Capítulo 33 - Fria e Calculista

- Missão? Para mim? O que eu posso fazer? - pergunta Dionísio, cada vez mais confuso com aquela história toda.
 - Calma, calma...você vai entender depois que eu te contar a história toda.
Desirée começa a contar tudo o que aconteceu, seu encontro com Charlie, o Livro da Mente, o lance de poder romper o pacto com o livro se tomar de outro portador, enfim, tudo. Quarenta minutos depois, Dionísio já estava a par de toda a situação.
- Então...é isso? Você está querendo o livro desse garoto?
- Exatamente. Imagine o poder que terei se conseguir aquele livro leitor de mentes! Aí sim, nem mesmo no pensamento as pessoas estarão livres de mim!
- Hmmm - geme o fotógrafo, achando aquilo tudo muito esquisito - Mas você não disse que o livro é limitado a curta distância?
- É. É verdade. O ideal seria se fosse um livro não-local como o meu. Mas mesmo assim é bastante poderoso. Afinal, ver o que outra pessoa faz não é tão difícil, mas saber o que ela pensa é algo fora do comum!
- E como você vai pegar o livro dele? Se ele é tão bom assim, vai poder ler sua mente antes que você se aproxime
- Bem, ainda estou planejando isso...mas tudo a seu tempo, meu caro. Primeiro, vamos a coisas mais urgentes.
A mocinha tira o Livro dos Segredos de sua mochila e o mostra a Dionísio.
- Aqui está. Meu precioso Livro dos Segredos!
Dionísio pega o livro e o folheia, observa, vira de um lado, de outro...mas tudo que vê é apenas um livro de capa dourada com várias páginas em branco.
- Não consigo ver nada...tá tudo em branco
- Exatamente. É como eu te disse, não é?
- Muito difícil de acreditar...não importa o quanto você olhe, não passa de um caderno em branco.
- Não é? Mais discreto impossível
- Realmente é impossível saber o que você vê nessas páginas. Perfeito para qualquer espião.
- É o sonho de qualquer espião, sem dúvida. E o sonho de qualquer pessoa que lida com informações.
- É claro. Ter isso em mãos é o mesmo que ter conhecimento da vida de qualquer pessoa. Se ele é tão poderoso quanto você diz..
- É muito mais do que você pensa. Ele pode obter informações até mesmo de locais protegidos magicamente.
- Hã? Como assim? Aí já é abusar demais da minha imaginação!
- O livro também funciona no mundo da magia. Consegui várias informações do Charlie de lá.
- O que exatamente é esse mundo da magia?
- Basicamente é um universo à parte que controla a magia usada nesse mundo. Esse livro foi criado compactuando com o lado de lá
- Eu, heim? Se não soubesse do seu poder nunca acreditaria nisso
- Bem, mesmo com esse livro não tenho muitas pistas para conseguir informações de lá. Só o que está relacionado com o Charlie e olhe lá. E ele também não dá muitos detalhes do passado, apenas dita informações que estejam catalogadas em algum lugar.
- Como assim?
- Por exemplo, se eu usar o livro com o seu nome, posso conseguir facilmente todos os seus dados, inclusive senhas de e-mail e banco. Basta eu perguntar isso mentalmente por um mero instante.
- V-Você...é perigosa mesmo, não é?
- Enquanto eu tiver o livro em mãos - diz Desirée, praticamente ignorando o último comentário - Conseguir qualquer informação de qualquer pessoa é mole, mole. Desde que a informação exista.
- Incrível
- Na verdade, tenho reparado que o livro tem ficado mais detalhista com o passar do tempo. Talvez eu tenha ficado mais ligada a ele, não sei.
"Com certeza é isso", pensa Dionísio.
- Bom - continua a mocinha - Já estamos desviando muito do assunto. Vamos para o que interessa...o motivo pelo qual te chamei aqui.
- Ah, sim...no que posso te ajudar?
- Antes de começar...você está mesmo disposto a me ajudar, não está?
- Bom, não vou saber antes de você me falar
- Lembre-se que eu te ajudei muito nos últimos dias. Retribuir o favor é o mínimo que você pode fazer
- Eu sei, eu sei
- Além do que...sei de algumas coisas sobre você que, bem, não são lá muito éticas, não é?
- M-Melhor nem perguntar o que é...
- Posso contar com a sua cooperação?
- Pode, pode. No fim, nos tornamos amigos, não?
- Que bom que você pensa assim! - ela diz, sorrindo - Você também é um cara bem legal!
- Mas, claro, vai depender muito do que você vai me pedir...ainda não sou nenhum bandido
- Claro que não. Se fosse, provavelmente já teria me matado. Olha só, eu, uma menina indefesa conversando com um cara muito mais velho. Claro que o centro da cidade é bem movimentado e com qualquer ação suspeita sua eu gritaria.
- Você realmente fala como se eu fosse um bandido...
- Não se preocupe. O que vou te pedir não é nenhum crime. Para começar, tem a ver com o meu livro.
- Ah, sim. Por isso você o trouxe - deduz o fotógrafo, ainda examinando bastante o livro - O que você quer que eu faça com ele?
- Esconda-o
- Hã? Escondê-lo?
- Esconda em qualquer lugar, mas não me conte onde é. Só isso.
- Você só quer que eu esconda o livro? Só isso?
- Sim. É fácil de deduzir porque estou te pedindo isso
- Hmm..seria?
- Bem, eu não posso fugir da presença do Charlie para sempre. Mas da próxima vez que eu o encontrar ele com certeza vai usar o Livro da Mente em mim. Mas, se eu não souber onde o livro está, ele não vai poder roubá-lo de mim, porque ele simplesmente não pode ler uma informação que não existe na minha mente!
- É. É verdade.
- Para o pacto ser desfeito, o outro portador do livro S.S. precisa abrir o livro. Se ele não puder colocar as mãos no meu livro, estou segura. E vou poder agir com muito mais segurança para pegar o livro dele.
- Mas...como vai fazer isso sem o livro?
- É fácil. Esse é um dos melhores atributos do livro..
Desirée tira centenas e centenas de folhas em branco de sua mochila
- Para que tantas folhas?
- São páginas do Livro dos Segredos. As folhas dele nunca terminam
- C-Como isso é possível?
- Mágica, meu caro, mágica. Não tem muita lógica nisso.
- Percebe-se
- O importante é que eu tenho folhas o suficiente para usar os poderes por muito tempo. Fora essas, tem várias lá em casa. Poderei continuar te mandando informações sobre celebridades, poderei continuar atualizando o site da Truth e, o mais importante, vou poder continuar espinando o Charlie.
- Mas aquele Charlie é um mago como você disse, não é? Deve ser difícil tirar qualquer coisa dele
- E é. Para começar, o livro nem está com ele. Está no país de origem dele, Inglaterra
- Não vai me dizer que pretende ir para a Inglaterra?
- Claro que não! Mas...só preciso que Charlie traga o livro para cá!
- E como você pode ter tanta certeza disso? Ele pode simplesmente buscar mais páginas...se as páginas desses livros infernais nunca terminam
- Não se preocupe. Eu vou dar um jeito nisso
- Vai, é? Imagino como...
- Você vai ver. Primeiro, fique com esse livro e esconda-o em qualquer lugar. Como para as outras pessoas ele não passa de um caderno em branco, pode ter certeza que não vai chamar a atenção de ninguém
- E depois?
- Bem, eu te chamo se precisar de alguma coisa. Tudo bem?
- Tudo bem...
Essas foram as orientações que Desirée julgou convenientes. Ela se despede do paparazzo e vai embora. Dionísio fica ali, com o livro na mão, ainda digerindo toda a loucura que se meteu. "Que garota estranha", pensa ele, "Do nada, acabei me intrometendo numa briga totalmente absurda. Livros mágicos? Magia? Mundo mágico? Será que isso tudo é só sonho? Ou estou ficando louco de vez mesmo?", ele continuava pensando. "O Kadu tem toda a razão. Entrei nessa achando que iria levar a tal Truth na conversa e no fim é ela que está me fazendo de trouxa. Bem feito pra mim".  O jovem fotógrafo se levanta, se espreguiça e vai embora. "Agora vou ter que achar um canto para esconder esse livro. Putz!"
Naquele dia, Charlie reaparece na escola, mas nem sinal de Desirée.
"Aquela garota...sem dúvida está fugindo de mim...mas tudo bem. Enquanto eu tiver essas páginas do Livro da Mente posso tirar qualquer informação dela, desde que ela esteja por perto!", pensava o garoto inglês, voltando para casa após as aulas da manhã. "Essa escola brasileira é ridícula", pensava, "Mal vejo a hora de conseguir o que quero e sair logo daqui"
Mas será que ele conseguiria mesmo? Não demora muito para ele receber uma ligação desconhecida. Sim, até magos usam celular.
- Alô? - responde o garoto.
- Charlie? É você?- diz a voz de Desirée do outro lado.
- Desirée? Mas como? Ah, claro...o livro. Conseguiu meu celular de lá, não é?
- Nossa, você é bem esperto!
- E aí? Decidiu me entregar o livro sem problemas? É o melhor para você e...
- Não
- Hã? Ouça, você sabe que está se metendo com uma coisa muito séria e..
- E digo mais
- O que?
- Eu declaro guerra a você agora! Nesse momento, eu também estou atrás do seu livro S.S.
Charlie não consegue segurar a risada.
- Você? Uma humana normal? O que você pode fazer?
- Muita coisa, uma vez que eu já sei onde está seu livro
- Na Inglaterra. Tudo bem. Essa informação não é nenhum problema pra mim. E digo que está muito bem protegido
- É mesmo? E se eu te disser que tenho contatos na Inglaterra?
- Mentira
- Será mesmo? Você só pode ler minha mente a no máximo 2 metros de distância. Seu poder é inútil a longa distância
- Impossível. Minha família tem a melhor proteção de dados, as melhores barreiras mágicas, impossível qualquer mago de meia-tigela pegar meu livro assim
- Será mesmo?
"Ela adora falar 'Será mesmo'..o que essa garota está tramando?"
- Se estou dizendo que é impossível, é porque é!
- E se eu tiver formado uma aliança com um mago especialista em quebrar barreiras?
- Idiota. Você não conhece ninguém assim...
- Você está subestimando o Livro dos Segredos, meu querido - ela continua, sorrindo maquiavelicamente - Basta eu ter poucas informações que consigo contato com qualquer pessoa do mundo normal ou do mundo mágico. Garanto que sua família tem muitos inimigos. Não precisa nem negar...eu li isso!
Charlie começa a suar frio. Naquela distância ele não podia saber se ela estava ou não falando a verdade.
- Pare de blefar...você é só uma pirralha! Como pode pensar nisso tudo?
- Uma pirralha com um livro S.S! Bem, seu livro ainda está na Inglaterra...por enquanto. Uhuhuhu! Tchauzinho!
"Mentirosa!", pensa Charlie, mas, por outro lado, o jovenzinho não podia afirmar que estava totalmente confiante. Aquela Desirée estava com o Livro dos Segredos, que, bem ou mal, era um livro mais forte que o dele. Mas ela seria tão boa assim a ponto de agir tão rápido em tão pouco tempo? Charlie não podia acreditar, mas parte dele estava nervosa. Por via das dúvidas, ele resolve entrar em contato com sua família. Após passar por vários formulários e senhas de segurança, ele consegue contato com seu pai
- Pai? Sou eu. Não, ainda não consegui o Livro dos Segredos. Estou procurando. Escuta, depois o senhor me dá bronca...por hora, pode me dizer se o Livro da Mente ainda está aí? Está? Ótimo. Não, é que...bem, eu acho melhor mandá-lo para cá. Sim, comigo ele vai estar bem mais seguro. Ainda hoje? Via Teletransporte? Por favor. Não, pai, eu não vou falhar. É só me dar mais tempo. Obrigado
"Ufa...ela só blefou mesmo. Mas é melhor trazê-lo para cá. Com o livro perto de mim, mesmo que aquela mentirosa tente mesmo alguma coisa ela nunca vai conseguir....mas, ela parece ser meio louca...vai ser mais seguro ele ficar comigo o tempo todo. Droga! Não acredito que vou ter esse esforço!"
Longe dali, Desirée se divertia com sua pequena mentira e sorria satisfatoriamente ao ouvir que ele realmente traria o Livro da Mente para o Brasil. Foi bom ela ter lido tudo que podia sobre Charlie, principalmente uma de suas principais característica:  ansiedade. Ao que parecia, Charlie era muito cobrado por sua família e, por conta disso, não tinha uma auto-confiança tão elevada assim. Bastava alguma coisinhas interromper o bom andamento de seus planos que ele já ficava nervoso. Desirée, por outro lado, tinha uma alta confiança de seu lado. Uma fala firme e um pouco de psicologia foram suficientes para tremer os joelhos do tal Charlie.
"Ter o Livro dos Segredos como aliado é o que me dá essa confiança!", ela pensava, "Agora é só uma questão de tempo...huhuhu, do que adianta ser um mago poderoso se tem um cérebro tão pequeno? Huhuhua!"