Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Capítulo 4 - Boa Causa




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Era isso. Desirée sabia que tinha algo que só ela podia fazer. A imagem daquela garota sendo raptada e daqueles criminosos não sairam da mente dela um segundo sequer. As aulas pareciam não passar de jeito nenhum. A mocinha, mesmo sentada na cadeira o tempo todo, não parava de balançar a perna direita. Até Priscila repara nisso
- Nossa. O que foi? Parece tensa
- E estou. Não é sempre que se presencia uma cena daquelas
- Calma. Eu sei que é horrível, mas você nem conhecia a menina, conhecia?
- Não, mas..
- Relaxa. Vamos rezar para tudo acabar bem
Priscila era uma garota otimista e muito bondosa. Desirée admirava muito isso nela. Mas naquele momento, ela não cosneguia manter a calma. Também não podia contar para a amiga o que aconteceu na tarde anterior, já que ela nunca acreditaria. A menina continuava ansiosa até que finalmente o sinal da saída toca
- Bem, vou resolver uma coisa no grêmio hoje. Você já vai pra casa?
- Vou sim. Tenho que resolver uma coisa também
- Então tá. Beijo
- Tchau
E, de fato, ela tinha mesmo que resolver aquilo. E ela era a única pessoa do mundo que podia fazer aquilo! Desirée sai correndo da escola, pega o primeiro ônibus que passa no centro da cidade e parte em disparada para a biblioteca. Ela chega lá, ofegante e encontra Maria no telefone
- Obrigada. Até mais
- Maria!
- Oi? Ah, você! Voltou?
- O livro!
- O quê?
- Eu preciso ver aquele livro! - diz ela, praticamente sem ar
- Calma, menina! O que aconteceu para você estar assim? Respira um pouco
Desirée tenta respirar e tentar explicar sua situação com calma
- Eu....eu preciso ver aquele livro. Enquanto a gente fala, uma vida pode estar correndo perigo
- Uma vida correndo perigo? Como assim?
- Oi, Maria. O que aconteceu? - diz Carlos, chegando no balcão naquele momento.
- É a Desirée. Ela parece desesperada
- Seu Carlos! Por favor, eu preciso ver o livro
- Está falando...do Livro dos Segredos?
- Isso! Ele mesmo! Por favor, deixe-me vê-lo! - ela implora, enquanto ainda tentava recuperar o fôlego da corrida
- Você disse que não queria mais nada com aquele livro, não disse?
- Sim. Disse. Mas é por uma boa causa. É algo que só eu posso fazer!
- Boa causa?
- Pelo amor de Deus, seu Carlos! Deixe-me ver aquele livro!
Os dois bibliotecários se entreolham, mas a garota parecia estar falando sério.
- Acalme-se, Desirée - Carlos tenta acalmar a garota - Não podemos chamar muito atenção sobre esse assunto, lembra? - ele explica, percebendo que algumas pessoas começavam a olhar ao redor. Desirée percebe e tenta se acalmar
- Desculpem, eu não quis causar confusão - ela diz, de maneira educada - Mas uma garota foi sequestrada e se eu puder usar o livro para saber onde ela está, poderia denunciar os sequestradores e evitar mais sofrimentos. É isso
- Uma garota? Ela...deve estar falando do caso que anunciaram no rádio, não é, Carlos?
- É verdade...ela é filha de um grande empresário. Foi um sequestro relâmpago
- Então vocês sabem quem é?
- Não conhecemos, mas estamos cientes do caso - diz o bibliotecário, coçando a cabeça
- Viram? Se eu puder usar a magia do livro posso saber onde a garota está e denunciar. Isso é o certo a se fazer
Os dois se entreolham novamente. Parecia mesmo uma boa causa
- Está bem, Desirée...vamos buscar o livro para você
- Muito obrigada, seu Carlos. Muito obrigada mesmo! - ela agradece, ainda cansada da correria
- Tome um pouco de água. Você parece cansada
Logo depois, os três estavam na mesma sala do dia anterior, onde Desirée mal podia conter sua tensão.
- Aqui está. Se você lembra mesmo do rosto da garota ou dos criminosos...vai ser fácil o livro mostrar o que estão fazendo...
- Sim. Lembro perfeitamente do rostinho dela
- Então...é só abrir
A menina abre o livro, mentalizando a imagem da garota o máximo que conseguia. Não demora muito e algumas cenas começam a aparecer. Ela vê uma menina amarrada e amordaçada, enquanto uns três bandidos, armados, estavam de vigia, um deles fumava, enquanto os outros jogavam cartas
- E aí? Vai ligar para o pai da guria de novo?
- Já liguei. O velho vai dar tudo que a gente quiser. Relaxa
- Será que não dava pra gente pedir um pouquinho mais. Tô ligado que grana é o que não falta pra ele
- Hehehe. Não é má ideia, não, heim? Enquanto a gente tiver com a filhinha dele, duvido que ele reclame
A menina ouvia tudo e não conseguia parar de chorar. Era perceptível no olhar dela um pedido desesperado de ajuda. Desirée desvia o olhar da cena. Não conseguia mais ver aquilo.
- O que foi, Desirée? Está se sentindo bem? - pergunta Maria preocupada
- Eu estou, mas a pobrezinha da menina...como eles podem?
- Tsc. Tem muita gente ruim nesse mundo, filha - explica Carlos - Infelizmente
- Não posso deixar eles fazerem o que quiser! Se a polícia souber onde eles estão podem aparecer de surpresa e salvar a moça, não podem?
- Bem, acho que sim, mas...
- Aqui. Está escrito aqui na página. Rua Inácio Silveira, 314. Aqui mesmo na cidade. O nome dela é Beatriz Albuquerque Silviati. Com essa informações vocês podem fazer a denúncia, não podem?
- Acredito que sim
- Por favor, liguem rápido. Eu mesma ligaria, mas não acho que dariam crédito para denúncia de uma criança.
Carlos pega o telefone e liga imediatamente para a polícia. Os dois funcionários ficam impressionados com a atitude de Desirée. Era mesmo uma menina muito equilibrada, apesar da euforia de pouco tempo atrás, ela parecia saber exatamente o que estava fazendo.
- Pronto. Disse exatamente o endereço que você nos deu. A polícia vai agir imediatamente.
- Graças a Deus - diz a garota, aliviada - Agora posso ir pra casa sossegada
- Desirée...
- Eu estou bem, Carlos. De verdade - ela comenta, enquanto segurava o livro que acabou de usar. Ela olha para o objeto por alguns instantes e comenta
- Talvez...talvez seja melhor eu ficar com o livro...
- Hã ? Você quer ficar com o livro? - pergunta Maria
Ela faz que sim com a cabeça
- Eu sei que ele estaria mais seguro aqui, mas...e se acontecer algo parecido com o que aconteceu hoje? E pior, com alguém que eu conheça? Não posso incomodar vocês o tempo todo com isso!
Maria a olha com um olhar terno, enquanto Carlos ouvia com uma expressão mais séria. Ela queria mesmo ficar com o livro?
- Vocês disseram que esse livro é mal, mas...acho que isso depende muito de quem o usa. Uma pessoa mal-intencionada poderia usá-lo para roubar informações do governo, senhas de banco ou para simples fofoca ou chantagem. Mas eu acredito que ele também possa ser usado para o bem - diz ela, sorrindo - Como agora...só Deus sabe o que aqueles bandidos iriam fazer, mas com a ajuda desse livro conseguimos denunciá-los a tempo! É o que eu acho...esse livro pode sim ser usado para o bem
- Bom, Desirée... - diz Carlos, com um levantar de sobrancelhas - Como dissemos, o livro é seu. Usá-lo ou não é uma escolha sua. Mas, vendo sua maturidade, integridade e equilíbrio emocional, posso dizer que esse livro não poderia ter caído em mãos melhores
- Imagina. Eu...só fiz o que tinha que fazer
- Mesmo assim, eu peço para você tomar cuidado. Mesmo que você ache que esse livro possa ser usado para o bem, ele ainda possui uma magia maligna
- Eu compreendo. Mas...vou tomar cuidado. Não vou usá-lo para qualquer bobagem
- Espero que você cumpra mesmo essas palavras - responde Carlos - Seria muito triste vê-la dominada pelo livro
Desirée se assusta um pouco, ela olha para o livro mais uma vez e comenta
- Não precisam se preocupar..eu...eu tenho meus princípios. Acreditem
- Nós acreditamos, querida - diz Maria, passando a mão na cabeça dela - Apenas tome cuidado
- Obrigado, pessoal. Vou indo agora. Eu ainda nem almocei
- Como dissemos...vamos fazer o possível para quebrar seu pacto com o livro, mas até lá, tome muito cuidado em como usá-lo - diz Carlos
- Tudo bem. Muito obrigada
- Qualquer coisa...pode ligar pra gente - diz Maria - Você tem o número da biblioteca, não tem?
- Tenho sim
- Mas anote o número da nossa casa também. Nunca se sabe quando vai estar em apuros, não é?
- OK
Ela pega o celular e anota o número
- Mais uma vez, obrigada. Espero não incomodá-los mais
- Tudo bem. Até mais
- Até
No que Desirée vai embora, Carlos suspira.
- Ela é mesmo uma menina com a cabeça no lugar. Acho que podemos ficar tranquilos! - comenta Maria
- Isso é o que você pensa - diz Carlos, voltando para o trabalho - Aquele livro...não é nada inocente, Maria!


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Notas finais do capítulo

Quem precisa de reviews? ¬¬



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