Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 22
Capítulo 22 - Conversa Conturbada




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        Desirée começa a ficar mais tensa. Então, finalmente estava diante (pelo menos, virtualmente) da pessoa que insistia tanto em falar com Truth. "The Lie"? Isso era mentira em inglês, não? Era uma provocação, sem sombra de dúvidas. O que afinal ele (ou ela) queria? Era o que iria descobrir.
   
         * Para a conversa virtual, entenda T como Truth (Desirée) e L como Lie (Dionísio). Nenhum dos dois conhece a verdadeira identidade do outro. *

        L: Ei, tudo bem? Você ainda está aí?
        T: Sim. Estou. Afinal, o que você quer de mim?
        L: Se acalme. Hahuahua. Parece até que está nervosa?
        T: E como não estaria?
        Ela dá um tempo e volta a digitar
        T: Era você que não parava de mandar aqueles e-mails, não é?
        L: Hmmm...que e-mails? Aqueles, perguntando sobre quem é você? Bem, acho que mandei alguns sim
        T: Você finalmente está falando comigo. Satisfeito agora?
        L: Ei, que nervosismo é esse? Isso é jeito de falar com seus fãs?
        T: Mas você não é um fã comum, é?
        L: É...se eu sou o único que conseguiu falar pessoalmente com você na Internet...é...não devo ser um fã tão comum assim
        T: E parece gostar de falar bastante
        L: Sou uma pessoa sociável. O que posso fazer?
        T: Se não se importa...eu não tenho tanto tempo assim...poderia me dizer o que você quer tanto saber de mim?
        L: Hauhaua. Você fala como se não soubesse
        T: Claro que não sei
        L: Como não? Eu só quero saber, com as suas próprias palavras, como você consegue encontrar tantas pessoas desaparecidas
        T: Eu já disse isso milhões de vezes, não disse?
        Ocorre mais uma pausa
        T: Todas as pessoas são encontradas porque recebo informações de gente do mundo todo. Simples assim. É só uma ação comunitária
        L: Ação comunitária? De um site tão amador?
        Desirée começa a ficar mais tensa e nervosa. Seja lá quem for aquele Lie, parecia ser uma pessoa que sabia demais
        T: Bem, sei que não é profissional, mas...funciona   
        L: Funciona muito bem, sem dúvida. Você consegue até achar pessoas que não estão desaparecidas

        A mocinha se lembra da informação contraditória que postou e apagou há algum tempo atrás. Seria o Lie a pessoa que mandou o tal e-mail? Mas, pelo que lembrava, o endereço era diferente, não? Ele deve ter criado muitos e-mails só para isso. Alguém se esforçar tanto só para tirar informações dela...com certeza deve ser alguém extremamente obcecado. Que tipo de pessoa seria esse Lie? De alguma forma, Desirée começa a despertar uma certa curiosidade. Era estranho, justo ela que nunca se interessou pelos segredos alheios. Mas agora parecia diferente. Se jogasse direitinho, poderia tirar alguma informação relevante...e com o Livro dos Segredos achar o resto das informações seria fácil. Ainda sentindo a adrenalina, Desirée volta a teclar
       
        T: Então você...foi a pessoa que mandou aquele e-mail?
        L: Depende. Que e-mail?
        T: Sobre  Mariel dos Santos Antônio. Esse nome é familiar?
        L: Ah, sim. É. Foi só uma brincadeirinha. Espero que não tenha ficado ofendida
        T: Apenas me pergunto o porque de ter feito aquilo? Qual o sentido em me passar um trote desses?
        L: Hahauhau. Por favor, não fique ofendida. Eu só queria ter certeza de algumas coisinhas. Bem, foi graças a isso que comprovei que você é capaz de encontrar qualquer pessoa, não é? E muito rápido, aliás
        T: Já disse que não sei do que está falando
        L: É claro que sabe. Mas, tudo bem, já sabia que você não contaria esse tipo de coisa tão fácil
       
        Tem-se outra pausa
   
        L: Vejamos outros detalhes...hmm...ah,sim. Que tal certas pessoas que você encontra antes da polícia?   
        T: Como assim?
        L: Vi algumas reportagens...certas pessoas desaparecidas foram encontradas pela polícia, mas não pelo seu site
        T: E daí? Eu também não posso ser mais competente que a polícia!
        L: É claro que pode
        T: Do que está falando?
        L: Porque você consegue encontrar pessoas com foto bem mais rápido que a polícia. Mas os tiras conseguiram encontrar pessoas cuja foto não foram divulgadas publicamente...onde as informações eram escassas
        T: Isso não faz sentido nenhum! É claro que a polícia tem muito mais condições do que eu para achar essas pessoas, não?
        L: Mentira
        T: Claro que não!
        L: Porque eu também andei investigando as pessoas que você encontrou. Várias delas tinha informações extremamente escassas, praticamente só a foto. E mesmo assim, você encontrou tais pessoas.

        Desirée começa a suar frio de novo. Será que seu poder era tão óbvio assim. Talvez. Ela não foi cuidadosa o bastante...ou será que no fundo não estaria desejando mesmo que alguém desconfiasse do seu poder? De qualquer forma, ela continuava a conversa, dando cada vez mais corda ao diálogo.

        T: Talvez eu tenha tido mais sorte, não é?
        L: Sorte, é? Difícil de acreditar
        T: Você acha?
        L: Bem, as pessoas que você encontra estavam mesmo desaparecidas. Algumas até sumidas no meio da selva. Mas você conseguiu informações de forma extremamente rápida. Talvez as pessoas fiquem impressionadas com isso, mas, se pararem para refletir, vão ver que tudo é absurdo demais para ser um simples site colaborativo
        T: Então é isso que você acha?
        L: Exato. Apenas estou curioso para saber como você consegue as informações desse jeito. O que você é? É alguma agente do governo? Se bem que...para deixar que eu roubasse sua senha tão fácil, acho que não, não é?

        Esse último comentário deixa a garota nervosa. Aquilo já era provocação demais! O que ele queria? Que ela dissesse: "Ah, eu tenho um livro mágico que vê tudo".  Mesmo que quisesse confessar, ele não cairia na conversa de jeito nenhum. Mas tinha outra explicação? Tinha?
       
        T: Você é algum tipo de golpista ou criminoso, não é?
        L: Bem, roubar sua senha foi um crime, talvez...mas foi só para falar com você mesmo! É sério! Não pretendo roubar nenhuma informação além daquelas que você desejar me contar. A prova disso é eu estar falando com você, aqui, numa boa. Com certeza você deve estar até gravando essa conversa para usar contra mim, não é?
        T: Heh. É claro. Mas também não gostaria de me envolver em encrenca
        L: Imagino. Seria o mesmo que dizer à polícia que você é a Truth, não é? Como você explicaria?
        T: Você é mais esperto do que eu pensava...ou será esperta?
        L: Esperto. Sou homem
        T: Sei...se eu puder confiar na sua informação
        L: Não se preocupe, não costumo mentir...muito
        T: Talvez até isso seja mentira
        L: Talvez...você só acredita naquilo que você quiser
        T: Assim como você acredita que eu tenho algum poder mágico?
        L: Bem, eu nunca disse que você tinha um poder mágico...mas, você está dizendo isso agora
       
        Desirée muda de expressão novamente. Será que não devia ter dito isso?

        T: É claro que não. Esse tipo de coisa não existe
        L: Se você diz...então, como você consegue as informações?
        T: Não tenho a obrigação de falar tenho?
        L: Então você admite que consegue informações de alguma forma diferente, não?
        T: Eu nunca disse isso!
        L: O que foi? Está nervosa?
       
        É claro que estava. Desirée não imaginava que acabaria deixando tantos detalhes nas entrelinhas.

        T: Não...não estou nervosa
        L: Bem, nós dois sabemos que isso não é um site colaborativo. Você tem alguns truques escondidos. Isso é fato. Só preciso saber qual é
        T: Tsc...e você não vai me deixar em paz enquanto não descobrir, não é?
        L: O que é isso? Não fale como se fosse um maníaco...eu só estou curioso, só isso. Sou apenas um vagabundo que usa o tempo livre para saber mais sobre as coisas que gosto   
        T: Então agora você gosta de mim?
        L: E eu disse que não gostava?   
        T: Hahauha. É. Você é bem esperto mesmo
       
        Desirée já tinha deixado muita coisa escapar nas entrelinhas, mas algo dentro dela queria levar aquela história mais adiante. Alguma coisa que ela não conseguia explicar. A garota poderia simplesmente desligar, acabar com o site e ignorar tudo. Mas seria suspeito demais, não? Se o cara era tão louco a ponto de roubar uma senha só para falar com ela é porque iria até as últimas consequências para saber quem ela é. Se pelo menos ele desse uma foto ou algo assim...poderia saber quem está por trás do nome Lie
       
        L: Entendo...talvez você não confie em mim a ponto de falar qualquer coisa. Eu já imaginava isso
        T: É?
        L: É por isso que gostaria de conversar com você pessoalmente
       
        O que? Ele disse pessoalmente? Agora é que estava enlouquecendo de vez! Por que ela iria encontrar com ele cara a cara?
   
        T: Pessoalmente? Como assim? Você acha que eu caio numa dessas?    
        L: Relaxe. Se isso te deixa mais tranquila, eu vou mostrar minha identidade agora
        T: Hã?
        L: Sim. Na verdade, meu nome é Dionísio San Marino...talvez você já tenha ouvido falar de mim
        T: Nunca
        L: Você não deve acompanhar muitas revistas de entretenimento, não é? Você não lembra nem do último escândalo daquela cantora sertaneja famosa?
        T: O que tem?
        L: Fui eu que tirei as fotos
       
        Desirée tenta se lembrar. Foram fotos bem polêmicas...Então era um paparazzo? Natural que fosse bom em conseguir informações
       
        T: Então você é um paparazzo?
        L: Devo ter algumas fotos na Internet, mas, se não tiver...pega essa
   
        Ele manda um link, com uma extensão de arquivo de imagem
   
        L: Pode abrir. Não é vírus. Eu garanto
        T: Tudo bem...vou confiar em você...só dessa vez
   
        Mesmo porque seria uma excelente oportunidade de ver o rosto dele, se essa foto fosse mesmo verdadeira. Ao abrir o arquivo, de fato, surge uma foto de um rapaz moreno e sorridente. Então era ele. "Nossa, até que é charmoso", pensa Desirée, um pouco coradinha.

        L: Bem, esse sou eu. O resto você deve conseguir fácil
        T: Como assim?
        L: Você sabe disso muito melhor do que eu
        T: Você quer mesmo me conhecer pessoalmente?
        L: Mais do que tudo. Basta combinar um lugar. Não importa onde você mora. Eu vou até aí
        T: Está disposto a gastar muito só para me conhecer, heim?
        L: Não é? E também estou me arriscando. Dei meu nome e fotos verdadeiros para você. Quer mais imprudência do que isso?
       
        Desirée começa a rir sozinha no seu quarto. Como era cínico. Espere. Não, não podia se deixar levar pelas palavras de um cara qualquer assim. Primeiro, precisava saber o máximo que poderia sobre ele.
       
        T: Eu vou pensar no seu caso
        L: Agradeço. Fico feliz de pelo menos ter me ouvido
        T: Só não sei o que você ganha me conhecendo
        L: O que eu ganho? Huahuahahua...ai, ai...quando a gente se conhecer melhor você vai entender.
        T: Ah, é? Eu
       
        Ela dá uma pausa. Quase digita algo sem pensar. Mas Dionísio pega a ideia.
       
        L: Ah, claro. Você tem como descobrir, não é? Bem, então descubra
        T: Eu não disse nada
        L: Mas ia dizer e é isso que importa. Bom, que seja. Se realmente quiser me ver, é só mandar um e-mail. Pode ter certeza que eu vou olhar. Oh, olha a hora. Vou indo nessa. Até mais, Truth

        Ele sai da conversa. Desirée ainda estava tonta com tudo aquilo. Dionísio San Marino? Será que estava mesmo falando a verdade? Bem, seria fácil de descobrir. Ela desliga o computador e abre o livro imediatamente, mentalizando a foto que viu. De fato, o nome e a foto batem. Ela vê um rapaz se afastando do computador e indo buscar alguma coisa para comer. Parecia morar sozinho. O livro não fornecia muitas informações além do que era possível. É claro que, se esse tal Dionísio tinha consciência de que estava sendo observado, não iria falar nada sobre suas intenções. Mas, o fato é que ele era real.
   "Então...ele existe mesmo", pensa Desirée, "A ponto de me dar a foto, mesmo já suspeitando do que sou capaz...o que esse cara quer?". E a curiosidade da garota estava se aguçando cada vez mais...cada vez mais...


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