Guardados A Sete Chaves escrita por Jiinga


Capítulo 8
Ideias




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Clarisse só não gritou porque ela estava em choque demais para isso. O que estava acontecendo? Como ela tinha ido parar lá em cima? Não havia nada segurando-a.

Ela fechou os olhos. Talvez fosse como as ilusões de Bree ou a habilidade de cura de Astrid. Talvez ela tivesse desenvolvido um poder também. Mas o que quer que fosse, como ela faria para descer?

Clarisse fechou os olhos, concentrando-se. Ela respirou fundo várias vezes, tentando clarear sua mente, até que sentiu o chão sob seus pés. Quando abriu os olhos, estava cercada por uma multidão que a olhava como se ela fosse uma aberração.

Bree tirou-a de seus pensamentos agarrando seu pulso.

– Temos que sair daqui. Agora.

Clarisse assentiu e as duas começaram a correr na direção do dormitório da LATT. Ninguém as estava seguindo, todos ainda estavam pasmos com a situação, mas elas não podiam arriscar receber as perguntas constrangedoras sem que tivessem tempo para elaborar uma resposta convincente.

As duas entraram correndo e arfando, assustando seus amigos que estavam reunidos, ainda tomando café, já que elas eram as únicas que tinham que acordar tão cedo.

– O que aconteceu? – perguntou Jo.

Bree e Clarisse se entreolharam, sem saber ao certo o que responder. Foi Bree quem falou:

– A Clarisse... Meio que... Voou...

Todos arquearam as sobrancelhas, confusos.

– Espera, acho que eu consigo fazer de novo. Vai ser mais fácil. – ela fechou os olhos e respirou fundo, livrando sua mente de todos os problemas e preocupações (o que não era muito difícil para Clarisse, apesar da situação, pois ela tendia a ser muito zen). Em alguns segundos, ela sentiu seu corpo mais leve, e quando abriu os olhos, estava flutuando a alguns centímetros do chão enquanto seus amigos a encaravam boquiabertos.

Lena virou-se para Astrid.

– Ok, você tem que admitir que são poderes agora.

Astrid suspirou e nem olhou para ela.

– A Clarisse é boa com esportes, ela pode ter desenvolvido algum tipo de...

– Astrid, são poderes. – Clarisse interrompeu-a de maneira tão ríspida que todos se assustaram – E todo mundo viu. – ela caminhou e sentou-se em um dos sofás.

– Como assim, todo mundo viu? – perguntou Meg.

– A Clarisse pulou pra rebater uma bola, e continuou flutuando a uns dez metros do chão. Então nós saímos correndo. – explicou Bree.

Astrid suspirou novamente.

– Fugir foi uma péssima ideia. As pessoas vão achar que foi algo realmente estranho. Vocês deviam ter inventado alguma coisa.

– Que tipo de coisa se pode inventar pra explicar uma garota flutuando a dez metros do chão? – perguntou Bree.

– Desculpa. – Astrid desviou o olhar – Eu não quis ser grossa, mas tô realmente preocupada com isso tudo. Se todos nós começarmos a desenvolver hab... – ela hesitou - poderes, pode ser que algum de nós desenvolva alguma coisa realmente perigosa. E se as pessoas descobrirem... Como aparentemente já aconteceu... Podemos estar em perigo.

Todos ficaram em silêncio por um minuto, olhando para baixo. Todos sabiam que era só uma questão de tempo até que Meg, Jo, Lena e G. desenvolvessem algum tipo de poder também, e todos estavam apavorados com a ideia de serem perseguidos por isso.

– Sinto muito. – foi Clarisse quem disse, e todos olharam para ela.

– Clarisse, não foi culpa sua! – exclamou Meg – Ninguém sabe controlar isso. E você não tinha como saber que ia acontecer.

– A Meg tem razão. Mas precisamos pensar numa explicação logo. Enquanto isso, acho melhor você não sair do dormitório.

– Tudo bem. Acho que vou pro meu quarto então. – disse Clarisse, se retirando.

***

Após pensar durante muito tempo, eles chegaram a uma explicação plausível para os que haviam testemunhado o poder de Clarisse.

Segundo eles, Clarisse costumava saltar mais alto que o normal, devido a intensa prática dela de salto à distância e salto com vara. Quando ela saltou durante o treino de vôlei, foi pega por uma corrente de ar e por isso demorou mais que o normal para cair. Isso ainda não explicava por que ela e Bree haviam saído correndo, mas eles concluíram que a melhor resposta era que Clarisse ficou assustada com a quantidade de pessoas olhando para ela, ainda mais tendo em vista que muitas das garotas da aula de vôlei costumavam ser rudes com ela.

Ainda, assim, a explicação parecia não ser o suficiente.

– Eu não quero ir! – exclamou Clarisse na manhã de segunda-feira, puxando seus cobertores para mais perto de si.

– Mas Clarisse, a explicação é realmente muito boa. – disse Meg, sentando-se ao lado dela na cama – Ninguém vai achar que tem nada de estranho com você.

– Mas e se não funcionar? E se a história já tiver passado de pessoa pra pessoa e assim que eu sair em público eles me pegarem pra fazer experiências comigo?

Meg olhou para o restante de seus amigos, sem saber o que fazer.

– Acho que não temos nada a fazer, então. Fique aqui hoje e nós cuidamos pra que os boatos não espalhem. – disse Astrid e Clarisse assentiu.

Por mais que o plano parecesse infalível, os seis estavam um pouco apreensivos também. Todos sabiam como um bando de adolescentes podia reagir de forma cruel a coisas que não compreendiam.

Quando entraram na sala para a aula de História, porém, não receberam nada além dos costumeiros olhares de inveja. Algumas garotas do time de vôlei foram, de fato, perguntar o que havia acontecido com Clarisse, mas a resposta deles pareceu convencê-las.

Durante o intervalo da aula de Biologia, porém, quando Lena saiu para ir ao banheiro, ela trombou com a pessoa que menos gostaria de encontrar.

– Desculpa. – disse Adam – Ah, é você! Tá tudo bem com a Clarisse? Eu não a vi depois do treino de vôlei sábado e ela não tá atendendo o celular.

Lena não respondeu, apenas desviou o olhar. Ele parecia tão gentil, como poderia ser o garoto da sua visão? Ela não conseguia encará-lo.

Adam suspirou e perguntou:

– Por que você não gosta de mim? É por que eu tô saindo com a sua amiga?

Lena engoliu em seco. Ela precisava responder alguma coisa, algo que não fosse totalmente mentira.

– Eu não quero que você a machuque.

– E o que te diz que eu vou fazer isso?

– Eu... eu conheço seu tipo. Sei que você vai machucá-la.

Ele suspirou novamente.

– Você é a única que a está machucando agindo assim. Eu não pretendo me afastar dela. E espero que você realmente não faça nada para afastar ela de mim.

Lena ergueu os olhos, esperando encontrar um olhar preocupado de Adam, mas ao fazer isso, deparou-se com olhos extremamente irritados. Olhos incrivelmente parecidos com os que ele tinha em seu sonho.

Ele não estava pedindo. Ele a estava ameaçando.

– É exatamente disso que estou falando. – ela desviou dele e continuou seu caminho até o banheiro.

***

Por mais que seus amigos tivessem garantido que não haveria nenhum problema e que quase ninguém tinha se assustado com a história do vôo, Clarisse não conseguia se sentir segura para voltar às aulas.

Quando fechava os olhos, ela podia sentir os olhares de todos queimando contra ela, e tudo que queria fazer era enterrar-se ainda mais em suas cobertas.

Clarisse não sabia lidar com o ódio dessa forma. Desde pequena, ela sempre foi uma garota gentil que nunca se metia em problemas e nunca se envolvia em brigas. Sua simpatia foi essencial para torná-la uma das garotas mais populares de sua antiga escola em Nova Paris, mas ela não era como as garotas populares costumam ser: todos gostavam dela, e ela não fazia o menor esforço para tal.

Porém, desde que havia chegado na LATT, fora seus amigos e Adam, parecia que todos tinham alguma coisa contra ela. Ela não conseguia entender. Qual era o problema de ela estar entre os sete melhores alunos de seu ano? Ela havia se esforçado pra isso, havia feito os testes como todos os outros. Eles não podiam culpá-la por ter se saído melhor que eles.

Foi por isso que, mesmo depois da insistência de seus amigos quando eles voltaram da aula na segunda-feira, ela não concordou em voltar às aulas na semana seguinte.

– Mas Clarisse, nós temos prova amanhã! Se você perder a prova sem um atestado, pode ficar de recuperação. Você é membro da Elite, não pode deixar isso acontecer. – disse Astrid.

– Eu não quero te todos olhem pra mim. – ela murmurou, fazendo Astrid suspirar. Já estavam há mais de meia hora naquela conversa.

– Eu tenho uma ideia. – disse Bree, e todos olharam para ela – Olha, eu não sei se vai funcionar. Provavelmente não vai, mas eu posso tentar.

– Bree, do que você tá falando? – perguntou Jo.

– Clarisse, fique em pé.

A amiga a obedeceu. Bree encarou-a por um longo tempo, como se estivesse analisando cada detalhe de seu corpo. Então, ela fechou os olhos e esticou as mãos na direção do espaço vazio ao lado de Clarisse.

O restante ficou boquiaberto. A imagem demorou a se formar, começando como um brilho arco-íris como o de uma bola de sabão. Depois, ganhou forma e cores, e em questão de minutos, Bree estava suando e Clarisse tinha um clone seu ao seu lado.

– Como foi que você fez isso? – exclamou G.

– Eu... estive praticando... – confessou Bree.

– Ela consegue falar? – perguntou Lena, olhando para o clone de Clarisse.

– Calma, eu não sei exatamente como isso funciona. – Bree foi até o clone. – Oi Clarisse.

– Oi Bree. – respondeu o clone numa voz idêntica à de Clarrise, assustando a todos.

Bree pegou uma folha de papel na escrivaninha da amiga e entregou-a para o clone, que segurou-a normalmente.

– Podemos mandá-la fazer a prova no lugar da Clarisse.

– Você tá doida? E se ela desaparecer no meio do pessoal? Acha que vamos conseguir uma explicação plausível dessa vez? – perguntou Astrid.

– Ela não vai desaparecer se não tocarmos nela. – assegurou Bree – E eu vou ficar de olho pra reforçar a ilusão se algo começar a sair do controle.

– Mas ela sabe a matéria da prova? – perguntou Jo.

– Vamos descobrir. – disse Lena, aproximando-se do clone – O que é uma ligação iônica?

– É uma ligação entre um metal e um ametal. – respondeu o clone.

– Quantas camadas de distribuição atômica os átomos podem possuir?

– Sete.

– Qual o nome dos seus pais? – perguntou Bree, estreitando o olhar.

O clone mordeu o lábio.

– Eu... Eu não sei... – ela murmurou.

– Como eu imaginava. – concluiu Bree – Ela sabe tudo que eu sei, não tudo que a Clarisse sabe, porque fui eu que a criei. Teremos que tomar cuidado com perguntas pessoais só, mas acho que ela vai se sair bem na prova. – ela tocou o ombro da ilusão, que desapareceu no ar.

– Ainda acho que é uma má ideia... – murmurou Astrid.


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