a queda d’água. Senti o ar frio transpassar minhas roupas e o vapor intenso tornou minha capa notavelmente mais pesada. Ainda em queda livre, de ponta-cabeça, mordi meu polegar com força suficiente para romper a pele.

Apoiei a mão direita no vazio e concentrei a quantidade necessária de chakra para a invocação:

Kuchiyose no Jutsu! — sibilei e uma nuvem de fumaça branca emergiu acima de mim.

Asas longas e poderosas despontaram da cortina esbranquiçada de fumaça e uma sombra majestosa tomou forma no céu desbotado de inverno. Rearranjei meu próprio corpo no vazio enquanto ainda caía, voltando minha face para a cachoeira abaixo de mim. O vento cortante empurrou o cabelo para longe do meu rosto e minha capa para longe do meu corpo.

Ouvi o chilreio agudo de Garuda e, em seguida, seu corpo atravessou minha trajetória, amparando minha queda na penugem amarronzada do seu dorso. Pousei sobre ambos os joelhos. O imenso falcão sobrevoou a cachoeira e eu me agarrei nele, sentindo nos ossos o mesmo vento veloz que sustentava suas asas e o fazia pairar acima das águas agitadas.

Garuda ascendeu em direção ao céu, cortando o ar frio com seu bico recurvo como a ponta de uma flecha, e desenhou um semicírculo perfeito ao dar meia-volta e se posicionar acima da imensa cortina de poeira que paulatinamente se dispersava. Mantive-me atento e sondei os arredores atrás de Suigetsu, Jūgo e Karin.

Não demorei a encontrá-los e senti certo alívio que todos os três estivessem bem, a não ser por alguns arranhões superficiais. Jūgo estava mais à frente, num ponto onde as rochas ainda estavam estáveis, agarrado a uma árvore antiga com um de seus braços já transmutado e a marca da maldição já cobrindo metade do seu corpo.

Suigetsu e Karin estavam mais atrás, ambos haviam deitado no solo para evitar os impactos posteriores. Ouvi o berro estridente e ultrajado de Karin quando ela se deu conta de que ele havia se deitado sobre ela para protegê-la dos escombros.

— Ahh, o que pensa que está fazendo, seu cabeça de peixe?!

Vi-a empurrá-lo de cima de si com um chute e revirei os olhos.

— O que eu penso que estou fazendo?! Estou salvando a sua vida, sua megera! — ele rebateu, massageando o queixo, lugar onde ela o havia atingido.

— Vocês estão bem? — perguntei a eles e Jūgo e Suigetsu foram rápidos em me responder.

Imensos pedaços de rocha ainda se desprendiam do promontório, despencando cada um na cachoeira logo abaixo com um estrondo ensurdecedor. Todo o local estava instável depois dos dois impactos que sofreu. Garuda batia as asas esporadicamente para nos manter no mesmo lugar e agitava o ar frio ao nosso redor, ao mesmo tempo em que ajudava a dispersar a cortina densa de poeira.

Com os três a salvo, focalizei meu Sharingan na grande silhueta que começava a se destacar na tênue nuvem amarronzada. Identifiquei ali um fluxo de chakra que nunca vi igual. Contei os segundos até que o homem realmente se sobressaísse à poeira: ombros imensos, no mínimo dois metros de altura e um sorriso ameaçador complementavam sua compleição altiva. Feições fortes e um par de olhos fixo no meu rosto, estava claro para mim que eu era o alvo prioritário.

— Sasuke, cuidado com esse cara! — Karin me alertou à distância.

Senti que ela pretendia me dizer mais alguma coisa, porém algo a deteve. Meu instinto Shinobi salvou minha vida logo a seguir: o ar à minha volta pareceu ser todo sugado por um vórtice imaginário, desapareceu por completo. Um milésimo de segundo depois de eu ter notado essa mudança — e Garuda também —, um chicote de vento passou a centímetros do meu rosto, cortando uma mecha do meu cabelo com uma perfeição assustadora. Vi-o acertar outro penedo assim que passou por mim com meu Sharingan; a rocha se fragmentou.

Meu falcão inclinou seu corpo diagonalmente, levando-me a me agarrar com mais afinco nele. Ele soltou outro chilreio afiado que atravessou os céus enquanto batia as longas asas a fim de se estabilizar novamente, descrevendo outro semicírculo na garganta rochosa estreita que nos cercava.

Outra sombra passou por mim, veloz e silenciosa como uma rajada abrupta de vento. Ele pousou sobre outro promontório, no lado oposto do desfiladeiro ao outro homem, e portava uma katana fina e longa. Apesar da pequena estatura e da compleição franzina, entendi que não deveria subestimá-lo.

Da floresta que ladeava o desfiladeiro, uma garota de cabelo comprido cor de cobre surgiu e uniu-se ao homem que havia nos atacado primeiro. Era jovem, porém a expressão indiferente no seu rosto me disse exatamente o que eu precisava saber.

Por último, na cachoeira abaixo de mim, houve uma imensa comoção. As águas se agitaram violentamente, chocando-se contra as rochas. Em seguida, uma corrente elétrica poderosa atravessou a sua superfície, espalhando-se em todas as direções e criando um chiado atordoante.

Da nuvem de vapor, surgiu, enfim, o último deles. E desta vez era um Shinobi experiente: o grisalho do seu cabelo e os vincos no seu rosto bronzeado me disseram tudo. Seu chakra estalava como as faíscas azuladas sobre a superfície revolta das águas.

Ele saltou agilmente e pousou ao lado do garoto que me atacou com sua técnica de elemento Fuuton. Um usuário de Raiton, tal como eu. Cada um dos quatro aparentava ter habilidades únicas que os tornavam excepcionais. Cada um deles era especializado num tipo de combate e possuía sua própria técnica.

E todos os quatro usavam mantos vermelho-carmesim de mangas longas com o traçado de uma única flor negra sobre o lado direito do peito. Todos os quatro me encaravam, todos eles me viam como a ameaça a ser eliminada.

Não tive dúvidas de que estava diante da organização criminosa que vinha atraindo a atenção da Aliança Shinobi nos últimos meses: a Higanbana Sangrenta.

Nós cinco nos entreolhamos, eles equilibrados sobre os promontórios que se destacavam sobre aquele desfiladeiro e eu de cima do meu falcão. O homem mais alto, o usuário de Doton, alargou o seu sorriso frio quando o olhei.

— Então você é Uchiha Sasuke, hã?

Abaixo de mim, pressenti que Suigetsu, Jūgo e Karin também se preparavam para a iminência daquela batalha violenta. Não seria nada fácil, eu sabia. Mas quando lembrei que esses caras poderiam me fornecer a localização de Sakura, minha determinação em derrotá-los empederniu.

Tornei isso o meu propósito, bem ali.

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Naquela manhã, três dias depois do fiasco no apartamento de Kakashi, eu decidi caminhar pela vila; caminhadas sempre ajudavam a clarear meus pensamentos.

No caminho, porém, encontrei Sakura.

Ela não me viu, não a princípio, e a razão disso me aborreceu enormemente: na entrada de um mercadinho, segurando uma sacola de tecido vazia, estava ela, conversando com um cara que eu não conhecia e nem sequer havia visto alguma vez.

Observei-os à distância, azedo, torcendo a boca para a aparente camaradagem entre ambos e para os sorrisos que ela concedia a ele — por condescendência, é claro; ela não sorriria para outro cara por qualquer outro motivo que não fosse este.

De repente, Sakura riu de algum comentário estúpido que ele certamente fez. Ele riu junto, corando um pouco, e logo em seguida eles se despediram. Ele acenou como um idiota para ela, sorrindo de orelha a orelha pela atenção que lhe havia sido dedicada.

Cerrei os dentes e me aproximei como quem não queria nada — e eu realmente não queria, que fique registrado.

Sakura se virou para mim e recuou como se eu tivesse lhe dado um susto, imediatamente pressionando a mão contra o peito.

— Oh, Sasuke-kun! Não esperava vê-lo aqui.

Comentou com um sorriso delicado e eu respondi com um resmungo, talvez porque o sorriso que ela abrira agora pouco (para outro) ainda estivesse fresco na minha memória. Em seguida, ela mostrou a sacola vazia para mim.

— Vim comprar os ingredientes para o jantar hoje no apartamento do Kakashi-sensei.

Ah, isso, lembrei de repente do compromisso que Naruto e Sakura haviam marcado para nós quatro.

Estava mais para uma intimação, na verdade, do que para um convite e, segundo eles, era para que revivêssemos os velhos tempos. Os dois mais entusiasmados com a ideia eram, é claro, Naruto e Sakura. Kakashi concordara porque adorava fazer as vontades deles e eu, de alguma forma, acabei sendo arrastado para isso também. Assim, como a quitinete de Naruto era um chiqueiro, Sakura ainda vivia com os pais e eu mesmo não havia oferecido o meu lar temporário, ficou acordado que o jantar seria no apartamento de Kakashi.

Sakura pareceu ter lido algo no meu rosto, pois o sorriso desapareceu da sua boca rosada e uma sombra cobriu o brilho dos seus olhos claros.

— Você vai, não vai, Sasuke-kun?

Pensei no sorriso que ela dera para aquele cara. Pensei na quentura desagradável que senti com o modo que ele a olhava e no quanto assistir aquilo havia me aborrecido. Mas, de repente, um pensamento me ocorreu, como uma epifania: teria eu algum direito? Depois de tudo o que houve? Depois de tudo o que eu fiz?

Pensar em uma resposta negativa para essas questões me enervava.

Escondi meu punho cerrado no bolso da calça e dei de ombros.

— Eu não decidi ainda — menti e Sakura voltou a sorrir, mas desta vez vi a insegurança no seu sorriso, no olhar que ela escondeu de mim.

— Ahh, não deixe de ir! Naruto e Kakashi-sensei gostariam muito que você fosse.

Ela mordiscou o lábio cor-de-rosa. “Eu também quero que você vá” eram as palavras que ela não se atreveu a me dizer. Eu as enxerguei na sua expressão infeliz por minhas recusas e rejeições ainda construírem um muro entre nós dois. Ainda insegura, Sakura estendeu a sacola na minha direção de novo.

— Bom, se você for, prometo não deixar que o Naruto cozinhe ramen. Além do mais, posso até comprar tomates, se quiser.

Sakura forçou outro sorriso para mim, um que me incomodou profundamente.

— Até mais, Sasuke-kun. — E dito isso, não esperou por minha réplica; entrou no mercadinho.

Observei suas costas se afastarem até que ela desapareceu atrás de uma das várias prateleiras de metal lá dentro. Suspirei e comparei os dois sorrisos, sentindo-me ainda mais desconfortável quando percebi que a diferença entre ambos era tão distinta como o dia e a noite.

Afastei-me dali, carrancudo, perguntando-me por que eu não conseguia agradar Sakura de forma que ela sempre sorrisse com sinceridade para mim. Talvez eu fosse tóxico demais para as pessoas que me amam, talvez essa seja uma característica minha que eu jamais conseguirei mudar.

De todo modo, eu me sentia igualmente infeliz e miserável.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: luta, luta e mais luta! Porque eu amo e porque eu quero :v
E o Taka chegou para ajudar o Sasuke na sua missão!
...
Com o fim do Gaiden, eu decidi que vou adaptar muito do material Canon para "O Peregrino". Aliás, eu mal consegui assimilar ainda que Sasuke e Sakura viajaram juntos pelo mundo, só os dois, e no meio dessa viagem conceberam a Sarada-chan! @_@ Awnnnnnnnnnn, é perfeito demais, SOCORRO! ;-;
...
Ahh, e eu estou trabalhando em um Spin-off para O Peregrino chamado "Cosmos". Também é um prequel (acontece antes dos eventos de O Peregrino), trabalhando com o tema das vidas passadas do Sasuke (Indra e Madara). Eu divulguei a sinopse na minha página do Facebook.
...
Enfim, obrigada a todos pelos lindos reviews! ;D
Nos vemos no próximo!