Logo que chego na Capital sou levada até o centro de transformação. As duas mulheres e o homem que trabalham em meu corpo são estranhos como todo o resto das pessoas da capital. Chady me falou que era melhor eu não questionar nada que meu estilista ou os assistentes dele quisessem fazer comigo.

Eles estão tirando todos os pelos do meu corpo, e fazendo minhas unhas dos pés e das mãos, penteiam meu cabelo e passam uns trinta produtos nele, depois passam um óleo em meu corpo. Me sinto incomodada por ter pessoas invadindo o meu espaço pessoal, sinto vontade de gritar e xingar todos ali e mandar eles parar de puxar os cabelos das minhas sobrancelhas. Mas infelizmente não posso, então xingo todos eles mentalmente com coisas horríveis.

Quando eles terminam o trabalho em mim me levam a um quarto, eu estou completamente nua por baixo do meu roupão de seda.

Tenho que esperar minha estilista chegar e dizer qual o plano dela para me deixar linda para a cerimônia de abertura.

Depois de uns cinco minutos que eu estava lá sozinha ela entra. Nunca vi ninguém, desde que cheguei da capital, tão estranha como minha estilista. Ela usa roupas com todas as cores, um vestido que a parte de baixo fica girando o tempo todo e se eu olho para ele fico tonta, o rosto dela é ainda mais estranho, ela tem olhos rosa, o batom é preto e tem tatuagens de onça pelo rosto. Fico com medo por saber que essa é a mulher que vai me arrumar.

– Johanna Mason? – ela caminha até perto de mim e estende a mão para me cumprimentar – meu nome é Hikara, sou sua estilista.

– Prazer – eu disse apertando a mão dela.

– Então doce Johanna – ela começou a falar – eu já tive a ideia para sua roupa da cerimônia de abertura desde que te vi na colheita. Espero que você goste.

Para a cerimônia de abertura os tributos sempre são vestidos de acordo com seu distrito, sendo assim, somos sempre vestidos de arvores ou lenhadores e coisas assim.

Hikara tira meu roupão e analisa cada centímetro do meu corpo, mede ele com uma fita e anota várias coisas em um caderno. Depois de algumas horas ela termina as anotações. Ficamos conversando sobre coisas inúteis que ela gostava, na verdade não conversamos, ela falava a maior parte do tempo e eu apenas ouvia. Ela contava que havia comprado um cachorrinho e que agora estava construindo uma casa para ele e que nunca imaginou o quanto um cachorro poderia gastar, me mostrou algumas fotos do animal, era um cachorro minúsculo cabia na palma da mão provavelmente, e ele vestia roupas e joias que provavelmente eram mais caras que minha casa.

Fiquei com vontade de dar na cara da minha estilista quando ela pediu para um avox levar um prato de bolo de carne com passas para o cachorro que estava no quarto dela. No sete as crianças estão morrendo de fome, e se mechem no lixo das casas mais ricas da cidade, são apanhadas e açoitadas em praças públicas, e aqui na capital os cachorros comem bolo de carne.

Depois de algum tempo que a idiota da minha estilista ficou ajustando a roupa em meu corpo eu finalmente estava pronta. A minha roupa era estranha, mas bonita. Era um vestido simples marrom todo soltinho que ia até minha canela, e nas pontas dele aviam pequenas pedrinhas em forma de folhas.

Depois que ela terminou minha maquiagem, colocou uma coroa de flores em meu cabelo que estava cacheado.

– Está prontíssima – ela disse sorrindo para mim como se eu fosse um cachorrinho.

– Obrigado – eu disse suavemente.

Sou levada para a parte inferior do centro de transformação que é um tipo um estabulo, e a cerimônia de abertura está para começar. Vejo Erick chegando com sua equipe de preparação, ele está vestido como um lenhador. Ele veste apenas uma calça com suspensório todo enfeitado por folhas de arvores e na sua perna direita tem um cinto onde prende um machado gigante. Penso na ironia de nossas fantasias, eu a arvore frágil, e ele um lenhador enorme louco para me matar.

– Você está uma gracinha – Erick fala para mim apertando minhas bochechas – me dá vontade de pegar o machado que está no sinto dele e cortar a sua mão fora para lhe dar uma baita lição, quem sabe assim ele deixe de ser trouxa, mas sou doce e sensível, não posso fazer isso.

– Obrigado – eu digo fazendo com que ele acredite na minha insignificância.

Somos colocados em nossa carruagem, nossos cavalos são marrons como meu vestido, e são perfeitamente bem treinados. Nossos estilistas arrumam nossas roupas dentro da carruagem e então a música de abertura começa.

A carruagem do 1 já está andando, e então a do 2, 3, e assim por diante até que a nossa começa a se movimentar. Levo um baita susto quando nossa carruagem sai, as pessoas estão gritando euforicamente. Enquanto nossa carruagem passa eu consigo ouvir um coro de pessoas gritando “Distrito sete” e então escuto várias gritando o nome de Erick. Olho para o adversário ao meu lado, ele está todo sorrisos e manda beijos para todos na arquibancada, da xausinho e mostra os músculos para o público e muitas pessoas fingem desmaiar.

Finalmente chegamos ao círculo da cidade. Vejo os tributos do distrido um e dois com cara de esnobe para as cameras, como se fossem melhores que qualquer um ali naquela cidade. Os cavalos puxam as carruagens até a frente da mansão do presidente Snow e então param.

O presidente é um homem velho, ele dá as boas-vindas aos tributos e faz a abertura oficial dos jogos e encerra seu discurso com um “E que a sorte esteja sempre a seu favor”. Me pergunto como a sorte poderia estar a nosso favor se aquele homem nos faz matar um aos outros só para mostrar aos distritos o quanto é poderoso.

Os cavalos dão mais uma volta no círculo da cidade e então entra no centro de treinamentos.

No desfile inteiro ninguém se quer notou ou se importou com minha presença. E Erick está animado com o tanto de pessoas que gritaram o nome dele e fica ainda mais insuportável quando o garoto do dois vai conversar com ele e com Blight para que Erick junte-se aos carreiristas. Tenho certeza que era esse o plano dele desde o inicio.

Subimos para o sétimo andar, tiramos nossas fantasias e fomos jantar. Erick fala como vai conseguir sobreviver até o final com a ajuda dos carreiristas e que depois quando quase todos estiverem mortes ele mata cada um deles enquanto dormem, mas eu sei como funciona. Normalmente os carreiristas convidam alguém forte de algum distrito para ajudar a matar os outros tributos, e então quando sobra apenas eles, se matam entre si.

Neithan nos fala sobre como será nossa rotina nessa semana antes dos jogos começarem. Os três primeiros dias será o treinamento, depois a apresentação individual de cada tributo para os idealizadores dos jogos, e então a entrevista com Cesar Flickerman, no sexto dia pela parte da tarde, nos mandarão para arena.

E é ai que minha diversão irá começar, não aguento mais esperar. Não vejo a hora de pegar um machado em minhas mãos e parar de fingir ser uma menininha sensível e poder cortar fora a cabeça do inútil do Erick e dos carreiristas esnobes que se acham melhores que todos. Mas o que eu realmente queria, não era matar aqueles jovens, sabia que eles eram assim por um motivo maior que eles mesmo, eu sabia que para tudo isso havia apenas um culpado. A capital, o presidente Snow. E pela primeira vez em toda minha vida, me imaginei matando alguém enquanto sorria e me divertia como eu tenho certeza que os idealizadores dos jogos fazem quando um tributo morre. Eu queria mais que tudo enfiar meu machado no meio da cara do excelentíssimo presidente Snow.